CONSERVANDO A DOUTRINA PENTECOSTAL
2 Timóteo 4.1-4; 2 Pedro 2.1-3.
2 Timóteo 4
1 - Conjuro-te, pois, diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu Reino,
2 - que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.
3 - Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;
4 - e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.
2 Pedro 2
1 - E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.
2 - E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade;
3 - e, por avareza, farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita.
Como manter a pureza da doutrina pentecostal? O que fazer para evitar que a Igreja seja vitimada pelos falsos mestres e doutores? Na lição de hoje, veremos por que a Igreja, a guardiã da sã doutrina, deve manter-se sempre alerta, a fim de não ser enganada por ensinos que, apesar de sua aparente piedade, procuram destruir a pureza dos santos, arrastando-os à heresia e, finalmente, à apostasia.
O ouvinte da pregação deve ser também um estudante da Bíblia, averiguando na Palavra a veracidade daquilo que ouve (At 17.11). Siga o exemplo do salmista: “Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia!” (119.97).
A Palavra de Deus nos torna sábios para a salvação (2 Tm 3.15), santifica-nos (Jo 17.17), e leva-nos a conhecer mais profundamente ao Senhor (Os 6.3).
III. A IGREJA É A GUARDIÃ DA SÃ DOUTRINA
O Senhor adverte-nos, em sua Palavra, de que nos últimos tempos haveria grande rebeldia e apostasia: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios” (1 Tm 4.1).
Se a igreja não estiver atenta à voz do Espírito Santo e comprometida com o ensino bíblico ortodoxo, muitos crentes deixarão de amar a verdade, desviando-se da fé genuína em Cristo. Segundo a Palavra de Deus, nestes dias que antecedem a manifestação do Anticristo, haverá um tempo de grande apostasia (2 Ts 2.3,4). Redobremos a vigilância!
A igreja deve estar alicerçada nas Escrituras Sagradas para combater, com vigor e eficácia, as forças do mal, que se levantam contra o Evangelho de Cristo. Toda e qualquer atividade espiritual deve ser examinada à luz da Palavra de Deus. A igreja deve primar pela ortodoxia bíblica, não permitindo que os modismos, baseados em experiências pessoais, sejam colocados acima dos princípios das Sagradas Escrituras.
“Apostatando da Fé.
‘Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios’ (1 Tm 4.1). Paulo escreveu ao jovem Timóteo, há quase dois mil anos, alertando quanto aos perigos da apostasia.
Apostasia — gr. apostasia — quer dizer ‘desvio’, ‘afastamento’, ‘abandono’; no texto bíblico, sempre significa abandono ou desvio da fé em Jesus. Segundo a Bíblia de Estudo Pentecostal, a apostasia na igreja será de dois tipos — ‘apostasia teológica’ e ‘apostasia moral’. Na primeira, observamos os desvios doutrinários. Na segunda, são manifestos comportamentos contrários à santidade requerida por Deus em sua Palavra (cf. Hb 12.14; 1 Pe 1.15,16). Muitas igrejas permitirão quase tudo, para terem muitos membros, dinheiro, sucesso e prestigio (cf. 1 Tm 4.1).
‘O evangelho da cruz, com o desafio de sofrer por Cristo (Fp 1.29), de renunciar todo pecado (Rm 8.1 3), de sacrificar-se pelo reino de Deus e de renunciar a si mesmo será algo raro’ (Mt 24.12; 2 Tm 3.1-5; 4.3). É uma característica dos tempos pós-modernos em termos religiosos. Há muitas igrejas e seitas no mundo.
Entretanto, em relação à Igreja de Jesus, há muitos desvios nos últimos tempos. Certamente, em toda a história da Igreja, nunca houve tanta apostasia quanto no século passado e no início do presente século 21” (RENOVATO, E. Perigos da Pós modernidade. 1.ed., RJ: CPAD, 2007, pp.16-7).
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A IMPORTANCIA DA DISCIPLINA
Atos 5.1-11.
1 - Mas um certo varão chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade
2 - e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a depositou aos pés dos apóstolos.
3 - Disse, então, Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade?
4 - Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.
5 - E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram.
6 - E, levantando-se os jovens, cobriram o morto e, transportando-o para fora, o sepultaram.
7 - E, passando um espaço quase de três horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que havia acontecido.
8 - E disse-lhe Pedro: Dize-me, vendestes por tanto aquela herdade? E eia disse: Sim, por tanto.
9 - Então, Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti.
10 - E logo caiu aos seus pés e expirou. E, entrando os jovens, acharam-na morta e a sepultaram junto de seu marido.
11 - E houve um grande temor em toda a igreja e em todos os que ouviram estas coisas.
Disciplina: Educar, ensinar corrigir.
Numa igreja descompromissada com a sã doutrina, crentes como Ananias e Safira seriam até homenageados por sua “liberalidade e altruísmo”. Mas numa igreja que prima pelo ensino, não subsistiriam. Haveriam de ser desmascarados, repreendidos e fulminados pelo próprio Deus, pois Ele sonda-nos a mente e o coração. A falta de doutrina, pois, acaba por induzir toda uma congregação à hipocrisia e à mentira.
No episódio de Ananias e Safira, Lucas destaca o valor da disciplina na Igreja de Cristo. Por conseguinte, vejamos porque o ensino é imprescindível ao povo de Deus.
Nestes tempos tão difíceis e trabalhosos, nós pais somos coagidos a não aplicar a disciplina aos nossos próprios filhos. É claro que também somos contra os maus tratos impingidos às crianças. Mas que estas têm de ser disciplinadas, não o podemos negar. A recomendação é do próprio Deus: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 13.24 — ARA). Por que os educadores contrários à educação cristã, ao invés de nos constrangerem com as suas impropriedades, não saem em defesa das crianças abandonadas e prostituídas que fervilham nossas cidades? É necessário e urgente resgatar a infância abandonada e proporcionar-lhe uma vida digna e segura.
Por quebrarem a disciplina, Ananias e Safira foram severamente punidos pelo Senhor.
Disposto a dedicar-se integralmente ao cumprimento da Grande Comissão, Barnabé vende a sua propriedade e entrega todo o dinheiro aos apóstolos. Lucas, ao registrar o fato, realça o desprendimento daquele levita natural da ilha de Chipre, que haveria de prestar relevantes serviços ao Reino de Deus (At 4.36,37).
Ananias e Safira, imitando a Barnabé, também vendem a sua propriedade. Ao contrário deste, o casal retém parte do dinheiro, e repassa o restante aos apóstolos, como se aquele depósito representasse o valor total da propriedade. Eles, porém, seriam desmascarados, repreendidos e mortalmente punidos. Não se pode mentir a Deus.
Se formos disciplinados na Palavra de Deus, jamais cairemos no erro de Ananias e Safira: mentira, hipocrisia e roubo. Como vem você agindo? Tem se dado à mentira? Cuidado. Os mentirosos não terão guarida no Reino de Deus (Ap 22.15).
Ananias e Safira poderiam ter vendido a propriedade pelo valor que bem entendesse e haver dado todo o montante, ou parte deste, à Igreja. Pedro deixou-lhes isso bem patente (At 5.4). Mas como o casal, buscando a própria honra, não mentiram somente a Pedro, mentiram também ao próprio Deus (At 5.3).
III. O EXTREMO DA DISCIPLINA
Ananias e Safira conheciam muito bem a doutrina dos apóstolos e não ignoravam o Antigo Testamento. Nas sinagogas, ouviam sábado após sábado, a leitura da Lei, dos Escritos e dos Profetas. Chegaram eles a conhecer a Jesus? É bem provável. Por conseguinte, não foram eles punidos inocentemente. Ao mentirem a Pedro, sabiam estarem ofendendo o Espírito Santo. Eles sabiam que esse pecado era gravíssimo (Mt 12.32).
Informa Lucas que, ouvindo a reprimenda de Pedro, Ananias caiu por terra fulminado. O mesmo aconteceria à sua esposa três horas depois (At 5.10). O casal que contra o Senhor peca unido, unido também perecerá. Não poderiam eles andar no temor e na disciplina divina?
“O tolo despreza a correção de seu pai, mas o que observa a repreensão prudentemente se haverá” (Pv 15.5). A disciplina é uma prova de amor. Deus requer que seus filhos andem de conformidade com a sua Palavra. Se errarmos, Ele certamente disciplinar-nos-á. No entanto, cuidado: Deus não se deixa escarnecer.
Ananias e Safira, simulando uma justiça que não possuíam, mentiram para o próprio Deus. Por isso foram mortalmente punidos. Andemos, pois, no temor do Senhor.
“O delito de Ananias não foi reter parte do preço do terreno; poderia ter ficado com tudo se quisesse; seu delito foi tentar impor-se sobre os apóstolos com uma mentira espantosa unida à cobiça, com o desejo de ser visto. Se pensarmos que podemos enganar a Deus, fatalmente enganaremos a nossa própria alma. Como é triste ver as relações que deveriam estimular-se mutuamente às boas obras, endurecerem-se mutuamente no que é mau! Este castigo, na realidade foi uma misericórdia para muitas pessoas. Ele faria as pessoas examinarem a si mesmas rigorosamente, com oração e terror da hipocrisia, cobiça e vanglória, e a continuarem agindo assim. Impediria o aumento dos falsos crentes. Aprendamos com isto quão odiosa a falsidade é para o Deus da verdade, e não somente evitar a mentira direta, mas todas as vantagens obtidas com o uso de expressões duvidosas e de significado duplo em nosso falar”.
(HENRY, M. Comentário Bíblico. 1.ed. RJ: CPAD, 2002, p.891)
O Pecado de Acã
“Certamente Acã descobriu que o pecado é uma emoção passageira. Houve a emoção de obter alguma coisa secretamente. Ele teve a emoção de conhecer uma coisa que os outros não conheciam. Ele teve a emoção de ser procurado. Finalmente, chegou a emoção de ser o centro das atenções, de ser ‘a manchete do dia’. Há pessoas dispostas a trocar suas vidas por essas compensações.
Mas a emoção teve vida curta. O que ele fizera foi logo descoberto por todos. O que ele havia escondido foi rapidamente manifesto a toda a sua nação. Aquilo que ele considerou valioso mostrou-se impotente para ministrar-lhe. Aquilo que ele teve orgulho tornou-se sua vergonha. Sua alegria transformou-se em tristeza. Sua emoção momentânea terminou numa morte violenta. Com ele pereceu tanto aquilo que ele havia roubado quanto o que era legitimamente seu. Ele recebeu o salário do pecado. Ele foi ‘sem deixar de si saudades’ (2 Cr 21.20).
Este evento evidencia o princípio de que somente aqueles que vivem vidas submissas diante de Deus recebem ajuda do Senhor. Acã recusou-se a se submeter ao plano de Deus. Ele carecia da santidade que daria permanência ao seu programa de vida.
O fato de que ‘nenhum de vós vive para si e nenhum morre para si’ (Rm 14.7) é ilustrado pela vida de Acã. Um homem pode contaminar uma comunidade tanto para o bem como para o mal. Paulo dá a essa ideia um cuidadoso desenvolvimento em sua carta aos coríntios. Ele conclui: ‘De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele’ (1 Co 12.26).
A vida de Acã também nos ensina que o pecado nunca está oculto aos olhos de Deus. O Senhor sabe o que os olhos veem, o que o coração deseja e o que os dedos manipulam. Ele também sabe dos inúteis esforços do homem de tentar enganá-lo. Mais cedo ou mais tarde, um ser humano deverá encarar seus atos e prestar contas de todos eles.
Outra verdade importante é encontrada no fato de que, assim que o pecado foi expiado, a porta da esperança se abriu. O povo sentiu mais uma vez a segurança de que poderia avançar. Esta verdade continua em ação. Aquele que aceita o sacrifício de Cristo pelo pecado imediatamente olha para a vida com esperança e segurança”.(MULDER, C. O. et al. Comentário Bíblico Beacon. 1.ed. Vol.2. RJ: CPAD, 2005, p.45)
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A VIDA DO NOVO CONVERTIDO
2 Coríntios 5.17; Tito 2.11-13; 3.3-8.
2 Coríntios 5
17 - Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram: eis que tudo se fez novo.
Tito 2
11 - Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens,
12 - ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente,
13 - aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo,
Tito 3
3 - Porque também nós éramos, noutro tempo, insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros.
4 - Mas, quando apareceu a benignidade e o amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens,
5 - não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo,
6 - que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador,
7 - para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.
8 - Fiel é a palavra, e isto quero que deveras afirmes, para que os que crêem em Deus procurem aplicar-se às boas obras; estas coisas são boas e proveitosas aos homens.
Palavra Chave
Novo Nascimento: Transformação interior operada pelo Espírito Santo na vida daquele que crê em Jesus Cristo e o aceita como Salvador.
Jesus foi categórico: “Aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3.3). As Escrituras também afirmam: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5.17).
Por conseguinte, a mudança de caráter do homem, outrora sem Deus, em um novo homem à semelhança de Cristo, é a comprovação objetiva da nova vida em Cristo Jesus (Ef 4.25-32).
Você já experimentou o novo nascimento? Saiba que a regeneração é uma nova dimensão de vida produzida pelo Espírito Santo.
Quando pela fé, aceitamos o sacrifício de Cristo, damos o primeiro passo na vida cristã e imediatamente inicia-se um processo de transformação, em nosso interior, para experimentarmos “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
Na verdade, aquele que “nasce de novo” sofre uma transformação radical de vida, começando pelo seu interior, abrangendo todo seu coração, desejo e vontade (At 2.37; Rm 5.5; 2 Co 7.2). Tal transformação é refletida nas esferas espiritual e social da vida do novo convertido (Mt 5.13.14).
Avancemos, “olhando para Jesus, o autor e consumador da fé” (Hb 12.2). Enquanto o apóstolo Pedro olhava para o Senhor, caminhava por sobre águas. Porém, ao desviar os seus olhos de Cristo, começou a ser envolvido pelas ondas daquelas águas (Mt 14.22-33). Portanto, avancemos para grandes vitórias em Deus, olhando somente para Cristo, a nossa eterna e sublime esperança (Cl 1.27; 1 Tm 1.1).
III. QUANDO ESTAMOS EM CRISTO
A verdadeira alegria é o resultado do novo nascimento. Muitos buscam ser felizes pela aquisição de bens materiais, mas a real felicidade é o resultado de uma mudança radical em nosso ser. Esta mudança é perfeitamente possível. Basta crer e permitir que o Senhor Jesus o faça. Deixe o seu passado para trás e avance para o alvo que é Cristo, o autor e consumador de nossa fé.
“Quando correspondemos ao chamado divino e ao convite do Espírito e da Palavra, Deus realiza atos soberanos que nos introduzem na família de seu Reino: regenera os que estão mortos nos seus delitos e pecados; justifica os que estão condenados diante de um Deus santo e adota os filhos do inimigo. Embora estes atos ocorram simultaneamente naquele que crê, é possível examiná-los separadamente.
A regeneração é a ação decisiva e instantânea do Espírito Santo, mediante a qual Ele cria de novo a natureza interior. O substantivo grego (palingenesia) traduzido por ‘regeneração’ aparece apenas duas vezes no Novo Testamento. Mateus 19.28 emprega-o com referência aos tempos do fim. Somente em Tito 3.5 se refere à renovação espiritual do indivíduo. Embora o Antigo Testamento tenha em vista a nação de Israel, a Bíblia emprega várias figuras de linguagem para descrever o que acontece.
O Novo Testamento apresenta a figura do ser criado de novo (2 Co 5.1 7) e da renovação (Tt 3.5), porém a mais comum é a de ‘nascer’ (gr. gennaō, ‘gerar’ ou ‘dar à luz’). Nascer de novo diz respeito a uma transformação radical. Mas ainda se faz mister um processo de amadurecimento. A regeneração é o início do nosso crescimento no conhecimento de Deus, na nossa experiência de Cristo e do Espírito e no nosso caráter moral” (HORTON, S. M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva Pentecostal. 1.ed., RJ: CPAD, 1996, pp.371-2).
“O novo nascimento no Evangelho de João
Encontramos a única menção explícita ao novo nascimento na conversa de Jesus com Nicodemos (3.1-21). Jesus fala a Nicodemos: ‘Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus’ (v.3). A réplica de Nicodemos: ‘Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer?’ (v.4), indica que ele entendeu o comentário de Jesus na esfera humana, física. A interpretação errônea de Nicodemos fornece a Jesus a oportunidade de esclarecer o que queria dizer. Ele fala da necessidade de um novo nascimento espiritual, não de um segundo nascimento físico (vv.6-8). A interpretação errônea e o esclarecimento resultante dela são refletidos em um jogo de palavras no versículo 3 (repetidas no v.7). A palavra grega aōthen, traduzida por ‘novo’, na NVI, pode querer dizer ‘de novo’ ou ‘de cima’. Contudo, o fato de Nicodemos entendê-la com o sentido de ‘de novo’ leva-o a concluir que Jesus fala de um segundo nascimento físico, mas a resposta de Jesus, registrada nos versículos 6-8, mostra que Ele se refere à necessidade de um nascimento espiritual, um nascimento ‘de cima’. Esse novo nascimento não é resultado de nenhum ato humano (cf. v.6), é obra do Espírito Santo (v.8). É necessária a atividade sobrenatural do Espírito de Deus para realizar esse novo nascimento espiritual no indivíduo. Ele não consiste apenas em percepção ou compreensão mais excelente, mas na completa transformação do indivíduo (cf. 2 Co 5.17)” [ZUCK, R. B. (Ed.) Teologia do Novo Testamento. 1.ed., RJ: CPAD, 2008, pp.245-6].
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A FAMILIA E A IGREJA
Romanos 16.1-5,7,10,11,13,15,24.
1 - Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencréia,
2 - para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem hospedado a muitos, como também a mim mesmo.
3 - Saudai a Prisca e a Áquila, meus cooperadores em Cristo Jesus,
4 - os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios.
5 - Saudai também a igreja que está em sua casa. Saudai a Epêneto, meu amado, que é as primícias da Ásia para Cristo.
7 - Saudai a Andrônico e a Júnia, meus parentes e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos, e que estavam em Cristo antes de mim.
10 - Saudai a Apeles, aprovado em Cristo. Saudai aos da família de Aristóbulo.
11 - Saudai a Herodião, meu parente. Saudai aos da família de Narciso, os que estão no Senhor.
13 - Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e minha.
15 - Saudai a Filólogo e a Júlia, a Nereu e a sua irmã, e a Olimpas, e a todos os santos que com eles estão.
24 - A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém.
Relacionamento: Capacidade em maior ou menor grau de relacionar-se, conviver ou comunicar-se com seus semelhantes.
Num mundo de intensas mudanças e incertezas a Igreja é a única instituição em que o cristão e sua família podem contar. Lares sofrem terríveis ataques do inimigo, e muitas famílias não têm resistido, sucumbindo moral e espiritualmente às investidas malignas. Por isso a Igreja do Senhor, representada pela comunidade local, é o ponto de apoio espiritual e moral para a família. Ali se aperfeiçoam os relacionamentos entre os cônjuges, pais e filhos, avós e netos. A família cristã se desenvolve no dia a dia da igreja local.
A família fortalecida na igreja é tão importante que o apóstolo Paulo aconselhou o pastor Timóteo a respeito da qualidade de um candidato ao episcopado. O apóstolo destaca a relação do aspirante com a própria família: “Convém, pois, que o bispo [...] governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?)” (1Tm 3.2,4,5). Aqui, ele expressa o impacto do relacionamento familiar com a funcionalidade da igreja local. Famílias desgovernadas, inevitavelmente, geram uma igreja sem direção.
III. A FAMÍLIA NA IGREJA LOCAL
CONCLUSÃO
Na lição desta semana vimos que a família é o elemento básico da igreja local. Esta, por sua vez, deve ser uma comunidade acolhedora de famílias carentes. E a família chamada por Deus, tem o privilégio de servir ao Altíssimo juntamente com outras famílias numa igreja local. Aqui, somos ensinados, edificados e exortados a representar o Reino de Deus neste mundo moderno. Portanto, não perca tempo: envolva-se com a sua igreja local, pois esta precisa de você e toda a sua família.
“Em plena época do Cristianismo, à luz das ricas revelações bíblicas, fatos que ocorreram há milhares de anos tornam a se repetir. Os desígnios de Deus se chocam com as atitudes dos homens, que não somente vivem chamado ‘século das luzes’, mas também dizem ser iluminados pelo Espírito Santo de Deus.
Reportemo-nos aos exemplos das boas relações entre jovens e velhos, de um período de 1500 a.C., com Moisés e Josué, até aos dias de Paulo e Timóteo, ocasião em que a luz dos conhecimentos, quer seculares, quer espirituais, era incompativelmente mais fraca e as revelações de Deus esporádicas. Se pela vontade e orientação de Deus, esses homens da Antiguidade foram capazes de evidenciar um relacionamento exemplar, por que entre os cristãos de hoje, constata-se a realidade dos abismos de gerações? Por que há tanta divergência até entre pais e filhos que têm em mãos a infalível Palavra de Deus? Por que muitos pais, ao nascerem os filhos, recebem-nos com desgosto? Por que tanta insubmissão aos velhos? Por que há filhos que se sentem tão independentes dos pais, mesmo quando dependem deles para tudo?”(SOUZA, E. Â. ...e fez Deus a família: O padrão divino para um lar feliz. 1 ed., RJ: CPAD, 1999, pp.251-52).
“A Família do Pastor
Um recente best-seller sobre o ministério pastoral contém um capítulo intitulado ‘Alerta: O Ministério Pode Ser uma Ameaça para Sua Família’. Por mais chocante que seja, o título reflete com precisão a realidade do ministério pastoral hoje. Uma pesquisa pastoral realizada em 1992, publicada em um importante jornal, descobriu as seguintes dificuldades significativas que produzem problemas conjugais nas famílias dos pastores:
Hoje em nossos dias, ninguém questiona o fato óbvio de que a maioria dos pastores e suas famílias estão sofrendo pressões cada vez maiores por causa do ambiente em que estão ministrando. Isso não é de surpreender quando se reflete sobre a natureza do ministério. Considere estas pressões envolvidas no pastorado:
[...] 8. O pastor e a sua família parecem viver em um aquário que todos podem observar.
[...] 10. Como figura pública, o pastor pode receber as mais duras críticas tanto da comunidade como da congregação.
Ninguém que reflita um pouco pode negar que o ministério é potencialmente perigoso para o casamento e a família do pastor. Mas seria isso mesmo? Ou melhor, é necessário que seja assim? Ou, mais importante, Deus quer que seja assim?” (MACARTHUR, J. JR. (Ed.). Ministério Pastoral: Alcançando a excelência no ministério cristão. 7 ed., RJ: CPAD, 2012, pp.163-64).
A Família e a Igreja
A família tem importante participação na igreja. Pelo que se entende do Livro de Atos, a igreja cresceu muito nos lares, pois, por causa da perseguição, as reuniões começaram a ser feitas em residências familiares. Quando Pedro foi aprisionado por Herodes na época da páscoa, a igreja estava em contínua oração pelo apóstolo a Deus na casa de João Marcos, até que ele foi solto. O Espírito Santo de Deus desceu em uma reunião na casa de um centurião chamado Cornélio, enchendo a todos de forma que falaram em línguas da mesma forma que os seguidores de Cristo em Jerusalém falaram. Portanto, não devemos nos surpreender com a interação entre igreja e família descrita na Palavra de Deus.
A igreja é formada por famílias. A unidade familiar é preponderante para a formação da igreja local. Temos ciência de que há diversas pessoas que congregam em nossas igrejas sem que suas famílias (pais, irmãos, avós, cônjuges ou filhos) pertençam à fé evangélica, mas isso não diminui a qualidade daquela pessoa, pois ali existe uma representação familiar. Aquela pessoa ora a Deus por seus familiares.
A igreja fortalece a família. Se por um lado a igreja deve ser composta de famílias, é certo que a igreja fortalece os relacionamentos familiares e a comunhão entre irmãos congregados. Na igreja, a família é fortalecida por meio do ensino cristão sistemático, respeitadas as devidas faixas etárias com suas necessidades próprias. Na igreja a família aprende a ter comunhão com outras pessoas e famílias, aprende a contribuir para o sustento do templo, a desenvolver seus talentos e o poder da oração.
A família do obreiro — Nossos ministros precisam de nossas orações não apenas por eles mesmos, mas também por suas famílias. Não raro, há obreiros que são atacados indiretamente por Satanás, que atingindo a família deles, os atinge também. É triste ver um filho de pastor fora dos caminhos do Senhor, mas é ainda mais triste ver que na congregação há pessoas que murmuram e acusam o ministro por essa situação. Ao invés de orarem por seu pastor e pela família que ele tem, falam mal do obreiro, mas quando um dos seus precisa de oração, é ao pastor que recorrem pedindo oração e até visitas! Aprendamos a interceder por nossos ministros e por suas famílias, pois são alvo dos ataques do Inimigo. Demonstremos amor por nossos líderes apresentando seu lar ao Senhor, para que toda a família possa estar diante de Cristo, pois um dia nós mesmos podemos precisar dessas orações.
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Não a segurança material, mas a direção de Deus Mt 6.19-34
Na primeira metade de Mateus 6 (vs. 1-18), Jesus descreve a vida particular do cristão "no lugar secreto" (dando, orando, jejuando); na segunda parte (vs. 19-34) ele trata dos nossos negócios públicos no mundo (questões de dinheiro, de propriedades, de alimento, de bebida, de roupa e de ambição). Os mesmos contrastes poderiam ser expressos em termos de nossas responsabilidades "religiosas" e "seculares". Esta diferença é enganosa, porque não podemos separar estes dois aspectos em compartimentos herméticos. Na verdade, o divórcio entre o sagrado e o secular na história da Igreja tem sido desastroso. Se somos cristãos, tudo o que fazemos, por mais "secular" que possa parecer (como fazer compras, cozinhar, fazer cálculos no escritório, etc), é "religioso", no sentido de que é feito na presença de Deus e de acordo com a sua vontade. Uma ênfase de Jesus neste capítulo é exatamente sobre este ponto, que Deus está igualmente preocupado com as duas áreas da nossa vida: a particular e a pública; a religiosa e a secular. Pois, de um lado, "teu Pai celeste vê em secreto" (vs. 4, 6, 18) e, de outro, "vosso Pai celestial sabe que necessitais de alimento, bebida e roupa" (v. 32).
Ouvimos os mesmos insistentes convites de Jesus, nas duas esferas, o chamado para sermos diferentes da cultura popular: diferentes da hipocrisia do religioso (v. 1-18) e, agora, também diferentes do materialismo do irreligioso (vs. 19-34). Embora no começo do capítulo fossem principalmente os fariseus que estavam na mente de Jesus, agora é ao sistema de valores dos "gentios" que ele nos incita a renunciar (v. 32). Na verdade, Jesus coloca alternativas diante de nós em cada estágio. Há dois tesouros (na terra e no céu, vs. 19-21), duas condições físicas (luz e trevas, vs. 22, 23), dois senhores (Deus e as riquezas, v. 24) e duas preocupações (nosso corpo e o reino de Deus, vs. 25-34). E não podemos pôr os pés em duas canoas!
Mas, como fazer a escolha? A ambição do mundo nos fascina fortemente. O encanto do materialismo é difícil de se quebrar. Nesta seção, Jesus nos ajuda a escolher o melhor. Ele destaca a insensatez do caminho errado e a sabedoria do certo. Como nas seções anteriores, sobre a piedade e a oração, aqui, relativamente à ambição, ele coloca o falso e o verdadeiro, um em oposição ao outro, de tal modo que nos leva a compará-los e examiná-los por nós mesmos.
Este tópico coloca-nos diante da grande urgência da nossa geração. A medida que a população do mundo continua aumentando assustadoramente e os problemas econômicos das nações se tornam cada vez mais complexos, os ricos continuam ficando mais ricos e os pobres, mais pobres. Não podemos mais fechar os olhos diante dos fatos. A antiga complacência do Cristianismo burguês foi perturbada. A adormecida consciência social de muitos já foi despertada. Redescobriu-se que o Deus da Bíblia está do lado dos pobres e necessitados. Os cristãos responsáveis sentem desconforto quando pensam na abundância e estão procurando desenvolver um estilo de vida simples, que seja adequado face às necessidades do mundo e, por lealdade, de acordo com os ensinamentos e o exemplo do seu Mestre.
Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; 20mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam; 21porque onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.
Aqui, o ponto para onde Jesus dirige nossa atenção é a durabilidade comparativa dos dois tesouros. Deveria ser fácil decidir qual dos dois ajuntar, ele dá a entender, porque tesouros sobre a terra são corruptíveis e, portanto, inseguros, enquanto que tesouros no céu são incorruptíveis e, consequentemente, seguros. Afinal, se nosso objetivo é ajuntar tesouros, presumivelmente nós nos concentraremos na espécie que vai durar mais e que pode ser armazenada sem depreciação ou deterioração.
É importante enfrentar franca e honestamente a questão: o que Jesus estava proibindo, quando nos disse para não ajuntarmos tesouros para nós mesmos na terra? Talvez seja melhor começarmos com uma lista do que ele não estava (e não está) proibindo. Primeiro, não há maldição alguma quanto às propriedades em si; as Escrituras não proíbem, em parte alguma, as propriedades particulares. Segundo, "economizar para dias piores" não foi proibido aos cristãos, nem fazer um seguro de vida, que é apenas uma espécie de economia compulsória auto-imposta. Pelo contrário, as Escrituras louvam a formiga que armazena no verão o alimento de que vai precisar no inverno, e declara que o crente que não faz provisão para a sua família é pior do que um incrédulo (Pv 6:6ss; l Tm 5:8.). Terceiro, não devemos desprezar mas, antes, desfrutar as boas coisas que o nosso Criador nos concedeu abundantemente (l Tm 4:3,4; 6:17.). Portanto, nem as propriedades, nem a provisão para o futuro, nem o desfrutar dos dons de um Criador bondoso estão incluídos na proibição dos tesouros acumulados na terra.
O que está, então? O que Jesus proíbe a seus discípulos é a acumulação egoísta de bens ("Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra"); uma vida extravagante e luxuosa, a dureza de coração que não deixa perceber as necessidades colossais das pessoas menos privilegiadas neste mundo; a fantasia tola de que a vida de uma pessoa consiste na abundância de suas propriedades (Lc 12:15.); e o materialismo que acorrenta nossos corações à terra. O Sermão do Monte repetidas vezes refere-se ao "coração" e, aqui, Jesus declara que o nosso coração sempre segue o nosso tesouro, quer para baixo para a terra, quer para o alto para o céu (v. 21). Resumindo, "acumular tesouros sobre a terra" não significa ser previdente (fazer ajuizadas provisões para o futuro), mas ganancioso (como o sovina que acumula e os materialistas que sempre querem mais). Esta é a armadilha contra a qual Jesus nos adverte aqui. "Sempre que o Evangelho é ensinado", escreveu Lutero, "e as pessoas procuram viver de acordo com ele, surgem duas terríveis pragas: os falsos pregadores, que corrompem o ensino, e, então, a Sra. Ganância, que impede um viver justo."
O "tesouro na terra", por nós cobiçado, Jesus nos lembra: "A traça e a ferrugem destroem, e ... os ladrões o arrombam e roubam" (BLH). A palavra grega para "ferrugem" (brasis) significa "comer"; pode referir-se à corrosão causada pela ferrugem, mas também a qualquer peste ou parasita devoradora. Naquele tempo, as traças entravam facilmente nas roupas das pessoas, os ratos comiam os cereais armazenados, pestes atacavam o que estivesse debaixo da terra, e os ladrões entravam nos lares e levavam o que fosse possível. Não havia a menor segurança no mundo antigo. E para nós, gente moderna, que procuramos proteger os nossos tesouros com inseticidas, venenos contra ratos, ratoeiras, tintas à prova de ferrugem e arames contra ladrões, mesmo assim eles se desintegram na inflação ou na desvalorização ou nos colapsos econômicos. Mesmo que uma parte permaneça através desta vida, nada podemos levar conosco para a outra. Jó estava certo: "Nu saí do ventre de minha mãe, e nu voltarei (Jó 1:21.)."
Mas o "tesouro no céu" é incorruptível. Que tesouro é esse? Jesus não explica. Mas podemos dizer com toda certeza que "ajuntar tesouros no céu" é fazer na terra alguma coisa cujos efeitos durem pela eternidade. Jesus não estava, certamente, ensinando uma doutrina de méritos ou um "tesouro de méritos" (como a Igreja Católica medieval ensinava), como se pudéssemos acumular no céu, através de boas obras praticadas na terra, uma espécie de crédito bancário do qual nós e outros pudéssemos sacar, pois tal noção grotesca contradiz o Evangelho da graça que Jesus e seus apóstolos ensinaram coerentemente. E, de qualquer modo, Jesus estava falando a discípulos que já tinham recebido a salvação de Deus. Parece, antes, referir-se a coisas tais como: o desenvolvimento de um caráter semelhante ao de Cristo (uma vez que todos nós podemos levá-lo conosco para o céu); o aumento da fé, da esperança e da caridade, pois todas elas, segundo Paulo, "permanecem" (1 Co 13:13.); o crescimento no conhecimento de Cristo, o qual um dia veremos face a face; a tarefa ativa, por meio da oração e do testemunho, de apresentar outros a Cristo, para que também possam herdar a vida eterna; e o uso de nosso dinheiro nas causas cristãs, que é o único investimento financeiro cujos dividendos são eternos.
Todas estas atividades são temporais com consequências eternas. Este seria, então, "o tesouro no céu". Nenhum ladrão pode roubá-lo, e nenhuma praga pode destruí-lo, pois não há traças, nem ratos, nem assaltantes no céu. Portanto, o tesouro no céu é seguro. Medidas de precaução para protegê-lo são desnecessárias. Não precisa de apólices de seguro. É indestrutível. Portanto, parece que Jesus está nos dizendo: "É um investimento seguro para vocês; nada poderia ser mais seguro do que isto. É a única apólice de seguro que jamais perde o seu valor."
São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; 23se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!
Jesus passa da comparativa durabilidade dos dois tesouros para o benefício relativo de duas condições. O contraste agora é entre uma pessoa cega e uma pessoa que tem visão, e, consequentemente, entre as trevas e a luz em que elas respectivamente vivem. São os olhos a lâmpada do corpo. Não é literal, naturalmente, como se fossem uma espécie de janela deixando a luz entrar no corpo; mas é uma figura de linguagem facilmente inteligível. Quase tudo que o corpo faz depende de nossa capacidade de ver. Precisamos ver para correr, para pular, para dirigir um carro, para atravessar uma rua, para cozinhar, para bordar, para pintar. O olho, pelo que é, "ilumina" o que o corpo faz com as mãos e os pés. É verdade que os cegos conseguem enfrentar sua situação maravilhosamente bem, aprendendo a fazer uma porção de coisas sem os olhos, e desenvolvendo suas demais faculdades para compensar a falta de visão. Mas o princípio continua: quem vê anda na luz, enquanto que o cego permanece nas trevas. E a grande diferença entre a luz e as trevas do corpo deve-se a esse pequenino mas complicado órgão, o olho. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Na cegueira total, as trevas são completas.
Tudo isto é uma descrição de fatos. Mas também é uma metáfora. Com bastante frequência, o "olho" nas Escrituras é equivalente ao "coração". Isto é, "colocar o coração" e "fixar os olhos" em alguma coisa sãosinônimos. Um exemplo será suficiente, no Salmo 119. No versículo 10 o salmista escreve: "De todo o coração te busquei; não me deixes fugir aos teus mandamentos" e, no versículo 18: "Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei." Semelhantemente, aqui no Sermão do Monte, Jesus passa da importância de se ter o coração no lugar certo (v. 21) para a importância de se ter os olhos bons e sadios.
A argumentação parece ser esta: exatamente como nossos olhos afetam todo o nosso corpo, a nossa ambição (onde fixamos nossos olhos e nosso coração) afeta toda a nossa vida. Exatamente como o olho que vê dá luz ao corpo, uma ambição nobre e sincera de servir a Deus e aos homens aumenta o significado da vida e lança luz sobre tudo que fazemos. Repito: exatamente como a cegueira leva às trevas, uma ambição ignóbil e egoísta (por exemplo, ajuntar tesouros para nós mesmos sobre a terra) faz-nos mergulhar nas trevas morais. Ficamos intolerantes, desumanos, grosseiros, despojando a vida de seu principal significado.
Tudo é uma questão de visão. Se temos visão física, podemos ver o que estamos fazendo e para onde vamos. Da mesma forma, se temos visão espiritual, se nossa perspectiva espiritual está devidamente ajustada, então nossa vida fica cheia de propósito e de incentivo. Mas se a nossa visão se torna anuviada pelos falsos deuses e pelo materialismo, e nós perdemos nosso senso de valores, então toda a nossa vida fica em trevas e não podemos ver para onde vamos. Talvez a ênfase esteja, com muito mais força do que já sugeri, na perda da visão causada pela ganância, porque, de acordo com o conceito bíblico, um "olho mau" é um espírito sovina, avarento, e um "olho bom" é o generoso. De qualquer forma, Jesus acrescenta novos motivos para ajuntarmos um tesouro no céu. O primeiro é a sua grande durabilidade; o segundo resulta dos benefícios atuais, aqui na terra, de uma visão assim.
Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.
Jesus explica, agora, que além da escolha entre dois tesouros (onde vamos ajuntá-los) e entre duas visões (onde vamos fixar os nossos olhos) jaz uma escolha ainda mais básica: entre dois senhores (a quem vamos servir). É uma escolha entre Deus e Mamom: "Não podeis servir a Deus e a Mamom" (ERC); isto é, entre o próprio Criador vivo e qualquer objeto de nossa própria criação que chamamos de "dinheiro" ("Mamom" é uma transliteração da palavra aramaica para riqueza). Não podemos servir aos dois.
Algumas pessoas discordam destas palavras de Jesus. Recusam-se a ser confrontadas com uma escolha tão rígida e direta, e não veem a necessidade dela. Asseguram-nos que é perfeitamente possível servir a dois senhores simultaneamente, por conseguirem fazer isso muito bem. Diversos arranjos e ajustes possíveis parecem-lhes atraentes. Ou eles servem a Deus aos domingos e a Mamom nos dias úteis, ou a Deus com os lábios e a Mamom com o coração, ou a Deus na aparência e a Mamom na realidade, ou a Deus com metade de suas vidas e a Mamom com a outra.
Pois é esta solução popular de comprometimento que Jesus declara ser impossível: Ninguém pode servir a doissenhores . . . Não podeis servir a Deus e às riquezas (observe o "pode" e o "não podeis"). Os pretensos conciliadores interpretam mal este ensinamento, pois se esquecem da figura de escravo e dono de escravo que se encontra por trás destas palavras. Como McNeile disse: "Pode-se trabalhar para dois empregadores, mas nenhum escravo pode ser propriedade de dois senhores", pois "ter um só dono e prestar serviço de tempo integral são da essência da escravidão". Portanto, qualquer pessoa que divide sua devoção entre Deus eMamom já a concedeu a Mamom, uma vez que Deus só pode ser servido com devoção total e exclusiva. Isto simplesmente porque ele é Deus: "Eu sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem. (Is 42:8; 48:11.)" Tentar dividir a nossa lealdade é optar pela idolatria.
E quando percebemos a profundidade da escolha entre o Criador e a criatura, entre o Deus pessoal glorioso e essa coisinha miserável chamada dinheiro, entre a adoração e a idolatria, parece inconcebível que alguém faça a escolha errada, pois agora é uma questão não apenas de durabilidade e benefício comparativos, mas sim de valor comparativo: o valor intrínseco de um e a intrínseca falta de valor do outro.
Por isso vos digo: Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes?26Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? 27Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um cavado ao curso da sua vida? 28E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. 29Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. 30Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? 31Portanto não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? ou: Com que nos vestiremos? 32porque os gentios é que procuram todas estas cousas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; 33buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas. 34Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.
É uma pena que, nas igrejas, esta passagem seja frequentemente lida isoladamente, fora do seu contexto. E, assim, o significado do Por isso vos digo introdutório perde-se completamente. Portanto, devemos começar relacionando este "por isso", com o ensinamento que levou Jesus a esta conclusão. Antes de nos convocar a agir, ele nos convoca a pensar. Convida-nos a examinar clara e friamente as alternativas que foram expostas, pesando-as cuidadosamente. Queremos acumular tesouros? Então, qual das duas possibilidades é mais durável? Queremos ser livres e objetivos em nossas atividades? Queremos servir ao melhor dos senhores? Então devemos considerar qual é o mais digno da nossa devoção. Apenas depois que tivermos assimilado em nossas mentes a durabilidade comparativa dos dois tesouros (o corruptível e o incorruptível) e o valor comparativo dos dois senhores (Deus e Mamom), estaremos prontos a fazer a escolha. E só depois que tivermos feito a nossa escolha — o tesouro celeste, a luz, Deus — estaremos preparados para ouvir as palavras que seguem: Por isso vos digo como deveis vos comportar: Não andeis ansiosos pela vossa vida. . . nem pelo vosso corpo. . . buscai, pois, em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça (vs. 25, 33). Em outras palavras, nossa escolha básica quanto a qual dos dois mestres desejamos servir afetará radicalmente nossa atitude para com ambos. Não ficaremos ansiosos sobre um deles, já que o rejeitamos, mas nos concentraremos, mente e energia, no outro, a quem escolhemos. E, ao invés de nos perdermos em nossas próprias preocupações, buscaremos em primeiro lugar aquilo que interessa a Deus.
A linguagem de Cristo sobre a busca (contrastando os gentios no que os seus discípulos devem buscar em primeiro lugar; vs. 32, 33) introduz-nos à questão da ambição. Jesus considerou que todos os seres humanos "buscam" alguma coisa. Não é natural que as pessoas fiquem à deriva, sem alvo na vida, como um plâncton. Precisamos de alguma coisa pela qual viver, algo que dê significado à nossa existência, alguma coisa para "buscar", alguma coisa sobre a qual colocar o nosso coração e a nossa mente. Embora poucos hoje em dia usem a linguagem dos antigos filósofos gregos, o que nós buscamos, de fato, é aquilo que eles chamavam de "o Bem Supremo", para lhe dedicarmos as nossas vidas. Provavelmente, "ambição" é o termo equivalente moderno. É verdade que, no dicionário, esta palavra significa "um forte desejo de alcançar o sucesso" e, portanto, de um modo geral, a sua imagem é ruim, pois tem um sabor egoísta. É neste sentido que Shakespeare, em sua peça "Henrique VIII", faz este apelo a Thomas Cromwell: "Cromwell, eu te desafio, põe de lado a ambição. Por causa desse pecado caíram anjos . . ." Mas a "ambição" pode igualmente referir-se a fortes desejos, altruístas em lugar de egoístas, piedosos ao invés de mundanos. Resumindo, é possível ter "ambições para Deus". A ambição refere-se aos alvos de nossa vida e ao incentivo que temos de atingi-los. A ambição de uma pessoa é aquilo que a impele: revela a mola principal de suas ações, suas mais secretas motivações. Isto, então, é o que Jesus estava dizendo ao definir, na contracultura cristã, o que devemos buscar "em primeiro lugar".
Novamente, nosso Senhor simplifica o assunto para nós, reduzindo em apenas duas as alternativas possíveis de alvos na vida.
Nesta seção, ele as confronta uma com a outra, insistindo com os seus discípulos que não se preocupem com a própria segurança (alimento, bebida e vestimentas), pois essa é a obsessão dos "gentios", que não o conhecem; mas que se preocupem antes com o reino de Deus e com a justiça divina, bem como com a sua propagação e o seu triunfo no mundo.
Há alguns anos recebi um exemplar gratuito de Accent, uma nova revista, muito bem apresentada, cujo subtítulo é "A Boa Vida em Foco" (Accent on Good Living). Continha atraentes anúncios de champanha, cigarros, alimentos, roupas, antiguidades e tapetes, junto com a descrição de um fim-de-semana para compras esotéricas em Roma. Havia artigos sobre como possuir um computador na cozinha; como ganhar uma viagem de luxo por mar ou, em lugar disso, cem dúzias de uísque escocês; e como quinze milhões de mulheres não podem estar erradas na escolha de cosméticos. Prometia, então, no exemplar do mês seguinte, artigos sedutores sobre férias no Caribe, roupa de cama aconchegante, roupa íntima elegante para o frio, e as delícias da carne de veado e de tâmaras importadas. Do começo ao fim preocupava-se com o bem-estar do corpo e como alimentá-lo, vesti-lo, aquecê-lo, refrescá-lo, relaxá-lo, entretê-lo, enfeitá-lo e estimulá-lo.
Por favor, não me entendam mal. Jesus Cristo não negou nem desprezou as necessidades do corpo. Para sedizer a verdade, foi ele que o criou, e dele ele cuida. E acabou de nos ensinar a orar: "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje". O que, então, ele está a dizer? Está enfatizando que ficar absorto pelo conforto material é uma falsa preocupação. De um lado, não é produtivo (exceto pelas úlceras e pelas preocupações novas que surgem); por outro, não é necessário (porque "vosso Pai celeste sabe que necessitais . . .", vs. 8 e 32); mas especialmente porque não vale a pena. Indica uma falsa visão dos seres humanos (como se fossem apenas corpos precisando de alimento, água, roupas e casa) e da vida humana (como se fosse apenas um mecanismo fisiológico precisando de proteção, lubrificação e combustível). Uma preocupação exclusiva com alimento, bebida e roupas poderia se justificar apenas se a sobrevivência física fosse tudo nesta vida. Se vivêssemos apenas para viver, então, sim, o sustento do nosso corpo seria a nossa principal preocupação. Por isso entende-se que, em condições críticas de fome, a luta pela sobrevivência tenha precedência sobre outras coisas. Mas fazê-lo em circunstâncias comuns expressa um conceito reducionista do homem, que é totalmente inaceitável. Degrada-o ao nível dos animais, das aves e das plantas. Mas a grande maioria dos anúncios de hoje é dirigida para o corpo: roupa íntima visando torná-lo mais atraente, desodorantes para mantê-lo perfumado, bebidas alcoólicas para animá-lo quando está cansado . . . Esta preocupação provoca as seguintes perguntas: o bem-estar físico é um objetivo válido para lhe devotarmos nossas vidas? Não tem a vida humana mais significado do que isto? Os gentios é que procuram todas estas comas. Que procurem! Mas, quanto a vocês, meus discípulos, Jesus dá a entender, essas coisas são um alvo absolutamente sem valor, pois não constituem o "Supremo Bem" da vida.
Agora precisamos esclarecer o que Jesus está proibindo, e que motivos ele dá para essa proibição. Primeiro, não está proibindo o pensamento. Pelo contrário, está estimulando-o quando prossegue ordenando-nos a olhar para as aves e flores e "considerar" como Deus cuida delas. Segundo, não está proibindo a previdência. Já mencionei como a Bíblia aprova a formiga. Também os passarinhos, os quais Jesus elogiou, fazem provisão para o futuro, construindo ninhos, botando e chocando ovos, e alimentando os filhotes. Muitos migram para climas mais quentes antes do inverno (o que é um exemplo notável de previdência, embora instintiva), e alguns até armazenam alimento, como os picanços, que formam a sua própria despensa espetando insetos sobre espinhos. Portanto, não encontramos aqui nada que impeça os cristãos de fazer planos para o futuro ou de dar passos sensatos para a sua realização. O que Jesus proíbe não é o raciocínio nem a previdência, mas a preocupação ansiosa. Este é o significado da ordem më merimnate. É a palavra que foi usada em relação aMarta, que estava "distraída" com o serviço da casa; e também em relação à boa semente lançada entre os espinhos, abafada pelos "cuidados" da vida; e ainda foi usada por Paulo na injunção: "Não andeis ansiosos de cousa alguma"( Lc 10:40; 8:14; Fp 4:6.). É como o Rev. Ryle expressou: "A provisão prudente para o futuro é boa; a fadiga, o desgaste, a ansiedade que atormenta são ruins."
Por que são ruins? Jesus replica, argumentando que esse tipo de preocupação obsessiva é incompatível, tanto com a fé cristã (vs. 25-30) como com o bom senso (v. 34); mas se detém mais no primeiro ponto.
Nossa experiência humana é a seguinte: Deus criou e agora sustenta a nossa vida; ele também criou e continua sustentando o nosso corpo. Este é um fato da experiência diária. Nós não nos fizemos, nem nos mantemos vivos. A nossa "vida" (pela qual Deus é o responsável) é obviamente mais importante do que o alimento e a bebida que nos nutrem. Semelhantemente, o nosso "corpo" (pelo qual Deus também é responsável) é mais importante do que a roupa que o cobre e aquece. Pois bem, se Deus já cuida do maior (nossa vida e nosso corpo), não podemos confiar nele para cuidar do menor (nosso alimento e nossa roupa)? A lógica é inevitável e, no versículo 27, Jesus a reforça com a pergunta: Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? Não está claro se a última palavra dessa pergunta (kêlikia) deveria ser traduzida por "curso da sua vida" (ERAB) ou "estatura" (ERC); pode significar as duas coisas. Acrescentar meio metro à nossa estatura seria um feito realmente notável, embora Deus o faça a todos nós entre a nossa infância e a idade adulta. Acrescentar um período de tempo ao curso de nossa vida também está fora de nosso alcance; um ser humano não pode consegui-lo sozinho. Na verdade, ao invés de alongar a vida, a preocupação "pode muito bem encurtá-la", como todos sabemos. Por isso, exatamente como deixamos essas coisas aos cuidados de Deus (pois certamente estão fora do nosso alcance), não seria sensato confiar nele para as coisas de menor importância, como o alimento e a roupa?
A seguir Jesus volta-se para o mundo sub-humano e argumenta de outra maneira. Ele usa as aves como ilustração do cuidado divino em alimentar (v. 26) e as flores para ilustrar o seu cuidado no vestir (vs. 28-30). Em ambos os casos, ele nos manda "olhar" ou "considerar", isto é, pensar sobre os fatos do cuidado providencial de Deus nesses dois casos. Alguns leitores sabem que eu mesmo tenho sido, desde a minha meninice, um entusiástico observador de pássaros. Sei, naturalmente, que essa atividade é considerada por alguns como um passatempo bastante excêntrico; olham-me com divertimento e condescendência. Mas declaro que tenho apoio bíblico para esta atividade. "Observai as aves do céu", disse Jesus! Na verdade, o assunto é sério, pois o verbo grego nesta ordem de Jesus (emblepsate eis) significa "fixe os olhos em (algo), para enxergar bem". Quando nos interessamos pelas aves e pelas flores (e devemos, tal como o nosso Mestre, estar conscientes do mundo natural que nos cerca, sendo gratos por ele), ficamos sabendo que os pássaros não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros, mas mesmo assim vosso Pai celeste os sustenta, e que os lírios do campo (anêmonas, papoulas, íris e gladíolos, todos têm sido sugeridos como alternativas para os lírios, embora a referência seja generalizada a todas as lindas flores da primavera na Galiléia) . . . não trabalham nem fiam, mas o nosso Pai celeste veste assima todas, ainda mais suntuosamente que Salomão, em toda a sua glória. Sendo assim, não podemos confiar nele para nos alimentar e nos vestir, já que temos muito mais valor do que as aves e as flores? Pois ele não veste atéa erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno?
"Vejam", escreve Martinho Lutero com muita beleza, "ele está fazendo das aves nossos professores e mestres. É uma grande e permanente vergonha para nós o fato de, no Evangelho, um frágil pardal se tornar teólogo e pregador para o mais sábio dentre os homens . . . Portanto, sempre que você ouvir a voz de um rouxinol, está ouvindo um excelente pregador . . . É como se ele estivesse dizendo: 'Eu prefiro estar na cozinha do Senhor. Ele fez o céu e a terra, e ele mesmo é o cozinheiro e o anfitrião. Todos os dias ele aumenta e nutre inúmeros passarinhos em sua mão'." Semelhantemente, desta vez citando Spurgeon:
"Maravilhosos lírios, como vocês reprovam o nosso tolo nervosismo!"
Não nos tocam estas singelas rimas?
Disse a rolinha ao pardal:
"Gostaria de saber Por que os homens, ansiosos,
Nunca param de correr!"
Respondeu o pardalzinho: "Minha amiga, eu penso assim:
Não sabem que o Pai celeste Cuida de ti e de mim!"
É uma figura encantadora, mas não um reflexo estritamente exato do ensinamento de Jesus, pois ele não disse que as aves têm um Pai celeste, mas sim que nós o temos, e que, se o Criador cuida de suas criaturas, podemos ter certeza de que o Pai também cuidará dos seus filhos.
Primeiro, os crentes não estão isentos de ganhar a sua própria vida. Não podemos ficar sentados numa poltrona, girando os polegares, murmurando "meu Pai celestial provera", sem fazer nada. Temos de trabalhar. Como Paulo disse mais tarde: "Se alguém não quer trabalhar, também não coma (2Ts3:10.)." Com sua simplicidade característica, Lutero escreve: "Deus . . . não tem nada a ver com os preguiçosos, com os glutões displicentes; eles agem como se apenas devessem ficar sentados à espera de que Deus lhes atire na boca um ganso assado."
Jesus usou as aves e as flores como evidências da capacidade de Deus para nos alimentar e vestir, conforme vimos. Mas como Deus alimenta as aves? Poderíamos responder que ele não o faz, pois elas se alimentam sozinhas! Jesus era um observador meticuloso. Ele sabia perfeitamente bem quais são os hábitos alimentares dos pássaros; sabia que alguns comem sementes, outros comem cadáveres e outros comem peixes, enquanto que outros ainda são insetívoros, predadores ou lixeiros. Deus os alimenta a todos. Mas o modo como o faz não é estendendo-lhes uma mão divina cheia de comida, mas providenciando na natureza os recursos para que eles se alimentem. Pode-se dizer o mesmo das plantas. "As flores não fazem o trabalho dos homens no campo ('não trabalham'), nem o trabalho das mulheres em casa ('não fiam')", mas Deus as veste. Como? Não milagrosamente, mas através de um processo complexo que arranjou, em que elas extraem do sol e do solo o seu sustento.
O mesmo acontece com os seres humanos. Deus supre, mas nós temos de cooperar. Hudson Taylor aprendeu esta lição em sua primeira viagem à China, em 1853. Quando uma tempestade violenta na costa gaulesa ameaçou o navio, ele achou que seria desonrar a Deus usar um salva-vidas. Por isso, desfez-se do seu. Mais tarde, entretanto, percebeu o seu erro: "O uso de meios não diminui a nossa fé em Deus, e a nossa fé em Deus não impede que usemos quaisquer meios que ele tenha fornecido para a realização dos seus propósitos".
Semelhantemente, Deus não coloca todos os seus filhos na situação do profeta Elias, nem lhes dá alimento milagrosamente por meio de anjos ou corvos mas, antes, através de meios mais naturais: fazendeiros, moleiros, granjeiros, peixeiros, açougueiros, merceeiros e outros. Jesus insiste conosco sobre a necessidade de uma confiança despretensiosa em nosso Pai celeste, mas ele sabe que a fé não é ingênua (ignorante das causas secundárias) nem arcaica (incompatível com a ciência moderna). Segundo, os crentes não estão isentos da responsabilidade para com os outros. Digo isso em relação ao segundo problema, que é mais de providência do que de ciência. Se Deus promete alimentar e vestir os seus filhos, por que há tanta gente subnutrida e mal vestida? Eu não poderia dizer levianamente que Deus cuida só dos seus próprios filhos, e que os pobres que têm falta de alimento e roupa adequada são todos incrédulos que estão fora do seu círculo familiar, pois certamente há pessoas cristãs em algumas regiões atacadas pela seca e pela fome, as quais passam toda espécie de necessidades. Não me parece haver uma solução simples para este problema. Mas é preciso destacar um ponto importante, isto é, que a principal causa da fome não é a falta da provisão divina, mas uma injusta distribuição por parte do homem. A verdade é que Deus forneceu recursos amplos na terra e no mar. A terra produz plantas que dão sementes e árvores que dão frutos. Os animais, as aves e os peixes que ele criou são frutíferos e multiplicam-se. Mas o homem açambarca, desperdiça ou estraga esses recursos, e não os distribui. Parece significativo que, no próprio Evangelho de Mateus, o mesmo Jesus que aqui afirma que nosso Pai aumenta e veste os seus filhos, mais tarde diz que nós mesmos devemos alimentar os famintos e vestir os nus, e que seremos julgados de acordo com isso. Sempre é importante permitir que as Escrituras interpretem as Escrituras. O fato de Deus alimentar e vestir os seus filhos não nos isenta da responsabilidade de sermos seus agentes para isso. Terceiro, os crentes não estão isentos das dificuldades. É verdade que Jesus proíbe que o seu povo se preocupe. Mas estar livre de preocupações e estar livre de dificuldades não é a mesma coisa. Cristo nos manda deixar de lado a ansiedade, mas não promete que seremos imunes a todos os infortúnios. Pelo contrário, há em seus ensinamentos muitas indicações de que ele sabia o que era a calamidade. Assim, embora Deus vista a erva do campo, não impede que ela seja cortada e queimada. Deus protege até mesmo os pardais, que são tão comuns e de um valor tão mínimo que se vendem dois por um real e cinco por dois reais, indo mais um de quebra. "Nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai" (Mt 10:29; cf. 12:6.), disse Jesus. Mas os pardais caem ao chão e são mortos. Sua promessa não foi que eles não cairiam, mas que isto não aconteceria sem o conhecimento e consentimento de Deus. As pessoas também caem, e os aviões, também. As palavras de Cristo não podem ser tomadas como uma promessa de que a lei da gravidade será revogada em nosso benefício, mas sim que Deus sabe a respeito dos acidentes e que ele os permite. Mais ainda, é significativo que, no final deste parágrafo, o motivo por que Jesus diz que não devemos ficar inquietos com o dia de amanhã é o seguinte: basta ao dia o seu próprio mal (v. 34). Portanto, haverá "cuidados" (kakia, "males"). A libertação que um cristão tem da ansiedade não se deve a alguma garantia de ausência de cuidados, mas por ser a preocupação (que examinaremos mais tarde) uma insensatez, e especialmente pela confiança que temos de que Deus é nosso Pai, que até mesmo a permissão para o sofrimento está dentro da órbita do seu cuidado (cf.Jó 2:10.), e que "todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm8:28.).
Esta foi a certeza que fortaleceu o Dr. Helmut Thielicke, ao pregar uma série de sermões sobre o Sermão do Monte na Igreja de São Marcos, em Stuttgart, durante aqueles terríveis anos (1946-1948) imediatamente após a segunda guerra mundial. Frequentemente aludia ao sonido das sirenes antiaéreas que durante a guerra alertavam o povo de ainda mais devastações e mortes provocadas pelas bombas dos aliados. O que a libertação da ansiedade poderia significar em tais circunstâncias? "Conhecemos a visão e o barulho das casas desmoronando em chamas . . . Nossos próprios olhos viram as chamas rubras e nossos próprios ouvidos ouviram os estrondos, os desmoronamentos e os gritos." Em tal cenário, ordenar que olhassem para as aves e os lírios poderia parecer muito falso. "Não obstante", o Dr. Thielicke prosseguiu, "acho que devemos parar e ouvir quando este homem, cuja vida na terra teve muito pouco de 'passarinhos e flores', aponta-nos para a despreocupação deles. Será que as tenebrosas sombras da cruz já não se espalhavam sobre esta hora em que ele pregou o Sermão do Monte?". Em outras palavras, é razoável confiar no amor de nosso Pai celeste, até mesmo nos momentos de dificuldades cruéis, porque temos o privilégio de ver esta revelação em Cristo e na sua cruz.
Portanto, os filhos de Deus não têm a promessa de que ficarão livres do trabalho, nem da responsabilidade, nem das dificuldades, mas apenas da preocupação. Esta, sim, nos é proibida: é incompatível com a fé cristã.
Portanto, a preocupação é uma perda de tempo, de pensamentos e de energia nervosa. Precisamos aprender a viver um dia de cada vez. Devemos, naturalmente, planejar o futuro, mas não nos preocupar com ele. "Vivam um dia de cada vez", ou "Bastam a cada dia suas próprias dificuldades". Portanto, por que antecipá-las? Se o fizermos, nós as multiplicaremos, pois, se nossos temores não se concretizarem, teremos nos preocupado em vão; no caso de se concretizarem, estaremos nos preocupando duas vezes em vez de uma. De qualquer forma é tolice: a preocupação aumenta a nossa perturbação.
Chegou o momento de fazer uma síntese do que Jesus disse sobre as falsas ambições do mundo. Preocupar-se com coisas materiais, de modo que elas monopolizem a nossa atenção, absorvam a nossa energia e nos atormentem com ansiedade é incompatível com a fé cristã e com o bom senso. É falta de confiança em nosso Pai celeste e, francamente, uma estupidez. É isto que os pagãos fazem; mas é totalmente impróprio e indigno para os cristãos. Portanto, assim como Jesus já nos convocou no Sermão para uma justiça maior, para um amor mais amplo e para uma piedade mais profunda, agora ele nos convoca para uma ambição mais alta.
Temos, então, de ser claros sobre a verdadeira motivação missionária. Por que desejamos a propagação do Evangelho por todo o mundo? Não por causa de um imperialismo ou triunfalismo iníquo, quer para nós mesmos, para a Igreja ou até mesmo para o "Cristianismo". Nem apenas porque a evangelização faz parte de nossa obediência cristã (embora o faça). Nem primariamente para tornar outras pessoas felizes (embora isso aconteça). Mas especialmente porque a glória de Deus e do seu Cristo estão em jogo. Deus é Rei, inaugurou seu reino de salvação através de Cristo, e tem o direito de governar a vida de suas criaturas. Nossa ambição, então, é buscar primeiro o seu reino, acalentar o desejo ardente de que o seu nome receba dos homens a honra a que tem direito.
Conceder prioridade aos interesses do reino de Deus aqui e agora não é perder de vista o seu alvo além da História, pois a presente manifestação do reino é apenas parcial. Jesus falou também de um reino futuro de glória e nos disse que orássemos por sua vinda. Portanto, "buscar primeiro o reino" inclui o desejo e a oração por sua consumação no fim dos tempos, quando todos os inimigos do Reino forem colocados sob os seus pés e o seu reino for incontestável.
Vou fazer uma tentativa de explicar a diferença entre os dois. O reino de Deus existe apenas onde Jesus Cristo é conscientemente reconhecido. Estar no seu reino é sinônimo de desfrutar da sua salvação. Apenas os que nasceram de novo viram e entraram no seu reino. E buscá-lo em primeiro lugar é propagar as boas novas da salvação em Cristo.
Mas a justiça de Deus é (pelo menos argumentavelmente) um conceito mais amplo do que o reino de Deus. Inclui aquela justiça individual e social à qual se fez referência anteriormente no Sermão. E Deus, sendo ele mesmo um Deus justo, deseja a justiça em cada comunidade humana, não apenas em cada comunidade cristã. Os profetas hebreus condenaram a injustiça não só em Israel e Judá, mas também entre as nações pagãs à volta. O profeta Amos, por exemplo, advertiu que o juízo de Deus cairia sobre a Síria, Filistia, Tiro, Edom,Amom e Moabe por causa de sua crueldade na guerra e outras atrocidades, como também cairia sobre o povo de Deus. Deus odeia a injustiça e ama a justiça em qualquer lugar. O Pacto de Lausanne, estruturado no Congresso sobre Evangelização do Mundo, em julho de 1974, inclui um parágrafo sobre a "responsabilidade social cristã", que começa assim: "Afirmamos que Deus é o Criador e Juiz de todos os homens. Portanto, partilhamos de sua preocupação com a justiça e com a reconciliação de toda a sociedade humana."
Um dos propósitos de Deus para a sua comunidade nova e redimida é que, através dela, a sua justiça se faça agradável (na vida pessoal, familiar, comercial, nacional e internacional), e por isso a recomenda a todos os homens. Então as pessoas que estão fora do reino de Deus vão vê-la e desejá-la, e a justiça do reino de Deus transbordará, por assim dizer, sobre o mundo dos não-cristãos. Naturalmente a profunda justiça do coração, que Jesus enfatizou no Sermão, é impossível, a não ser nos que foram regenerados; mas certa porção de justiça é possível na sociedade não-regenerada: na vida pessoal, nos padrões familiares e na decência pública. Mas o cristão deseja ir muito além disso e ver as pessoas literalmente trazidas para dentro do reino de Deus através da fé em Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, não deveríamos nos envergonhar de declarar que, fora do círculo do reino, Deus também prefere a justiça à injustiça, a liberdade à opressão, o amor ao ódio, a paz à guerra.
Se é assim (e não vejo como isso poderia ser contestado), então buscar primeiro o seu reino e a sua justiça pode-se dizer que abrange nossas responsabilidades cristãs evangelísticas e sociais, tanto quanto as metáforas do "sal" e da "luz" de Mateus 5. A fim de buscar primeiro o reino de Deus temos de evangelizar, uma vez que o reino só se propaga quando o evangelho de Cristo é pregado, ouvido, crido e obedecido. A fim de buscar primeiro a justiça de Deus, temos também de evangelizar (pois a justiça interior do coração torna-se impossível de outro modo), mas também temos de nos envolver em atividades e empreendimentos sociais para propagar por toda a comunidade aqueles padrões mais elevados de justiça que são agradáveis a Deus.
Qual é, então, a nossa ambição cristã? Todos nós somos ambiciosos de ser ou fazer alguma coisa, geralmente desde os mais tenros anos. As ambições da infância tendem a seguir certos protótipos; por exemplo: ser cowboy, astronauta ou bailarina. Os adultos também têm os seus próprios protótipos; por exemplo: ficar rico, famoso ou poderoso. Mas, em última análise, só há duas ambições possíveis para os seres humanos. Vimos até agora como Jesus comparou a verdadeira com a falsa ambição, a secular ("gentia") com a cristã, a material com a espiritual, os tesouros da terra com os tesouros do céu, o alimento e a roupa com o reino e a justiça de Deus. Mas, acima e além de tudo isso, fica um contraste ainda mais fundamental. No final, exatamente como há apenas dois tipos de piedade, a egocêntrica e a teocêntrica, também existem apenas dois tipos de ambição: podemos ser ambiciosos para nós mesmos ou para Deus. Não há uma terceira alternativa.
As ambições voltadas para o ego podem ser bastante modestas (o suficiente para comer, beber e vestir, como no Sermão) ou podem ser grandiosas (uma casa maior, um carro mais possante, um salário melhor, uma reputação mais influente, mais poder). Mas, modestas ou não, são ambições dirigidas a mim mesmo: meuconforto, minha riqueza, meu status, meu poder.
As ambições voltadas para Deus, entretanto, para serem dignas dele, nunca devem ser modestas. Há algo inerentemente impróprio em se ter pequenas ambições para Deus. Como poderíamos nos contentar em que ele adquira só mais um pouquinho de honra no mundo? Não. Quando percebemos que Deus é Rei, então desejamos vê-lo coroado de glória e honra, no lugar a que tem direito, que é o lugar supremo. Então tornamo-nos ambiciosos pela propagação do seu reino e da sua justiça por toda parte.
Quando isto constitui genuinamente a nossa ambição predominante, então não só todas estas cousas vos serão acrescentadas (isto é, nossas necessidades materiais serão supridas), como também não haverá mal algum em ter ambições secundárias, uma vez que estas serão subservientes à nossa ambição primária e não competirão com ela. Na verdade, só então é que as ambições secundárias tornam-se sadias. Os cristãos deveriam ser zelosos em desenvolver os seus talentos, alargar as suas oportunidades, estender a sua influência e receber promoções em seu trabalho, não mais para fomentar o seu próprio ego ou edificar o seu próprio império, mas sim para, através de tudo o que façam, glorificar a Deus. Ambições menores são sadias e corretas, contanto que não constituam um fim em si mesmas (isto é, em nós mesmos), mas sejam o meio de alcançar um fim maior (a propagação do reino e da justiça de Deus) e, portanto, o maior de todos, isto é, a glória de Deus. Este é o "Bem Supremo" que devemos buscar primeiro; não há outro.
FONTE J. R. W. Stott
A luta contra os excessos e a moda extravagante
Texto Áureo
"Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convém. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas". 1 Co 6.12
Verdade Aplicada
O cristão não precisa sair do mundo nem se isolar dele, mas deve iluminá-lo com a luz divina que existe em sua vida e salgá-lo com seu bom equilíbrio cristão.
Objetivos da Lição
Mostrar que os exageros fazem mal.
Deixar claro que o equilíbrio deve ser a nossa meta.
Ressaltar que tudo que é demasiado atrai atenção negativa.
Textos de Referência
1 Tm 2.9 Da mesma sorte, que as mulheres em traje decoroso, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada, e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso,
1 Tm 2.10 Porém, com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas).
1 Pe 3.3 Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário;
1 Pe 3.4 Seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus.
Comentário dos Textos de Referência I Tm 2.9,10 e I Pe 3.3,4
A passagem de I Tm 2.9,10 e tirada do contexto, A Adoração Pública e as Mulheres (2.8-15).
A adoração pública deve incluir a oração, conforme I Tm 2:1 e ss., onde há alguns itens pelos quais nos convém orar. Na sinagoga, as orações faziam parte importante da liturgia, mas às mulheres não era permitido nem falar e nem orar em voz alta, durante a adoração pública. Silêncio absoluto era esperado da parte delas. Um escravo, ou até mesmo um menino, podia ler as Escrituras na sinagoga; mas isso era vedado às mulheres, mesmo que uma delas fosse a esposa do principal rabino. Devemos compreender que esse costume é o pano de fundo da seção que temos à nossa frente e que procura regulamentar o papel das mulheres nos cultos públicos das igrejas cristãs. Uma vez que se saiba o pano de fundo judaico sobre a questão, o décimo primeiro versículo deste capítulo só pode significar o que ali se lê claramente: nenhuma mulher crente podia ter participação verbal no culto de adoração da igreja (se algum irmão ou irmã quiser o comentário do vs 11, me mande um e-mail ebdareiabranca). Não lhe era permitido ensinar, e nem ao menos falar em voz alta. Antes, cumpria-lhe guardar silêncio. (Ver o décimo segundo versículo). Tudo isso está de acordo com a prática nas sinagogas judaicas, e dizer que esta seção indica menos do que isso é interpretar a passagem incorretamente.
Vários intérpretes cristãos têm procurado distorcer a correta interpretação deste texto, a fim de fazer as Escrituras se adaptarem às práticas deste ou daquele grupo, mas isso fazem aqueles eruditos ignorando o pano de fundo histórico do N.T. Disse um famoso rabino: «É melhor queimar a lei do que ensiná-la a uma mulher». (Esta passagem pode ser comparada com os trechos de I Co 11:2-16 e 14:34). Esta última referência impõe silêncio às mulheres crentes, tal como se dá no caso do presente texto; mas a primeira dessas duas referências parece permitir que a mulher participe verbalmente do culto, se estiver usando um véu. Porém, se isso realmente fosse permitido, então o texto presente, a passagem de I Co 14:34 e a tradição judaica estariam sendo contraditas frontalmente. Portanto, é melhor compreendermos que o suposto «falar das mulheres», no décimo primeiro capítulo da primeira epístola aos Coríntios, é apenas um reconhecimento do que vinha ocorrendo naquela comunidade cristã, sem que Paulo tivesse feito ali qualquer censura, já que preferiu deixar essa censura para mais adiante. A leitura corrente, do décimo primeiro capítulo ao décimo quarto capítulo dessa epístola, demoraria entre cinco e dez minutos; por conseguinte, essa censura faz parte do texto. Mas, na presente passagem, fica suposto que havia mulheres que «abusavam» no culto de adoração, participando oralmente do mesmo, o que era algo contrário à tradição judaica, transferida para o cristianismo, e o que agora Paulo passava a censurar. Somente essa interpretação é honesta, e o demais é apenas tentativa de fazer as Escrituras se adaptarem à prática nas igrejas locais, e não o contrário, como deveria ser.
O problema do presente texto não envolve tanto o que o mesmo significa, porquanto isso é perfeitamente claro. O problema consiste de: «Aplica-se essa proibição à igreja moderna?» A resposta deste comentário é que isso não deve ser aplicado com toda a severidade, pois tais injunções contra as mulheres se alicerçam sobre preconceitos judaicos, sendo uma degradação para as mulheres crentes. O leitor deveria consultar Jo 4:27,29, para ver as ideias tão rebaixadas que os judeus tinham acerca das mulheres. Alguns rabinos chegavam a duvidar que as mulheres tivessem alma, e muitos deles diziam vulgaridades acerca delas. Na sociedade judaica, as mulheres eram vendidas e compradas como se fossem propriedades, e somente de uma prostituta se esperaria que ela falasse com um homem, em público. Eis por que os discípulos ficaram surpreendidos por encontrar a Jesus falando com uma mulher em um lugar público, conforme o registro do quarto capítulo do evangelho de João, onde é dada a historia da mulher samaritana.
Naturalmente, é verdade que o novo pacto elevou enormemente a posição das mulheres. Espiritualmente, uma mulher não é inferior a um homem, e o destino espiritual das mulheres crentes é igual ao destino dos homens crentes. (Ver Gl 3:28). O trecho de Cl 3:11 encerra declaração similar. É deveras lamentável que essediscernimento não foi mais perfeitamente compreendido e posto em prática. O texto à nossa frente, sobre as mulheres, reflete uma mentalidade que não concorda totalmente com aquela revelação superior, pois continua alicerçada sobre o judaísmo. O autor deste comentário não pode interpretar honestamente a questão de qualquer outra maneira. Antes de tudo, deve-se interpretar um texto qualquer segundo aquilo que ele diz, sem nos importarmos se estamos de acordo com isso ou não. Não devemos perverter seu significado a fim de fazê-lo adaptar-se às nossas práticas pessoais ou coletivas. Em seguida cumpre-nos ver se uma passagem tem aplicação a nós, ou se tem elementos que pertencem a outra época, mas que não podem e nem devem ser aplicados para nossa própria época.
Isso não significa, por outro lado, que aquilo que temos à nossa frente, na presente seção, não é bom. Pois a verdade é que tem seu devido valor. Porém, no que se aplica ao papel das mulheres, no culto de adoração, simplesmente não podemos aceitá-lo. A igreja em geral tem ignorado convenientemente versículos como I Co14:34 e I Tm 2:11, em seu pano de fundo histórico e em seu claro significado; e assim tais passagens são pervertidas para se adaptarem à prática corrente. Isso é lamentável, porque é uma desonestidade. Portanto, estes versículos ordenam às mulheres que nada digam, durante o culto de adoração. Assim sucedia nas sinagogas dos judeus. Porém, temos um caminho melhor, uma revelação superior, refletidos em passagens como Gl 3:28; Cl 3:11 e At 2:18, onde vemos que mulheres são declaradas até mesmo «profetisas», longe de não poderem elas falar na igreja. Esse ponto de vista mais elevado sobre as mulheres é que devemos seguir, ao mesmo tempo que cumpre serem evitados os abusos decorrentes de uma liberdade excessiva, conforme tem acontecido em tantas igrejas evangélicas modernas, onde as mulheres encabeçam praticamente tudo. Além disso, muito temos a aprender acerca da conduta das mulheres crentes; e esse aspecto não deve ser negligenciado por nós.
2:9 Quero, do mesmo modo, que as mulheres se ataviem com traje decoroso, com modéstia e sobriedade, não com trancas, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos custosos,
«...da mesma sorte...» É contrário ao pano de fundo religioso judaico, que transparece na presente seção, supor que às mulheres é aqui permitido orarem e participarem oralmente dos cultos, em qualquer sentido, contanto que ao menos observem certos costumes corretos sobre vestuário e comportamento. Tal interpretação é contrária ao texto (ver o décimo primeiro versículo) e também contra a cultura judaica de onde surgiu a igreja cristã primitiva. Conforme diz Gealy (in loc.) «O escritor dá a entender como ponto pacífico que as mulheres devem fazer-se presentes à adoração pública e às orações. Porém, visto que a declaração explícita do oitavo versículo é que (somente) os varões devem orar, isto é, ler as orações públicas, e posto que este parágrafoinsiste que as mulheres devem permanecer em silêncio na igreja, dificilmente é possível supor que o autor sagrado queria dizer: 'Desejo também que as mulheres orem com vestuário modesto', etc... O presente texto deveria ser antes compreendido como: 'Também desejo que as mulheres que fizerem parte das orações públicas se vestissem com modéstia', etc».
«Poucas passagens existem, em toda a Bíblia, que tenham provocado tão acaloradas discussões como estes versículos. Consideradas literalmente como uma ordem autoritativa, estas palavras excluiriam completamente as mulheres de toda a liderança na igreja. Mas é óbvio que tal interpretação não se ajusta à prática universal das igrejas neotestamentárias. As epístolas de Paulo contêm os nomes de muitas mulheres que se destacavam no trabalho da igreja em vários sentidos: Lídia, Dorcas, Priscila, Trifena e Trifosa, Pérside, Júlia, Evódia,Síntique, e outras. Esta epístola mostra-se explícita, entretanto, na proibição às mulheres de falarem nas igrejas, subordinando-as à autoridade dos homens. Não há que duvidar que a posição delas sofreu a influência dos costumes da época, à luz do que as mulheres crentes teriam ficado sujeitas a críticas, por se mostrarem conspícuas em público... Na prática real, apesar da igreja ter quase sempre evitado consagrar mulheres como ministros (da Palavra), os grandes pendores das mulheres têm sido usados como mestras, missionárias e uma multidão de outras atividades. O movimento que tende por reconhecer completa igualdade entre homens e mulheres, no trabalho da igreja, cresce a cada ano que passa; e a utilidade da igreja aumenta à proporção em que maior número de posições é dado às mulheres crentes... É óbvio que a disposição desta epístola é limitar o serviço das mulheres na igreja, mas não em completo acordo com a atitude de Jesus, que era de completo respeito e cavalheirismo para com as mulheres». (Noyes, in loc).
Talvez seja difícil, para alguns crentes, perceberem que a presente passagem realmente impõe completo silêncio às mulheres, não lhes permitindo qualquer posição de liderança na igreja. Porém, este é o claro ensinamento do texto, refletindo as estruturas sociais da sociedade daquele tempo, cujas características eram ainda mais exageradas na sinagoga. A igreja cristã se tem mostrado correta em não praticar literalmente a ordem aqui baixada; mas tem havido intérpretes desonestos que procuram fazer esta passagem concordar com a prática da igreja, quando, na realidade, esta passagem concorda com a prática da sinagoga, o que é algo bem diferente.
«...ataviem...» No grego é «kosmeo», que significa «pôr em ordem», «adornar», «decorar», «tornar atrativo». Faz parteda natureza feminina apreciar o belo, como também procurar tornar-se atrativa, com adornos apropriados. O autor sagrado, porém, limita essa atividade, para que as mulheres crentes fossem diferentes das mulheres mundanas. O verdadeiro adorno, diz-nos o autor sagrado, são as «boas obras». A piedade torna bela qualquer mulher; e isso de maneira importante e duradoura, e não de modo sem importância e passageiro. Cumpre-nos notar que o termo grego «kosmos» vem desse verbo. «Kosmos» significa o mundo organizado, a «ordem de coisas» criada por Deus, o seu «adorno», a bela obra de suas mãos. Mas desse termo grego também vem nossa palavramoderna «cosmético».
«...traje decente...» No grego é «katastole», que pode significar ou «vestes», como uma roupa para encobrir o corpo, ou «comportamento», como se a conduta fosse o «vestuário das ações e das maneiras». Alguns intérpretes aceitam uma dessas ideias, e outros aceitam a outra. Na verdade, há um vestuário «externo» e outro «interno». Esse termo é usado exclusivamente aqui, em todo o N.T., sendo uma daquelas cento e setenta e cinco palavras peculiares às «epístolas pastorais».
O mais provável é que estejam aqui em foco as «vestes externas», as roupas femininas, porquanto isso se coaduna melhor com a descrição do versículo, que enumera as coisas que uma mulher deve vestir. O termo«...decente...», neste caso, é tradução do adjetivo grego «kosmios» (que vem da mesma raiz que «ataviem»), palavra que significa «respeitável», «honroso», «modesto», o contrário de provocante, desrespeitoso, desonroso, isto é, vestes contrárias ao espírito de adoração, o que poderia sugerir antes uma mulher da rua, uma prostituta, vestes tipicamente mundanas, que quase sempre visam focalizar a atenção no aspecto sexual da mulher. Mas esse mandamento vem sendo completamente desrespeitado pela moderna igreja cristã, mostrando-nos a que nível baixo tem descido a espiritualidade das nossas igrejas.
«...modéstia...» No grego é «aidos», que quer dizer «reverência», «respeito», «modéstia». No grego antigo, tal palavra era virtualmente usada como sinônimo de «aischune», «vergonha», indicando o senso de respeitosa timidez na presença de superiores, ou indicando um respeito penitente para com aquele contra quem tivermos feito alguma ofensa (ver Homero, Ilíada i.23). Homero também usou essa palavra para indicar a disciplina militar. (Ver Homero, Ilíada, v.531). Por igual modo, era usada para indicar o «respeito» devido aos pais ou a outras pessoas. Comenta Lock (in loc.) «Está em vista aquele pejo que evita ultrapassar os limites da reserva e da modéstia femininas». Esta é uma das trezentas e cinco palavras usadas nas «epístolas pastorais», mas que não se acha nas «outras» epístolas paulinas. Esse vocábulo ordena que as mulheres se retirem da atenção pública, assumindo um espírito quieto, uma atitude respeitosa para com os homens e para com os líderes da igreja. Também ordena que as mulheres não tentem impor-se, mas antes, que permitam que os homens se ocupem de todas as funções da igreja. Isso é tudo quanto podemos compreender deste vocábulo, a julgar pelo seu pano de fundo «judaico». Fica exigida aqui, pois, certa forma de «recolhimento», da parte das mulheres crentes, que não consideraríamos conveniente na igreja evangélica atual.
Não nos devemos esquecer que, naquela época, nos países orientais, uma mulher decente nunca era vista em lugar público, exceto em alguns feriados especiais, ocasiões em que ela permanecia virtualmente reclusa, já que seus amigos constantes eram escravos e crianças. Extremamente poucas mulheres frequentavam escolas ou aprendiam ao menos a ler e escrever. Portanto, dentro dessas condições sociais quão fora de lugar seria deixar as mulheres fazer parte dos cultos públicos oralmente. Nas sinagogas judaicas então isso seria um escândalo.
«...bom senso...» No grego é «sophrosune», palavra comum que indica «moderação», a «virtude áurea» dos gregos, que evitaria os vícios de excesso ou de deficiência. Tal palavra fala sobre «autocontrole», aquilo que evita excessos e que conserva a mulher em seu devido lugar, não lhe permitindo usurpar a posição e as funções dos homens na igreja. Essa palavra também era empregada com o sentido de «bom senso», visto vir de «sos» (seguro) e «phren» (mente). Envolve o controle das paixões e dos desejos, a disciplina da mente e da própria personalidade. Eurípedes chamou isso de «o melhor dom dos deuses» (Med. 632). Aristóteles fazia dessa virtude um fator normativo em toda a ação ética, intitulando-a de «virtude áurea». «Moderação» é o principal sentido que esse termo tinha na filosofia grega; e até hoje, na igreja grega, essa virtude é muito enfatizada. A prática da «moderação», tanto em contraposição ao «ascetismo» como em comparação ao «excesso», é igualmente a «virtude áurea» do cristianismo.
«...cabeleira frisada...» No grego, literalmente, temos «...com tranças...». O termo grego «plegma» significa qualquer coisa «trançada» ou «entretecida». E quando diz respeito aos cabelos, tinha o sentido de «trançado». «Pleko» é a sua forma verbal, que significa «trançar», «entretecer». Alguns intérpretes supõem que está em foco o costume de entretecer adornos de ouro, de prata e de pedras preciosas nas madeixas dos cabelos. Essa interpretação é possível, mas parece antes que o autor condenava a prática inteira de mulheres a tentarem embelezar seus cabelos por meios artificiais, como as trancas. (Ver I Pe 3:3, logo abaixo, onde essa prática também é condenada). Não há nenhum motivo para supormos, com base neste versículo, que a igreja era rica, o que permitia às mulheres crentes exagerarem em seus penteados. Todavia, as palavras em seguida,«...vestuário dispendioso...», permitem-nos compreender que, em alguns lugares, os crentes se tinham tornado donos de consideráveis bens materiais. Facilmente podemos imaginar que isso ocorreu em Éfeso, que era cidade onde fluíam muitas riquezas. O autor sagrado, pois, luta em prol da simplicidade, em que a mulher use cabeleira solta, natural. Paulo também ordena o uso de «cabelos compridos», em I Co 11:15.
Os judeus da antiguidade (como lemos nos escritos de Josefo) tinham «cabeleireiras profissionais». Certas tradições informam-nos que tanto Maria Madalena, como Maria, mãe de Jesus, trabalhavam como «cabeleireiras»; mas não sabemos dizer se essas tradições são autênticas ou não. Modos exagerados de vestimentas e penteados, nos tempos antigos, tal como nos modernos, caracterizavam as prostitutas. O trecho de Ap 17:4 pinta a grande «mãe das prostitutas», como alguém assim adornada.
«...ouro...» Talvez entretecido nos cabelos, usado como joia, ou ambas as coisas.
«...pérolas...» Engastadas em joias, talvez também postas nos cabelos trançados. A maioria dos intérpretes recomenda a «moderação» nessas coisas. O autor desta seção, entretanto, parece que não queria que as mulheres usassem qualquer joia. Queria total simplicidade e naturalidade.
«...vestuário dispendioso...» Nem o substantivo e nem o adjetivo é empregado nas «outras» epístolas paulinas. No grego é «imatismos», que significa «veste», sem qualquer ideia ou sugestão quanto à sua qualidade ou preço,«...dispendioso...», no original grego, é «poluteles», que significa «caro», «dispendioso», e cuja raiz nominal significa «extravagância», «luxo». Em Éfeso e outros lugares, a igreja pode conquistar alguns elementos das classes superiores; e, entre essas pessoas, certas mulheres talvez tivessem resolvido ir à igreja a fim de «serem vistas», algo bastante comum entre as mulheres. A «vaidade» das mulheres, especialmente no vestuário, é um tópico comum entre os filósofos moralistas latinos e gregos. (Comparar com 1 Pe 3:3).
2:10 mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras.
Existe uma maneira correta, aceitável e desejável das mulheres se adornarem, isto é, com «boas obras». Essas boas obras são o «sinal» de um genuíno cristianismo. (Comparar com Ef 2:10 e Hb 10:24). Quando uma mulher age com caridade e bondade, isso adorna a sua pessoa de forma duradoura e autêntica. Não precisa uma mulher crente de qualquer outro adorno.
«...é próprio...» No grego é «prepo», que significa «apropriado», «conveniente». Sim, é «próprio» em contraste com os adornos mundanos, que são impróprios. Isso se «coaduna» com a atmosfera do culto de adoração, com a atitude de piedade, ao passo que os adornos artificiais são destruidores da piedade e da atmosfera própria de adoração.
«...professam ser piedosas...» Literalmente, «...professam piedade...» O uso de «epaggellomai», com o sentido de «professar» (reivindicar ser), se limita a estas «epístolas pastorais». Normalmente essa palavra significa «promessa», «oferecimento». Até mesmo em Tito 1:2, tal vocábulo tem esse significado. (Ver também At 7:5; Rm4:21 e Gl 3:19).
«...piedosas...» No grego é usado o substantivo «theosebeia», que significa
«reverência a Deus», «piedade». A forma verbal significa «adorar a Deus». A raiz dessa palavra é «theos» (Deus) e «sebomai» (sentir respeito, ter medo, adorar). Portanto, as mulheres que adoram a Deus ou que o respeitam haverão de adornar-se com boas obras, com a prática da adoração, e não com artifícios externos. Esta é a única oportunidade em que essa palavra é usada em todo o N.T., sendo uma daquelas cento e setenta e cinco palavras usadas exclusivamente nas «epístolas pastorais».
As matronas judias estavam acostumadas a dizer em altas vozes às jovens recém-casadas: «Não há necessidade de pintura, não há necessidade de antimônio, não há necessidade de cabelos trançados; pois ela mesma é belíssima». O «antimônio», referido nessa citação, era uma preparação aplicada às pestanas, o que emprestava aos olhos um brilho pronunciado. As noivas de Cristo deveriam ter como adorno a piedade, de modo a não necessitarem de qualquer ajuda artificial que vise somente ao corpo.
«Quantos dólares são gastos com o luxo, para cada dólar gasto na causa de Cristo!» (Doddridge, in loc).
«Elas, tal como Dorcas, de Jope, cujo louvor se encontra no livro da Vida, 'deveriam ser cheias de boas obras e de esmolas' (Ver At 9:36)». (Spence, in loc).
«Que vossos corpos sejam isentos de decorações de meretrizes. Que vossas almas sejam adornadas com abundância de boas obras». (Plummer, in loc).
Agora o comentário de I Pe 3.3,4
3:3 O vosso adorno não seja enfeite exterior, como as trancas dos cabelos, o uso de joias de ouro, ou o luxo dos vestidos,
As mulheres crentes devem ser distintas e adornadas, mas não na ornamentação externa, e, sim, pela beleza íntima do caráter cristão. Esse é o adorno que verdadeiramente se faz necessário. Pedro dava a entender não que as mulheres devem ser descuidadas em seu vestuário, porque isso chamaria para elas uma atenção negativa. Também não é provável que estivesse proibindo o uso de joias. Antes, ele advertia contra a ostentação nos penteados, no uso das joias e no modo de vestir. Sua advertência pode ser comparada com o que se lê em Is 3:16-24, onde o profeta denuncia as filhas de Sião que andavam altivas, de pescoços esticados, com olhos dissipadores, a balançar as cadeiras e suas joias a tilintar, ao darem os seus passos medidos. Paulo, em I Tm 2:9-12, nos dá uma denúncia muito similar a essa, acerca da tendência das mulheres de exagerarem em seus adornos artificiais. Não é provável que Pedro ou Paulo aprovassem o exagero das mulheres no uso moderno dos cosméticos e dos estilos arrojados de vestes.
«...adorno...» O verdadeiro sentido, neste caso, é penteados, maquiagem, uso de joias e vestes, como algo meramente exterior. O verdadeiro adorno das mulheres crentes é descrito no quarto versículo—um adorno espiritual, composto das riquezas da alma, o que embeleza a mulher em seu caráter. O termo grego aqui empregado é «kosmos», que tem os significados de «mundo», «ordem», «enfeite». A última dessas significações está em foco aqui. Dessa palavra é que se deriva o termo moderno «cosmético». Pode haver alguma conexãotencional, devido ao uso dessa palavra, com a ideia de «mundanismo»; pelo menos Pedro quis dizer que a ornamentação externa exagerada é sinal de mundanismo. Porém, visto que essa palavra tem um sentido geral, podendo dar a entender o que é exterior ou interior, não há qualquer tentativa verbal consciente para designar a ornamentação como «mundanismo», por si mesma.
«...frisado de cabelos...» Juvenal, em suas Sátiras, vi., ridiculariza a extravagância dos penteados das matronas romanas de seus dias. «Suas auxiliares votam quanto ao penteado como se isso fosse uma questão de reputação, ou como se a vida estivesse em perigo, tão grande é o valor que ela dá à questão da beleza; ela levanta muitas camadas, ela ergue muitos andares de caracóis sobre a cabeça. Tona-se tão alta como Andrômaca na frente, mas por detrás é baixa. Pensar-se-ia que ela é outra pessoa».
O fato que uma mulher podia fazer um alto penteado, como se fosse uma torre, significa que ela tinha os cabelos longos; e isso é mais do que o que pode ser dito acerca de muitas matronas modernas. Sabemos que as mulheres não se contentavam em pentear os cabelos em penteados mirabolantes, mas também tingiam-nos e seguravam suas madeixas com grampos de grande valor, encrustados de ouro, com pedras preciosas. Eram usadas perucas, até mesmo louras. Pelo menos, quanto a esse particular, «Nada há de novo debaixo do sol!» A história antiga mostra que as mulheres gregas, bem como as de outras culturas antigas, não eram menos vaidosas quanto a esse particular do que as mulheres romanas. Algumas vezes, placas finas de ouro eram misturadas com os cabelos, refletindo a luz do sol; ou, à noite, refletindo a luz das candeias, o que fornecia uma estranha cena. Os alfinetes de marfim, com pontas de pérola ou com corpos incrustrados de pedras preciosas, eram comuns entre as mulheres das classes mais abastadas. Mulheres solteiras com frequência encaracolavam ou frisavam seus cabelos, formando uma massa geral, ao passo que as mulheres casadas com frequência os partiam no alto, acima da testa. Clemente de Alexandria, em Pai. III.xi, observa como as mulheres temiam o sono, pois teriam a necessidade de descansar a cabeça sobre algum travesseiro, e isso lhes estragaria o penteado. Na cultura judaica havia cabeleireiras profissionais, cuja especialidade era frisar os cabelos de suas clientes. Maria Madalena, segundo certas tradições, teria tido essa profissão; e os judeus dizem que Maria, mãe de Jesus, também tinha essa profissão. (Ver Misnah Sabbat., cap. 6, seção l). Não há como confirmar ou confutar essas tradições.
«...adereços de ouro...» Os ornamentos de ouro eram usados nos cabelos, na forma de redes para os cabelos, braceletes, anéis, laços e argolas de tornozelo. As antigas mulheres judias usavam uma espécie de coroa de ouro sobre a cabeça, na forma da cidade de Jerusalém (ver Mishnah Sabbat., cap. 6, seção 1); e isso tanto antes como depois da destruição daquela cidade.
«...aparato de vestuário...» Essas palavras não proíbem o uso de roupas de boa qualidade, nem encorajam o desleixo nas vestes. Antes, proíbem a tentativa de ostentação deliberada, através do uso de vestidos bordados em ouro ou com joias, o que, naturalmente, dariam a impressão de fausto, além de ser sexualmente estimulante.
«Duas coisas devem ser levadas em conta nas vestes, a utilidade e a modéstia. Portanto, não se pode justificar a vaidade de uma mulher que usa os cabelos encaracolados ou penteados extravagantes. Aqueles que fazem objeção e dizem que vestir-se desse modo é questão indiferente, porquanto todos seriam livres para fazer o que bem queiram, podem ser facilmente desditos; pois a elegância excessiva e a exibição supérflua, em suma, todos os excessos, se originam de uma mente corrompida. Além disso, a ambição, o orgulho, a afetação e todas as coisas semelhantes não são coisas indiferentes. Por conseguinte, aqueles cujas mentes foram purificadas de todas as variedades haverão de pôr devidamente em ordem todas as coisas, não pecando contra a moderação». (Calvino, in loc).
Xenofonte contava uma encantadora história em que um cavalheiro ateniense exprobrava sua esposa por sua vaidade, pois ela esperava poder atraí-lo com seus sapatos de saltos altos, pintando o rosto de rouge e branco. A esposa de Fócio, que foi um célebre general ateniense, recebeu a visita de uma senhora finamente ornamentada de pedras preciosas, cujos cabelos estavam adornados de pérolas e tinham sido frisados. A esposa de Fócio naturalmente, observou o preço da aparência de sua visitante, mas acrescentou: «Meu ornamento é meu marido, agora general dos atenienses já por vinte anos». Para uma mulher crente, o seu ornamento deve ser a espiritualidade obtida da parte de Cristo, o seu Senhor.
Os intérpretes salientam que as santas mulheres do A.T. usavam joias (ver Gn 24:53) supondo que esta objeção é contra o excesso nessas coisas, e não contra o uso completo de joias. E é bem provável que essa posição seja correta. Cada crente deveria estar individualmente convencido para si mesmo, acerca de onde traçar a linha entre a modéstia e o exagero, no que diz respeito ao que é abordado pelo presente versículo. Se uma mulher crente se mostra cuidadosa a respeito do decoro de sua alma, também terá o bom senso de como ornamentar a sua tenda de carne.
3:4 mas seja o do intimo do coração, no incorruptível trajo de um espirito manso e tranquilo, que é precioso diante de Deus.
Melhor tradução seria «pessoa interior», porquanto mulheres estão em pauta. A expressão equivale àquela de Paulo, «homem interior» (ver Ef 3:16), que indica a «verdadeira pessoa», a «alma». Essa «verdadeira pessoa» pode ser embelezada tanto quanto o quiser uma mulher crente; e esse adorno consiste de um espírito tranquilo e manso, isto é, essas são evidências—juntamente com outras coisas—de desenvolvimento e de maturidade espirituais. Naturalmente, isso também se aplica a homens crentes, porquanto aquilo na direção em que nos devemos esforçar é a beleza da alma, porquanto, sem a santificação, ninguém jamais verá a Deus (ver Hb12:14).
O grego diz, literalmente, «homem oculto», porquanto Pedro queria estabelecer o contraste entre a «pessoa externa», que pode ser decorada com joias e artifícios, e a «alma», que não aparece aos sentidos, mas que, não obstante, é real.
«...coração...» Apesar do termo «coração» ser frequentemente usado para indicar a porção «emocional» do homem, a alusão à alma ou verdadeiro eu é quase sempre inerente, e isso é óbvio aqui também. O coração é aquela porção vital sem a qual a vida física é impossível. Portanto, torna-se símbolo apropriado da verdadeira vida do ser, investido na alma. O coração é a fonte da verdadeira fé (ver Rm 10:10); podendo ser cegado (ver Ef 4:18); é a fonte de alegria e cântico (ver Ef 5:19); deve ser singelo, mas é totalmente dedicado a Deus e a questões espirituais (ver Ef 6:5 e Cl 3:22); pode condenar as ações do indivíduo ou aprová-las, pois é dotado da função da consciência (ver I Jo 3:20,21). E também pode ser obscurecido e endurecido, entrando em apostasia e esquecendo Deus inteiramente (ver Rm 1:21 e 2:5).
«...incorruptível...»A «joia imperecível» das autênticas graças cristãs, em contraste com tudo quanto é físico, incluindo o ouro e as joias, que finalmente serão destruídas, juntamente com todo o mundo físico. Essa é uma maneira poética de dizer-nos que devemos buscar o que é celestial e eterno, pois todas as coisas terrenas são corruptíveis e perecíveis, e, portanto, temporais. A alma, adornada pelas graças cristãs, torna-se imortal, tal como Deus é imortal, pois chega a participar da própria modalidade da vida de Deus. (Ver as explicações a esse respeito em Jo 5:25,26 e 6:57). A alma, ao obter essa natureza imperecível, torna-se uma joia eterna, apropriada para que sobre ela seja posta a coroa de Cristo.
«...espírito manso...» O termo «espírito» parece ter aqui o sentido de «disposição»; mas essa disposição deve ser compreendida como expressão do espírito ou alma da mulher crente. A graça feminina que o evangelho exige é a gentileza, e a gentileza feminina é algo de que este mundo cruel muito precisa. O trecho de Gl 5:23 alista a «gentileza» como um dos aspectos do «fruto do Espírito», pelo que se deriva do desenvolvimento e da maturidade espirituais, não podendo ser qualidade limitada exclusivamente—às mulheres.
«...tranquilo...» A mulher crente aqui idealizada não é resmungona, rixenta ou bruxa. Sua conduta deve ser simples e digna. Ela deve mostrar-se autoconfiante e temperada, dotada de vida santa. A vida de uma crente assim é um sermão eloquente, embora talvez nunca abra a boca para pregar o evangelho. Ela vale mais que rubis. (Ver Pv 3:15 e ss.) «Quem entre vós é sábio e entendido? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras» (Tg 3:13).
«...mansa, gentil, tranquila (ver Mt 21:5; I Co 13:4; Ef 4:2; Cl 3:12; Mt 11:29; Tg 1:20; 3:13; I Co 4:21; Gl 6:1 e II Tm 2:24). É o contrário do espírito voluntarioso, orgulhoso, presumido, obstinado, endurecido, iracundo e invejoso; antes, é calmo, tranquilo, sem excitações apaixonadas». (Lange, in loc).
«...é de grande valor diante de Deus...», isto é, as qualidades cristãs da esposa crente. É isso que realmente a enriquece, bem como àqueles que entram em contato pessoal com ela. O termo grego «poluteles» significa «caríssimo», sendo usado em I Tm 2:9 a fim de descrever roupas caras. Não pode haver dúvidas que Pedro alude ao «grande preço» das vestes e das joias. No entanto, é como se ele dissesse: «Esses não são verdadeiros valores; os verdadeiros valores de uma mulher crente são as graças cristãs, que sua alma obteve mediante o desenvolvimento espiritual».
«...diante de Deus...» As mulheres por muitas vezes usam vestes caras e penteados exagerados a fim de atrair a atenção de outras pessoas: primeiramente, de outras mulheres, e então dos homens. No entanto, deveriam preocupar-se com sua aceitação diante de Deus, e não diante de outros seres humanos. O favor divino pode ser obtido, e este versículo mostra-nos como uma mulher crente pode fazê-lo.
«Pois, por que as mulheres tanto cuidado mostram por se adornarem, exceto atraírem os olhares dos homens para elas? Mas Pedro, pelo contrário, ordena que elas anelem por buscarem a aprovação diante de Deus, que é de grande valor». (Calvino, in loc).
Ideias adicionais:
Referências e Ideias. A gentileza. 1. A gentileza de Deus torna grande o crente (ver Sl 18:35). 2. Deus trata a seu povo com gentileza (ver Is 40:11). 3. A missão do Messias foi realizada com gentileza (ver Is 42:3). 4. A gentileza caracteriza a Cristo (ver II Co 10:1). 5. A gentileza é um dos aspectos do «fruto do Espírito», uma qualidade espiritual exigida da parte dos homens (ver Gl 5:22).
Bibliografia R. N. Champlin,comentário do novo testamento,1982
fonte www.avivamentonosul21.comunidades.net