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Comentario biblico de PROVERBIOS N.1
Comentario biblico de PROVERBIOS N.1

 

Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 56, p.36.

O VALOR DOS BONS CONSELHOS.

Neste trimestre, teremos a oportunidade ímpar de estudar os livros de Provérbios e Eclesiastes. São duas pérolas das Sagradas Escrituras. Provérbios nos ensina a viver de modo sábio e Eclesiastes nos mostra o verdadeiro sentido da vida.

O livro de Provérbios

O livro de Provérbios é um verdadeiro compêndio de sabedoria em forma de parábolas. São sentenças curtas, porém carregadas de significados e verdades que foram aprendidas e ensinadas no dia-a-dia dos israelitas. Ao estudar este livro, precisamos observar algumas particularidades importantes:

  1. Salomão não foi o único autor dos provérbios, embora ele tenha escrito uma grande parte (cf. 1.1 ;10.1; 25.1). O próprio Salomão declara: "... também estes são provérbios dos sábios" (Pv 24.23). Não podemos negar que Salomão foi um dos homens mais sábios do seu tempo e que proferiu 3 mil provérbios (1 Rs 4.32), todavia há outros autores das citações, como Agur (Pv 30.1) e o rei Lemuel (Pv 31.1). É importante também observar que seus autores pertenceram a épocas distintas.
  2. Os provérbios têm a sua origem nos ditos populares. Todavia, os provérbios bíblicos são breves declarações que expressam os conselhos divinos para nós. Podemos afirmar que cada provérbio é

uma parábola resumida e o livro todo é a Palavra de Deus. É Deus falando por intermédio das circunstâncias da vida.

  1. Existem várias formas literárias dentro do livro, como, por exemplo, parábolas, poemas, antíteses e comparações.

O propósito do livro é ensinar os leitores a viverem de forma justa, correta e ética. O objetivo é levar as pessoas a expressarem, no seu dia-a-dia, a sabedoria de Deus. Embora o livro também trate das questões corriqueiras da vida, ele é um convite à busca da sabedoria que vem do Alto, a sabedoria divina.

O livro de Eclesiastes

Ao ler Eclesiastes 1.1 e o capítulo 2, não temos dúvida de que Salomão é seu autor. Além disso, tanto a tradição judaica quanto a cristã conferem a autoria do livro a Salomão.

Eclesiastes é um livro biográfico e durante a sua leitura percebemos que não existe uma sequência lógica. A impressão que temos é que os textos foram surgindo de tempos em tempos, como em um diário. É o relato triste de um homem que, embora sábio, viveu parte da sua vida longe de Deus. O propósito é mostrar, e em especial aos jovens, que o sentido da vida não está nos bens materiais, no conhecimento, no prazer, na fama. O verdadeiro sentido da vida está em Deus, o Criador.

QUERO ESCLARECER QUE AO SE TRATAR DE DOIS LIVROS O TÓPICO ( I ) SE TORNOU DEMASIADAMENTE EXTENSO, QUEM PREFERIR PODE LER SOMENTE UM DOS COMENTÁRIOS FALANDO A RESPEITO DOS LIVROS.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

Desde criança somos ensinados a ouvir e atentar para os bons conselhos. Quem não se lembra, por exemplo, de uma máxima que ouviu na infância? Todas as culturas valem-se de parábolas, lendas, enigmas e máximas como veículo de transmissão dos seus valores morais, éticos e espirituais. Cresci ouvindo os mais velhos dizerem: Quem trabalha, Deus ajuda!; Mais vale uma andorinha na mão do que duas voando; Um homem prevenido vale por dez. Essas máximas sintetizam um saber popular responsável não somente pela transmissão de uma cultura, mas também funcionam como normas de conduta. “O povo, porém, não costuma escrever”, observa Ivo Storniolo, “mas reter na memória os seus achados’ de sabedoria. E por isso que resume tudo num versinho rimado, fácil de guardar de cor. Hoje em dia, os melhores lugares para encontrar a sabedoria popular são os para- choques de caminhões, os muros pichados, as portas e paredes de banheiros públicos, os joguinhos de adivinhação das crianças, os conselhos dos velhos, as piadas que correm de boca em boca etc. Tudo isso é um tesouro que revela a alma do povo, mostrando a compreensão que ele vai formando sobre a vida como resultado da sua experiência no mundo. É o que podemos encontrar no provérbio: Anel de ouro em focinho de porco é a mulher bonita, mas sem bom-senso (Pv 11.22).”

A Bíblia como um livro cultural também é rica em provérbios, parábolas, enigmas e máximas. São pérolas usadas pelos autores bíblicos visando facilitar a transmissão cultural de uma verdade. Vale a pena destacar que esse recurso bíblico-literário não possui apenas seu valor cultural, mas também traz consigo a revelação da sabedoria divina. Muitos livros bíblicos são ricos nessas metáforas, mas o livro de Provérbios e Eclesiastes se sobressaem no uso desse recurso. Neste trabalho enfocaremos o que as obras de Salomão têm a revelar sobre esse assunto e assim podermos desfrutar do seu extraordinário valor para o viver diário.

GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 9-10.

APROFUNDE-SE

Que tipo de sabedoria?

O objetivo dos Provérbios é franco e direto: conhecer a sabedoria (Pv 1.2). É comum pensar em sabedoria como uma forma avançada de conhecimento ou aprendizado, ou como um senso de compreensão e visão extraordinário e profundo. Esta visão da sabedoria possui um toque de misticismo, como se aqueles que a possuíssem houvessem, de alguma forma, aprendido verdades profundas e enigmáticas de eras passadas. No entanto, não há mistério a respeito da sabedoria sobre a qual Provérbios discorre, nem necessariamente ela está restrita a uns poucos privilegiados. A palavra traduzida como sabedoria aparece em Provérbios mais de 50 vezes e em Eclesiastes 29 vezes e vem do termo hebraico chokmah, que significa habilidades para a vida. Esta sabedoria é prática, e não teórica. Implica a pessoa viver de forma responsável, produtiva e próspera.

Desse ponto de vista, a sabedoria retratada em Provérbios ajuda-nos a compreender a forma como o mundo funciona. A questão não é tanto como a pessoa é dotada intelectualmente, mas o que ela faz na prática. É a verdade aplicada.

É por isso que Provérbios trata de tantas questões da vida cotidiana, especialmente as que envolvem escolhas morais e outras decisões que afetam o futuro. O sábio (hb. chakam) evita o mal e promove o bem observando as ações das outras pessoas e seus resultados, tomando então a decisão sobre sua vida. Assim, os Provérbios não são exatamente promessas de Deus, e sim observações e princípios sobre a vida.

EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 950.

LETRAS, vogais e consoantes formam palavras, frases, parágrafos, livros. As palavras podem ser faladas, sinalizadas, sussurradas, escritas. Por meio de conselhos amigáveis, discursos comoventes, obras empoeiradas e jornais diários, mensagens são comunicadas.

E cada pessoa tenta transmitir conhecimento e sabedoria a outras.

O ser humano traz consigo o desejo intrínseco de aprender e entender. Nossa capacidade mental nos diferencia dos animais: analisamos, conceituamos, teorizamos, discutimos e debatemos tudo, da ciência ao sobrenatural. Construímos escolas, institutos e universidades, onde professores instruídos nos ajudam a compreender o mundo c a vida.

O conhecimento c bom, mas há uma grande diferença entre saber algo e ter sabedoria para aplicar esse saber à vida. Podemos acumular conhecimento, mas, sem sabedoria, o nosso conhecimento será inútil. Devemos aprender a pôr em prática o que conhecemos.

O homem mais sábio que já viveu, Salomão, deixou-nos um legado de sabedoria, que foi compilado cm três livros: Provérbios, Eclesiastes e Cantares.

Sob a inspiração do Espírito Santo, o rei registrou pensamentos e diretrizes práticas para a vida do ser humano.

Especialmente em Provérbios. Salomão deu conselhos práticos. Um provérbio é uma frase curta, concisa, geralmente rica de imagens, que transmite uma verdade. O livro de Provérbios c uma coletânea destas sábias sentenças.

Seu tema principal é a natureza da verdadeira sabedoria. Salomão escreveu: “O temor do Senhor é o princípio da ciência; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução" (Pv 1.7). Ele prosseguiu com centenas de exemplos práticos de como viver de acordo com a sabedoria divina. No livro de Provérbios, vários assuntos são discutidos: juventude e disciplina, vida familiar, autocontrole e resistência à tentação, questões relacionadas a negócios, palavras e a língua, a importância de conhecer a Deus o casamento e a busca da verdade, além de temas como a riqueza e a pobreza, a imoralidade e, é claro, a sabedoria. Esses provérbios são poemas curtos (normalmente versos emparelhados), contêm uma mescla de bom senso e advertências oportunas. Embora não tenham a intenção de ensinar doutrina, uma pessoa que segue os conselhos escritos neste livro andará com Deus.

A palavra hebraica usada para designar essa coletânea de provérbios foi mas tal que no contexto do livro, significa reger ou governar. Em Provérbios, há ditados, lembranças e advertências, que se apresentam como sábios conselhos para nos ajudar a governar nossa vida.

Ao ler Provérbios, entenda que conhecer a Deus c a chave da sabedoria. Atente para os pensamentos c as lições do homem mais sábio do mundo e aplique estas verdades à sua vida. Não leia apenas. Coloque o conhecimento que adquiriu com esta leitura em prática!

BÍBLIA APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 151.

I - JOIAS DA LITERATURA SAPIENCIAL

  1. O livro de Provérbios.

Conhecendo os Provérbios

Autoria

Acerca da autoria de Provérbios, o expositor bíblico William MacDonald destaca: “Às vezes, o livro é chamado de ‘Provérbios de Salomão’, uma vez que a maioria deles foi escrito por esse rei sábio (1.1; 10.1; 25.1). Salomão formulou três mil provérbios (cf. 1 Rs 4.32), mas apenas algumas centenas deles foram agrupados sob a inspiração do Espírito Santo para fazer parte da Escritura Sagrada.

O capítulo 30 apresenta as palavras ‘de Agur, filho de Jaque’ (30.1), e o capítulo 31 traz as palavras “do rei Lemuel” (31.1). Não sabemos quem são esses homens, embora alguns acreditem que se tratam de outros nomes de Salomão”.

Data e Canonicidade

O escritor Antônio Neves de Mesquita, especialista em Antigo Testamento e hebraísta, observa que “os tradutores da Septuaginta, em 280 a.C., já incluíram Provérbios na sua tradução, ao qual deram o nome de Paroimiai. Portanto, quase três séculos antes de Cristo, Provérbios era um livro acabado e reconhecido como inspirado”. Ainda de acordo com Mesquita, esse livro não provocou debate quanto à sua canonicidade: “Nunca houve entre os rabinos qualquer discussão quanto à sua canonicidade, e, sim, quanto à sua autoria, como aconteceu com Eclesiastes e outros. Portanto, é um livro que sempre foi considerado inspirado, e os judeus devem ser reconhecidos como a autoridade máxima nesse campo, pois era um livro da sua biblioteca sagrada”.4 As fontes mais confiáveis colocam a redação final desse livro após o cativeiro babilónico, visto ter sido nessa época que os judeus demonstraram um interesse sem igual por sua Bíblia.

Propósito

A finalidade do livro de Provérbios está declarada nos seis primeiros versículos do capítulo primeiro. Esses versículos nos revelam que o propósito do livro é produzir sabedoria e fazer com que seus leitores aprofundem-se mais ainda na verdadeira sabedoria. A leitura dessa introdução dos Provérbios feita pelo Sábio Salomão demonstra que a sabedoria é um conhecimento que pode ser aprendido, adquirido e aumentado se for corretamente ensinado. Os estudiosos de provérbios observam que o livro da sabedoria mostra o meio para se chegar a esse fim:

“O meio para isso”, destaca Ivo Storniolo,“é o treinamento e a disciplina mental. Em segundo lugar notemos que esse treinamento visa duas coisas: o desenvolvimento mental (sensatez, habilidade, sagacidade, conhecimento, reflexão, saber) e o desenvolvimento moral (justiça, direito, retidão). Essas duas coisas, porém, caminham juntas, pois, na visão sapiencial, os erros não são pecados em razão das falhas morais, mas da falta de bom-senso e discernimento: quem erra é mais culpado pela idiotice do que pela maldade. O verdadeiro sábio, contudo, é, ao mesmo tempo, justo e reto”.

GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 10-12.

INTRODUÇÃO

Provérbio Esboço

  1. A Palavra e suas Definições
  2. A Natureza dos Provérbios
  3. Os Provérbios da Bíblia
  4. Os Provérbios como Fenômeno Verbal e da Literatura Universal
  5. A Palavra e suas Definições

Essa palavra vem do latim, proverbium, formada por pro, «antes», e verbum, «Palavra». Seu sentido é algumas vezes expresso por algumas poucas palavras, precisas e coloridas. O latim, pro, pode ter o sentido de «de acordo com», ou «através de», e talvez essa seja a força desse prefixo, nessa palavra. No hebraico, o vocábulo correspondente é mashal, «ser semelhante», o que salienta o valor dos provérbios para a feitura de comparações e observações sutis e inteligentes.

  1. A Natureza dos Provérbios

Um provérbio é uma declaração expressiva, incisiva e concisa, embora com o intuito de transmitir um pensamento novo ou importante. Pode ser uma declaração enigmática ou uma máxima, como se fosse uma minúscula parábola ou símile. Os seus sinônimos são aforismo, máxima, mote, preceito, símile. No Oriente, os provérbios usualmente incluem comparações, uma espécie de observações aguda e condenada. Um provérbio também pode ser uma «declaração enigmática», que requer meditação e análise para que possa ser definido ou compreendido. É o caso de Pro. 17:3, que diz: «O crisol prova a prata, e o forno o ouro; mas aos corações prova o Senhor». Pode-se comparar esse provérbio com um outro, que lhe é similar, em Mal. 3:3. O trecho de Pro. 1:17 é outro exemplo que requer reflexão demorada: «Pois debalde se estende a rede à vista de qualquer ave».

  1. Os Provérbios da Bíblia

Podemos encontrar os provérbios espalhados pela Bíblia inteira; mas o Livro de Provérbios é uma espécie de coletânea principal de provérbios, atribuídos a Salomão. Os trechos de I Sam. 10:11; 19:24; 24:13 também contêm declarações proverbiais. Outros exemplos são: Jer. 31:29 e Eze. 18:2. Jó, sendo um livro poético, naturalmente encerra muitos provérbios. A passagem de Jó 28:28 é bem conhecida que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento». Esse provérbio, em uma forma modificada, reaparece no livro de Provérbios (1:7), como uma espécie de provérbio principal, que determina o espírito do livro inteiro.

A presença de provérbios em Deu. 28:15 ss e vs. 37 mostra-nos que este uso é bastante antigo na cultura hebreia. Um povo desobediente é ameaçado de vir a tornar-se um provérbio.

A passagem de Sal. 69:10,11 serve-nos de exemplo da maneira como são apresentados os provérbios. Um indivíduo, humilhado e em estado aviltado, torna-se um provérbio para outras pessoas.

No Novo Testamento, há duas palavras gregas que são usadas e que podem ser traduzidas por «provérbio»: parabolé, como em Luc. 4:23; e paroimia, como em João 6:25,29 e II Ped. 2:22.

Figuras de linguagem, expressões vívidas ou declarações enigmáticas podem estar envolvidas nesses vocábulos. Jesus empregou provérbios, em Seu ensino, como aquele de Luc. 4:23: «Médico, cura-te a ti mesmo». Esse provérbio pode ser confrontado com João 16:25,39. Ver também Mat. 6:21 e João 12:24. Paulo falou em amontoar brasas vivas sobre a cabeça de alguém (ver Rom. 12:20). E o trecho de I Cor. 15:33 contém um significativo provérbio, tomado por empréstimo do poeta grego Menandro: «As más conversas corrompem os bons costumes». Outros provérbios de Paulo acham-se em I Cor. 14:8: «Pois também se a trombeta der som

incerto, quem se preparará para a batalha?»; e Tito 1:15: «Todas as cousas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro». E Tito 1:12 tem outro provérbio, citação do poeta grego Epimênides: «Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos». Também podemos citar I Tim. 6:10: «Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males», um provérbio universalmente conhecido.

Provavelmente também poderíamos catalogar como proverbial a declaração de Tia. 2:26; «Porque assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta». Outra dessas declarações é a de Tia. 1:22: «Tomai-vos, pois, praticantes da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos». Por sua vez, Pedro nos ofereceu um excelente provérbio, quando escreveu: «...o amor cobre multidão de pecados» (I Ped. 4:8). E a afirmação que se lê em II Ped. 2:22: «O cão voltou ao seu próprio vômito; e a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal», é chamada de «adágio verdadeiro», por esse apóstolo. A primeira parte dessa afirmação vem de Pro. 26:11; mas não se conhece a fonte originária de segunda parte sua segunda parte.

Certas declarações de Jesus, feitas como se fossem provérbios, expõem diante de nós a essência da esperança do evangelho: «... conhecereis e a verdade vos libertara, (João 8:32); e: «Se pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres» (João 8:36).

  1. Os Provérbios Como Fenômeno Verbal e da Literatura Universal

Antes da escrita haver sido inventada, os provérbios circulavam sob forma verbal. A literatura de todos os povos revela que tal costume era universal. A literatura antiga dos sumérios, dos babilônios, dos egípcios, dos gregos e dos romanos contém provérbios, o que também pode ser dito acerca dos chineses, dos celtas, e de outros povos. Provérbios populares acabaram se tornando provérbios literários. As religiões também têm lançado mão dos provérbios. Os provérbios são especialmente úteis no ensino de princípios éticos, e para exprimir expressões de bom senso. São excelentes instrumentos didáticos.

No hebraico, mashal, “símile”, “comparação”, um substantivo que ocorre trinta e oito vezes nas páginas do Antigo Testamento, conforme se vê, por exemplo, em Núm. 21.27; Deu. 28.37; I Sam. 10.12; 24.13; I Reis 4.32; 9.7; II Crô. 7.20; Sal. 69.11; Pro. 1.1,6; 10.1; 25.1; Ecl. 12.9; Isa. 14.4; Jer. 24.9; Eze. 12.22,23; 14.8; 16.44; 18.2,3. Na Septuaginta, paroimia é palavra grega que significa “comparação”, com base em uma raiz verbal que tem o sentido de “ser semelhante”, “ser paralelo” (cf. Gên. 10.9; Pro. 10.26). No Novo Testamento, parabolé, palavra grega que significa “posto ao lado”, “comparação”, “ilustração”, um vocábulo empregado cinqüenta vezes: Mat. 13.3,10,13,18,23,31,33,34; 13.35 (citando Sal. 78.2); 13.36,53; 15.15; 21.33,45; 22.1; 24.32; Mar. 3.23; 4.2,10,11,13,30,33,34; 7.17; 12.1,12; 13.28; Luc. 4.23; 5.36; 6.39; 8.4,9-11; 12.16,41; 13.6; 14.7; 14.3; 18.1,9; 19.11; 20.9,19; 21.29; Heb. 9.9; 11.19. O nome do livro, em hebraico, é misle selomoh, “provérbios de Salomão”.

O termo hebraico mashal teve seu sentido ampliado para cobrir também outras formas de discurso, como o oráculo de Balaão (Núm. 24.15), os cânticos de zombaria (Isa. 14.4; Hab. 2.6) e as alegorias, que são extensas comparações (Eze. 17.2; 20.49; 24.3). Alguns estudiosos pensam que esse vocábulo hebraico vem da raiz que significa “governai, porquanto mashal realmente “cria novos situações”, segundo disse um deles (Gemser, Spruche Salomos, pág. 7). Outra sugestão no tocante à origem da palavra é aquela que diz que esse termo vem do assírio, mishlu, “metade”, referindo-se ao fato de que um provérbio típico consiste em duas metades postas em paralelismo. Entretanto, o mais provável é mesmo que este vocábulo hebraico, em seu sentido mais restrito de “comparação”, por sinédoque, acabou sendo usado para indicar vários tipos de literatura de sabedoria, como aqueles que aparecem coletados no livro canônico de Provérbios.

Esboço:

  1. Pano de Fundo
  2. Unidade do Livro

III. Autoria

  1. Data
  2. Seção I
  3. Seção II
  4. Seções III e IV
  5. Seção V
  6. Seções VI, VII e VIII
  7. Lugar de Origem e Destinatários
  8. Propósito do Livro

VII. Canonicidade

VIII. Estado do Texto

  1. Problemas Especiais
  2. A Figura da Sabedoria
  3. Relação entre Provérbios e a Sabedoria de Amenemope
  4. O documento egípcio
  5. Relações léxicas
  6. Conteúdo e Esboço do Livro
  7. Conteúdo
  8. Gêneros literários
  9. Assunto
  10. Esboço
  11. Teologia do Livro

XII. Bibliografia

  1. Pano de Fundo

Sem importar se a autoria salomônica é aceita ou não, pode-se facilmente concordar que o pano de fundo do livro de Provérbios parece ter sido a corte real em Jerusalém. Embora a literatura de sabedoria (ver a respeito no Dicionário), no antigo Oriente Próximo, seja anterior ao livro de Provérbios, por mais de mil anos, aquela forma particular de instruções, endereçadas ao “meu filho”, parece-se mais com certas obras literárias egípcias, como As Instruções de Ptahotepe; As instruções de Mari-ka-Ré; As instruções de Amem-en-hete e /ís Instruções de Ani. O casamento de Salomão com a filha do Faraó pode ter conduzido esse grande rei israelita a interessar-se por esse tipo de instruções.

Características literárias individuais, como a mashel, o padrão X, X + 1 e os longos discursos encadeados encontram paralelos na literatura semítica anterior. Assim sendo, o livro de Provérbios deve ter atraído os leitores já familiarizados com aquela forma literária.

Muitos críticos modernos têm negado aos hebreus uma mente verdadeiramente filosófica, a qual caracterizaria mais os gregos. Assim, na opinião desses críticos, os israelitas prefeririam depender das diretas revelações dadas do Alto, em vez de ficarem a pensar à moda dos filósofos gregos, que criavam sistemas com base em conceitos. Essa crítica, porém, leva em conta somente uma das facetas da mente dos hebreus. Outra faceta dessa mesma mentalidade mostra-nos que o povo israelita, tal e qual qualquer outro, sabia confiar nos méritos de uma filosofia humana autêntica. A grande diferença, porém, é que os hebreus não apreciavam a filosofia especulativa, que fica a imaginar como os mundos e os seus problemas teriam sido criados; antes, eles preferiam olhar para uma orientação prática na vida. E isso faziam de maneira intuitiva e analógica, e não em resultado de raciocínios dialéticos. Isto explica porque os hebreus davam a essa forma de pensamento o nome de “sabedoria”, porquanto, na busca pela solução diante dos problemas morais do homem, diante da vida, eles demonstravam muito mais amor pela sabedoria prática do que pelas especulações filosóficas.

Em vista disso, o livro de Provérbios, começando com máximas isoladas acerca dos elementos básicos da conduta humana, revela, de muitas maneiras sugestivas que os seus autores (ver sobre Autoria, seção III) cada vez mais se aproximavam, em suas apresentações, de uma postura filosófica. No mínimo pode-se afirmar que eles tinham uma filosofia em formação. Esse desdobramento pode ser visto até mesmo na maneira como o vocábulo hebraico mashal foi sendo cada vez mais usado com maior amplitude de significação, ao que já tivemos ocasião de referir-nos.

A mashal, em seus primeiros usos, era de natureza antitética, contrastando dois aspectos da verdade, de tal modo que o pensamento ali mesmo se completava, nada mais restando ao autor senão passar para algum outro assunto. Isso produzia o bom efeito de pôr em contraste os grandes antagonismos fundamentais da existência humana neste mundo: a retidão e a iniquidade; a obediência e o desregramento; a industriosidade e a preguiça; a prudência e a presunção etc., o que analisava, mediante contrastes, a conduta do indivíduo e dos homens em sociedade. Entretanto, a partir do momento em que começam a prevalecer as mashalim ilustrativas e sinônimas, o estudioso toma consciência da maior penetração e ampliação do alcance do pensamento, porquanto começam a aparecer distinções mais sutis e descobertas mais remotas, e as analogias que ali se vêem passam a exibir uma relação menos direta entre causas e efeitos. E então, avançando ainda mais no livro de Provérbios, especialmente quando atinge a seção transcrita pelos “homens de Ezequias, rei de Judá” (caps. 25—29), o leitor pode notar que cada vez mais se usa do artifício literário dos paradoxos e dos dilemas. Além disso, a mashal amplia-se, ultrapassando a mera comparação entre dois contrastes. Tudo isto, apesar de não ser ainda uma filosofia autoconsciente, chega a ser um passo decisivo nessa direção.

Um pressuposto básico dos escritores do livro de Provérbios é que a sabedoria e a retidão são idênticas, e a iniquidade mesmo é uma espécie de insensatez. Isso é um ponto tão pronunciado no livro que chega mesmo a ser axiomático, emprestando ao volume o seu colorido todo especial. Isso transparece logo no primeiro provérbio, após as considerações iniciais sobre o filho sábio. Lemos ali: “Os tesouros dá impiedade de nada aproveitam; mas a justiça livra da morte” (Pro. 10.2). Com base nesse pressuposto básico, vêm à tona outros princípios não menos axiomáticos: a fonte de uma vida caracterizada pele sabedoria é o temor a Yahweh; quem quiser ser sábio precisa ter uma mente disposta a aprender a instrução, e a atitude contrária é própria da perversidade; sábio é aquele que não se deixa impressionar pelas vantagens passageiras obtidas pelos ímpios, ao passo que o insensato não percebe as vantagens da verdadeira sabedoria, o temor ao Senhor. Esses princípios são constantemente reiterados no livro de Provérbios, não de forma sistemática, mas iluminando numerosos aspectos e aplicações às questões práticas da vida. O princípio que mostra que as más obras trazem em si mesmas as sementes da destruição, ao passo que o bem arrasta após si as bênçãos divinas, é um dos conceitos fundamentais do qual emergiu toda a filosofia de sabedoria dos hebreus.

De fato, essa capacidade de mostrar sagacidade nos pensamentos e nos conselhos, reduzindo-os a máximas ou parábolas, foi sempre tão admirada entre os israelitas que, desde antes de Salomão, os seus possuidores tornavam-se líderes naturais, bem reputados na comunidade de Israel. Cf. II Sam. 14.2 e 20.16. E quem demonstrou maior habilidade, quanto a isso, do que o próprio Salomão? Não somente casos difíceis lhe eram trazidos para solução (ver I Reis 3.16-28), como também lhe eram apresentadas questões complicadas, para que ele fornecesse resposta (ver I Reis 10.1,6,7). Portanto, foi com base no reconhecimento de que há homens dotados de tremenda sagacidade mental, capazes de aplicar esta habilidade às questões práticas da vida, que surgiu a literatura de sabedoria, incluindo o livro de Provérbios.

  1. Unidade do Livro

Visto que o próprio livro declara que se trata de uma coletânea, a sua unidade não depende de sua autoria. Antes, essa unidade encontra-se na natureza geral do seu conteúdo, os provérbios, declarações sucintas ou um pouco mais longas que exibem profunda sabedoria prática, aplicável à conduta diária dos homens. A obra pertence à categoria geral da literatura de sabedoria (ver a respeito no Dicionário), exaltando as virtudes da sabedoria (sob a forma de retidão) e condenando os vícios da insensatez (sob a forma de falta de temor a Deus).

III. Autoria

Tradicionalmente, o volume maior do livro de Provérbios tem sido atribuído a Salomão, filho de Davi e rei de Israel (cf. Pro. 1.1; 10.1;

25.1). Entretanto, o próprio livro de Provérbios menciona dois outros autores, a saber: Agur (30.1) e Lemuel (31.1). Quanto a esta questão, existem duas posições extremadas, a saber: 1. Salomão escreveu o livro inteiro de Provérbios; ou 2. ele não teve nenhuma conexão direta com a obra (excetuando que ele é o “autor tradicional” e patrono da literatura de sabedoria). Um terceiro ponto de vista, que ocupa posição intermediária e está mais em consonância com o próprio testemunho bíblico, é aquele que diz que Salomão foi o autor da maior parte do volume do livro de Provérbios, à qual foram acrescentadas as obras de outros autores. Assim, é apenas uma meia verdade aquela que diz que o livro de Provérbios não teve “pai”, segundo afirmam alguns estudiosos. Pois, apesar de as declarações de sabedoria geralmente se originarem entre pessoas do povo comum, alguém foi o primeiro indivíduo a fazer essas declarações em uma linguagem epigramática. Essa idéia é confirmada por nada menos de três vezes no volume do livro. Vejamos: “Provérbios de Salomão filho de Davi, o rei de Israel, (1.1); “Provérbios de Salomão... “ (10.1; que em nossa versão portuguesa aparece como título, o que é um erro, pois faz parte do texto sagrado); e também “São também estes provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá” (25.1). Por que duvidar do próprio testemunho bíblico? Todavia, essa última passagem citada indica que Salomão não reunira todos os seus provérbios, formando um único volume. Antes, ele deixara muitos de seus provérbios dispersos, que os copistas de Ezequias coligiram. Se juntarmos a isso as palavras de Agur e de Lemuel, teremos o que é hoje o nosso livro de Provérbios.

Uma tola objeção à autoria salomônica é aquela que assevera que Salomão não era praticante das virtudes inculcadas no livro de Provérbios; cf., por exemplo, Pro. 7.6-23, que alguns pensam não refletir a vida de Salomão, porque ele teria tido um imenso número de mulheres e concubinas (ver I Reis 11.3, que diz: “Tinha (Salomão) setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração”). Tal objeção, entretanto, olvida-se de que uma coisa é escrever obras de sabedoria, e outra, inteiramente diferente; é viver de maneira sábia. Um homem pode trair os seus próprios princípios!

A narrativa sobre a vida de Salomão em I Reis caps. 3, 4 e 10 (ver, especialmente, I Reis 4.30-34 e II Crô. 9.1-24) dá a entender a sabedoria e a versatilidade inigualáveis de Salomão, na composição de afirmações de sabedoria.

Por igual modo, a afirmação de que os subtítulos (ver 1.1; 10.1 e 25.1) seriam meramente honoríficos, não correspondendo à realidade da autoria salomônica, não faz justiça a Salomão. Mesmo que os subtítulos em 1.1 e 10.1 mostrem que pessoas posteriores compilaram provérbios esparsos de Salomão, nem por isso se negaria realmente a autoria salomônica. Os compiladores não foram autores. Eles compilaram o que já existia, e o que já existia era saído da pena de Salomão. Além disso, o argumento que diz que as repetições, em duas seções diferentes do livro de Provérbios, ou mesmo em uma de suas seções, elimina uma única autoria, esquece o fato de que os autores muitas vezes repetem o que dizem, e que os editores ou compiladores tinham por costume reter passagens duplicadas, conforme se vê, por exemplo, nos casos de Sal. 14.1 e 511.

A questão da autoria do trecho de Pro. 22.17-24.34 está vinculada ao problema da relação entre essa seção e a obra A Sabedoria de Amenemope, o que é ventilado mais adiante. Durante as discussões e controvérsias que houve entre os judeus do século I D.C., acerca do cânon do Antigo Testamento, o livro de Provérbios foi classificado, juntamente com os livros de Eclesiastes e de Cantares de Salomão, como “salomônico”, conforme se aprende em Shabbat 30b. O livro de Provérbios, conforme existe em nossos dias, deve ter tomado esta forma após os dias do rei Ezequias (ver Pro. 25.1), isto é, após 687 A. C. De fato, Fritsch (IB, quarto volume, pág. 775) pensa que a forma final pode ter sido alcançada somente por volta de 400 A.C. Outros asseveram que a coletânea final (incluindo as palavras de Agur e de Lemuel) deve ter sido feita em algum tempo entre os dias do rei Ezequias e o começo do período pós-exílico, o que daria, mais ou menos, o mesmo resultado.

Alguns estudiosos modernos, de tendências liberais, observam que devem ser levadas em conta as “palavras dos sábios” referidas em Pro. 22.17 e 24.23. Para eles, isso representa mais alguns autores, embora anônimos. Entretanto, não é absolutamente necessário aceitarmos esta opinião. Salomão poderia estar meramente referindo-se a afirmações que antigos sábios haviam feito, mais ou menos de conhecimento geral em sua geração, às quais, agora, ele emprestava uma forma epigramática. É muito melhor ficarmos com a ideia da autoria salomônica, claramente declarada no próprio livro de Provérbios por três vezes, conforme já tivemos ocasião de verificar, do que imaginar uma multiplicidade de autores, segundo o sabor da alta crítica, que sempre quer exibir erudição multiplicando autores e atribuindo aos livros da Bíblia uma data posterior à qual eles realmente pertencem.

  1. Data

Duas questões diferentes estão envolvidas no problema da data do livro de Provérbios, a saber: a data em que cada seção do livro foi escrita (ver a seguir quanto às “seções” do livro); e, então, a data em que foi feita a “coletânea” ou “editoração” das várias seções, a fim de formar um único volume (rolo), naquilo que hoje conhecemos como o livro de Provérbios. Os eruditos conservadores seguem o ponto de vista tradicional da autoria salomônica do livro inteiro, excetuando os capítulos 30 (de Agur) e 31 (de Lemuel). Isto posto, eles datam o volume maior do livro como pertencente ao século X A.C., provavelmente dos últimos anos do reinado de Salomão. A coletânea das várias seções, por sua vez, é datada variegadamente, pelos mesmos estudiosos conservadores, entre 700 A.C. e 400 A.C.

A paz e a prosperidade que caracterizaram o período de governo de Salomão ajustam-se bem ao desenvolvimento de uma sabedoria reflexiva e à produção de obras literárias desta natureza. Outrossim, vários especialistas observam que as trinta declarações dos sábios, em 22.17—24.22, contêm similaridades com as trinta seções da “Sabedoria de Amenemope”, produzidas no Egito, e que eram mais ou menos contemporâneas à época de Salomão. Por semelhante modo, a personificação da sabedoria, tão proeminente nos caps. 1--9 (ver

1.20; 3.15-18; 8.1-36), pode ser comparada com a personificação de ideias abstratas em escritos em egípcios e mesopotâmicos pertencentes ao segundo milênio A.C.

O papel desempenhado pelos “homens de Ezequias” (ver 25.1) indica que importantes seções do livro de Provérbios foram compiladas e editadas entre 715 e 687 A.C., um período de renovação espiritual encabeçada por aquele monarca judeu. Ezequias demonstrou grande interesse pelos escritos de Davi e de Asafe (II Crô. 29.30). Talvez também tivesse sido nesse tempo que foram adicionadas às coleções de provérbios de Salomão as palavras de Agur (cap. 30); de Lemuel (cap. 31); bem como as palavras dos sábios (22.17-24.22;, 24.23-34), embora seja perfeitamente possível que o trabalho de compilação se tenha completado após o reinado de Ezequias, conforme também já demos a entender anteriormente.

Os eruditos críticos, por sua vez, rejeitam a autoria salomônica, pelo que datam cada seção do livro de Provérbios separadamente, em geral em datas muito posteriores à data tradicional da escrita e compilação do livro. Isso, por sua vez, leva-os a datar a coletânea inteira no fim do período persa, ou mesmo do período grego. Porém, descobertas arqueológicas e filológicas recentes têm feito alguns desses eruditos abandonar uma data extremamente posterior, o que andava tão em voga na primeira metade do século XX. Entre essas descobertas poderíamos citar o achado de declarações de sabedoria dos cananeus, bem como certos padrões linguísticos cananeus na literatura de Ugarite.

O que é indiscutível é que o livro de Provérbios pode ser dividido em certas seções, conforme se vê abaixo:

  1. Seção I. Esta seção tem sido datada como passagem relativamente posterior, porquanto supõe- se que foi escrita como uma espécie de introdução para o volume inteiro. Há quem pense que essa primeira seção seja pós-exílica, enquanto outros dizem que a personificação da sabedoria (ver o oitavo capitulo) torna provável uma data dentro do século III A.C. Porém, um terceiro grupo de estudiosos tem demonstrado que essa personificação, ou melhor, hipostatisação, é uma das características das religiões mesopotâmica e egípcia. A fórmula numérica de X, X + 1, encontra-se em Pro.

6.16-19, ocorrendo também em textos ugaríticos (cf.. Gordon, Ugaritic Manual, págs. 34 e 201) do segundo milênio A.C. Albright (Wisdom in Israel and in the Ancient Near East) pensa que essa seção é anterior aos Provérbios de Aicar, isto é, o século VII A.C. Fritsch segue a tendência de dar uma data bem antiga à obra, ao afirmar que existem fortes influências ugaríticas e fenícias na primeira seção de Provérbios, e que os seus capítulos oitavo e nono compõem “uma das porções mais antigas do livro”.

Um exemplo dessa influência ugarítica, que damos aqui como ilustração, é o uso do termo lahima, “comer”, que só pode ser encontrado por seis vezes no Antigo Testamento, quatro delas no livro de Provérbios. Quando isso é combinado com a opinião de Scott (Anchor Bible, “Proverbs”, págs. 9,10), que disse que os capítulos primeiro a nono foram escritos como introdução a uma unidade já existente (isto é, os caps. 10-31), a mais antiga data provável para essa primeira seção faz com que uma data salomônica para as demais a ele atribuídas se torne bastante plausível. Entretanto, Scott considera que esta primeira seção do livro é um elemento posterior dentro do livro de Provérbios. O longo discurso desta seção (em contraste com o estilo de aforismas do restante) encontra paralelos na antiga literatura de sabedoria egípcia e acádica. Os aramaísmos ali existentes, ao contrário do que antes alguns supunham, argumentam em favor de uma data mais antiga, e não de uma data mais recente.

  1. Seção II. Este segmento do livro de Provérbios é considerado salomônico pelos eruditos conservadores, como uma coletânea gradualmente feita, talvez com um núcleo salomônico, que teria atingido seu presente estado no século V ou no século IV A.C. Certo escritor moderno, Paterson, considera que essa é a porção mais antiga do livro de Provérbios.
  2. Seção III e IV. Estas seções estão envolvidas na questão da dívida literária à Sabedoria de Amenemope, que será discutida mais abaixo. A ideia de que esta seção depende muito de uma obra egípcia possibilita uma data entre 1000 e 600 A.C., tudo estando na dependência da data da obra egípcia. Por isso mesmo, Paterson pensa que esta porção é pré-exílica, embora posterior a 700 A.C.
  3. Seção V. De acordo com o seu subtítulo, esta seção vem da época do rei Ezequias, porém a autoria real pode ter pertencido ao século X A.C.
  4. Seções VI, VII e VIII. Há uma diferença na colocação destas três seções do livro de Provérbios, entre a Septuaginta e o texto massorético (ver a respeito no Dicionário). Por isso mesmo, Paterson pensa que, originalmente, cada uma destas seções corresponde a antigas coleções separadas. À base de alegadas artificialidade, ele as colocou em data posterior. No entanto, a forma acróstica de composição (ver no Dicionário sobre Poemas Acrósticos), que alguns eruditos modernos consideram um artificialismo, era um método favorito de composição de poemas entre os antigos hebreus. Scott afirma que os poemas acrósticos apareceram muito antes do exílio do século VI A.C. E, visto que a literatura de sabedoria transcendia às fronteiras nacionais, a história política internacional oferece-nos pouca ajuda para fixar alguma data para estas três seções do livro de Provérbios.
  5. Lugar de Origem e Destinatários

O livro de Provérbios provavelmente originou-se nos círculos palacianos de Jerusalém. As porções salomônicas (excetuando a

seção transcrita pelos “homens de Ezequias, rei de Judá”; ver 25.1) podem ter sido registradas pelos escribas desse monarca descendente de Salomão. A essas coletâneas de provérbios, pois, os, escribas reais adicionaram as seções VI—VIII. O seu conteúdo indica que o livro de Provérbios tinha por intuito instruir os filhos das famílias nobres. Assim, embora estas instruções sejam endereçadas frequentemente a “meu filho”, estava em pauta uma audiência muito mais ampla. A sabedoria dos sábios destinava-se a “todos” (Paterson, pág. 54).

  1. Propósitos do Livro

O próprio livro de Provérbios assevera claramente o seu propósito em Pro. 1.2-4, ou seja, infundir sabedoria e discrição aos homens, especialmente no caso dos símplices, destituídos de experiência na vida. Lemos no quarto versículo: “... para dar aos simples prudência, e aos jovens conhecimento e bom siso”. É perfeitamente exequível que esse também tenha sido o propósito do livro inteiro: orientar os homens na conduta prática diária. Essa sabedoria, esse temor a Yahweh, é algo necessário para a formação de um caráter bem cultivado. A coletânea dos provérbios, pois, serviria de livro de informações útil para estudos públicos o privados. Os provérbios inculcam a moralidade pessoal, além de um direto “bom senso”. Paterson conseguiu extrair bem o propósito do livro de Provérbios ao escrever que o alvo desse livro é"... diminuir o número dos tolos e aumentar o número dos sábios” (pág. 54).

Embora o livro de Provérbios seja uma obra de cunho eminentemente prático, ensinando como o homem deve viver diariamente, a sabedoria ali ensinada está solidamente escudada sobre o temor a Yahweh (ver, por exemplo, 1.7, que declara: “O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino”). Por todo o volume, esse respeito ao Senhor é apresentado como a senda que leva à vida e à segurança (cf. 3.5; 9.10 e 22.4). No dizer de Pro. 3.18, a sabedoria é “... árvore de vida para os que a alcançam, e felizes são todos os que a retêm”.

VII. Canonicidade

Na obra hebraica, Shabbat (30b), Provérbios é listado como um livro de canonicidade disputada, nos fins do século I D.C., juntamente com os livros de Eclesiastes e Cantares de Salomão. Mas sua associação com outras obras reconhecidamente salomônicas, nessa afirmativa judaica, parece favorável ao argumento de que o livro era canônico, e assim era considerado. Outro tanto se vê em M. Yadaim (3.5), onde diferentes opiniões aparecem no tocante à canonicidade de Eclesiastes e Cantares de Salomão, mas não há nenhum debate no tocante ao livro de Provérbios. A LXX e a versão portuguesa concordam em dispor juntos todos os três livros atribuídos a Salomão, • ou seja, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão.

De acordo com o Talmude (Baba Bathra, 146), o livro de Provérbios aparece depois dos livros de Salmos e de Jó e, em conformidade com Berakoth (57b), deveria figurar entre os livros de Jó e de Salmos. A ordem de colocação nas modernas Bíblias (como na nossa versão portuguesa) deve estar alicerçada sobre certa tradição rabínica, que dizia que Moisés escreveu o livro de Jó, que Davi escreveu os Salmos, e que Ezequias compilou os Provérbios (Baba Bathra, 14b-45a).

O trecho de Tia. 4.6, ao citar Pro. 3.34, fá-lo de tal maneira que mostra que o livro de Provérbios era considerado canônico no século

I D.C. Em adição a isso, é com freqüência que o Novo Testamento se refere à seção do Antigo Testamento que contém o livro de Provérbios, a saber, kethubim, os “escritos", taxando-os de “Escritura" (no grego, graphé). A sua inclusão na Septuaginta certamente favorece a idéia de uma bem remota aceitação do livro de Provérbios como parte integrante das Santas Escrituras.

VIII. Estado do Texto

O livro de Provérbios, em sua maior parte, acha-se escrito em hebraico claro, estilo clássico. Entretanto, existem algumas poucas passagens difíceis no texto das seções principais. O erudito Fritsch lista como vocábulos que têm causado problemas para os tradutores os seguintes: 'amon (Prov. 8.30); yathen (12.20); hibbel (23.34); manon (29.21); ‘aluqah (30.15); zarzir e ‘alqum (30.31). A maioria das propostas de emendas, com o intuito de solucionar problemas textuais, não passa de conjectura. Descobertas linguísticas recentes demonstram o valor de esperar por maiores informações em vez de apelar para emendas conjecturadas.

A Septuaginta é uma tradução frouxa, quase uma paráfrase, exibindo marcas do ponto de vista dos tradutores. Em certos lugares a tradução é inteiramente corrupta. Inclui quase cem duplicatas de palavra, frases, linha e versículos que aparecem somente por uma vez, no texto massorético. Além disso, omite algumas seções e adiciona outras. Na Septuaginta, o trecho de Pro. 30.1-14 vem depois de

24.22 (segundo o texto hebraico), e então segue-se 24.23,24 (segundo o texto hebraico). Então a Septuaginta tem Pro. 30.15—31.9, e então os caps. 25—29 (segundo o texto hebraico) e, finalmente,

31.10-31. Essas anomalias têm levado os estudiosos a acreditar que o texto continuava fluido ao tempo em que foi feita a tradução da Septuaginta.

  1. Problemas Especiais

Duas particularidades que merecem atenção especial são: 1. A figura da Sabedoria, no oitavo capítulo de Provérbios; o 2. a relação entre o livro de Provérbios (22.17—24.34) e a obra egípcia Sabedoria de Amenemope. Ambos os itens estão diretamente vinculados a abordagens críticas quanto à autoria e à data do livro de Provérbios, razão pela qual os ventilamos aqui.

  1. A Figura da Sabedoria. Apesar de a sabedoria ser exaltada como uma virtude, por toda a seção de abertura do livro de Provérbios, como também em outros segmentos do livro, é no seu oitavo capítulo que encontramos o tratamento da “sabedoria” como uma hipostatisação. Ao que tudo indica, ali esse atributo divino aparece como um ser que mantém inter-relações com os homens. Em Pro.

I.20-33; 8.1-36; 9.1-6,13,18, a “Sabedoria” aparece em oposição a- uma personagem similar, embora contrária, a “Senhora Loucura”. A Sabedoria aparece como um profeta que prega pelas ruas (cf. Jer.

II.6 e 17.19,20).

Não há nenhum traço de politeísmo no livro de Provérbios. Por conseguinte, qualquer tentativa de vincular o pano de fundo acerca de Salomão a Ma’at, Istar ou Sidurí Sabatu, conforme fazem alguns, não é convincente nem tem base nos fatos. A única questão que ainda resta ser ventilada é se a “Sabedoria” é uma verdadeira hipostatisação, isto é, um atributo ou atividade da deidade à qual foi conferida uma identidade pessoal. Alguns estudiosos defendem que

o oitavo capítulo de Provérbios simplesmente apresenta uma vívida personificação.

A íntima correspondência entre as atividades da “Sabedoria”, no livro de Provérbios, e as atividades de Yahweh, no resto do Antigo Testamento, é algo deveras notável. A Sabedoria derrama o espírito (ver Pro. 1.23, cf. Isa. 44.3). Deus chama, mas Israel não responde (ver Pro. 1.24-26; cf. Isa. 65.1,2,12,13; 66.4). O Espírito de Deus é a Sabedoria (ver Pro. 8.14; cf. Isa. 11.2). A Sabedoria promove a justiça (ver Pro. 8.15,16; cf. Isa. 11.3-5). Da mesma maneira que a Sabedoria prepara o seu banquete (ver Pro. 9.5, em oposição à mulher louca, que também tem o seu banquete, Pro. 9.13-18), assim o faz Yahweh (ver. Isa. 25.6; 55.1-3; 65.11-13).

Nos seus escritos, tanto o judaísmo posterior quanto o cristianismo referem-se ao papel desempenhado pela “Sabedoria” na criação—um desempenho que em muito se assemelha à sabedoria hipostatisada no livro de Provérbios. O livro apócrifo Sabedoria de Salomão identifica a “Sabedoria” como “a modeladora de todas as coisas” (7.22), como “associada às obras (de Deus)” (8.4) e como “formadora de tudo quanto existe” (8.6). Fiio (De Sacerdota, 5) afirma que a “Sabedoria” foi a fabricante do universo. Alguns estudiosos procuram demonstrar a ligação entre o “Logos” do primeiro capítulo do evangelho de João, bem como a “Sofia” concebida pelos mestres

gnósticos, com a “Sabedoria”, hipostatisada do livro de Provérbios; porém, as conclusões desses eruditos não conseguem harmonizar-se entre si.

Se o erudito Scott (págs. 71 e 72) está correto em sua vocalização da palavra hebraica ‘amon, para ‘omen (em Pro. 8.30), visto que ‘omen significa “artífice principal” ou então “criancinha”, segue-se que a “Sabedoria” é vista como aquela força hipostatisada que unifica a todas as coisas (cf. Eclesiástico 43.28; Sabedoria de Salomão 1.7; Col. 1.17 e Heb. 1.3).

Embora alguns críticos tenham datado o livro de Provérbios como pertencente ao período helenista, em face da hipostatisação da sabedoria (sob a alegação de que a tendência para as hipostatisações era forte durante o período de dominação grega), o fato é que há muitos paralelos entre o livro de Provérbios e o antigo mundo do Oriente Próximo, do segundo milênio A.C., ou mesmo antes. Entre esses paraielos, poderíamos citar os seguintes: 1. A. divindade egípcia de Mênfis, Ptá, teria criado as coisas com sua palavra e seu pensamento. 2. Em Tote de Hermápolis, a sabedoria divina e o deus criador aparecem personificados. 3. A divindade suméria Ea-Enki era chamada de “o verdadeiro conhecedor”. 4. O deus babilónico Marduque, intitulado de “o mais sábio dos deuses”, teria conquistado Tiamate e então criado a terra e o homem. 5. O altíssimo deus El, do panteão ugarítico, é descrito como alguém cuja “sabedoria é eterna”. Esses e outros exemplos hebraicos (ver Sal. 74.13,14; 82.1; Isa. 14.12-14; 27.1) demonstram claramente que, desde bem antes da época de Salomão, já se conhecia o artifício literário dá hipostatisação.

Patersan fez um sumário da discussão da “Sabedoria”, afirmando que o trecho de Pro. 8.22,23 é uma ousada confirmação e reafirmação da doutrina expressa em Gên. 1.2. Deus não criou um caos (cf. Gên.

1 e 2), e, sim, um “cosmos”, um todo organizado. A sabedoria é a essência mesma do ser de Deus. O universo não veio à existência por mero acaso, nem permanece existindo por suas próprias forças. O mundo conta com uma teleologia (ver a respeito no Dicionário) porquanto existe a teologia (ver Pro. 3.19; 20.12).

  1. Relação entre Provérbios e a Sabedoria de Amenemope. Desde que Adolph Erman ressaltou as similaridades existentes entre a Sabedoria de Amenemope e o livro de Provérbios (22.17—23.14), tem havido uma tendência geral para os estudiosos pensarem que essa passagem bíblica está diretamente em dívida com aquela antiga obra de origem egípcia. Todavia, os defensores da independência desse trecho bíblico de qualquer obra egípcia também aparecem em bom número, como E. Diroton, C. Fritsch e R.O. Kevin, para citar somente alguns. Embora a preponderância da erudição encare o livro de Provérbios como se houvesse alguma dependência entre ele e a Sabedoria de Amenemope, há argumentos sólidos suficientes para mostrar a inveracidade dessa dependência, conforme podem averiguar sérios estudiosos da Bíblia que queiram parar a fim de examinar todas as evidências disponíveis.
  2. O Documento Egípcio. Foi Sir E. Wallis Budge, no seu artigo Recuil d’Etudes Egyptoiogigue... Champoliion, em 1922, quem primeiro tornou conhecida a antiga obra egípcia Sabedoria de Amenemope. Em 1923, ele publicou o texto completo da obra, com fotografias e uma tradução. Outros eruditos trouxeram a público suas próprias traduções do original egípcio. Mas foi Erman o primeiro a sugerir que as “excelentes cousas” a respeito das quais lemos em Pro. 22.20 poderiam ser traduzidas por “trinta”, com base na divisão da Sabedoria de Amenemope em trinta capítulos. Essa tradução envolvia uma modificação textual, uma nova vocalização de shalishim para sheioshim, no texto hebraico do livro de Provérbios. E então Erman inferiu que o escritor bíblico teria, diante de si, os trinta capítulos da Sabedoria de Amenemope, tendo dali selecionado e incorporado trinta afirmações a seu próprio livro de sabedoria. A verdade é que Oesterley e outros veem pelo menos que vinte e três das trinta declarações daquela passagem do livro de Provérbios derivam da Sabedoria de Amenemope, Scott, por sua vez, afiançou que somente nove dessas declarações procedem daquela fonte. Mas o preâmbulo do trecho Pro. 22.17-21 parece ser uma reformulação da conclusão da Sabedoria de Amenemope. Essa obra egípcia foi escrita por Amen-em-apete, egípcio nativo de Panópolis, em Acmim. E!e era um supervisor de terras, evidentemente uma posição importante. Também foi um sábio e um escriba. Devido à posição que ele ocupava, alguns estudiosos datam a sua obra como pertencente ao período pós-exílico de Judá (cf. Esdras e Ben Siraque), Entretanto, o gênero literário da sabedoria e a instituição dos escribas eram realidades bem-estabelecidas no antigo Oriente Próximo desde muito antes do tempo de Salomão.

À obra Sabedoria de Amenemope têm sido atribuídas diversas datas, desde cerca de 1300 A.C. (Plumley) ou 1.200 A.C. (Albright), até datas em torno do século VII A.C. (Griffith, Oesterley), ou do período persa-grego (Lange). A data mais antiga baseia-se em um ostracon que continha um extrato daquela obra egípcia. Se isso for aceito, então torna-se quase uma certeza que o livro de Provérbios realmente tomou por empréstimo elementos do Sabedoria de Amenemope. Existe mesmo a possibilidade de que aquele ostracon represente uma fonte informativa comum, usada tanto pelo livro de Provérbios quanto pela Sabedoria de Amenemope. Seja como for, isso em nada afeta a inspiração do livro de Provérbios, porquanto o fenômeno da inspiração envolve até mesmo a seleção de material, como também a composição do material original.

  1. Relações Léxicas. Vários estudos sobre a lexicografia de Sabedoria de Amenemope tendem a mostrar que seu vocabulário egípcio-semítico pertence ao estágio final do idioma egípcio. Há indicações de que esse vocabulário da obra assemelha-se mais com a Septuaginta do que com o texto massorético (ver no Dicionário artigos sobre ambos os termos). Interessante é que, embora isso seja posto em dúvida por alguns eruditos, o uso de expressões idiomáticas semíticas no livro Sabedoria de Amenemope pode até mesmo mostrar que é essa obra egípcia que depende do livro de Provérbios, e não o contrário, conforme dizem alguns estudiosos. Assim é que, se o livro de Provérbios parece conter versículos espalhados por Sabedoria de Amenemope, essa obra egípcia parece conter versículos espalhados no livro de Provérbios. Destarte, os argumentos pró e contra parecem bem equilibrados. Também tem grandes possibilidades uma terceira posição, intermediária, que diz que tanto a obra egípcia quanto o livro de Provérbios usaram antigas tradições orais comuns no antigo Oriente Próximo, ou mesmo algum apanhado dessas tradições, já sob forma escrita. Também merece consideração a idéia de que a passagem do livro de Provérbios estava simplesmente usando os “trinta capítulos” egípcios como modelo, e não como fonte informativa direta. E Scott (pág. 20) exprime um ponto de vista parecido com isso.
  2. Conteúdo e Esboço do Livro

O conteúdo do livro de Provérbios pode ser classificado em conformidade com quatro critérios: por gênero literário, por assunto, por autoria e por motivos teológicos. Felizmente, as divisões feitas de acordo com os três primeiros critérios justapõem-se com facilidade, em quase todos os pontos.

  1. Conteúdo.
  2. Gêneros Literários. As duas formas literárias que mais prevalecem no livro de Provérbios são: 1. as declarações sucintas e expressivas usadas para transmitir sabedoria (os verdadeiros “provérbios”); e 2. os longos discursos didáticos, do que são exemplos a primeira seção (caps. 1—9), e as seções sétima e oitava (caps. 30—31). Praticamente todo o restante do livro cabe dentro da categoria dos “provérbios”. Pode-se definir um provérbio como “uma declaração breve e incisiva, de uso comum”. Tipicamente, um provérbio é anônimo, tradicional o epigramático. Conforme alguém já disse, um provérbio caracteriza-se por “sua brevidade, sentido e sal”. E, conforme expressou com grande percepção Lord John Russell, um provérbio contém “a sabedoria de muitos e a argúcia de um só”. Na segunda seção do livro de Provérbios, há trezentos e setenta e cinco dessas declarações. Dentre os cento e trinta e nove versículos dos caps.

25—29, cento e vinte e oito são provérbios. Com frequência, os provérbios assumem a forma de um símile gráfico (cf. os caps. 25 e 26).

Quase todo o livro de Provérbios, excetuando as seções primeira, sétima e oitava (caps. 1—9, 30 e 31), foi escrito formando duplas que se completam, ou dísticos. Esse paralelismo—uma típica característica da poesia hebraica—ocorre com certa variedade de formas. O chamado paralelismo sinônimo, em que a segunda linha reitera ou reforça a primeira, é a forma usualmente encontrada em Pro.

16.10-22.15 (cf. 20.13). O paralelismo antitético, em que a segunda linha expõe um contraste do que foi dito na primeira, ou uma reversão da ideia da primeira linha, é a forma de paralelismo usualmente encontrada nos, capítulos 10 a 15 (cf. Pro. 15.1). Ocasionalmente, vê-se no livro de Provérbios certa forma de paralelismo em que a segunda (ou a terceira) linha adiciona algo ao pensamento expresso na primeira linha. Esse tipo de paralelismo sintético acha-se em 10.22. Os capítulos 25 e 26 estão repletos desse tipo de paralelismo.

  1. Assunto. Três tipos latos de material são apresentados no livro de Provérbios, isto é: 1. instruções para que se abandone a insensatez e siga a sabedoria (caps. 1—9); 2. exemplos específicos de conduta sábia ou de conduta insensata (as declarações gnômicas das seções II — V; caps. 10—29); e 3. a vívida descrição acerca da mulher virtuosa (cap. 31; que talvez contrabalance o motivo do filho sábio, nos caps. 1—9).

Em adição a isso, o conteúdo do livro de Provérbios pode ser agrupado de acordo com os tópicos discutidos, como as declarações que versam sobre os males sociais (Pro. 22.28; 23.10; 30.14); sobre as obrigações sociais (15.6,7,17; 18.24; 22.24,25; 23.1,2; 27.6,10); sobre a pobreza (17.5; 18.23; 19.4,7,17); sobre os cuidados com os pobres (14.31; 17.5,19; 18.23; 19.7,17; 21.13; 26.14,15); sobre as riquezas materiais como uma questão secundária (11.4; 15.16; 16.8,16; 19.1; 22.1), embora importante (10.22; 13.11; 19.4).

A vida doméstica é um tópico frequente do livro (Pro. 18.22; 21.9.19; 27.15,16; 31.30), como também as relações entre pais e filhos (10.1; 17.21,25; 19.18,24; 22.24,25; 25.17).

O assunto da sabedoria já foi ventilado, anteriormente. Em contrate com o sábio, encontramos o “louco”. Nada menos de quatro tipos de loucos podem ser discernidos no livro de Provérbios: 1. O tolo símplice, que pode ser ensinado (Pro. 1.4,22; 7.7,8; 21.11). Esse é o “desmiolado”. 2. O insensato empedernido (1.7; 10.23; 12.23; 17.10; 20.3; 27.22), que é um obstinado. 3. O tolo arrogante, que escarnece de toda as tentativas para iluminá-lo. Isso envolve uma atitude mental, e não tanto uma “incapacidade mental”, do que tal indivíduo se torna culpado (3.34; 21.24; 22.10; 29.8). 4. O louco brutal, morto para toda decência e boa ordem (17.21; 26.3; 30.22; cf. Sal. 14.1).

A conduta dos reis é um dos tópicos do livro (Pro. 16.12-14; 19.6; 21.1; 25.5; 28.15; 29.14). O bom ânimo é encorajado (15.13-15; 17.22; 18.14). O uso da língua é discutido (10.20; 15.1; 16.28; 21.23; 26.4,23). Também são mencionados outros hábitos ou características pessoais (11.22; 13.7; 22.3; 25.14; 26.12; 30.33). Finalmente, são discutidos alguns aspectos do conceito da “vida”: sua fonte originária (10.11; 13.14; 14.27; 16.22); sua vereda (6.23; 10.17; 15.24); e também o conceito da vida propriamente dita (11.30; 12.28; 13.4,12).

  1. Esboço. Quase todos os esboços que se têm traçado sobre o livro de Provérbios contêm de quatro a dez seções principais. As divisões naturais do livro, todavia, parecem indicar um esboço em oito pontos, com bom base na autoria provável e nos estágios da coleção de unidades separadas, posteriormente coligidas em um único rolo escrito em hebraico. É o que se vê abaixo:
  2. Instrução paterna: sabedoria versus insensatez (capas. 1—9)
  3. Provérbios de Salomão: primeira coleção (10.1—22.16)

III. Palavras dos sábios: primeira coleção (22.17—24.22)

  1. Palavras dos sábios: segunda coleção (24.23,24)
  2. Provérbios de Salomão: segunda coleção, feita pelos homens de Ezequias (caps. 25—29)
  3. Palavras de Agur (cap. 30)

VII. Palavras de Lemuel (31.1-9)

VIII. A esposa virtuosa (31.10-31)

Algumas dessas seções podem ser subdivididas. Assim, para exemplificar, Scott (págs. 9 e 10) vê dez discursos de admoestação e dois poemas, além de algumas declarações gnômicas, na primeira seção, ao passo que Kitchen divide a mesma seção em catorze subdivisões. Na segunda seção, a diferença no paralelismo entre os caps. 10—15 e 16.1—22.16 pode indicar uma divisão natural. A segunda seção, até Pro. 23.14 parece estar intimamente relacionada à Sabedoria de Amenemope, enquanto o resto dessa seção não mostra tal relação, o que pode indicar outra divisão natural. Na quinta seção, talvez se deva perceber uma diferença entre os caps. 25—27 (principalmente preceitos e símiles) e os caps. 28 e 29 (principalmente declarações gnômicas, como em Pro. 10.1—22.16). Quase todas as declarações dísticas do livro de Provérbios encontram-se na segunda seção e em Pro. 28 e 29. Novamente, Scott subdividiu a sexta seção em um “diálogo com um cético” (presumivelmente Agur; Pro.

39.1-9) e “provérbios numéricos e de advertência” (30.10-33), ao passo que Murphy divide essa seção após o vs. 14.

  1. Teologia do Livro

Embora alguns estudiosos considerem o livro de Provérbios uma obra que ensina uma sabedoria secular e prática, um exame mais cuidadoso de seu conteúdo revela que este livro é extremamente teológico. Assim, é ali salientada a soberania de Deus (Pro. 16.4,9 19.21; 22.2). A onisciência de Deus é claramente referida (15.3,11

21.2). Deus é apresentado como o Criador de tudo (14.31; 17.5 20.12). Deus governa a ordem moral do universo (10.27,29; 12.2). As ações dos homens são aquilatadas por Deus (15.11; 16.2; 17.3; 20.27). Até mesmo neste nosso lado da existência a virtude é recompensada (11.4; 12.11; 14.23; 17.13; 22,4). O juízo moral é mais importante ainda do que a prudência (17.23).

O povo hebreu não dispunha de um termo genérico para a ideia de “religião”. Não obstante, o livro de Provérbios demonstra esta ideia por intermédio da expressão “o temor do Senhor” (Pro. 1.7; 9.10; 15.33; 16.6; 22.4), como também por meio daquela outra expressão que se acha nos livros dos profetas “o conhecimento de Deus” (ver, por exemplo, Isa. 11.2; 53.11; Osé. 4.1; 6.6). Essas duas ideias aparecem como um paralelo sinônimo, em Pro. 2.5 e 9.10.

Interessante é observar que o livro de Provérbios ignora quase completamente o templo de Jerusalém e o culto religioso ali efetuado (o que serve de fortíssimo argumento contra uma autoria posterior do livro), excetuando algumas alusões bastante indiretas (Pro. 3.9,10). De fato, trechos de Provérbios, como 16.6 e 21.3, até parecem negar a necessidade dos sacrifícios levíticos (mas cf. 15.8 e 21.27). O que se destaca no livro de Provérbios é o caráter vital da verdade (28.4 e 29.18). Citamos a última dessas referências: “Não havendo profecia o povo se corrompe; mas o que guarda a lei esse é feliz”.

Embora o vocábulo “aliança” só ocorra em Provérbios por uma única vez (ver 2.16,17), não há que duvidar que esse conceito se faz presente no livro. A confiança, base de todo relacionamento de pacto, é um sine qua non (Pro. 3.5,7; cf. 22.19; 29.25). Deus é mencionado, na maioria das vezes, por Seu nome do pacto, isto é, Yahweh (nada menos de oitenta e sete vezes). Também é evidente a relação entre pai e filho, que tanto caracteriza a ideia de aliança (cf. Osé. 11.1), conforme se vê em Pro. 3.12. “Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem”.

Um ponto que não pode ser esquecido, neste nosso estudo, foi a marca deixada pelo livro de Provérbios e seus conceitos no Novo Testamento. Isso se faz sentir por meio de várias citações e alusões, conforme se vê nas duas listas abaixo, que servem apenas de exemplos:

3.34 - 4.26 - 10.12 - 25.21,22 - 26.11 - Tia. 4.6; I Ped. 5.5b Heb. 12.13a Tia. 5.20 Rom. 12.20 II Ped. 2.22

  1. Citações

3.7ª 3.11,12 - Rom. 7.16 Heb. 12.5,6

  1. Alusões

2.4 - Col. 2.3 3.1-4 - Luc. 2.52 12.7 - Mat. 7.24,27

Se considerarmos que o livro de Provérbios é um extenso comentário sobre a lei do amor, então é certo que este livro canônico tem ajudado a pavimentar o caminho para Aquele que era tanto o Amor quanto a Sabedoria encarnados, o Senhor Jesus Cristo.

Se perguntássemos por que motivo a última seção deste livro termina com um hino de elogio à mulher virtuosa (Pro. 31.10-31), a resposta seria que a esposa de nobre caráter forma um arcabouço literário juntamente com os discursos de introdução ao livro, nos quais a Sabedoria é personificada como uma mulher. Na vida diária nenhum paralelo mais feliz poderia ser encontrado como a personificação da sabedoria do que a de uma esposa de bom caráter. Por conseguinte, o livro de Provérbios começa e se encerra com chave de ouro.

XII. Bibliografia

A principal fonte de informações sobre o livro dos Provérbios foi The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, designada Z nas referências bibliográficas. Agradeço a gentil permissão dada pela Zondervan Publishing House, Grand Rapids, Michigan, EUA, pelo uso da obra. Ver também ALB AM E IIB Kl ND WBC WES YO.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2529-2535.

Deus está presente, não importa se o invocamos ou não. Assim dizia a placa na porta de Jung em Zurique, e isso é um comentário extraordinário acerca do seu estudo e serviço à humanidade. Algumas coisas simplesmente são assim; os arquétipos reaparecem; a cura é possível. A citação também nos dá uma pista para a compreensão do livro de Provérbios.

O Antigo Testamento hebraico é dividido em três seções — a Lei, os Profetas e os Escritos, correspondentes aos três tipos de líderes: o sacerdote, o profeta e o sábio (Jr 18.18). Mesmo o leitor casual sente que os Escritos são bem diferentes das outras duas seções. Há história em Crônicas, Esdras-Neemias e Ester, mas não é exatamente como a história de Êxodo ou dos dois livros de Reis. Os salmos abrangem todo o AT, transmitindo forma cultual, experiência pessoal, história, pompa e sabedoria. Há também Jó, Provérbios e Eclesiastes. Eclesiastes é um livro breve e incomoda o leitor somente depois de estudo detalhado e muita reflexão. Mas há muito em Provérbios, e quanto mais se convive com esse livro, mais a “diferença” se destaca na mente e se torna quase tangível. Uma pista surpreendente é o uso das palavras “santo”, “santidade”, que ocorrem somente três vezes (v. comentário de 20.25; 30.3). Crônicas, Esdras e Neemias contêm muitas referências à santidade — na maioria das vezes em conexão com o lugar santo, ou com o povo santo, mas “santo” com referência ao Deus que é transcendente, glorioso e zeloso. Ester, de forma estranha e peculiar, não menciona Deus nem a santidade, embora Deus esteja presente numa dialética mais sutil do que Marx seria capaz de imaginar. Jó segue o seu tema com menções ocasionais de Deus e da santidade junto com sua preocupação com a angst (medo) e o sofrimento humanos.

Eclesiastes é mordaz e provocativo, um apêndice para Jó. Mas Provérbios aparentemente é muito piedoso, devoto e sensato.

S ó lentamente se torna claro por que o editor tem tão pouco interesse na exclamação dos serafins: “Santo, santo, santo”; “adorai o Senhor na beleza da sua santidade”; ou até (quando olhamos mais de perto) em qualquer tipo de adoração (v. comentário de 2.8).

Provérbios trata da vida e de como vive-la de forma sensata. O mundo foi feito pela sabedoria (cap. 8), e as pessoas que seguem a sabedoria vão descobrir que o mundo combina com elas e estimula os seus esforços. A sabedoria é o arquiteto de Deus (8.30), de forma que o temor do Senhor é o primeiro passo para a sabedoria (9.10), o fundamento e a origem de todo o conhecimento (1.7), e a fonte da vida (14.27). A sabedoria, aliás, é que redige o manual, o manual de instruções da oficina de Deus. Se os tolos desprezam a sabedoria, arruínam a sua vida de todas as maneiras trágicas e diversas descritas em Provérbios.

Os que leem e praticam, que dão ouvidos ao sábio pai, vão prosperar no final, e em geral já agora também. E possível que para melhor seguir as instruções do manual seja útil conhecer o fabricante. Mas as pessoas podem reconhecer a sabedoria sem reconhecer o Senhor cujo temor é o seu princípio e, certamente, sem uma experiência pessoal de santidade. A sabedoria não é nacionalista; não se menciona a reverência e o pavor diante do monte em chamas e quase não há referências à aliança. E um livro para todas as raças. Reflete o mundo da perspectiva do pragmático. Os seus provérbios sábios e espirituosos “funcionam”.

Eles funcionam porque é assim que Deus estruturou as coisas. Até mesmo se as pessoas não invocam esse poder criador, a sua sabedoria criativa e sustentadora continua a lhes dar um mundo em que opera a sabedoria, em que as coisas fazem sentido para o ser humano. Provérbios é o rascunho da graça comum. Alexander Maclaren o descreveu como remédio portátil para as febres da juventude, e o que importa com um remédio é que você o tome, conhecendo o médico ou não. Provérbios reflete os escritos de sabedoria de muitos povos e nos lembra de forma nobre que todos os homens compartilham algumas percepções comuns acerca de sua situação, sua “condição humana”.

A sua sabedoria pode até ser praticada pelas razões erradas — egoísmo, porque a sabedoria “funciona” — mas como disse William Temple: “A arte da política é arranjar as coisas de tal forma que os interesses próprios favoreçam o que a justiça exige”.

Os cristãos talvez queiram seguir Provérbios por motivos mais profundos; ou talvez até considerem o seu lucro final insignificante. Outros talvez considerem Provérbios muito ligado a este mundo, com tão poucas referências ao porvir que alguns comentaristas até negam que elas existam (v. comentário de 11.7). Mas até estes podem ler o livro com proveito e alegria, ou com um sorriso torcido, com angústia e tristeza, e desfrutar de muitos ditos sutilmente equilibrados para fazê-los pensar de maneira profunda acerca do mundo e de seus habitantes tão diversos. Há ligações concretas com palavras de grande significado no AT — equidade, retidão (v. comentário de 8.15-21) e justiça, pois  essas são verdades profundas acerca dos verdadeiros alvos e a direção correta do homem. O lema (1.7; 9.10) também mostra uma firme ligação com o restante das Escrituras. O temor do Senhor é um conceito difícil de ser compreendido. Certamente não é terror, nem um pavor diante do divino (v. comentário de 28.14). E uma percepção reverente da realidade, exatamente o oposto da arrogância e da insolência. E o reconhecimento de que há um limite para a escolha e as descobertas humanas. Von Rad o descreve como um “limite à sabedoria empírica; no limite, submeta- se a Deus”; e McKane comenta que o temor “não é a limitação do próprio eu, mas a descoberta do eu”. As pessoas que gastam todo o seu tempo desafiando a cerca não aprendem a desfrutar as bênçãos do campo. As pessoas que vivem no temor do Senhor descobrem uma ocupação que traz a liberdade perfeita e uma confiança que lhes concede autonomia. O temor do Senhor guiou as parteiras israelitas no Egito (Ex 1.21) e serviu de base para a justiça (Ex 18.21), as leis humanitárias (Lv 19.14,25; 25.17) e a monarquia (ISm 12.14; 2Sm 23.3). Ele brilha no governante ideal (Is 11.2,3). No N T, esse temor é novamente o reconhecimento apropriado do homem de quem ele é (Lc 12.4,5; 2Co 7.1; E f 5.21).

Em IPe 2.17, encontramos a repetição de Pv 14.21, e a ordem “Temam a Deus” faz parte do evangelho eterno (Ap 14.7). Esse temor pode ser percebido de forma tímida e articulado de maneira insuficiente; o uso de “temente a Deus” como expressão de compreensão ou compromisso mais fraco do que “cristão” é um exemplo. Mas, invocado ou não, Deus está presente, e a sabedoria está em reconhecer isso. Nesse aspecto, o final do século XX enfrentou uma crise. O senso comum de Provérbios é um cimento social bom e bem-vindo. Mas uma sociedade que está cada vez menos certa da existência e da presença de Deus descobre que a base da moralidade e da comunidade está se esfacelando. Os que apagam as estrelas não têm mais com que se orientar. Os cristãos podem se alegrar com o fato de que, invocado ou não, Deus está presente e que há no homem uma mente (v. 4.23) que pode responder.

A fé cristã vai além de Provérbios? Sim, na medida em que fornece uma motivação mais profunda. O conselho prudente de Provérbios parece quase interesseiro em comparação com o amor altruísta espontâneo que se espera do cristão. Cristo traz não somente uma nova motivação, mas um novo poder para pô-la em prática (Rm 5.1-5). Por tudo isso, os cristãos precisam de Provérbios se querem ser “astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas” (Mt 10.16), se é que querem andar com sabedoria em relação aos outros, não como tolos mas como sábios.

Provérbios ainda descreve o mundo em que vivemos. E um bom manual, até mesmo para os filhos do Fabricante.

Autoria e data A atribuição do livro a Salomão (1.1) o reconhece como fonte principal e maior inspiração da sabedoria e da literatura em Israel. Durante seu reinado, foram estabelecidos laços fortes com o Egito (lRs 3.1), e havia uma ampla troca de conhecimento e de ideias entre os sábios (lRs 4.31), como ocorre nas confraternidades de cientistas nos dias de hoje. Os títulos atribuem alguns grupos de provérbios especialmente a Salomão (10.1-22; 16 e 25.1—29.17, editado sob a direção de Ezequias). São citados homens sábios anônimos (22.17—24.22 e 24.23-24). Agur e Lemuel (30.1; 31.1) também são mencionados. Evidentemente foram acrescentados outros ditos (v. comentário de 30.1). Não podemos determinar exatamente em que estágio ocorreu a edição final. Está se tornando cada vez mais evidente que a literatura sapiencial era parte integrante do mundo antigo, e Kidner argumenta que no caso de Provérbios “todo o seu conteúdo pode ter existido, embora não colecionado em um livro [...] já durante a vida de Salomão”.

Duas outras coleções de sabedoria antiga de interesse especial são o Ensino Egípcio de Amenemope e as Palavras Assírias de Ahikar. O primeiro pode bem ter sido anterior a Salomão; o segundo dificilmente pode ser datado antes de 700 a.C. Os dois contêm paralelos próximos, até literais, com os ditos do sábio (22.17ss; v. comentário) e possíveis alusões em outras passagens. O uso que Provérbios faz deles, no entanto, sugere que o editor sentiu que poderia usar e modificá-los com grande liberdade, ou até que tinham sido absorvidos nas versões hebraicas da sabedoria comum do Oriente Médio e usados desde então, e não copiados servilmente de outras coleções.

Outros comentaristas argumentam que houve revisões que fizeram um alinhamento crescente da sabedoria de muitas fontes (predominantemente seculares) com a teologia israelita, e assim consideram referências a “ Senhor ” revisões posteriores. Mas embora possam ter havido revisões secundárias e alguns rearranjos, não há razão para duvidarmos do fato de que em Israel a tradição sapiencial se desenvolveu e cresceu no contexto de Deus, o Senhor que criou todas as coisas, que conduz a história e cujos olhos estão em todo lugar, cuidando dos maus e dos bons.

Texto e estilo

O leitor talvez fique preocupado com a quantidade de notas de rodapé (notas no comentário) e talvez tema que, se foram necessárias tantas emendas textuais nas notas de rodapé da NVI, o texto esteja num estado deplorável. Sempre há grandes dificuldades de tradução relacionadas à tentativa de fazer a ponte entre séculos e de tentar fazer isso entre culturas diferentes. No caso de epigramas, isso é ainda mais difícil. Basta pensar em ditos comuns como “Deus ajuda quem cedo madruga”. A força dessas expressões está na sua brevidade. Mas, em virtude dessa brevidade, muitas coisas estão implícitas. A maior parte de Provérbios consiste em parelhas de versos, metricamente equilibradas, com três ou quatro palavras hebraicas cada um. A ordem nem sempre é importante, e às vezes o verbo é omitido (v. comentário de 10.6; 27.19 p. ex.). Acrescente-se a isso o fato de que muitas palavras são incomuns, talvez usadas num trocadilho, o que torna a tarefa do tradutor realmente difícil. Não é de admirar que ele recorra a pequenas alterações aqui e acolá que parecem tornar o provérbio mais equilibrado, com sentido mais compreensível (v., e.g., comentário de 12.12). A NVI — e mais ainda a N TLH — tomou a liberdade de modificar não somente as vogais, mas com frequência também as consoantes, especialmente se alguma das versões (traduções gregas antigas etc.) apoia a alteração. A VA tentou ficar com o texto hebraico sempre que possível.

Neste comentário, as dificuldades do texto são registradas, e sempre que a NIV ou a NEB (as versões em inglês) recorreram muito rapidamente a uma versão ou emenda, chamamos a atenção para outras possibilidades. O estilo é métrico e epigramático. Em algumas ocorrências, a JB (em inglês) capta isso muito bem (12.23; 16.1; 21.4), mas não consegue manter esse padrão em todo o livro. A NIV em inglês e, de forma semelhante, a NVI em português primam pela suavidade e inteligibilidade do texto, o que transmite bem a antítese ou o paralelismo. Uma distinção principal de estilo literário pode ser vista no tipo de uso verbal. A chamada “literatura de frases” usa os verbos no indicativo, para afirmar os dois lados de qualquer ideia: “A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira”. É assim que funciona. Pense a respeito disso. A “literatura de instrução”, por contraste, usa os verbos no imperativo: “Não explore os pobres por serem pobres, nem oprima os necessitados no tribunal”. A distinção pode ser vista claramente no cap. 22 em que o estilo muda no v. 16. A literatura de instrução é desenvolvida nos primeiros nove capítulos para dar conselhos detalhados e exortação na forma de um simples imperativo, seguido de uma afirmação explicando a razão da instrução (v. comentário de 22.17).

McKane identifica três tipos na literatura de frases: ditados relativos à educação do indivíduo para uma vida harmoniosa e bem sucedida; ditados relativos à comunidade e o efeito sobre ela do mau e do bom comportamento por parte dos indivíduos; ditados relativos a Deus, o “moralismo que deriva da piedade já vista”.

A classificação, no entanto, é de interesse principalmente acadêmico, e este comentário não tenta analisar os ditados segundo o seu tipo ou tópico. O livro de Provérbios é uma colcha de retalhos. Como disse um homem que começou a ler um dicionário: “Interessante, esse livro fica mudando de assunto o tempo todo”. E exatamente essa mudança que torna Provérbios uma leitura tão prazerosa e agradável. Repetidamente, de todos os pontos de vista possíveis, em todas as situações possíveis, os princípios básicos de vida vêm em nossa direção; isso ocorre de maneira incisiva, triste, secreta, humorística, direta, sugestiva; os provérbios são “amigos que com muito tato me convencem de quem eu realmente sou”. O livro não foi escrito para ser lido numa sentada, como se devêssemos entender a sua trama. Deve ser desfrutado em pequenas doses; deve ser lido e refletido, saboreado na mente; deve nos deixar intrigados até que captemos o seu sentido; deve ser lembrado como uma sacudida na consciência ou um tempero na conversa.

CHARLES G. MARTIN. Comentário Bíblico NVI. Editora Vida. Livro de Provérbios. pag. 905-908.

INTRODUÇÃO

O livro de Provérbios é uma antologia inspirada de sabedoria hebraica. Esta sabedoria, no entanto, não é meramente intelectual ou secular. E principalmente a aplicação dos princípios da fé revelada às tarefas da vida diária. Nos Salmos temos o hinário dos hebreus; em Provérbios temos o seu manual para a justiça diária. Neste último encontramos orientações práticas e éticas para a religião pura e sem mácula. Jones e Walls dizem: “Os provérbios nesse livro não são tanto ditos populares como a essência da sabedoria de mestres que conheciam a lei de Deus e estavam aplicando os seus princípios à vida na sua totalidade [...] São palavras de recomendação ao homem que está na jornada e que busca trilhar o caminho da santidade”.1

  1. Autoria e Data

A tradição hebraica atribuiu o livro de Provérbios a Salomão assim como atribuiu o de Salmos a Davi. Israel considerava o rei Salomão o seu sábio por excelência. E há justificativas suficientes para esse reconhecimento. O reinado de quarenta anos de Salomão em Israel foi realmente brilhante. E evidente que esses anos não deixaram de ter os seus defeitos. Os muitos casamentos de Salomão não contam pontos a favor dele (1 Rs 11.1-9). Na parte final do seu reinado ele preparou o cenário para a dissolução do seu grande império (1 Rs 12.10). Não obstante, ele realizou um ótimo reinado durante os anos dourados de prosperidade e poder de Israel. A arqueologia é testemunha das suas habilidades na arquitetura e engenharia, da sua competência na administração e da sua capacidade como industrialista.

O historiador sacro de 1 Reis nos conta que Salomão amou o Senhor (3.3); ele orou pedindo a Deus um coração compreensivo (3.3-14); ele mostrou possuir sabedoria em questões práticas da administração (3.16-28); a sua sabedoria foi concedida por Deus (4.29); ele era conhecido por sua sabedoria superior entre as nações vizinhas (4.29-34); ele escreveu 3.000 provérbios e mais de mil hinos (4.32); e foi capaz de responder às perguntas mais difíceis da rainha de Sabá (10.1-10).

No entanto, assim como nem todos os salmos foram escritos por Davi, nem todo o livro de Provérbios foi obra de Salomão. Uma parte do livro é designada como “palavras dos sábios” (22.17—24.34). Os últimos dois capítulos do livro contêm as palavras de Agur, o filho de Jaque (30.1-33), e de Lemuel, filho de Massá (31.1-9). O belo poema acróstico acerca da mulher e mãe perfeita (31.10-31) foi escrito por um autor desconhecido. A erudição conservadora aceita a autoria salomônica da maior parte do livro de Provérbios e a sua inclusão como um todo no cânon do Antigo Testamento.

A erudição crítica, no entanto, tende a rejeitar a atribuição tradicional da maior parte do livro de Provérbios a Salomão. W. O. E. Oesterley diz: “Amaioria dos críticos modernos rejeita totalmente a tradição de que Salomão tenha escrito uma série de provérbios”.3 S. H. Blank comenta: “Não é necessário levar a sério a atribuição de Provérbios a Salomão em 1.1; 10.1; 25.1 [...] O livro canônico de Provérbios de Salomão não necessita de mais pretensão de autoria de Salomão do que o livro apócrifo de Sabedoria de Salomão”.4 Mesmo assim, esse mesmo autor reconhece a tendência crescente de se aceitar a validade da tradição judaica. Ele diz: “Não se pode negar a possibilidade, e a opinião da erudição recente se inclina a aceitar o ponto de vista de que Salomão ao menos cultivava a arte proverbial e foi responsável pelo cerne do livro que lhe é atribuído”.

Embora grande parte do livro de Provérbios tenha sua origem na época de Salomão, no décimo século a.C., a conclusão da obra não pode ser datada antes de 700 a.C., aproximadamente duzentos e cinquenta anos após o seu reinado. Uma seção (25.1—29.27) contém a coleção de provérbios que os escribas de Ezequias copiaram de obras anteriores de Salomão. Alguns estudiosos datam a edição final de Provérbios ainda mais tarde, mas antes do período de conclusão do Antigo Testamento — 400 a.C. Outros ainda chegam a datar a edição final no período intertestamental. Uma referência ao livro de Provérbios no livro apócrifo de “Eclesiástico” (“A Sabedoria de Jesus Ben Sirach”), escrito em torno de 180 a.C., indica que nessa época Provérbios era amplamente aceito como parte da tradição religiosa e literária de Israel.

  1. Definição e Forma literária

A palavra “provérbio” em nossos dias significa um ditado breve e incisivo, expressando uma observação verdadeira e conhecida concernente à experiência humana — por exemplo: “Deus ajuda quem cedo madruga”. Há diversas coletâneas de provérbios modernos publicadas nas mais diversas línguas e culturas. Para o antigo hebreu, no entanto, a palavra “provérbio” (mashal) tinha um significado muito mais amplo. Era usada não somente para expressar uma máxima, mas para interpretar um ensino ético da fé do povo de Israel. A palavra vem do verbo que significa “ser como” ou “comparar”. Por isso, no livro de Provérbios encontramos uma série de símiles, contrastes e paralelismos. O paralelismo de duas linhas é a forma predominante encontrada em Provérbios. Dentro dos limites desse modo de expressão há uma variedade extraordinária. Existe o paralelismo antitético (10.1), o paralelismo sinônimo (22.1) e o paralelismo progressivo, ou sintético (11.22). Encontramos o paralelismo também em outras partes das Escrituras do Antigo Testamento, especialmente em Salmos.

Em algumas partes do Antigo Testamento o mashal tem ainda usos mais amplos. Em Juizes é usado para descrever uma fábula (9.7-21) e como designação de um enigma (14.12). Em 2 Samuel 12.1-6 e Ezequiel 17.2-10 refere-se a uma parábola ou alegoria. Em Jeremias 24.9 identifica um provérbio. Em Isaías caracteriza um insulto (14.4) e em Miquéias um lamento (2.4).

O livro de Provérbios é escrito e estruturado em forma poética, sendo que os ditos aparecem geralmente em parelhas de versos (dísticos). Muitas versões e traduções modernas seguem o padrão poético do original hebraico. Não é difícil perceber a estrutura das partes principais do livro (veja esboço). No entanto, o conteúdo em cada uma dessas partes muitas vezes resiste a um arranjo bem-organizado. Em muitos casos não há conexão lógica entre um provérbio e os adjacentes.

  1. Provérbios e o Restante da Literatura Sapiencial

A literatura sapiencial do Antigo Testamento inclui o livro de Jó, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos, além de Provérbios. Não se pode negar que essa sabedoria hebreia teve seus antecedentes em culturas mais antigas e seus paralelos com nações vizinhas. Israel estava situado na “encruzilhada cultural do Crescente Fértil”. Salomão e Ezequias e os sábios da sua época estavam sintonizados com a sua época e sem dúvida estavam em contato com a literatura existente nos seus dias.

A arqueologia nos deu uma série de coleções do antigo Egito e da Mesopotâmia. Duas dessas são particularmente significativas: “As palavras de Ahiqar” e “A instrução de Amen-em-opet [Amenemope]”. Em virtude da semelhança de ideias e estrutura entre esses escritos e o livro de Provérbios, eruditos críticos tendem a defender a opinião de que houve dependência direta ou indireta dos hebreus dessa literatura sapiencial. Esses estudiosos chamam atenção especial para as semelhanças entre Provérbios 22.17—23.14 e “A instrução de Amen-em-opet [Amenemope]”. Fritsch nos lembra, no entanto, que “não podemos negligenciar a possibilidade de que Provérbios 22.17—23.14 já existisse como unidade de texto muito antes de sua incorporação nesse livro, e que na verdade esse texto pudesse ter influenciado o escriba egípcio”.

A erudição bíblica conservadora rejeita a ideia de que os autores hebreus tenham dependido da literatura egípcia com base no fato de que há contrastes como também semelhanças e certamente grandes diferenças teológicas. Kitchen diz: “A discordância completa em relação à ordem dos tópicos e as claras diferenças teológicas entre Provérbios 22.1—24.22 e Amenemope impedem cópia direta em qualquer direção”.9 Edward J. Young crê que o politeísmo de Amenemope teria causado repulsa ao hebreu monoteísta e teria assim impedido a dependência da literatura egípcia por parte do autor hebreu.

  1. Mensagem Relevante

A mensagem do livro de Provérbios é sempre relevante. Os seus ensinos “cobrem todo o horizonte dos interesses práticos do cotidiano, tocando em cada faceta da existência humana. O homem é ensinado a ser honesto, diligente, autoconfiante, bom vizinho, cidadão ideal e modelo de marido e pai. Acima de tudo, o sábio deve andar de forma reta e justa diante do Senhor”.

A sabedoria de Provérbios coloca Deus no centro da vida do homem. A sabedoria, expressa por Salomão no Antigo Testamento, teria a sua revelação mais plena em Jesus Cristo nos dias da nova aliança. Disse Jesus: “A Rainha do Sul se levantará no Dia do Juízo com esta geração e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é mais do que Salomão” (Mt 12.42; Lc 11.31). Paulo falou de Cristo como a “sabedoria de Deus” (1 Co 1.24; Cl 2.3). Kidner diz que no livro de Provérbios a sabedoria “é centrada em Deus, e mesmo quando é extremamente real e relacionada ao dia-a-dia consiste da maneira inteligente e sadia de conduzir a vida no mundo de Deus, em submissão à sua vontade”. Sabedoria é encontrar a graça de Deus e viver diariamente em harmonia com os propósitos salvadores que Ele tem para nós.

EARL C. WOLF. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 355-357.

  1. O livro de Eclesiastes.

INTRODUÇÃO

Esboço:

  1. Caracterização Geral
  2. Autor

III. Integridade

  1. Inspiração Histórica da Obra
  2. Data
  3. Canonicidade

VII. Uso e Atitudes Cristãs

VIII. Conteúdo

  1. Bibliografia
  2. Caracterização Geral

Este livro representa um tipo pessimista de literatura de sabedoria oriental, que mistura declarações otimistas que sugerem que um segundo autor pudesse ter estado envolvido, ou que um compilador posterior misturou os sentimentos expressos por dois autores diferentes. O titulo, no hebraico Qoheleth, que significa Pregador ou Orador da Assembléia, foi traduzido por ecclesiastes, no grego (Septuaginta), de onde também deriva o título em português. À base do vocábulo hebraico temos o substantivo kahal, “assembleia”. Presumivelmente, foi o próprio Salomão quem convocou a assembleia para entregar seus discursos de grande sabedoria. Este livro contém uma coleção um tanto frouxa de material, sendo difícil estabelecer um estrito esboço do seu conteúdo. O trecho de Ecl. 9.17 - 10.20 poderia ser incluído no livro de Provérbios. Algumas porções apresentam o autor refletindo sobre suas próprias experiências ou admoestando outras pessoas, em vez de dirigir um discurso formal a algum tipo de assembleia. A integridade do livro é difícil de ser defendida. Quanto a peças literárias, este vocábulo aponta para o conceito de que o livro foi produzido essencialmente por um único autor, e que existe até hoje conforme foi originalmente escrito. Ver sob esse título.

  1. Autor

Precisamos lembrar que, nos tempos antigos, atribuir um livro a um autor famoso era considerado uma honra prestada a esse autor, especialmente se algumas de suas ideias estivessem sendo perpetuadas. Porém, muitas obras antigas eram atribuídas a pessoas bem conhecidas com o propósito próprio de promover certas ideias ou filosofias e com a esperança de que o nome vinculado ao livro ajudasse em sua distribuição. Os antigos simplesmente não pensavam como nós, no que concerne a essas práticas. Portanto, a afirmação de que certa pessoa é declarada autora de um antigo livro não garante que assim realmente tenha sucedido. Um exemplo notório dessa atividade aparece nos livros chamados pseudepígrafos (ver a respeito no Dicionário), uma coleção que tem vários nomes de profetas do Antigo Testamento ou líderes espirituais, como se eles fossem seus autores, embora a realidade tivesse sido outra. É significativo que os Manuscritos do Mar Morto incluam partes de vários destes livros, mostrando que as pessoas, bem ao lado da entrada de Jerusalém, consideravam-nos escritos sagrados. Não nos deveria surpreender, portanto, que alguns poucos dos livros canônicos da Bíblia, no Antigo e no Novo Testamento, tenham a eles nomes vinculados como autores, embora a realidade fosse outra.

O trecho de Eclesiastes 1.1 atribui o livro a Salomão. Mas Lutero negava a veracidade dessa afirmativa. De modo geral os eruditos liberais concordam com a avaliação de Lutero, e é seguro dizer que muitos intérpretes conservadores também o fazem. Unger afirma que poucos estudiosos conservadores de nossos dias continuam defendendo a tese de que Salomão foi o autor do livro.

Em favor de Salomão como autor do livro, temos a considerar os pontos seguintes:

  1. Eclesiastes 1.1 atribui o livro a Salomão e 1.12,13 quase certamente também o faz.
  2. A sabedoria da Salomão é refletida em vários textos, com declarações que mostram Salomão a falar. Ver Ecl. 1.16; 2.3-6 e 2.7,8.
  3. O trecho de Ecl. 9.17—10.20 contém muitos provérbios, o que sugere que o autor do livro de Provérbios (Salomão) também foi o autor de Eclesiastes.
  4. O caráter ímpar da linguagem e do estilo do livro parecem separá-lo das obras do período pós-exílico, conforme alguns acreditam ser sua data. Isso poderia ser explicado como o desenvolvimento, por parte de Salomão, de uma espécie de gênero de linguagem e expressão literária. Há alguma similaridade com os escritos cananeus e fenícios antigos, o que sugere que Salomão poderia ter tirado proveito dessa literatura, com adaptações próprias. M. J. Dahood, em seu artigo “Influência Cananeu-Fenícia no QoheletH’, Biblica, 33,1952, defende essa comparação. Ele examinou inscrições e escritos que datam do século XIV A.C., os tabletes de Ugarite, o Corpus Inscriptionum Semiticarum e inscrições fenícias e púnicas. Tentou defender sua teoria com base em fatores como a ortografia fenícia, a inflexão dos pronomes e das partículas, a sintaxe e empréstimos léxicos, termos especiais referentes a itens comerciais e um vocabulário comercial. Os trechos de I Reis 9.26-28 e 10.28,29 mostram que Salomão pode ter tido contato com a língua fenícia, tendo usado termos e expressões comerciais e estilos literários empregados pelos fenícios.

Contra Salomão como autor do livro, têm sido sugeridos os seguintes argumentos:

  1. Coisa alguma é mais clara, nos documentos antigos, do que o fato de que as declarações que afirmam autoria com frequência são espúrias.
  2. O autor sagrado pode ter sido um admirador de Salomão e de sua sabedoria, pelo que incluiu referências pessoais a ele, bem como circunstâncias de sua vida, embora esse autor não fosse o próprio Salomão. O que nos admira é que não existam ainda mais livros atribuídos a Salomão. O livro apócrifo, Sabedoria de Salomão, é outro exemplo do nome desse monarca judeu sendo usado para dar prestígio a um livro.
  3. Um autor posterior poderia ter imitado os Provérbios de Salomão, tendo incluído no livro (Ecl. 9.17—10.20) uma breve compilação, chegando a tomar por empréstimo certos pensamentos, sem que ele mesmo fosse Salomão.
  4. Os argumentos de natureza linguística poderiam provar uma data antiga para o livro de Eclesiastes, mas também demonstrariam que o autor dificilmente poderia ter sido o mesmo autor do livro de Provérbios. Ademais, um autor antigo, que tivesse escrito em um estilo bastante distinto, poderia ter tomado por empréstimo alguns elementos fenícios, sem que tivesse alguma conexão pessoal com Salomão. De fato, a verdadeira natureza distintiva deste livro parece militar mais contra Salomão, como seu autor, do que em favor dele, a menos que suponhamos que ele conseguisse escrever de duas maneiras inteiramente diferentes, quando passava de um livro para outro, algo que sabemos ser contrário ao que conhecemos a respeito dos autores e seus livros. A linguagem e o estilo literário são as impressões digitais dos autores, o que não se modifica facilmente de um livro para outro senão à custa dos mais ingentes esforços. Exemplos históricos disso são dificílimos de achar.
  5. Certas ideias são contrárias à afirmação de que Salomão escreveu o livro de Eclesiastes. Alguns eruditos simplesmente não podem entender como um homem com a sabedoria de Salomão, com uma postura judaica ortodoxa, poderia ter escrito um livro tão pessimista quanto Eclesiastes. Paralelos egípcios e babilônios demonstram que tal livro poderia ter sido escrito na época de Salomão, mas é inteiramente possível que aquilo que achamos neste livro sejam invasões do pensamento helenista cético.

De fato, o propósito central do livro de Eclesiastes foi demonstrar que TUDO É VAIDADE ou inutilidade; que não existem valores permanentes, e que um jovem deveria cuidar para desfrutar o máximo de sua vida (hedonismo!). (Ver Ecl. 1.2; 3.13 ss.; 11.9 -12.8.) Outros- sim, o jovem que fizer isso terá pairando sobre a sua cabeça o juízo divino, outro elemento da tese de que tudo é vaidade. "Faze o que bem entenderes; mas sabe que terás de pagar por isso." Esse é um conselho muito difícil de seguir. É possível que Salomão, no declínio e apostasia que caracterizaram sua idade avançada, na verdade, tenha caído nesse tipo de armadilha; e, nesse caso, isso poderia refletir a autoria de Salomão.

  1. Alguns linguistas detectam no livro de Eclesiastes um hebraico posterior, bastante diferente do hebraico da época de Salomão e mais próprio dos tempos helenistas.
  2. O pregador mostrou ser muito mais um filósofo e suas atitudes foram bastante similares às atitudes dos filósofos epicureus gregos, após o período da guerra do Peloponeso (404 A.C.). A atitude negativa dos gregos contra a religião judaica reflete-se em livros como I Macabeus e o Livro da Sabedoria, e o autor do livro de Eclesiastes parece ser um reflexo similar. O autor sagrado teria chegado ao mesmo tipo de conclusões a que chegaram seus vizinhos pagãos. O livro, pois, representa uma espécie de meio caminho na direção do paganismo, embora com o desejo de manter a posição da antiga fé. Por esse motivo, a lei continua sendo um elemento importante, e até mesmo o dever do homem (Ecl. 12.13), mas ela não conseguiu impedir que o autor sagrado chegasse a conclusões tão pessimistas.
  3. Finalmente, há a questão da canonicidade. Ver a seguir a seção Canonicidade. Os próprios judeus não sabiam ao certo o que fazer como livro de Eclesiastes. Se eles tinham certeza de que Salomão era o seu autor, não é provável que tivessem precisado de tanto tempo para incluí-lo no cânon do Antigo Testamento. A canonicidade do livro é algo que continuava sendo disputado nas escolas judaicas dos dias de Jesus Cristo.

Após o exame da evidências disponíveis, parece que a autoria salomônica repousa mais sobre o desejo de conservar a tradição do que sobre a consideração dos fatos envolvidos. As evidências inclinam-se em favor de uma produção helenista, e não de uma produção que antecede a quase 1000 A.C.

III. Integridade

Alguns eruditos argumentam em favor de dois autores distintos que teriam estado envolvidos na escrita do livro de Eclesiastes, em vista de contradições nele encontradas. Outros estudiosos, porém, supõem que isso possa ser explicado pela atividade de algum editor. Há tentativas para atribuir ao Koheleth dois, três ou mais autores; mas as evidências em favor dessa forma de atividade estão longe de ser convincentes. Por outra parte, é patente que algum editor procurou corrigir a incredulidade expressa pelo autor. Esse autor tem sido chamado de “o maior herege da antiga literatura dos hebreus”, e algumas de suas declarações deixam consternados os eruditos da Bíblia, desde que o livro de Eclesiastes foi escrito. Para começar, sua filosofia básica de que tudo é vaidade (Ecl. 1.2) é uma atitude pessimista que não concorda com o pensamento comum dos hebreus. O seu hedonismo (Ecl. 2.24 ss.; 11.9 - 12.8) dificilmente concorda com a ética dos hebreus. Uma mesma sorte atinge o sábio e o insensato (Ecl. 2.12-17), de acordo com ele, o que é contrário à essência da teologia hebreia. Ele chega mesmo ao extremo de dizer; "Pelo que aborreci a vida... sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ecl. 2.17). Ele nega qualquer vantagem à sabedoria e ao conhecimento, pois essas coisas também produzem no homem o desespero (Ecl. 1.17,18). O sábio morre como o insensato, e ambos acabam no olvido (Ecl. 2.16,17). Ele também nega a imortalidade da alma, pois o destino do homem seria o mesmo que o destino de um animal irracional (Ecl. 3.18-20). O versículo que se segue especula que pode haver certa diferença entre um homem e um animal irracional — o espírito do primeiro subiria (para alguma outra forma de vida), ao passo que o espírito do segundo desceria, presumivelmente para ser esquecido — o que aparece sob a forma de uma indagação. O autor demonstra esperança, mas não exibe muita fé. Contudo, o trecho de Ecl. 12.7 afirma categoricamente que “o espírito volta a Deus”. A maioria dos eruditos pensa que em tudo isso há a obra de um editor, ou de um segundo autor, que procurou suavizar o ceticismo do autor original. Ou o autor originai, ao chegar ao final do livro, apesar do seu desespero, resolveu deixar a sua sorte nas mãos de Deus e manifestou-se em favor da imortalidade como um meio de reverter o dilema humano?

Quase todos os estudiosos acreditam que o trecho de Ecl. 12.9- 14 consiste em adições editoriais. De fato, o nono versículo foi escrito na terceira pessoa do singular. Ele fala sobre o pregador como uma pessoa diferente dele mesmo. Outras provas de que houve um editor ou um segundo autor encontram-se em Ecl. 2.26, onde se faz clara distinção entre o sábio e o insensato. Ali lê-se que ao homem bom são conferidos sabedoria, conhecimento e alegria, ao passo que o ímpio é coberto de vexames. Isso suaviza um tanto a filosofia do livro: “Tudo é vaidade”. O trecho de Ecl. 3.17 parece ser outra adição, visto que o autor apela para o julgamento divino como meio de estabelecer diferença entre o homem bom e o homem mau. O trecho de Ecl. 12.12 provavelmente constitui uma critica ao autor original, por parte do editor, louvando as declarações do homem sábio, que aparece como um Pastor (vs. 11), e adverte contra passar daí, o que, como é evidente, ele pensava que o autor fizera em seu pessimismo. No vs. 14, ele apela novamente para o juízo divino e indica que este é importante, apesar das declarações pessimistas do autor, pois seremos julgados de acordo com aquilo que tivermos praticado. De fato, a passagem de Ecl. 12.9-14 é uma espécie de adição, onde são acrescidos valores e limitações ao livro, segundo o espírito de ortodoxia. Se algum editor esteve atarefado nisso, é provável que o tenha feito mediante declarações mais otimistas e ortodoxas.

Em favor da integridade do livro, alguns estudiosos pensam que as declarações contraditórias podem ser explicadas mediante a suposição de que um único autor ficou divagando em seus pensamentos, defendendo ora uma posição ora outra, mostrando-se assim autocontraditório, e isto sem se importar em procurar harmonizar ideias mais pessimistas com ideias mais otimistas. Além disso, muitos pensam ser estranho que um editor tentasse salvar uma obra herética, cuja publicação só serviria para prejudicar o judaísmo em sua corrente central. A primeira dessas sugestões é possível. Eu mesmo falo nesses termos, algumas vezes. A segunda dessas sugestões constitui uma boa resposta, até onde posso ver as coisas. Qualquer pessoa que raciocine sobre o livro, apesar de seu pessimismo, fica impressionada pelo fato de que ele é uma excelente peça literária. Suas declarações são sucintas e precisas, curiosas, às vezes, dotadas de penetrante discernimento. Há muitas boas citações, que são frequentemente ouvidas, extraídas desse livro. Um editor qualquer, fascinado pela beleza do livro, contentar-se-ia em procurar corrigir alguns pontos falhos, em vez de descartá-lo inteiramente. Sua excelência como peça literária é tão inequívoca que aqueles que finalmente fixaram o cânon hebreu (embora ortodoxo) não puderam deixar de incluí-lo, embora a questão há séculos viesse sendo debatida entre os judeus.

Minha conclusão a respeito é que temos apenas um autor principal do Eclesiastes, que um editor posterior procurou tirar as arestas da obra original, e que o trecho de Ecl. 12.9-14 é sua nota de rodapé, como uma sua conclusão sobre a obra do autor. Mas exatamente quanto material foi adicionado, é algo que terá de permanecer em dúvida.

  1. Inspiração Histórica da Obra

Se procurarmos entender o espírito deste livro, descobriremos que o autor era um filósofo que, embora judeu, havia sido influenciado pela pessimista filosofia dos gregos, especialmente da variedade epicuréia. Os epicureus sentiam fortemente a inutilidade das coisas, objetando às ameaças de deuses imaginários, que receberiam homens que já teriam vivido de modo miserável, para fazê-los sentir-se mais miseráveis ainda, com seus múltiplos e horrendos julgamentos. Eles preferiam o olvido à imortalidade, como maneira de pôr fim a tanto sofrimento, e reduziam os poderes divinos, a entidades deístas, Se eles realmente existiam, então não teriam interesse nem pelo homem bom nem pelo homem mau. Devemos lembrar que nem todos os judeus ofereciam resistência à helenização. Nem todos os judeus retiveram sua fé ortodoxa em face de inimigos que avançavam destruindo e dispersando, e assim expunham filosofias que podem ter sido consideradas uma avaliação mais justa da vida do que a avaliação apresentada pelo judaísmo, embora essas outras filosofias fossem mais pessimistas. Se o livro de Eclesiastes foi escrito em torno de 225 A.C., então consiste em uma espécie de reafirmação daquilo que restou da fé judaica, visando algumas pessoas, fora da corrente principal do judaísmo, mas que continuavam judias. Muitos judeus haviam começado a duvidar da doutrina dos galardões divinos em favor dos piedosos e dos julgamentos divinos contra os iníquos. Eles chegavam a sentir que, afinal de contas, não há distinções fundamentais entre uns e outros. Nesta vida, a tragédia desaba sobre uns e sobre outros, igualmente; agora ambos vivem na inutilidade; e ambos entram no olvido, após a morte física. Não obstante, o autor sagrado exibe saudável respeito pela lei de Deus. Ele não se bandeara inteiramente para o pensamento pagão. Ver o quinto capítulo do livro, do começo ao fim. Esse foi o elemento que o editor enfatizou, em sua conclusão (Ecl. 12.13,14).

  1. Data

Se partirmos do pressuposto de que os argumentos em favor de Salomão como autor do livro de Eclesiastes são fortes, então teremos de pensar que a data de sua composição gira em torno da época de Salomão, cerca de 990 A.C. Impressiona-nos o caráter ímpar da linguagem usada e suas afinidades com as expressões fenícias, mesmo que não aceitemos Salomão como o autor do livro. E podemos supor que este livro seja bastante antigo, se é que sofreu a influência fenícia. Mas, se ficarmos impressionados pela similaridade de ideias com certas ideias helenistas, então talvez devamos pensar numa data de composição em torno de 225 A.C. A maneira como os próprios judeus disputaram sobre o livro, tendo-o incluído no seu cânon sagrado somente após muita relutância, a despeito de ele próprio reivindicar haver sido escrito por Salomão, pesa em favor da data posterior.

  1. Canonicidade

Ver no Dicionário o artigo geral sobre Cânon, do Antigo e do Novo Testamento.

Quando foi definido o cânon da Bíblia hebraica, por ocasião do concílio de Jamnia, em cerca do ano 90 D.C., muitos judeus opuseram- se ao livro de Eclesiastes, alegando que ele não era digno de se posicionar entre os Escritos Sagrados. E mesmo mais tarde, quando o livro já estava fisicamente presente na coletânea sagrada, supostamente investido de autoridade, muitos rabinos continuaram opondo-se a ele. Quando um judeu piedoso segurava algum livro sagrado, lavava as mãos em seguida, em demonstração de respeito. Mas muitos deles, após manusearem o livro de Eclesiastes, não pensavam que essa providência seria necessária, por não considerarem o livro uma obra inspirada. Seria apenas uma habilidosa peça filosófica, e não um dom do Espírito. Ver a Mishinah, Yadaim 3.5. Jerônimo, tão tarde quanto 389 D.C., conhecia judeus que se sentiam insatisfeitos com a inclusão do livro de Eclesiastes entre as Escrituras do Antigo Testamento. Não obstante, o livro tem encontrado um uso devido no seio do judaísmo. O livro de Eclesiastes é lido no terceiro dia dos Sukkoth (Tabernáculos), a tradicional festa da colheita entre os hebreus, com o propósito de lembrar aos homens a natureza transitória desta vida, e como uma advertência contra a cobiça pelas riquezas e vantagens materiais, além de servir para reiterar o importantíssimo princípio da necessidade de obedecer à lei de Deus como o maior e mais solene dos deveres humanos.

VII. Uso e Atitudes Cristãs

Os eruditos liberais não podem perceber o motivo para tantos debates. O livro volta-se contra certas crenças ortodoxas. E daí?

Há pontos bons no texto: o livro exibe bons discernimentos; confere-nos uma melhor compreensão sobre certos desenvolvimentos do judaísmo... De que mais precisaríamos? E os conservadores, que têm de defender a idéia da inspiração a qualquer custo, para todos os livros do cânon, são forçados a acomodar-se ao livro, provendo razões pelas quais o Espírito Santo teria achado apropriado incluí-lo no cânon. As respostas quanto a essas questões são similares àquelas que acabo de frisar acerca do cânon. O livro diz algumas coisas boas sobre a natureza transitória da vida humana, sobre a vaidade das coisas e atividades terrenas, e contém alguns versículos que servem de excelentes citações. Mas que dizer sobre a sua falta de ortodoxia? Até hoje lembro-me de uma noite quando eu estava no escritório do presidente de uma das escolas teológicas que frequentei, quando ele fora chamado ao telefone. Alguém telefonara para fazer uma pergunta sobre o livro de Eclesiastes. Como é que declarações daquela ordem podem ter penetrado na Bíblia? Ele replicou dizendo que o Espírito deixou que esse livro fizesse parte da Bíblia a fim de mostrar-nos o que o homem natural pensa e como ele chega a conclusões negativas, enquanto não recebeu ainda a fé apropriada. Em outras palavras, o livro, em sua porção não-ortodoxa, serviria como uma espécie de exemplo ao contrário, mostrando- nos as coisas que devem ser evitadas, que precisam ser observadas e repelidas. Esse tipo de raciocínio parece atrativo para a mente ortodoxa. E não digo que é uma posição inútil, embora, de certa, maneira seja uma resposta superficial.

  1. I. Scofield, em sua Bíblia anotada, diz in loc., afirmando a posição conservadora da melhor maneira possível; “Este é o livro do homem debaixo do sol, que raciocina sobre a vida; é o melhor que o homem pode fazer com o conhecimento de que existe um Deus santo, e que ele levará tudo a juízo. As expressões-chaves são debaixo do sol, percebi e disse em meu coração. A inspiração mostrou acuradamente o que sucede, mas a conclusão e o raciocínio, afinal, são do homem. Sua conclusão de que tudo é vaidade, em face do julgamento, pelo que o homem não deve consagrar sua vida às coisas terrenas, certamente é verdadeira; mas a conclusão (12.13) é legal, o melhor a que o homem pode chegar, à parte da redenção, sem antecipar o evangelho”.

Essa é uma boa declaração, mas mesmo assim continua sendo curioso que um livro herético encontrasse caminho até o cânon do Antigo Testamento, por causa de seu estranho encanto. Não há explicação que possa alterar a estranheza desse acontecimento.

VIII. Conteúdo

A discussão anterior nos provê a natureza essencial do conteúdo do livro de Eclesiastes. Abaixo damos um esboço acompanhando ideias bem gerais:

  1. A Vaidade de Todas as Coisas (1.1-3)
  2. Demonstração da Tese Básica da Vaidade (1.4 - 3.22)
  3. Todas as coisas na vida são transitórias (1.4-11)
  4. O mal é provado por seus resultados (1.12-18)
  5. Há inutilidade no lucro, no trabalho e nos prazeres (2.1-26)
  6. A morte mostra que tudo é inútil (3,1-22)

III. Um Desenvolvimento Mais Detalhado do Tema (4.1 -12.8)

  1. As injustiças da vida mostram a inutilidade das coisas (4.1-16)
  2. As riquezas para nada servem (5.1-20)
  3. A brevidade e futilidade da vida do homem provam a inutilidade das coisas (6.1-12)
  4. A inescrutável providência divina prova a inutilidade das coisas (7.1 -9.18)
  5. As desordens e frustrações da vida ilustram a vaidade (10.1-20)
  6. Jovens e idosos demonstram a inutilidade das coisas (11.1 -12.8)
  7. Conclusão (12.9-14)

O dever inteiro do homem: guardar a lei na esperança de receber um bom julgamento divino.

  1. Bibliografia

AM G IIB KOH SCO UN Z

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2702-2704.

ECLESIASTES

O significado do livro

E provável que o maior problema com que nos defrontamos na leitura de Eclesiastes seja a dúvida de como devemos ler esse livro.

Devemos compreendê-lo literalmente, ou devemos interpretar algumas partes como irônicas ou sarcásticas? Será que o autor está defendendo o ponto de vista ortodoxo ou está questionando-o? Ele crê em tudo que diz ou está levantando argumentos hipotéticos e depois apresentando respostas? Será que as contradições aparentes revelam uma incoerência real ou podem ser explicadas como parte do argumento do autor? Existe somente um narrador no livro ou temos aí um diálogo entre um cínico, sábio aos olhos do mundo, e um crente piedoso? As possibilidades são muitas, um fato que se reflete na variedade de interpretações oferecidas em cada época, desde a antiga até a moderna. O ponto essencial a ser levado em consideração ao lermos Eclesiastes é que o livro faz parte do gênero literário conhecido como Sabedoria Hebraica. O autor não é um profeta que fala da perspectiva da revelação divina, mas um dos “sábios” que fundamenta seu ensino naquilo que observa e experimenta.

Ele não exige obediência, proclamando: “Assim diz o Senhor”, mas tenta ensinar e persuadir apelando para a compreensão dos seus ouvintes.

Como em grande parte da literatura sapiencial, pode não haver nada de particularmente religioso nas afirmações do autor (cf., p. ex., a praticidade irreligiosa, realista, dos ditados colecionados em Provérbios). Estaremos brigando com as intenções do sábio se lermos o livro como se fosse uma coletânea de reflexões piedosas acerca do valor eterno da vida “espiritual” em contraste com a transitoriedade dos desejos terrenos. O nosso autor não tem o propósito de confortar o coração dos fiéis ao lhes assegurar que, apesar da evidente futilidade da vida, tudo está bem se a pessoa crê em Deus. Antes, ele encara as anomalias da vida e tenta encontrar algum significado na existência; depois, com base nos seus argumentos e raciocínios, oferece conselho a seus ouvintes.

O autor não é um místico, mas um realista de senso prático. Ele não tem tempo para conversa hipócrita. Se pudermos fazer uma comparação com Jó, ele não está alinhado com os ortodoxos cujas trivialidades e chavões bem ensaiados resolvem todos os problemas, mas com Jó, cujas experiências o levam a buscar respostas diferentes.

A despeito de toda sua orientação terrena e de seu ceticismo, o autor de Eclesiastes não é de forma alguma um ateu, nem mesmo um humanista. Aliás, é a sua fé em Deus que lhe fornece sua interpretação da vida. Entendemos que essa interpretação é, em resumo, a seguinte.

Qualquer “saldo positivo” aparente na vida está descartado em virtude da certeza absoluta da morte (2.14,18; 5.16; 6.1-6). Parece que o homem é vítima do destino inexorável. Mas será mesmo? O autor não enxerga isso em termos demasiado impessoais ou pessimistas?

Para ele, Deus é o que controla a vida e a morte; tudo é determinado de acordo com os seus propósitos (3.14; 8.15). E verdade, esses propósitos talvez sejam incompreensíveis (3.11; 11.5), mas isso não é motivo para desespero. O significado da vida pode até estar escondido do homem, mas o autor, apesar de seus momentos ocasionais de frustração, nunca duvida realmente de que esse significado exista de fato (3.11; 8.16,17; 9.1). A tarefa do homem não é ir à procura do que Deus reservou para si mesmo, mas desfrutar do que Deus deu ao homem, ou seja, a vida (3.12,13; 5.18ss). Por isso, que o homem não encare a vida com pavor, mas com alegria. Que ele encontre prazer no mundo que Deus criou para ele e todas as suas atividades nesse mundo (2.24; 9.7ss); não, no entanto, no sentido de que se abandone à busca do prazer em si sem consideração por valores mais elevados, mas no sentido de que aceite a vida, tanto com os seus aspectos positivos quanto com os seus aspectos negativos, como um presente de Deus, o Criador (11.8—12.1). E necessário que haja moderação e autodisciplina (7.14-18), mas a atitude fundamental da pessoa deve ser positiva. O que o autor está recomendando é o desfrutar intenso, e não a resignação passiva; pois, uma vez que a pessoa se declarou a favor de Deus, precisa fazer juízos acerca das questões que o confrontam no mundo de Deus. Que então ele escolha a sabedoria, e não a loucura; a justiça, e não a maldade; a vida, e não a morte (7.12; 8.8; 9.4).

Essas prescrições positivas são contrabalançadas, no entanto, por algumas observações solenes acerca das realidades do mundo comum à nossa volta. A insistência do autor no desfrutar apropriado da vida está fundamentada no aspecto de que a vida é curta e que foi dada por Deus como presente, e não porque os que fazem o bem são sempre recompensados e os que fazem o mal são sempre castigados. Ele sabe que isso não é verdade (8.14). Mas mesmo que ele não consiga entender o agir de Deus, mais uma vez não o rejeita. Ele não consegue explicar como homens injustos têm permissão para prosperar, mas não perde a sua fé em Deus. Ele não afirma ter encontrado a resposta para o problema do sofrimento e do mal, mas mesmo assim está seguro de que Deus é um Criador bom, e que, no desfrutar dos presentes dados por ele, o homem pode encontrar ao menos algum significado na vida (3.11ss).

O autor rejeita a sabedoria tradicional dos sábios com as suas soluções bem-ordenadas para os problemas da vida e suas convicções inabaláveis a respeito de como e por que Deus age. A sabedoria mais elevada que o homem pode alcançar é encarar o fato de que ele é meramente uma criatura e que a verdadeira sabedoria está somente em Deus. Deus é soberano e Criador; é sobre esses dois fatos básicos, sem desenvolver em mais detalhes a sua teologia, que o autor constrói sua filosofia de vida.

Autoria e data

O nome Eclesiastes é uma transliteração em português do título grego dado ao livro pelos tradutores da Septuaginta. A palavra hebraica da qual os tradutores derivaram esse título é qõhelet, o nome com que o autor do livro se intitula. E difícil saber o que o autor tinha em mente quando escolheu qõhelet como seu pseudônimo. A palavra está relacionada a convocar ou reunir uma congregação.

Possivelmente significava alguém que convocava ou, mais provavelmente, quem falava a um encontro de pessoas, e daí (via o grego ekklêsiastès) o conhecido título em português “o Pregador”. Se era “pregador”, então ele era, no mínimo, um pregador bem heterodoxo, e não convencional. Outras sugestões como filósofo, orador, argumentador ou professor provavelmente são descrições mais próximas da posição adotada pelo autor.

Tem havido muita disputa acerca da identidade do autor. Hoje, praticamente todos os estudiosos do AT, até os mais conservadores, são da opinião de que um rei que viveu no século XX a.C. não pode ter sido o autor de Eclesiastes. Eles argumentam que o hebraico do livro é muito tardio e aponta para uma época em que o aramaico estava se tornando a língua popular da Palestina. Alguns chegaram a argumentar que o livro foi escrito originariamente em aramaico e depois traduzido para o grego. Gordis, no entanto, argumenta de forma convincente contra esse ponto de vista, acrescentando a sugestão de que o autor muito provavelmente falava tanto aramaico quanto hebraico, mas que escreveu as suas eruditas palavras em hebraico, embora com uma coloração aramaica. Palavras e construções aramaicas hebraizadas, além da ocorrência de palavras emprestadas da língua persa e da evidente influência grega sobre a língua, parecem apoiar uma data de composição do livro em algum ponto dos séculos IV ou III a.C.

A tradição da autoria de Salomão se originou nos detalhes biográficos dos dois primeiros capítulos. Parece que o nosso autor seguiu a prática comum de se identificar com alguma pessoa importante para acrescentar peso ao seu argumento. Nesses dois capítulos, ele se coloca na posição de Salomão (embora se deva observar que em nenhum lugar ele se chame de Salomão) cuja sabedoria, diligência, riqueza e estilo geral de vida fornecem ao autor um pano de fundo apropriado para as suas reflexões introdutórias acerca do ditado (possivelmente também de Salomão): “Vaidade de vaidades” (versões tradicionais; Que grande inutilidade!, NVI). Essa seção (1.12—2.26) é apenas uma das muitas peças literárias breves que o autor colecionou nesse livro (v. Composição e estilo a seguir), e é somente nessa seção que ele assume a identidade salomônica. Seus comentários incisivos em outros pontos do livro acerca da injustiça, tolice, opressão e crueldade dos governantes dificilmente refletem o ponto de vista de um rei (e.g., 3.16; 4.1,13-16; 5.8. 8.3ss; 10.4-7,16-20).

A autoria anônima não é empecilho para nossa compreensão do ensino do livro. O valor de um livro deriva da verdade inerente a ele, e não do nome do seu autor.

Pouco se sabe da vida pessoal do autor. Sendo um dos sábios, sem dúvida pertencia à classe superior e muito provavelmente vivia em Jerusalém (observe sua pressuposição de que seus leitores frequentavam o templo e sua familiaridade com a vida nos escalões mais altos do governo: 5.1,2,8; 8.2,3; 10.4).

Ele provavelmente ensinava em uma das escolas de sabedoria da cidade, e esse livro indica um pouco do conteúdo e do estilo do seu ensino (12.9,10). Concluímos dos seus escritos que era observador perspicaz, uma pessoa sensível, embora ao mesmo tempo tivesse gosto apurado pelas coisas boas da vida. Tinha ampla experiência da qual extrair ilustrações para os seus ensinamentos. Seus comentários nostálgicos do desfrutar da juventude (11.9) e a descrição comovente do declínio na velhice (12.2-7) sugerem que ele tenha escrito o livro no final da vida.

Composição e estilo

Precisamos admitir que o autor de Eclesiastes não fez nenhum esforço para resumir seu ensino na forma em que o esboçamos.

Em algumas partes, o livro parece ter pouca progressão lógica de pensamento, sendo, como parece, uma coletânea de algumas de suas reflexões filosóficas do final da sua vida.

No entanto, parece ter havido de fato uma tentativa de organizar os ensaios em algum tipo de sequência. A seção inicial (caps. 1 e 2) fornece uma apresentação simples e direta do tema do autor. Os ensaios que seguem são reafirmações, avaliações ou desenvolvimentos desse tema, e cada um toca de alguma maneira nas considerações básicas do autor, como a futilidade com que a morte marca a vida, a tarefa dada por Deus de se desfrutar da vida, a tragédia da tolice etc. Há variações de estilo entre um ensaio e outro: reflexões na primeira pessoa, exortações na segunda pessoa, comentários gerais acerca da vida e ditados sapienciais breves e incisivos.

As incoerências evidentes entre as diversas seções do livro deram origem a muitas teorias de reconstrução e análise. Diversos esquemas de autoria múltipla têm sido sugeridos, mas não se mostraram convincentes. Uma teoria mais popular é a de que um ou mais sábios conservadores se debruçaram sobre o texto original bastante radical, inserindo aforismos ortodoxos em pontos apropriados para atenuar as afirmações heterodoxas do autor.

Ao contrário disso, cremos que as afirmações mais ortodoxas faziam parte do argumento original do autor. Afinal, ele pertencia à escola dos sábios, mesmo sendo considerado apóstata ou renegado, e era natural que extraísse do fundo de ditados de sabedoria disponível o material para seu escrito. Seus processos de pensamento, seu vocabulário e o estilo literário refletem o contexto em que ele foi educado.

Os eruditos modernos estão cada vez mais convictos de que o livro provém de uma única mão e que todas as incoerências precisam ser aceitas como parte essencial da tese do autor. E possível que haja observações editoriais no começo e no final do livro (1.1; 12.9-14), e nesse caso o livro propriamente dito começa e termina com o tema “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade”, ou, na NVI, Que grande inutilidade! Nada faz sentido.

DONALD C. FLEMING. Comentário Bíblico NVI. Editora Vida. Livro de Eclesiastes. pag. 957-960.

ECLESIASTES

INTRODUÇÃO

  1. Nome

No versículo inicial de Eclesiastes, o autor se identifica como “pregador” (qoheleth). A palavra vem de uma raiz que significa “reunir”, e, assim, provavelmente indica alguém que reúne uma assembleia para ouvi-lo falar, portanto, um orador ou pregador. A Septuaginta usou o termo grego Ecclesiastes, que as traduções em inglês e português transpuseram como o nome do livro. O termo designa “um membro da ecclesia, a assembleia dos cidadãos na Grécia”. Já no início da era cristã, ecclesia era o termo usado para se referir à Igreja.

  1. Autoria

Quem era Qoheleth? A linguagem de 1.1 e a descrição do capítulo 2 parecem indicar o rei Salomão. A autoria salomônica foi aceita tanto pela tradição judaica como pela tradição cristã até épocas relativamente recentes. Martinho Lutero parece ter sido o primeiro a negar isso, e provavelmente a maioria dos estudiosos da Bíblia concordaria com ele. Purkiser escreveu:

No primeiro versículo, o livro é atribuído ao “filho de Davi, rei em Jerusalém” [...] Entretanto, em 1.12 diz: “Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém”. Claramente, nunca houve época alguma na vida de Salomão em que ele pudesse se referir ao seu reino no pretérito. Em 2.4-11 também são descritos os feitos do reinado de Salomão como algo que já era passado no tempo em que foi escrito.

Novamente, em 1.16 o autor diz: “e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim, em Jerusalém”. O mesmo pensamento se repete em 2.7. No caso de Salomão, apenas Davi precedeu Salomão como rei em Jerusalém. Mais uma vez devemos lembrar que os judeus usavam o termo “filho” para qualquer descendente; assim, Jesus também é descrito como o “filho de Davi”.

Entre os estudiosos mais recentes e conservadores, Young escreve: “O autor do livro foi alguém que viveu no período pós-exílico e colocou suas palavras na boca de Salomão, assim empregando um artifício literário para transmitir sua mensagem”. Hendry considera a autoria não-salomônica uma questão tão fechada que ele não a discute em sua introdução.3 Aqueles que rejeitam a Salomão como o autor normalmente datam o livro entre 400 e 200 a.C., alguns ainda mais tarde.

O argumento aparentemente mais forte contra a autoria salomônica é a presença de palavras aramaicas no texto que não parecem ter sido usadas no tempo de Salomão. Archer, entretanto, argumenta contra a validade dessa evidência, declarando que “o livro de Eclesiastes não se encaixa em nenhum período na história da língua hebraica [...] não existe no momento nenhum fundamento concreto para datar esse livro com base em aspectos linguísticos (embora não seja mais estranho ao hebraico do século X do que é para o hebraico do século V ou do século II).” Se Salomão não é o autor, precisamos no mínimo dizer que muito do livro reflete sua vida e suas experiências.

  1. Interpretação

Como devemos interpretar a mensagem deste livro? O leitor logo fica impressionado por pontos de vista evidentemente contraditórios. Uma teoria persistente defende que o livro é um diálogo com perspectivas contraditórias apresentadas por personagens diferentes. Se este ponto de vista for aceito, a expressão frequentemente repetida “vaidade de vaidades” seria o veredicto do autor num panorama que se restringe apenas ao mundo presente. Outra abordagem favorita tem sido associar a perspectiva consistentemente pessimista ao autor inicial e explicar pontos de vista contraditórios como inserções de autores posteriores que tentaram corrigir afirmações exageradas com o propósito de tornar o livro mais coerente com os ensinamentos religiosos em vigor na época.

O livro de fato apresenta oscilações entre confiança e pessimismo. Mas elas não precisam nos instigar a abandonar a convicção na unidade e integridade de Eclesiastes. Tais oscilações não seriam uma consequência natural da luta entre a fé, por um lado, e os interesses pelos assuntos mundanos, por outro, tanto no coração do próprio Salomão como na vida centrada na terra que o livro retrata? Barton escreve: “Quando um homem contemporâneo percebe quantos conceitos diferentes e estados de humor ele pode ter, descobre menos autores em um livro como Qoheleth”.

Se este livro representa a luta de uma alma com dúvidas sombrias, também revela o comportamento de um homem que notou o lado positivo das coisas. Apesar de sua atitude pessimista, a vida é tão preciosa quanto um “copo de ouro” (12.6), e a resposta final ao sentido da vida é: “Teme a Deus e guarda os seus mandamentos” (12.13).

  1. Organização

Eclesiastes não é um livro racional ou organizado de maneira lógica. É como um diário no qual um homem registrou suas impressões de tempos em tempos. Muitas vezes ele prefere expressar sentimentos do momento e reações emocionais a apresentar uma filosofia equilibrada sobre a vida. Geralmente o estado de espírito é de ceticismo, mas ainda assim Peterson escreve: “Teria sido uma desgraça e uma grande pena se um livro que foi escrito para ser a Bíblia de todos os homens não se referisse ou deixasse de lidar com o espírito de ceticismo que é comum a todos os homens”.

A estrutura do livro faz dele um livro tão difícil de esboçar que muitos comentaristas nem tentam identificar um padrão lógico. No esboço aqui apresentado, o autor foi influenciado por Archer7 mais do que por qualquer outro autor. Às vezes o leitor cuidadoso irá perceber que um destaque aponta para um pensamento significativo daquela seção mais do que para um resumo de tudo que está ali.

Embora ocasionalmente os parágrafos estejam relacionados apenas vagamente entre si, todos eles estão relacionados ao tema do livro — talvez isso só seja verdade porque esse tema é tão amplo quanto a própria vida!

  1. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 429-430.

II - A SABEDORIA DOS ANTIGOS

  1. A inteligência dos sábios.

Os sábios

As nações do oriente antigo tinham os seus "sábios", cujas funções iam desde a política do estado até a educação. (Quanto ao Egito, cf., por exemplo, Gn 41.8; quanto a Edom, cf. Ob 8). Em Israel, onde era reconhecido que "o temor do Senhor é o princípio da ciência", os "sábios" também ocupavam uma função mais importante. Jr 18.18 demonstra que, no tempo daquele profeta, os sábios estavam no mesmo nível com o profeta e com o sacerdote como órgão da revelação de Deus. Porém, assim como os verdadeiros profetas tiveram de entrar em luta com profetas e sacerdotes movidos por motivos indignos, semelhantemente, muitos dos "sábios" transigiram em sua função que era de declarar o "conselho de Jeová" (Is 29.14; Jr 8.8-9).

Existem pelo menos duas coleções de "palavras dos sábios" no livro de Provérbios; estas se encontram em 22.17-24.22 e em 24.23-34. Talvez que os capítulos 1-9, que contêm uma exposição do alvo e do conteúdo do "conselho dos sábios", venham da mesma origem. É virtualmente impossível datar essas coleções. Provavelmente representam a sabedoria destilada de muitos indivíduos que temiam a Deus e viveram dentro de um considerável período de tempo. Porém muito desse material é de data antiga. E. J. Young sugere que pode ser até pré-salomônico (op. cit., pág. 302).

DAVIDSON. F. Novo Comentário da Bíblia. Provérbios pag. 3.

I Reis 4. 30. Era a sabedoria de Salomão maior do que a de todos os do Oriente.

A sabedoria vem do Oriente, e a tecnologia vem do Ocidente, “até que o Japão" foi adicionado. Fosse como fosse, o Oriente era conhecido por seus sábios, seus astrólogos, seus mestres espirituais. Israel não tinha nenhum homem que se comparasse com os do Oriente, até que Salomão surgiu e ultrapassou a todos eles. O Egito era uma grande civilização (em sua XIII a dinastia), quando Abraão subiu à Palestina como um nômade. Heródoto disse que, para acreditar em todas as maravilhas que existiam no Egito, era mister que o indivíduo fosse até lá para ver as coisas por si mesmo. Mas não havia um único sábio no Egito que se pudesse comparar com Salomão. Naturalmente, tudo era uma obra divina, dada pelo Espírito Santo. Salomão alcançara tamanha sabedoria por concessão de Yahweh, porque fizera uma sábia escolha e também porque sua missão em Israel requeria tal sabedoria. Os Bene Qédhen (os filhos do Oriente) algumas vezes são limitados às tribos árabe-edomitas do sudeste do mar Morto. “A Arábia-Edom era o lar tradicional da sabedoria epigramática que os hebreus tanto admiravam. Cf. Jó 1.3, onde ‘todos os do Oriente’ são os senhores do deserto da Arábia” (Norman H. Snaith, in loc.).

No presente versículo, em que o autor fala sobre o rio Eufrates, a fronteira do extremo norte de Israel (vs. 24), provavelmente o autor também tinha em mente a sabedoria dos assírios, os quais haviam edificado um grande império que, finalmente, acabaria levando a nação do norte (Israel) para o cativeiro. Ver no Dicionário o artigo chamado Cativeiros.

Estão em pauta os “caldeus, os persas e os árabes, os quais, juntamente com os egípcios, eram famosos por sua sabedoria e conhecimento” (Adam Clarke, in loc.). O Egito era a mãe de muitas das artes e ciências, e o mundo subsequente estaria endividado naquele lugar por longo tempo ainda.

I Reis 4.31. Era mais sábio do que todos os homens. Agora o autor sagrado selecionou alguns indivíduos especialmente sábios, cujos nomes eram conhecidos por qualquer pessoa bem educada. Esses nomes representam várias áreas geográficas, mas nem um deles podia comparar-se a Salomão.

Etã. Este é o nome de várias personagens bíblicas. Entre elas, um renomado sábio, mencionado somente aqui e no título do Salmo 89. Tratava-se de um ezraita, o patronímico dos levitas Hemã e Etã (ver I Reis 4.31). W. F. Albright interpretou a palavra com o sentido de aborígene, uma referência a povos pré-israelitas. Alguns daqueles povos antigos foram incorporados a Israel, e alguns deles tornaram-se, com o tempo, levitas.

Hemã, Calcol e Darda, filhos de Maol. O autor sacro estava falando sobre uma gente acerca da qual conhecemos bem pouco, mas que deve ter sido bem conhecida naquela época. Talvez Hemã fosse o mesmo filho de Zerá e neto de Judá (ver I Crô. 2.6). Calcol era o quarto dentre cinco filhos (ou descendentes) de Zerá (ver I Crô. 2.6). Darda era outro de seus filhos, mas no presente texto temos o nome do pai como Maol. Os eruditos debatem a identidade de Zerá e Maol, e a maioria deles presume que os dois sejam um só homem, embora não haja prova disso. Ellicott, entretanto, supõe que não deveríamos identificar os dois, e o fato de ambos terem tido filhos de um mesmo nome é pura coincidência. Nesse caso, não temos informações sobre aqueles homens, excetuando o item óbvio de que eram conhecidos por sua sabedoria, embora Salomão ultrapassasse a ambos. Adam Clarke sugeriu que Maolé uma referência à “dança”, pelo que seriam “filhos da dança”, ou seja, especializados nessa arte. Salomão era excelente na poesia, e talvez na música também, mas mesmo nessas artes (se a conjectura de Clarke está com a razão) Salomão os ultrapassava. Ademais, a reputação de Salomão era universal, estando sujeita à discussão em todas as nações em derredor.

Uma antiga tradição judaica fazia Etã ser Abraão; Hemã, Moisés; e Calcol, José. Mas essa é uma interpretação muito fantasiosa (e sem dúvida errônea). (Ver Hieron. trad. Heb. em 2 Reg. foi. 80.1.)

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1365.

4.29 — Além de ter dado a Salomão um coração que sabia ouvir (1 Rs3.9) e bem interpretar (v. 3.12), Deus deu a ele também grandeza de coração. Essas três qualidades formavam a sabedoria de Salomão, que é descrita neste versículo como sendo ilimitada e imensurável, como a areia da praia ou o número de israelitas (1 Rs 4.20).

4.30 — O termo todos os do oriente se refere à Mesopotâmia (Gn 29.1), à margem leste do Jordão (Is 11.14) ou à Arábia em geral (Jz 6.3,33; 7.12). Todos estes são lugares cujos habitantes tinham a reputação de serem sábios (Ob 8). A fabulosa reputação da sabedoria do Egito se fez evidente na literatura egípcia por mais de um milénio antes de Salomão nascer.

EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 563.

Vv. 29-34. A sabedoria de Salomão foi para ele uma glória maior do que a sua riqueza. Ele possuía o que aqui se chama de "largueza de coração", porque vez por outra menciona-se o coração quando se deseja fazer alusão às faculdades mentais. Tinha o dom da palavra e da sabedoria.

É muito desejável que os que possuem dons de qualquer tipo, tenham largueza de coração, a fim de que possam utilizá-los para o bem do próximo.

Quantos tesouros de sabedoria e conhecimento são perdidos! Porém, toda a classe de conhecimento necessário para a salvação encontra-se nas Sagradas Escrituras.

A Salomão vieram pessoas de todas as partes, que apreciaram mais o seu conhecimento do que os seus vizinhos, para ouvir a sua sabedoria. Nisto ele é um tipo de Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento; e estão escondidos para nós, pois Ele é feito por Deus sabedoria para nós. A fama de Cristo difundir-se-á por toda a terra e os homens de todas as nações irão apressadamente a Ele, aprenderão com Ele, e tomarão o seu jugo, que é leve, e encontrarão o repouso para a sua alma.

HENRY. Matthew. Comentário Bíblico Matthehw Henry. 1 Reis. Editora CPAD. pag. 7.

  1. A sabedoria de Salomão.

O texto de 1 Reis 4.29-31, diz: “Deu também Deus a Salomão sabedoria, grandíssimo entendimento e larga inteligência como a areia que está na praia do mar. Era a sabedoria de Salomão maior do que a de todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. Era mais sábio do que todos os homens, mais sábio do que Etã, ezraíta, e do que Hemã, Calcol e darda, filhos de Maol; e correu a sua fama por todas as nações em redor”.

Por outro lado, o livro de Provérbios faz referência às “palavras dos sábios” (Pv 22.17; 24.23). Não há ainda um consenso sobre a real identidade desses sábios citados nestes textos, mas uma coisa fica clara — a todos eles Salomão superou em sabedoria.

As máximas contidas no livro dos Provérbios contém o pensamento salomônico sobre vários aspectos da vida. Para o escritor Earl D. Radmacher, a sabedoria do livro de Provérbios “se relaciona muito mais com o que nós chamamos de ‘sentido comum’. É uma maneira de entender o funcionamento do mundo. A questão não é tanto o que alguém sabe intelectualmente, mas como faz isso na prática. É uma verdade aplicada. E por isso que Provérbios abarca todos os acontecimentos do dia a dia, especialmente aqueles que envolvem interrogações morais e decisões que afetam o futuro.

A pessoa sábia (heb. charam) evita a maldade e promove o bem, observando os demais e buscando uma linha de ação baseada nos resultados. Assim, os Provérbios não são unicamente promessas de Deus, também são observações e princípios acerca de como funciona nossa vida.

Respondendo à pergunta: O que a sabedoria pode fazer por sua carreira, seus relacionamentos e sua vida pessoal? O escritor norte -americano Steven K. Scott, responde: “Eis algumas recompensas que, segundo Salomão, você pode esperar se seguir os seus conselhos: Sabedoria, prudência, capacidade de julgar, preservação e proteção, sucesso, mais saúde, vida mais longa, honra, abundância financeira, estima dos poderosos, elogios e promoções, independência financeira, confiança, força de caráter, coragem, conquistas extraordinárias, realização pessoal, ótimos relacionamentos, uma vida cheia de sentido, amor e admiração de outras pessoas e compreensão”.

GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 12-13.

Sabedoria e Esplendor

A sabedoria de Salomão é celebrada na Bíblia (1 Rs 4.29-34) e em lendas. O livro de Provérbios começa com a afirmação: "Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel". A autoria de uma grande parte do livro é atribuída a ele, cf. Provérbios 25.1. Acredita-se que o versículo-título de Eclesiastes refira-se a Salomão. A ele são atribuídos o livro de Cantares de Salomão e o livro apócrifo de Sabedoria de Salomão. O compilador de 1 Reis 4 afirma que Salomão foi o responsável por 3.000 provérbios e 1.005 cânticos. Os sobrescritos dos Salmos lhe atribuem dois Salmos (72 e 127). O obituário de Salomão (1 Rs 11.41) menciona sua sabedoria como registrada no livro da história de Salomão - o registro oficial das atividades do rei. Durante a metade do reinado de Salomão, ele recebeu uma notável visita da rainha de Sabá, que veio "dos confins da terra" para ouvir sua sabedoria (Mt 12.42). Salomão mostrou a ela Jerusalém, seu Templo, palácios e fortalezas. A rainha ficou tão impressionada pela beleza da sua capital, pela comida em sua mesa, pela sua força militar, e pelo esplendor geral da sua corte que "não houve mais espírito nela" (1 Rs 10.5). Mas foi a sabedoria de Salomão que a impressionou profundamente. Ela o

bombardeou com perguntas e enigmas. Todos os seus enigmas e charadas foram respondidos de uma forma tão inteligente, que ela finalmente exclamou palavras de congratulação. "Bem-aventurados os teus homens, bem-aventurados estes teus servos que estão sempre diante de ti, que ouvem a tua sabedoria!" (1 Rs 10.8). Respeitando o costume oriental, ela presenteou Salomão com ricos presentes, além de 120 talentos de ouro (1 Rs 10.8-10). Veja Sabá.

PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag.1742.

III - AS FONTES DA SABEDORIA

  1. A sabedoria popular.

A fonte da sabedoria popular

Embora não seja um consenso entre os intérpretes, mas parece não haver dúvidas de que Salomão se valeu de muitas máximas que circulavam nos seus dias. Isso de forma alguma pode ser considerado como um demérito para suas monumentais obras literárias. Não, de forma alguma. A obra The New Interpreters Dictionary ofthe Bible, destaca que há de fato muita semelhança entre o que disse o sábio hebreu com aquilo que escreveu Amenemope, um sábio egípcio que viveu muito antes de Salomão (1305-1080 a.C). Esse fato é claramente demonstrado quando se faz um paralelo entre as instruções de Amenemope e os Provérbios de Salomão 22.17—24.22. No entanto, a Escritura põe em destaque que a sabedoria de Salomão sobrepujava todo o saber dos seus dias, incluindo os egípcios que eram famosos pela grande sabedoria que possuíam (1 Rs 4.30).8 Salomão demonstra sabedoria quando faz uma adaptação dessa cultura popular para a sua própria cultura.

Nancy Declaissé-Walford, estudiosa dos Provérbios, mostrou em um artigo, o paralelo existente entre os Provérbios de Salomão e a Sabedoria do Antigo Oriente Próximo. Por exemplo, a Instrução de Amenemope, sábio egípcio (12° século) é muito semelhante à Provérbios 22.17—24.22, sugerindo alguns empréstimos de temas proverbiais comuns e os Provérbios. A Instrução de Amenemope começa com as palavras: “Dê ouvidos; Ouça as palavras; Dê seu coração para compreendê-las» (3.9,10) enquanto Provérbios 22.17, afirma: “Inclinai os vossos ouvidos, e ouvi as minhas palavras, e aplique a sua mente para o meu ensinamento”. Temas também abordados por ambos os documentos incluem o tratamento dos pobres (Pv 22.24; Instruções de Amenemope 11,13,14), o respeito pela tradição (Pv 23.10,11; Instruções de Amenemope 7,11-15), e como se comportar na presença de governantes (Pv 23.1-3; Instruções de Amenemope 13-18). Por outro lado, as Instruções Aramaicas “As palavras do Ahiqar” (Agur 70 e 50 Século a. C), dirigida ao “meu filho”, contém numerosas palavras e dá conselhos sobre a disciplina dos filhos semelhante a Provérbios 23.13,14 (Ahiqar 81,82).

GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 13-14.

A história de todos os povos está cheia de fatos e acontecimentos nos quais o ser humano sempre tratou de compreender as chaves da sua própria realidade e a sua relação com o mundo que o rodeia e de adotar os comportamentos idôneos para todo momento e circunstância da sua existência. A infinita variedade de fenômenos conhecidos e a observação de muitos deles, repetidos de maneira regular e cíclica, permitiu enriquecer a experiência de cada geração e deduzir as atitudes que melhor convêm para o desenvolvimento da vida e da cultura da humanidade.

A mais genuína sabedoria popular se baseia nessa experiência, acumulada e transmitida de pais a filhos, frequentemente em forma de máximas simples que, em geral, são como lições de moral brevíssimas e fáceis de se reter na memória. A validez de algumas delas, às vezes, fica limitada a um grupo humano de determinadas características de raça, nação, religião, idioma ou costumes. Mas também há aquelas que passam de um povo a outro e de uma a outra época. Trata-se, neste segundo caso, de pensamentos de valor universal que podem se integrar de imediato em culturas alheias à de origem. Assim ocorre em boa medida com Provérbios, onde, por outro lado, também se avaliam reflexos de sabedoria popular não-israelita: mesopotâmica, egípcia e de outros povos do Antigo Oriente Médio; p. ex., as duas coleções de refrães atribuídas respectivamente a Agur e Lemuel (30.1-33 e 31.1-9) ou o paralelismo existente entre Pv 22.17—23.12 e um famoso texto do escriba egípcio Amenemope, por volta do ano 1000 a.C.

Um provérbio de conteúdo sapiencial é denominado de mashal em hebraico, palavra aparentada com uma raiz que, além de outros significados, inclui o de “dominar” ou “reger”. Essa ideia tipifica um autêntico mashal como uma expressão persuasiva e estimulante, seja qual for a forma em que se apresente: como provérbio ou refrão propriamente dito, como máxima moral ou sentença que avalia e compara diversas condutas e atitudes adotadas frente à vida. Em algumas ocasiões mashal significa também parábola, alegoria, fábula e inclusive adivinhação.

ALMEIDA. João Ferreira de,. Bíblia de Estudo Almeida. Editora Sociedade Bíblica, do Brasil.

  1. A sabedoria divina.

A sabedoria divina levou Salomão a comentar praticamente a respeito de tudo o que há debaixo do sol: “Discorreu sobre todas as plantas, desde o cedro que está no Líbano até ao hissopo que brota do muro; também falou dos animais e das aves, dos repteis e dos peixes. De todos os povos vinha gente para ouvir a sabedoria de Salomão, e também enviados de todos os reis da terra que tinham ouvido da sua sabedoria” (1 Rs 4.33,34). Lendo o capítulo três do primeiro livro dos Reis descobrimos de onde vinha tanta sabedoria:

Salomão amava ao Senhor, andando nos preceitos de Davi, seu pai; porém sacrificava ainda nos altos e queimava incenso.

 Foi o rei a Gibeão para lá sacrificar, porque era o alto maior; ofereceu mil holocaustos Salomão naquele altar. Em Gibeão, apareceu o Senhor a Salomão, de noite, em sonhos. Disse-lhe Deus: Pede-me o que queres que eu te dê. Respondeu Salomão: De grande benevolência usaste para com teu servo Davi, meu pai, porque ele andou contigo em fidelidade, e em justiça, e em retidão de coração, perante a tua face; mantiveste-lhe esta grande benevolência e lhe deste um filho que se assentasse no seu trono, como hoje se vê. Agora, pois, ó Senhor, meu Deus, tu fizeste reinar teu servo em lugar de Davi, meu pai; não passo de uma criança, não sei como conduzir-me. Teu servo está no meio do teu povo que elegeste, povo grande, tão numeroso, que se não pode contar. Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo? Estas palavras agradaram ao Senhor, por haver Salomão pedido tal coisa. Disse-lhe Deus: Já que pediste esta coisa e não pediste longevidade, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos; mas pediste entendimento, para discernires o que é justo; eis que faço segundo as tuas palavras: dou-te coração sábio e inteligente, de maneira que antes de ti não houve teu igual, nem depois de ti o haverá. Também até o que me não pediste eu te dou, tanto riquezas como glória; que não haja teu igual entre os reis, por todos os teus dias. Se andares nos meus caminhos e guardares os meus estatutos e os meus mandamentos, como andou Davi, teu pai, prolongarei os teus dias. Despertou Salomão; e eis que era sonho. Veio a Jerusalém, pôs-se perante a arca da Aliança do Senhor, ofereceu holocaustos, apresentou ofertas pacíficas e deu um banquete a todos os seus oficiais (1 Rs 3.3-15). Isso explica porque ninguém jamais conseguiu superar Salomão em sabedoria.

GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 14-15.

SABEDORIA DE DEUS

Esboço:

  1. Ideias Gerais
  2. Deus Fez de Jesus Cristo Essa Sabedoria

III. Referências e Ideias. A Sabedoria de Deus

  1. A Multiforme Sabedoria de Deus se Toma Conhecida (Efé.3:10)
  2. Ideias Gerais
  3. Essa sabedoria é um dos atributos divinos (ver I Sam. 2:3); é insondável (ver Rom. 11 :33); e é a base de toda a bondade humana, sobretudo do bem-estar espiritual, particularizando-se a salvação (ver Efé. 1:8).
  4. O evangelho contém os tesouros da sabedoria divina (ver I Cor. 2:7).
  5. Paulo fez contraste entre a sabedoria humana (ensinada na filosofia) e a sabedoria de Deus (que se manifesta na mensagem do evangelho). A sabedoria humana gera o orgulho; a sabedoria divina conduz à salvação da alma.
  6. A sabedoria divina se manifesta em Cristo (ver o artigo sobre Sabedoria).
  7. O próprio Cristo é a personificação da sabedoria divina, conforme ensinado em I Cor. 1:30. E Cristo quem proporciona aos homens os benefícios prometidos pela sabedoria divina.

Tudo quanto os homens podem conhecer acerca da verdadeira sabedoria. precisam conhecerem Cristo; pois, para os homens, Cristo é a sabedoria de Deus. A sabedoria de Deus é demonstrada no seu plano, relativo à redenção da humanidade, plano esse que concretiza algo que a sabedoria humana sob hipótese nenhuma poderia concretizar. E a palavra ou a mensagem da cruz é o tema central dessa sabedoria (ver I Cor. I: 18). Por igual modo, essa sabedoria é a única que permanecera de pé sob o teste do juízo divino (ver I Cor. I: 19). Através da sabedoria de Deus é que o mundo inteiro pode ser potencialmente salvo (ver I Cor. 1:31). Tudo isso pode parecer um escândalo, uma insensatez e uma pedra de tropeço para os homens (ver I Cor. 1:22-23), mas Jesus Cristo é a própria personificação da sabedoria de Deus (ver I Cor. I :24,30). A grande verdade é que a sabedoria de Deus, que tantos homens reputam como insensatez, é mais sábia que a sabedoria humana, porquanto cumpre aquilo que o engenho humano está impossibilitado de fazer (ver I Cor. I :25). Mas esse cumprimento só se verifica no caso de homens humildes, que reconhecem sua ignorância espiritual; pois Deus dá iluminação espiritual a esses, mas resiste aos soberbos (ver I Cor. I :26-28). Sim, Cristo é a verdadeira sabedoria de Deus, fazendo violento contraste

  1. Deus Fez de Jesus Cristo Essa Sabedoria
  2. Mediante os seus decretos, baixados desde a eternidade.
  3. Mediante a encarnação do Filho de Deus.
  4. Mediante o ministério terreno de Jesus Cristo.
  5. Mediante a sua exaltação à mão direita de Deus Pai, onde foi feito Senhor e Cristo, e de onde brande toda a autoridade, nos céus e na terra, segundo também lemos em Mat. 28: 18. Ora, todos esses aspectos estavam designados de antemão com o propósito de produzir a redenção humana.

III. Referências e Ideias. A Sabedoria de Deus

  1. A sabedoria de Deus é um de seus atributos (ver I Sam. 2:3 e Jó 9:4). 2. A sabedoria de Deus é descrita como perfeita (ver Jó 36:4 e 37: 16).
  2. É poderosa (ver Jó 36:5).
  3. É universal (ver Jó 28:24; Dan. 2:22 e Atos 15: 18).
  4. É infinita (ver Sal 147:5 e Rorn, 11:3).
  5. É insondável (ver Isa. 40:28 e Rom. 11:33).
  6. É maravilhosa (ver Sal. 139:6).
  7. Ultrapassa a compreensão humana (ver Sal 139:6).
  8. É incomparável (ver Isa. 44:7 e Jer. 10:7).
  9. Não é derivada (ver Jó 21:22 e Isa. 40:44).

11.O evangelho contém os tesouros da sabedoria divina (ver I Cor. 2:7).

  1. A sabedoria dos santos é derivada da sabedoria de Deus (ver Esd. 7: 25). 13. Toda a sabedoria humana deriva da sabedoria divina (ver Dan. 2:2).
  2. A Multiforme Sabedoria de Deus se Torna Conhecida (Efé. 3: 10)

A palavra multiforme deriva do termo grego polupoikilos, em forma adjetivada encontrada somente aqui em todo o Novo Testamento, cujo significado é «variegado», «multilateral», usado para indicar quadros, flores e vestimentas de várias cores. Na versão da Septuaginta (tradução do original hebraico do Antigo Testamento para o grego, completada cerca de duzentos anos antes da era cristã), a capa de «muitas cores» presenteada por Jacó a José é descrita por palavra (ver Gên. 37:3). Esse vocábulo pinta a sabedoria divina como algo que tem muitíssimas facetas com os mais variados modos de manifestação e expressão, por ser algo que é digno de ser contemplado, devido a suas muitas e excelentes variações e realizações.

Gregório de Nissa (ver Hom. viii, sobre Cantares de Salomão) nos fornece uma notável interpretação, a que - vários expositores - aludem. Diz ele: «Antes da encarnação de nosso Salvador, os poderes celestiais conheciam a sabedoria de Deus como algo simples e uniforme, que efetuava maravilhas de modo consoante com a natureza de cada coisa. Nada havia de poikilon (multiforme, multicolorido). Mas agora, por meio da oikonomia (dispensação, plano) que diz respeito à igreja e à raça humana, a sabedoria de Deus não é mais conhecida como algo uniforme, e, sim, como algo polupoikilos (multiforme, variegado), produzindo contrários por meio de contrastes, mediante a morte, a vida, a desonra, a glória, o pecado e a retidão; mediante a maldição e a bênção; mediante a fraqueza e o poder. O invisível se manifestou em carne. Veio para remir cativos, sendo ele mesmo o adquiridor, e sendo ele mesmo o preço» (lD lB LAN NTI).

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 6. Editora Hagnos. pag. 9-10.

Fonte da sabedoria. Provérbios encoraja o homem a buscar sabedoria. Ele tem de ouvi-la (1.33; 2.2), adquiri-la (Pv 4.6,7), amá-la (v. 4.6; 8.17) estima-la ou avaliá-la (4.8) e buscá-la (8.17).

Onde está esta sabedoria? Fazendo esta pergunta duas vezes (Jó 28.12,20), Jó respondeu que só Deus sabe (v. 23). A sabedoria pertence a Deus, dissera Jó anteriormente (12.13). A sua sabedoria é profunda (Jó 9.4). Ele possuiu sabedoria no princípio (Pv 8.22), criou a terra com sabedoria (3.19) e conta as nuvens na sua sabedoria (Jó 38.37). A sabedoria é mais que uma característica humanamente inventada. É a habilitação divina, a habilidade de enfrentar e ter sucesso baseado nas providências de Deus. Só Ele “pôs a sabedoria no íntimo” (Jó 36).

Esta fonte divina de sabedoria significa que a vida não deve ser dicotomizada entre o intelectual e o prático, entre o religioso e o secular. “A totalidade da vida foi conotada em termos de experiência religiosa, e a sabedoria foi mantida para ser pertinente a todos os pontos da existência.”34 A literatura sapiencial trata da conduta ética, conduta vista levando em conta a relação do homem com Deus. A vida assume uma dimensão espiritual, pois a piedade é a chave para a vida prática.

A relação do indivíduo com a sua família, vizinhos, empregados, estranhos é afetada pela relação com o Criador e Deus. A pessoa com sabedoria bíblica tem mais que perspicácia secular e intelectual; tem uma perspectiva espiritual que impregna toda a sua vida. A pessoa verdadeiramente sábia é a pessoa piedosa.

ROY B. ZUCK. Teologia do Antigo Testamento. Editora CPAD. pag. 286.

IV - O PROPÓSITO DA SABEDORIA

  1. Valores éticos e morais.

Os seis primeiros versículos de Provérbios mostram com muita clareza que o propósito desse livro é o cultivo dos valores éticos-morais:

Provérbios de Salomão, filho de Davi, o rei de Israel. Para aprender a sabedoria e o ensino; para entender as palavras de inteligência; para obter o ensino do bom proceder, a justiça, o juízo e a equidade; para dar aos simples a prudência e aos jovens, conhecimento e bom siso. Ouça o sábio e cresça em prudência; e o instruído adquira habilidade para entender provérbios e parábolas, as palavras e enigmas dos sábio. (Pv 1.1-6)

O livro de Provérbios, portanto, é rico em ilustrações sobre o comportamento humano e sem dúvida procura trabalhar o caráter do homem. Mas como bem observou Derek Kidner, ele não é um álbum de retratos, nem um livro de boas maneiras: oferece uma chave à vida. “As amostras de comportamento que espalha diante das nossas vistas são aquilatadas, todas elas, por um único critério, que poderia ser resumido na pergunta: Isto é sabedoria ou estultícia?” Esta é uma abordagem que unifica a vida, porque se adapta aos campos mais corriqueiros tanto quanto aos mais exaltados. A sabedoria deixa a sua assinatura em qualquer coisa bem feita ou bem julgada, desde uma observação apropriada até o próprio universo, desde uma política sábia (que brota de uma introspecção prática) até uma ação nobre (que brota de uma introspecção prática). Noutras palavras, fica igualmente bem encaixada nos ambientes da natureza e da arte, da ética e da política, sem mencionar outros, e forma uma base única de julgamento para todos eles.

GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 16.

Literatura da Sabedoria

O mundo antigo produziu escritos em uma variedade de gêneros literários. No Egito, e na Mesopotamia igualmente, encontramos tratados em matemática e astronomia, como também em magia. Encontramos mitos e narrativas religiosas. Também encontramos histórias de aventuras, livros didáticos dc medicina, poesia de amor, Salmos e documentos políticos. Encontramos crônicas de reis e reinados, assim como ostentação de antigos governantes. Descobrimos também uma das mais antigas formas literárias, os escritos de sabedoria.

A mais primitiva literatura de sabedoria data de bem antes de 2000 a.C. A literatura de sabedoria é frequentemente organizada como um conselho dado por um pai ao seu filho, ou um homem mais velho a seus alunos. Obras egípcias bem conhecidas são atribuídas a um pai desejando aconselhar seu filho diante de um longo período de prisão, a um vizir encarregado de ensinar um descendente real e a um marinheiro motivando seu filho a estudar quando entrar na escola de escribas. As vezes, a literatura de sabedoria é colocada no contexto de uma história, para cativar a atenção de um aprendiz. Um exemplo egípcio é o Protesto de um Camponês Eloquente, onde um homem apela por justiça após ter sido injustiçado por um vizinho. Um exemplo bíblico é a história de Jó.

Porém, qual foi a preocupação difundida que estimulou a escritura de tanta literatura de sabedoria?

Dois temas parecem reter o interesse dos autores. (1) Alguns escritos de sabedoria exploram assuntos filosóficos. Jó e Eclesiastes enquadram-se nessa categoria. Jó debate a questão por que o fiel sofre, e Eclesiastes luta com a questão do que dá significado à própria vida. (2) Algumas literaturas de sabedoria dão conselhos de como viver uma vida prudente. Provérbios está nessa categoria, com seus enérgicos ditados e conselhos nas decisões morais e práticas que cada indivíduo deve tomar.

Este segundo tipo de literatura de sabedoria bíblica não se apoia em revelação como sua fonte.

Os profetas falavam claramente em corajosa confiança que “assim diz o Senhor”. Os autores dos provérbios estavam bem conscientes de que eles expressavam discernimentos obridos ao observar a experiência humana, assim como da estrutura moral provida pela Lei de Moisés, A Lei não é referida para validar a proverbial sabedoria, embora os provérbios em muitas culturas afirmem a necessidade de respeito por Deus e pela ordem moral. Muitos provérbios tomados em nosso livro de Provérbios são considerados como evidentes em si mesmos por qualquer pessoa de pensamento correto, ainda que também contenham princípios importantes para o jovem e inexperiente entender. Dentro do contexto cultural do mundo antigo, muitos eram evidentes em si mesmos. Observações semelhantes são encontradas tanto no livro bíblico de Provérbios como nos provérbios encontrados na literatura de sabedoria egípcia e mesopotâmica. Observe, por exemplo, a afinidade dos provérbios achados na egípcia Instrução de Amem-em-ope com os provérbios bíblicos.

*Não remova os marcos divisórios ou ultrapasse os limites de uma viúva.

*Melhor é uma medida que o deus te dá do que cinco mil (tomados) ilegalmente. *Melhor é a pobreza na mão do deus do que a riqueza no depósito. *Não lance seus olhos na ocupação dos ricos. Não te associes ao homem esquentado (ex. irritado).

Este e outros paralelos não demonstram uma dependência da obra dos hebreus em relação à dos egípcios, ou dos egípcios sobre a dos hebreus. Em vez disso, eles refletem o fato de que Deus tem dado a toda a humanidade discernimento moral. Um conhecimento do certo e do errado, um senso do que marca o comportamento justo e correto está enraizado na própria natureza humana e encontra expressão pelo menos em alguns dos ensinamentos de cada sociedade.

A grande contribuição da revelação é nos fazer cientes que não é bastante saber o que é correto.

Muito da literatura de sabedoria, tanto bíblica quanto extra bíblica, é vista como uma narrativa épica de conselho dada pelo amadurecido ao jovem. Captamos o sabor da maioria da literatura de sabedoria nessas tinhas de Provérbios 3.1,2. “Filho meu, não te esqueças da Minha instrução, e o teu coração guarde os Meus mandamentos; parque eles aumentarão os teus dias e te acrescentarão anos de vida e paz. ”

Devemos fazer o que é correto. E, porque todos falham, não somente em ir ao encontro dos padrões de Deus, mas até aos padrões da nossa sociedade, a revelação nos ensina a buscar a Deus para salvação, em lugar de a nós mesmos.

Assim, a literatura de sabedoria, nas Escrituras ou em outras antigas sociedades, tem uma função mais estritamente definida. Ela descreve e estimula a ação correta e o reto pensar. Ela não compartilha da função do profeta de criar um sentimento de pecado, ou da missão do evangelista de voltar os olhos do homem para Deus como único meio de salvação.

Enquanto a literatura de sabedoria do mundo antigo não é revelatória em natureza, nem tem a intenção primaria de ensinar verdades religiosas, os ditados de sabedoria de cada sociedade realmente refletem a visão de Deus da cultura. No Egito Maat, verdade ou justiça, estabelecia um último padrão ao qual os próprios deuses estavam sujeitos. Na Babilônia, as leis morais brotavam da consciência humana e os deuses eram também governados por padrões morais. Mesmo assim, os deuses definiam o que era certo em qualquer dada situação e a vontade deles devia ser determinada por um estudo de prognósticos. Na Suméria, outra sociedade mesopotâmica, os deuses eram forças naturais não afetadas pelas coisas morais. Em Israel, Deus era uma viva e vital presença, que supervisionava as consequências dos atos humanos, recompensando o bem e punindo o mal. Assim, a destilada sabedoria, expressa nos ditados proverbiais e conselhos, tinha uma única recomendação. Ao fazer escolhas prudentes, uma pessoa expressava seu temor a Deus, demonstrando a convicção de que Deus abençoaria aqueles que fizessem o bem, e puniria aqueles que cometessem injustiça. Os princípios de uma vida prudente podem ser evidentes por si mesmos em muito da literatura de sabedoria. Porém, atrás do ensinamento de sabedoria do Antigo Testamento permanece a convicção de que Deus energicamente apoia a ordem moral e é atuante na presente experiência dos seres humanos.

Todas as principais formas literárias usadas na literatura de sabedoria estão refletidas nos livros do Antigo Testamento: Provérbios, Jó e Eclesiastes, e em vários Salmos de sabedoria. São elas: máximas, ou provérbios; um pequeno preceito seguido por uma discussão; uma questão retórica; solilóquio; debate; poesia descritiva ou contemplativa; contos imaginários; e historietas ilustrativas. Através de cada forma, a Bíblia ensina-nos importante verdade. Não há conflito entre o clamor do profeta para a justiça e o prudente convite para ser sábio. Justiça e sabedoria são a mesma coisa; pois o verdadeiro homem sábio, sempre ciente da presença de Deus, escolherá fazer o que é correto.

RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. pag. 382-384.

  1. 1.1. Provérbios de Salomão. Esta seção, que perfaz o Livro I, tem dezesseis extensos discursos cheios de admoestação, advertências e declarações expressivas, que tendem a tornar um homem sábio, contanto que ele os conheça e os ponha em prática.

Ver sobre Autoria na seção III da Introdução, onde há uma discussão completa. Partes deste livro são atribuídas a outros autores: Agur (capítulo 30) e Lemuel (capítulo 31.1 -9). O ponto de vista dos comentaristas conservadores é que Salomão foi o autor de certas partes do livro, ao passo que o editor adicionou trabalhos de outros autores. O ponto de vista dos críticos é que o nome dele foi vinculado ao livro mediante uma convenção literária, visto que ele era conhecido como um homem sábio. Nos tempos antigos, era comum empregar os nomes de pessoas famosas como alegados autores de livros, em parte para prestar-lhes uma honraria, e em parte para garantir a circulação das obras, ou para dizer o que o mestre teria dito, se tivesse escrito o livro.

Provérbios. No hebraico, mashal, que pode significar comparação ou símile, ou então discurso. Ambas as ideias são encontradas em Provérbios. Quanto a uma discussão completa a respeito, ver os parágrafos primeiro e segundo da introdução ao livro.

Títulos. Alguns manuscritos dizem Sepher Sishle, o “Livro de Provérbios”. A Septuaginta diz Provérbios de Salomão. Eruditos judaicos posteriores chamavam este livro, bem como o livro de Eclesiástico, de Livros de Sabedoria. Não podemos estar certos sobre o título dos manuscritos originais, mas Mashal é o mais provável, caso houvesse um título.

Salomão. Ver o artigo sobre ele no Dicionário. O título rei, neste livro, deve estar ligado a Salomão, e não a Davi. Foi o rei sábio quem editou o material a seguir. Ele foi um homem sábio (I Reis 3.4-15,16-18) e escreveu três mil provérbios e mil e cinco cânticos (I Reis 4.32). Não há razão para duvidar de que parte da soma maciça de literatura entrou no livro presente, mesmo que a compilação final do material se desse depois do cativeiro babilônio.

Propósito do Livro (1.2-6)

Pv. 1.2. Para aprender a sabedoria, e o ensino. Os homens precisam conhecer e seguir a sabedoria. Crawford H. Toy (International Criticai Commentary, in loc.) disse que o reconhecimento intelectual vem em primeiro lugar. A idéia é um tanto semelhante à doutrina de Sócrates do “conhece-te a ti mesmo”, na qual o conhecimento racional é muito importante. Mas não há que duvidar da ideia da agência do Espírito, que usa a sabedoria adquirida para operar a vontade de Deus. Portanto, isso deve incluir a iluminação da alma.

A sabedoria. Ver o artigo sobre esta palavra no Dicionário, quanto a explicações completas. O original hebraico diz hokhmah, palavra que, “neste versículo, significa inteligência moral e religiosa, ou seja, o conhecimento da lei moral de Deus, no que diz respeito às questões práticas da vida. Não se trata da sabedoria especulativa e filosófica dos gregos” (Charles Fritsch, in loc.). Quanto ao que se supõe que a lei significava para Israel, ver Sal. 1.2.

O ensino. A palavra hebraica correspondente é musar, que tem o sentido básico de disciplina, ou punição. Visto que aparece aqui de forma paralela com sabedoria, sem dúvida significa o corpo e a atividade de ensino aplicados aos homens mais jovens, para indicar seu treinamento no judaísmo. O principal manual, como é lógico, seria a lei, porquanto, sem a lei, o judaísmo não seria o judaísmo. Esta palavra implica a submissão às autoridades que eram mestres, como pai, mãe e, especialmente, os mestres da lei, sábios cuja atividade se constituía em ensinar às gerações mais jovens. O próprio livro mostra que tais mestres não se apegavam à Bíblia, conforme a conheciam em seus dias, mas, antes, inventaram muitas declarações e discursos que ultrapassavam os dizeres da lei, embora tivessem suas raízes apegadas a ela.

Para entender as palavras de inteligência. “Compreensão” significa discernimento, distinguir o certo do errado e seguir o caminho certo, pois, caso não acompanhasse a parte que segue, uma pessoa não seria dotada de real discernimento. A sabedoria pode passar de pai para filho, e de mestre para estudante. As palavras devem ser inteligentes e vigorosas, mas por trás delas deve haver a força do exemplo. No livro de Provérbios, há sessenta e cinco convites para que os leitores tenham entendimento. Ver Pro. 5.1.

Um pai deve três coisas a seus filhos: exemplo; exemplo; exemplo.

Cf. este versículo com Heb. 5.14: para discernir não somente o bem, mas também o mal”.

Os homens possuem capacidades para tanto, mas precisam ser treinados para distinguir o bem do mal. Cf. I Reis 3.9. De outra sorte, o coração tornar-se-á néscio, ou seja, insensível (ver Isa. 6.10). Ver também Fil. 1.10.

Pv. 1.3. Para obter o ensino do bom proceder. O autor sagrado continuava a explicar por qual motivo escrevera esta porção e compilara este livro. Não basta ensinar. O estudante deve estar motivado a aprender, isto é, receber o que lhe for ensinado. Um estudante sente-se motivado quando se assenta aos pés de seu mestre. O professor deve possuir muito mais conhecimento que o seu aluno. Além disso, o aprendiz tem de ver que o próprio mestre pratica o que diz, dando o exemplo correto.

Tornai-vos, pois, praticantes da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a nós mesmos.

(Tiago 1.22)

Resultados Práticos. Um estudante deve obter sabedoria, praticando a retidão, cumprindo a justiça e a equidade. Em outras palavras, deve ter as principais características de um homem espiritual, cuja filosofia o salva de seus atos profanos.

Bom proceder. No hebraico original temos a palavra haskei, e não a mesma palavra para “sabedoria”, do vs. 2. Esta palavra significa “bom senso”. Um homem viverá de acordo com o bom senso em todos os seus atos e relacionamentos com outras pessoas. Alicerçado sobre esse fundamento, ele praticará as coisas que se seguem, listadas após a palavra sabedoria.

A justiça. Esta palavra, no original hebraico, é cedheq, “reto". Tal homem não se envolverá em veredas tortuosas. Antes, caminhará ao longo da “vereda reta e estreita”.

O juízo. No hebraico, mishpat, “decisão" em favor do que é reto, atos e relações retas, a retidão em todas as situações.

A equidade. No hebraico, mesharim, que tem o sentido básico de suave ou reto. Ver Isa. 25.6, onde se fala sobre a vereda de um homem reto. O homem vive “no mesmo nível” de outros homens, ou seja, de maneira honesta e justa. “Aquilo que é reto, verdadeiro e honesto” (Ellicott, in loc.).

Pv. 1.4. Para dar aos simples prudência. Os jovens, inexperientes que se impressionam facilmente por palavras distorcidas, precisavam das instruções do mestre, e ele mostrou zelo sobre a questão, pleno de conhecimento e de capacidade de comunicar. Os simples seriam uma presa fácil para os homens maus e as más situações. A palavra hebraica para isso é pathah, que significa “aberto”, ou seja, franqueado a todas as espécies de influência. Paralelo a isso é o jovem. O jovem estaria aberto a influências boas e más, pelo que o mestre quereria chegar a ele, antes que os lobos o alcançassem.

Os jovens pensam que os idosos são tolos;

Os idosos sabem que os jovens são tolos.

(George Chapman)

Conhecimento. No hebraico, yadha, “conhecer”, a palavra comum com esse sentido. Um corpo de conhecimento tinha de ser comunicado, e o aluno tinha de dominar tal conhecimento. Um jovem precisava de mais do que conhecimento, mas isso era o sine qua non de qualquer indivíduo que quisesse iniciar a caminhada ao longo da trilha do conhecimento.

Bom siso. No hebraico, mezimmah, literalmente, “poder de planejar”, ou seja, ter bom senso suficiente para tomar boas decisões, “decidir quanto ao próprio curso de ação”. Um jovem teria de aprender a resolver, com propósito, por qual caminho deveria seguir, o que deveria e o que não deveria fazer. Esta palavra podia ser usada em bom sentido e em mau sentido. Cf. Pro. 12.2; 14.17; 24.8 (no mau sentido); Pro, 2.11; 3.21; 5,2; 8.12 (no bom sentido). Cf. a frase “prudentes como as serpentes” (Mat. 10.16). Ver também Luc. 16.8 e Efé. 5.16.

Emerson queixou-se em um ensaio seu de que, “às vezes, o mundo parece estar em uma conspiração para nos importunar com trivialidades enfáticas". Somente um homem instruído é capaz de separar o que é trivial do que é importante.

Pv. 1.5. Ouça o sábio e cresça em prudência. O indivíduo que já obteve alguma sabedoria, bem como o aluno que está progredindo em conhecimento, continuará aumentando em sua erudição: o homem que atingiu alguma compreensão continuará desenvolvendo-se em discernimento e adquirirá habilidades. Seus esforços renderão dividendos. Ele tornar-se-á um mestre cada vez mais apto na lei e na aplicação prática à sua vida diária. Ele tornar-se-á um sábio praticante, e não meramente um sábio aprendiz. As ideias e as palavras são repetidas com base nos versículos anteriores.

Prudência. No hebraico, leqah, que vem de uma raiz que significa receber, tomar. Ele recebe de outros, e então doa a outros as instruções da lei.

Adquira habilidade. Esta última palavra corresponde ao hebraico tahbuloth, termo náutico, de uma raiz que significa corda, ou seja, um mecanismo de “pilotagem", a “arte dos marinheiros”, Tal homem guiar-se-á corretamente na passagem por esta vida e suas tempestades, e será capaz de guiar a outros pelo mesmo mar. A Septuaginta e a Vulgata Latina dizem aqui “governar”. A ideia é a noção de habilidade naquilo que o indivíduo fàz, estando em mira a vida espiritual. “Tanto os mestres quanto os seus alunos são aprendizes. O mestre pode saber coisas além de seu estudante, mas nunca para de aprender e aumentar as suas habilidades” (Rolland W. Schloerb, in loc.). Cf. Pro. 11.14; 12.5; 20.18 e 24.6 quanto ao uso da mesma palavra, habilidade. Ver também Jó 37.12. Ver II Ped. 1.5, que tem a mesma ideia:

Reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento.

Para entender provérbios e parábolas. Este versículo é a continuação dos vss. 2-4. O livro de Provérbios tem um alvo erudito e prático. As declarações expressivas e os discursos sábios, dirigidos aos insensatos (isto é, os provérbios), serão inúteis para os aprendizes a menos que os significados apropriados sejam determinados. Temos aqui uma nova palavra, a figura ou parábola, que no hebraico é meiicah, que vem de uma raiz que significa dobrar, envergar. Uma palavra cognata é interpretar. Um intérprete é alguém que dá uma distorção apropriada a um jogo de palavras, para trazer à tona o sentido delas. O único outro lugar onde essa palavra hebraica é usada é Hab. 2.6, onde tem o sentido de “poema escarninho”. O significado é alguma coisa difícil que precisa ser interpretada para o aluno. O sábio será um mestre das interpretações.

Palavras e enigmas dos sábios. Parte do ensino ministrado será relativamente fácil, sendo expresso por meio de palavras sábias que não precisam de nenhuma habilidade especial para serem entendidas. Mas ocasionalmente surgirão enigmas. A palavra hebraica correspondendo é hidhah, que significa, basicamente, “dobrar para um lado”. Alguma declaração do professor não será franca e direta como a maioria de suas palavras; antes, terá algum reflexo que exigirá um exame mais próximo e uma explicação para ser entendida. Algumas versões traduzem essa palavra por “nós”. Algumas afirmações terão de ser desatadas, e não cortadas, dando soluções fáceis. Ver sobre Nó Górdio no artigo chamado Nó, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, que servirá bem para ilustrar o texto presente.

Como poderei eu entender, se alguém não me explicar?

(Atos 8.31)

Essa palavra, que se refere a alguma declaração enigmática, foi usada no tocante à charada de Sansão, em Juí. 14.12-18, bem como às perguntas difíceis feitas pela rainha de Sabá, as quais Salomão, naturalmente, sábio que era, foi capaz de resolver (ver I Reis 10.1; II Crô. 9.1),

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 2537-2538.

  1. INTRODUÇÃO E LEMA (1.1-7)

O título provérbios dá nome ao livro tanto em hebraico quanto em português, de Salomão é uma referência a ele como autor principal e maior inspirador desse tipo de literatura em Israel. O hebraico mãsãl, “provérbio”, tem na sua raiz o significado de “comparação” e é usado com referência tanto à alegoria ampliada de Ez 17.2ss quanto ao símile colorido de 10.26. E usado também em relação à frase capciosa de ISm 24.13 ou até com referência ao escárnio (Is 14.4; Hc 2.6). A maioria dos ditados desse livro, no entanto, é de “comparações” no sentido de duas declarações que são postas lado a lado em forma de antítese (e.g., 10.10,11,12,22) — um par contrastante para destacar uma diferença significativa — ou sinônimos (e.g., 10.18) — uma repetição poética — ou, com menos frequência, como uma evolução (e.g., 29.1).

Todos são lembrados com facilidade, e chegam a ser simplistas, como manchetes de notícias edificantes.

  1. 1,2. O propósito da coleção é afirmado com uma lista fascinante de palavras chave sabedoria: heb. hokmãh, o termo geral, raramente usado também com o sentido de “astuto” (2Sm 13.3), mas em Provérbios sempre com conotação elogiosa, disciplina: heb. müsãr, uma das maneiras mais difíceis de se conseguir à sabedoria, com implicações de correção se necessário (v. 22.15). palavras que dão entendimento', o verbo (bin) e o substantivo vêm da raiz “discernir”. Essa é a forma em que se capta a realidade de uma situação, distinguindo o que interessa do que é periférico.
  2. 3. O conteúdo dessa instrução e dessa percepção é detalhado em quatro grandes seções: a sensatez (da raiz sãkal, “comportar-se de forma sábia”, como em ISm 18.30) é considerada como sucesso e prosperidade (17.8). Possui a ambiguidade da prudência ou de saber lidar com todas as tentações (Gn 3.6) ou possibilidades de crescimento (21.11) que essa frase inclui. Talvez as palavras de Jesus em Lc 16.8 deem um vislumbre disso o que é justo-, heb. $edeq, uma expressão da natureza de Deus, “o padrão pelo qual Deus sustenta o mundo” (Snaith) e muitas vezes ocorre em conexão com justo (mispãt), uma palavra que tem no uso secular o significado de “costume” (ISm 2.13), mas de forma geral é usado mais como um pronunciamento,

como o de um juiz e, predominantemente, como referência à vontade de Deus (SI 19.9 e salmo 119 passim). correto-, heb. mêsãrim, de uma raiz que significa “reto”, “plano”, destacando imparcialidade, que demasiadas vezes faltava na “justiça” da época.

  1. 4. dar prudência aos inexperientes: prudência: heb. ‘ormãh, uma palavra que tem a conotação de “astuto” em escritos anteriores (e.g., Js 9.4), mas tem um valor um pouco melhor em Pv (1.4; 8.5; 8.12) e é contrastada aqui com inexperientes (pty), os quais encontramos com frequência em Salmos (19.7; 119.130) e em Provérbios — não com a implicação moral de “tolo”, mas certamente de alguém mal preparado para a vida real; incapaz, ingênuo, quase um “bobo”. O paralelo jovens destaca e sublinha a inexperiência e a imprudência que precisa de conhecimento (tda‘a t, uma palavra que em geral significa informação e experiência acumuladas, possivelmente know-how e diferente de sabedoria, Ec 1.16) e de bom senso, uma palavra neutra que descreve a capacidade de planejar coisas para o bem (2.11) ou para o mal (12.2). Não se tem em mente somente os inexperientes e jovens. O sábio e o que tem discernimento vão aumentar o seu conhecimento (leqah) — uma palavra relacionada a “tomar”, “pegar”, sugerindo que o conhecimento deve ser aceito de Deus. Ela está ligada ao processo, e não ao conteúdo do aprendizado — obterá orientação. Obter: (qãnãh, palavra comumente usada para se referir a “comprar”): v. 4.7 e comentário.

A seção termina com quatro tópicos a serem estudados e compreendidos: provérbios (como no v. 1), parábolas (o outro único uso na Bíblia em Hc 2.6 sugere “sátira”), ditados [...] dos sábios, que eram amplamente venerados no mundo antigo, e enigmas (perguntas difíceis ou capciosas, Jz 14.12; lRs 10.1; ou ditados sombrios, SI 78.2).

CHARLES G. MARTIN. Comentário Bíblico NVI. Editora Vida. Livro de Eclesiastes. pag. 909-910.

Quando o povo hebreu pensava na lei, a sua mente se voltava imediatamente para Moisés. Quando se expressavam em cânticos, usavam as composições de Davi. E quando traziam à memória os seus ditados e provérbios, pensavam em Salomão.

  1. O Significado do Título (1.1)

O versículo 1 provavelmente nos dá o título editorial para todo o livro como também a chamada para a primeira seção dele. Essa designação não significa que todo o conteúdo do livro se originou com Salomão, mas reconhece-o como o autor das partes principais de Provérbios e também dá a ele o tributo como o sábio inigualável de Israel. Veja a discussão mais abrangente acerca da autoria de Provérbios na Introdução.

Acerca do significado de Provérbios (mashal) veja a Introdução. A expressão filho de Davi reafirma explicitamente a linhagem de Salomão (1 Rs 11.12). Mathew Henry diz acerca dessa afirmação: “Cristo é com freqüência chamado de Filho de Davi, e Salomão era um tipo dele no fato, como também em outros, de que ele abria a sua boca em parábolas ou provérbios”.

  1. O Propósito do Livro (1.2-6)

Muito do que está em Provérbios tem aplicação universal. O seu propósito fundamental, no entanto, é religioso. Salomão tentou fazer mais do que compartilhar o seu conhecimento; ele se esforçou em mostrar a Israel o caminho da santidade. As quatro palavras para aprender a sabedoria nos dão o cerne do propósito do livro inteiro. Edgar Jones diz que o termo hebraico aprender (conhecer) “traz o sentido de um encontro e comunhão pessoais que vão além de mera curiosidade intelectual. [...] O propósito do livro é conquistar a submissão dos jovens à lei moral de Deus. Além de curiosidade, há compromisso”.

Provérbios é direcionado em primeiro lugar aos jovens (4) e aos inexperientes, mas serve também para todas as idades e estágios da vida. Até o sábio — a pessoa mais idosa e experiente — pode adquirir habilidade (5). A palavra hebraica para simples (4) “designa o oposto do homem moral. Não significa um simplório no nosso sentido do termo, mas um pecador, um mau caráter. Provérbios tem uma mensagem de moralidade para os ímpios”.3 Essa mensagem, no entanto, é expressa de forma um tanto indireta por meio de enigmas (6; a ARC antiga traz “adivinhações”), ou outras formas proverbiais que exigem algum tipo de interpretação, em vez do método mais direto e franco das declarações proféticas dos profetas de Israel.

EARL C. WOLF. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 359-360.

1.1 — O prólogo do livro de Provérbios (Pv 1.1-7) tem três partes: (1) título (v. 1), (2) objetivo (v. 2-6) e (3) tema (v. 7). O título, Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel (v. 1), pode sugerir três coisas: (1) Salomão é autor do livro, (2) Salomão foi autor das principais contribuições ao livro, ou (3) Salomão é o patrono da sabedoria em Israel, então seu nome está neste título como honorífico. Como há outros autores (ex.: Agur [cap. 30] e Lemuel [Pv 31.1-10]), e algum material de Salomão foi editado muitíssimo depois de sua morte (Pv 25.1), parece mais sensato interpretar as palavras de abertura do livro como uma combinação da segunda e terceira opções. Salomão não pode ser o autor de todo o livro, mas é seu contribuinte mais notável e o modelo do ideal de sabedoria de Israel.

1.2,3 — Os versículos 2 a 6 explicam o objetivo do livro de Provérbios. Os verbos conhecer, entenderem e receber referem-se às formas de adquirir sabedoria.

A palavra sabedoria se refere à capacidade, o que pode ser adquirida em sua vida quando se põe em prática os ensinamentos dados por Deus. O termo instrução também pode ser traduzido como disciplina [NVI]; refere-se ao processo de recepção de conhecimento e posterior aplicação à sua vida diária.

1.3 — A expressão traduzida como instrução do entendimento, assim como a sabedoria, denota uma habilidade em prática, tal como a de um artesão ou músico. Ou seja, a sabedoria afeta a vida como a habilidade dos artistas afeta a prática de sua arte.

As palavras justiça, juízo e equidade dão um contexto moral à sabedoria, instrução e palavras que dão entendimento. A sabedoria bíblica permeia a vida inteira; exige uma mudança de comportamento e comprometimento com a justiça.

1.4 — Os simples ou ingénuos são os jovens inexperientes, com tendência ao erro. Os termos prudência e bom siso incluem os fatos mais duros da vida. O sábio já aprendeu com a experiência a distinguir o que é verdadeiro, louvável e bom do que é falso, vergonhoso e ruim (Rm 12.1,2).

1.5,6 — A expressão crescer em sabedoria vem destacar que o homem que adquiriu alguma compreensão deve continuar desenvolvendo-se em discernimento; sempre há mais o que aprender.

O versículo 6 fala das lições que a pessoa mais madura obtém por meio do estudo de provérbios, interpretação, palavras dos sábios e adivinhações.

EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 950.

  1. Valores espirituais.

Por outro lado, as palavras: “O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7, ARA), demonstram que a transmissão de valores espirituais estava na mente de Salomão quando escreveu este livro. Esse também é um princípio que o filho de Davi faz sobressair em Eclesiastes, livro também de sua autoria. Dessa forma observamos que Salomão demonstra que nenhuma moral-social se firma se não tiver valores morais e espirituais como princípio.

O valor espiritual dos Provérbios fica bem demonstrado no uso que nosso Senhor Jesus Cristo fez dos mesmos. Como bem observou Antônio Neves de Mesquita:

Jesus fez amplo uso dos ensinos de Provérbios na sua doutrinação prática. Muitas das suas parábolas estão calcadas em seus ensinos. Por exemplo, a parábola dos primeiros lugares, quando convidado para banquetes, está firmemente relacionada com Provérbios 25.6,7, onde se lê: não se glories no meio dos reis nem te ponhas no meio dos grandes, porque melhor é que te digam: sobe para aqui, do que seres humilhado diante do príncipe. A parábola do rico insensato está bem retratada em Provérbios 27. Jesus, na conversa com Nico- demos, parece, que copiou a palavra de Agur, filho de Jaqué em Provérbios 30.4, e quando se refere ao povo, dizendo que a sabedoria é justificada por seus filhos, está citando Provérbios no seu todo.

A literatura sapiencial, representada neste capítulo pelos livros de Provérbios e Eclesiastes, revela que o temor do Senhor é o fundamento de todo o saber. Ninguém pode ser considerado sábio de fato se os seus conselhos não revelam princípios do saber divino. Um sábio não é alguém dotado apenas de muita informação ou inteligência, mas alguém que aprendeu que o temor do Senhor é a base de toda moral-social.

GONÇALVES. José,. Sábios Conselhos para um Viver Vitorioso Sabedoria bíblica para quem quer vencer na vida. Editora CPAD. pag. 17.

Pv 1.7.O temor do Senhor é o princípio do saber. Esta é uma das maiores afirmações da literatura de sabedoria, e não somente do livro de Provérbios. É básica para compreendermos a espiritualidade do Antigo Testamento. Apresento uma nota de sumário sobre essa declaração, em Sal. 119.38, e muito mais ainda no artigo do Dicionário acerca do artigo intitulado Temor. Dou ali uma abundância de referências sobre o assunto. Portanto, forneço aqui apenas uma idéia ou duas, confiando que o leitor obtenha a essência dessa declaração nos lugares mencionados. O temor do Senhor é a “religião do homem sábio” (Rolland W. Schloerb, in loc.). Possivelmente, a base da idéia era o terror que um pobre adorador sentia perante o seu Deus, ou seus deuses ou seus idolos. Mas o vocábulo acabou adquirindo as idéias de reverência, de profundo respeito, de uma espiritualidade em geral, conhecendo e praticando a lei mosaica, por motivo de profundo respeito ao Legislador. A expressão temor do Senhor ocorre por onze vezes no livro de Provérbios, e a forma imperativa, temei ao Senhor, por outras quatro vezes. O autor se referia a uma “piedade genuína” (Adam Clarke, in loc.). A declaração serve de “nota- chave de todo o ensinamento do livro” (Ellicott, in loc.). Ver Pro, 1.29; 2.5; 3.7; 8.13; 9.10; 10.27; 14.2,26,27; 15.16,33; 16.6; 22.4; 23.17 e 24.21. A leitura desses versículos dará ao leitor uma ideia do que essa expressão significa para o autor-compilador do livro de Provérbios.

O princípio do saber. Ter conhecimento não consiste apenas em estar informado sobre as coisas. Antes, é conhecer as realidades espirituais e ser transformado por elas. Para os hebreus, naturalmente, a lei era básica para alcançar tal forma de conhecimento. A lei era a primeira fonte do conhecimento. Um homem bom tem um bom começo no empreendimento do conhecimento, quando começa com seu fundamento e inspiração, “o temor a Yahweh”. A mente de tal homem, pois, é condicionada a compreender e a prosseguirem seu aprendizado. A palavra aqui usada, “princípio”, pode significar “parte seleta”. O termo hebraico é reshith, o ponto inicial de qualquer coisa. Quanto a esta palavra como porção seleta, ver Jer. 49.35 e Amós 6.6. Cf. também Sal. 9.10; Jó 28.28 e Eclesiástico 1.14. Pirke Aboth 3.26 também contém algo similar. Essa palavra foi usada em Gên. 1.1 para indicar o ponto inicial da criação física. Portanto, ela também marca o ponto inicial da criação espiritual.

“A reverência é a reação da alma à presença divina, uma reação não somente ao poder, mas também ao valor. Trata-se da atitude da alma para com Deus, em Quem a bondade e o poder são uma coisa só. E é despertada no homem sempre que ele encontra aqueles valores que considera santos. Tudo mais cede caminho e torna-se subordinado a isso” (Harris Franklin Rali, em seu livro, Chrístianity, pág. 11).

Em contraste com o bom aprendiz, que firmou seus pés no caminho para cima, está o insensato, que tropeça ao longo de seu caminho de ignorância e negligência. Os insensatos vivem sem levar Deus em conta. Eles são corruptos e cada vez se corrompem mais. Também guiam outros pelo caminho errado. Tais homens desprezam a verdadeira sabedoria e fazem da vida uma cruzada de fazer dinheiro, ou a tentativa de alcançar algum outro alvo trivial.

Quando Deus, antigamente, desceu do céu, em poder e ira, os homens não Lhe deram atenção. Tais homens são ateus praticantes. Eles podem acreditar na existência de algum Ser Supremo, que vive em algum lugar, mas isso não faz diferença alguma em sua vida. Pois vivem como se Deus não existisse. Ver Sal. 14.1, que usa a palavra “insensato”, para caracterizar tais indivíduos.

CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1238.

Pv. 1.7. Depois da declaração de propósito extraordinariamente clara (1.2-6), o autor expressa no versículo 7 o tema principal de Provérbios e o princípio fundamental da religião revelada. Este é o versículo-chave e contém a palavra-chave de todo o livro — sabedoria. O temor do Senhor é uma expressão comum nas Escrituras, especialmente em Salmos e Provérbios. Esse temor não é o medo subserviente do castigo, mas o temor que se expressa em reverência e admiração. E “um temor reverente e adorador” (AT Amplificado). Rylaarsdam diz: “Temer a Deus não é ter medo dele, mas colocar-se diante dele em admiração, visto que o significado de tudo e o destino de todas as pessoas são determinados por aquilo que Deus é e faz”.

Acerca de uma expressão semelhante em Salmos 111.10, Davies diz: “O temor do Senhor nas Escrituras não significa somente aquela paixão piedosa ou a reverência filial ao nosso adorável Pai que está no céu, mas com frequência se transforma em religião prática [...] implica todas as graças e todas as virtudes do cristianismo; em resumo, toda aquela santidade de coração e de vida que é necessária para se desfrutar da felicidade eterna”.

A palavra Senhor é significativa nesse versículo-chave. E o termo usado na tradução portuguesa do nome hebraico de Deus que foi revelado ao povo de Israel (Êx 3.13-15). Esse nome era constituído de quatro consoantes, YHWH, e provavelmente se pronunciava Yahweh (Javé). Esse foi o Deus que havia se revelado ao seu povo Israel e lhe tinha dado um sentido especial de destino entre as nações da terra.

O princípio, “ponto de começo” ou “parte principal”, sugere mais do que uma posição cronológica. E a “parte principal e mais importante do conhecimento — isto é, o seu ponto de partida e a sua essência” (AT Amplificado). Kidner diz: “O princípio (isto é, o princípio primeiro e controlador, e não um estágio que uma pessoa deixa para trás; cf. Ec 12.13), não é meramente um método de pensamento correto, mas um relacionamento correto; é a submissão (temor) adoradora ao Deus da aliança que se revelou”.6

Os loucos desprezam a sabedoria. Esses loucos são os que rejeitam as orientações divinas para a vida e trilham o caminho da impiedade. O seu caminhar obstinado é contrário ao caminhar do homem de sabedoria e de bondade. O louco, no sentido usado em Provérbios, não é meramente um sujeito simplório. “Os loucos zombam do pecado” (Pv 14.9). O louco é espiritualmente rebelde, indiferente aos conselhos divinos e que rejeita o temor do Senhor.7 Jesus retratou esse tipo de pessoa quando chamou de louco o homem que não observava os seus ensinos (Mt 7.26-27).

Nesse versículo-chave podemos ver: “As Exigências de Deus para uma Vida Santa”. E necessário haver: 1) o relacionamento correto com Deus — o temor do Senhor; 2) o discipulado contínuo — o princípio da ciência (sabedoria); e 3) o respeito pelas orientações divinas — somente loucos desprezam a sabedoria e a instrução. Precisa haver a iniciação da nossa caminhada com Deus, a continuação da comunhão redentora e a aplicação dos nossos corações à disciplina da instrução divina.

EARL C. WOLF. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 3. pag. 360-361.

“Temor do Senhor” (1.7). Esse versículo chama o temor do Senhor de “o principio da sabedoria”, Um comentário rabínico sobre Provérbios nos adverte que o temor aqui não é medo, mas “reverência a Deus expressa em submissão à Sua vontade”. Isso é de fato o sentido básico do “temor do Senhor” por todo o A l , onde poderia frequentemente ser traduzido por “respeito reverente” ou mesmo “fé”. O comentário corretamente observa que “Deus é o Criador do Universo e da vida. E, consequentemente, impossível obter um entendimento do lugar do homem, no desígnio e propósito do viver, sem um humilde acesso a Ele.” Mas por que é o temor de Deus o “princípio” ou ponto de partida? Por causa da convicção de que Deus é - e deve ser reconhecido — a única porta que abre para a verdadeira sabedoria. Somente quando tudo é orientado para o Senhor, o verdadeiro conhecimento moral ou a sabedoria podem ser obtidos.

RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. pag. 387.

O lema

  1. 7. O conselho de Provérbios está resumido nesse lema tão conhecido. O temor (yir’ãh) do Senhor, como Provérbios vai nos ensinar, não é um pavor aterrador, mas um relacionamento de reverência, transparência e obediência que traz força e vida (14.26, 27) e é o fundamento (principio [Gn 1.1], “base”, e não começo) de uma cosmovisão coerente e digna do título conhecimento. Mas os insensatos abraçam tudo que é contrário a esse relacionamento encorajador e fortalecedor.

Eles são classificados em três tipos em Provérbios (kestl, ’ewil como aqui, e nãbãl), mas todos são caracterizados por obstinação e pela determinação insolente de não dar ouvidos à sabedoria dos outros ou à ordem de Deus. desprezam', esse verbo resume a sua atitude; se procurarmos a palavra “desprezar” numa concordância, vamos descobrir exatamente o tipo de pessoas que Provérbios tem em mente (Esaú, Gn 25.34; Mical, 2Sm 6.16; Sambalate, Ne 2.19; Amã, Et 3.6).

CHARLES G. MARTIN. Comentário Bíblico NVI. Editora Vida. Livro de Eclesiastes. pag. 910.

1.7 — O temor do Senhor é o ingrediente mais básico da sabedoria, uma virtude que só pode ser alcançada quando se conhece Deus e submete-se à Sua vontade. Ter conhecimento sobre algo e nenhum de Deus aniquila o valor de possuir esse conhecimento. Só os loucos rejeitaram o temor ao Senhor.

O verbo desprezar tem uma forte carga negativa e dá mais peso ao fato de que não temer a Deus equivale a rejeitar toda sabedoria (Dn 11.32; Jo 17.3).

EarI D. Radmacher: Ronald B. Allen: H. Wayne House. O Novo Comentário Bíblico Antigo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel. pag. 950-951.

fonte estudaalicao.blogspot.com

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