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Liderança cristã Pastor Pastoral
Liderança cristã Pastor Pastoral

                                  LIDERANÇA CRISTÃ PASTORAL 

 

Na obra "Ministério Pastoral: Alcançando a excelência no ministério cristão", do pastor norte- americano John Macarthur, Jr., editada pela CPAD; o autor relata este comentário: "Reconhecemos essas tendências alarmantes, crendo que as decisões tomadas nesta década reprogramarão a igreja evangélica até boa parte do século 21. Assim, a futura direção da igreja é uma preocupação preeminente e legítima. Sem dúvida, a igreja enfrenta um momento decisivo. O verdadeiro contraste entre os modelos ministeriais concorrentes não é o tradicional versus o contemporâneo, mas o bíblico e o não-bíblico" (p.22).

A que tendências alarmantes, M.acarthur se refere? A oito respostas que emergiram de uma pesquisa realizada por John Seel, em 1995, nos Estados Unidos. Elas foram dadas por 25 líderes evangélicos de renome que foram entrevistados pelo pesquisador.

Dentre oito principais respostas surgidas na pesquisa (identidade incerta; desilusão institucional; falta de liderança; pessimismo em relação ao futuro; crescimento positivo, impacto negativo; isolamento cultural; solução política e metodológica como resposta), a que chama mais atenção é a "troca de orientação bíblica pela pesquisa de mercado no ministério". Não por acaso, se vê muitos seminários teológicos trocando disciplinas fundamentais para uma sólida formação de um obreiro, como o hebraico, o grego, a hermenêutica, a exegese etc., por aquelas que enfatizam a gestão, a forma de crescimento de uma igreja local nos parâmetros do marketing e das estratégias meramente empresariais. Aqui, é à hora de a igreja fazer uma profunda reflexão sobre "Que modelo de ministério pastoral se quer exercer nos próximos anos?"

Com intuito de deixarmos em aberto esta reflexão, porque o espaço não permite irmos além, solicitamos ao prezado professor meditar nesta semana em todos os textos bíblicos possíveis - use as concordâncias bíblicas, dicionários bíblicos e bons comentários para lhe auxiliarem - em que Jesus aparece como o "Bom Pastor" de ovelhas. Em seguida, procure responder, à luz dos quatro Evangelhos, as seguintes perguntas: Qual o modelo ministerial de pastorado que o Senhor Jesus espera encontrar nos seus discípulos? Que molde de liderança se acha no agir de Jesus de Nazaré? É possível implantar esse ideal hoje? Qual seria o impacto para a igreja e a sociedade? Boá aula!

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

De todos os dons ministeriais, certamente o dom de pastor é o mais difícil de ser exercitado. Ao mesmo tempo, é o mais desejado por aqueles que almejam exercer o ministério, na Igreja do Senhor Jesus. Em todos os tempos, a função pastoral foi complexa e alvo das forças contrárias ao rebanho espiritual, constituído dos salvos por Cristo. Sem dúvida alguma, nos dias presentes, em pleno século XXI, ser pastor não é missão fácil, não obstante os recursos existentes, em termos humanos, técnicos e financeiros.

Os primeiros pastores, no Novo Testamento, em geral, pagaram com a vida pelo fato de representarem a Igreja de Jesus. As forças infernais, usando os sistemas religiosos, políticos, econômicos e sociais, investiram pesadamente contra os que foram levantados como líderes, nos primórdios da Igreja. Tiago, “irmão de João”, foi morto por Herodes, para satisfazer a sede de sangue dos judeus fanáticos, que não entenderam a missão de Cristo e de seus seguidores. Pedro foi preso com o mesmo destino, para ser morto, num espetáculo macabro, que agradaria aos inimigos do evangelho de Cristo. Mas foi poderosamente liberto do cárcere, por intervenção direta de Deus, que enviou seu anjo para salvá-lo da morte programada e continuar sua missão (At 12.11).

Eles eram pastores, apóstolos, evangelistas e líderes da Igreja, em seus primeiros dias, após a Ascensão de Jesus. Pedro e João foram presos por terem sido instrumentos de Deus para a cura de um coxo de nascença, posto à porta do templo. E foram libertos para proclamarem o evangelho de Jesus (At 3.1-6; 4.1-21). De modo geral, segundo a tradição e a história da Igreja, somente João Evangelista teve morte natural, alcançando extrema velhice, após passar por sofrimentos atrozes. Os demais apóstolos de Jesus tiveram morte trágica, nas mãos dos sanguinários inimigos da fé.

Nos primeiros séculos, a perseguição aos servos de Deus foi cruel. “As perseguições só cessaram, quando Constantino (272-337 d.C.), imperador de Roma, tornou-se cristão. Seguiu-se uma era de crescimento numérico do Cristianismo, embora, nem sempre, acompanhado de autenticidade e genuíno testemunho cristão. A mistura entre a Igreja e o Estado trouxe enormes prejuízos à ortodoxia neotestamentária”.

Os regimes ditatoriais do nazismo, do fascismo e do comunismo, sempre procuraram destruir os pastores das igrejas cristãs. Cientes de que, mortos os líderes, os fiéis sempre se dispersariam e abandonariam sua fé. Mas cometeram grave engano. Quanto mais os cristãos foram mortos, mais seu sangue serviu para regar a sementeira do evangelho. Jesus disse que “as portas do inferno” não prevaleceriam contra a sua Igreja (Mt 16.18). Pastores foram presos, torturados e mortos. Mas a Igreja de Jesus segue sua marcha triunfal, em direção ao seu destino, que é chegar aos céus, na vinda de Jesus, e reinar com Ele sobre as tribos de Israel (Mt 19.28) e sobre as nações (Ap 20.6).

Nos dias atuais, ser pastor não é absolutamente tarefa fácil, para quem deseja exercer o ministério com fidelidade e sacrifício. As oposições externas e internas, muitas vezes, perturbam as atividades do pastor. Dessa forma, o dom ministerial de pastor precisa muito da graça e da unção de Deus para que seus detentores não fracassem espiritual, emocional ou fisicamente. Necessitam muito das orações, da compreensão, do apoio e do amor dos crentes em Jesus. Vamos refletir sobre a função pastoral, com base no que a Palavra de Deus nos revela sobre essa importante missão.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 105-106.

At 20.28 “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.”

Nenhuma igreja poderá funcionar sem dirigentes para dela cuidar. Logo, conforme 14.23, a congregação local, cheia do Espírito, buscando a direção de Deus em oração e jejum, elegiam certos irmãos para o cargo de presbítero ou bispo de acordo com as qualificações espirituais estabelecidas pelo Espírito Santo em 1Tm 3.1-7; Tt 1.5-9 (ver o estudo QUALIFICAÇÕES MORAIS DO PASTOR). Na realidade é o Espírito que constitui o dirigente de igreja. O discurso de Paulo diante dos presbíteros de Éfeso (20.17-35) é um trecho básico quanto a princípios bíblicos sobre o exercício do ministério de pastor de uma igreja local.

PROPAGANDO A FÉ. (1) Um dos deveres principais do dirigente é alimentar as ovelhas mediante o ensino da Palavra de Deus. Ele deve ter sempre em mente que o rebanho que lhe foi entregue é a congregação de Deus, que Ele comprou para si com o sangue precioso do seu Filho amado (cf. 20.28; 1Co 6.20; 1Pe 1.18,19; Ap 5.9). (2) Em 20.19-27, Paulo descreve de que maneira serviu como pastor da igreja de Éfeso; tornou patente toda a vontade de Deus, advertindo e ensinando fielmente os cristãos efésios (20.27). Daí, ele poder exclamar: “estou limpo do sangue de todos” (20.26; ver nota). Os pastores de nossos dias também devem instruir suas igrejas em todo o desígnio de Deus. Que “pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2) e nunca ministrar para agradar os ouvintes, dizendo apenas aquilo que estes desejam ouvir (2Tm 4.3).

GUARDANDO A FÉ. Além de alimentar o rebanho de Deus, o verdadeiro pastor deve diligentemente resguardá-lo de seus inimigos. Paulo sabe que no futuro Satanás levantará falsos mestres dentro da própria igreja, e, também, falsários vindos de fora, infiltrar-se-ão e atingirão o rebanho com doutrinas antibíblicas, conceitos mundanos e idéias pagãs e humanistas. Os ensinos e a influência destes dois tipos de elementos arruinarão a fé bíblica do povo de Deus (ver o estudo FALSOS MESTRES). Paulo os chama de “lobos cruéis”, indicando que são fortes, difíceis de subjugar, insaciáveis e perigosos (ver 20.29 nota; cf. Mt 10.16). Tais indivíduos desviarão as pessoas dos ensinos de Cristo e os atrairão a si mesmos e ao seu evangelho distorcido. O apelo veemente de Paulo (20.28-31) impõe uma solene obrigação sobre todos os obreiros da igreja, no sentido de defendê-la e opôr-se aos que distorcem a revelação original e fundamental da fé, segundo o NT.

(1) A igreja verdadeira consiste somente daqueles que, pela graça de Deus e pela comunhão do Espírito Santo, são fiéis ao Senhor Jesus Cristo e à Palavra de Deus (ver o estudo A INSPIRAÇÃO E A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS). Por isso, é de grande importância na preservação da pureza da igreja de Deus que os seus pastores mantenham a disciplina corretiva com amor (Ef 4.15), e reprovem com firmeza (2Tm 4.1-4; Tt 1.9-11) quem na igreja fale coisas perversas contrárias à Palavra de Deus e ao testemunho apostólico (20.30).

(2) Líderes eclesiásticos, pastores de igrejas locais e dirigentes administrativos da obra devem lembrar-se de que o Senhor Jesus os têm como responsáveis pelo sangue de todos os que estão sob seus cuidados (20.26,27; cf. Ez 3.20,21). Se o dirigente deixar de ensinar e pôr em prática todo o conselho de Deus para a igreja (20.27), principalmente quanto à vigilância sobre o rebanho (20.28), não estará “limpo do sangue de todos” (20.26, ver nota; cf. Ez 34.1-10). Deus o terá por culpado do sangue dos que se perderem, por ter ele deixado de proteger o rebanho contra os falsificadores da Palavra (ver também 2Tm 1.14 nota; Ap 2.2 nota).

(3) É altamente importante que os responsáveis pela direção da igreja mantenham a ordem quanto a assuntos teológicos doutrinários e morais na mesma. A pureza da doutrina bíblica e de vida cristã deve ser zelosamente mantida nas faculdades evangélicas, institutos bíblicos, seminários, editoras e demais segmentos administrativos da igreja (2Tm 1.13,14).

(4) A questão principal aqui é nossa atitude para com as Escrituras divinamente inspiradas, que Paulo chama a “palavra da sua graça” (20.32). Falsos mestres, pastores e líderes tentarão enfraquecer a autoridade da Bíblia através de seus ensinos corrompidos e princípios antibíblicos. Ao rejeitarem a autoridade absoluta da Palavra de Deus, negam que a Bíblia é verdadeira e fidedigna em tudo que ela ensina (20.28-31; ver Gl 1.6 nota; 1Tm 4.1; 2Tm 3.8). A bem da igreja de Deus, tais pessoas devem ser excluídas da comunhão (2Jo 9-11; ver Gl 1.9 nota).

(5) A igreja que perde o zelo ardente do Espírito Santo pela sua pureza (20.18-35), que se recusa a tomar posição firme em prol da verdade e que se omite em disciplinar os que minam a autoridade da Palavra de Deus, logo deixará de existir como igreja neotestamentária (ver 12.5 nota; ver o estudo A IGREJA).

STAMPIS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

I - JESUS, O SUMO PASTOR

  1. Jesus é o pastor supremo.

JESUS É O PASTOR SUPREMO

O Pastor dos pastores. O escritor aos Hebreus denomina Jesus Cristo de “o grande Pastor das ovelhas” (Hb 13.20). Só ele merece a qualificação de “grande”. No seu nascimento, marcado pela humildade e despojamento de sua glória, Jesus foi chamado de “grande”, na mensagem do anjo a Maria (Lc 1.32). Nenhum pastor, nas igrejas locais, deve aceitar o título de “grande”, pois só Jesus o merece. Ele é grande em todos os aspectos que se possam considerar em relação à sua pessoa. Podemos refletir sobre o porquê Ele é chamado “grande”.

Primeiramente, porque Ele é Deus! Todos os fundadores de religiões pereceram e seus restos mortais jazem sob a tumba fria. Em seus túmulos consta a inscrição “aqui jaz” fulano ou sicrano. No túmulo de Jesus, há uma inscrição diferente e gloriosa: “Ele não está aqui porque ressuscitou” (Mt 28.6; Mc 16.6). Se Jesus houvesse sido um homem comum, mortal, jazeria no túmulo como Buda, Maomé, Alan Kardec e outros fundadores de religiões ou de seitas. Mas Jesus é Deus. Como tal, venceu todos os poderes cósmicos, espirituais, humanos e físicos. E, por fim, vitorioso, venceu a morte!

ELE É A PORTA DAS OVELHAS

Em segundo lugar, Jesus é o grande pastor das ovelhas, porque ele é “a porta das ovelhas” (Jo 10.7). Em termos espirituais, as ovelhas ou os salvos em Cristo só podem chegar ao céu, na presença de Deus, através de Cristo, de seus ensinos, de seu exemplo marcante, que deixou para todos os pastores e crentes de todas as idades. Ele disse que era “o Bom Pastor”, que dá a vida por suas ovelhas e as conhece pelo nome (Jo 10.11, 14).

Para entrar no seu redil, o pecador tem que arrepender-se, crer em sua Palavra, e segui-lo (Jo 10.9). Não pode entrar, saltando os muros. O Adversário é “ladrão e salteador”, porque não entra pela porta das ovelhas. Ele, e somente Ele, dá acesso ao homem à presença de Deus. Jesus é ao mesmo tempo, “a porta”, “o caminho e a verdade e a vida”. E declarou: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 107.

Foi na qualidade de grande Pastor que Jesus deu sua vida pelas ovelhas; e por esse ato estabeleceu, para sempre, sua reivindicação como o Pastor de seu povo. Ê igualmente essa reivindicação que garante que ele não perderá a qualquer dos seus, mas antes, os ressuscitará no último dia (conferir o décimo quinto capítulo do evangelho de João)». (Dods in loc.).

«Deus de paz, significa que Deus salva e dá bem-aventurança (ver Heb. 12:11). A ‘paz’ deve ser entendida no sentido pleno do A.T., isto é, de prosperidade segura, obtida pelo triunfo messiânico sobre poderes hostis da maldade. (Comparar com Heb. 2:14 e 7:2)». (Moffatt, in loc.). (Ver as palavras do próprio Cristo sobre essa questão do pacto, em Marc. 14:24; Mat. 26:28 e Luc. 22:20).

«O Senhor Jesus se tornou, devido ao seu trabalho medianeiro, o grande Pastor das ovelhas, em virtude daquele pacto que foi inaugurado por seu sangue, e em virtude do seu sangue é que ele foi levantado dentre os morta como o grande Pastor, tendo subido até à mão direita do Pai».

«...ovelhas...» Porquanto são conduzidas pelo Pastor, precisam de seus cuidados e em si mesmas são impotentes, tomando-se inofensivas; tal como as ovelhas, as almas remidas são expostas a grandes perigos, que somente um hábil pastor pode desviar. Elas dependem dele para sua alimentação segurança; suas vidas dependem totalmente de Cristo.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 667.

Ele oferece suas orações por eles a Deus, estando disposto a fazer por eles o que esperava que eles fizessem por ele: “Ora, o Deus de paz...” (v. 20). Nessa excelente oração, observe: 1 .0 título dado a Deus - o Deus de paz, que descobriu um caminho de paz e reconciliação entre Ele mesmo e os pecadores, e que ama a paz na terra e especialmente nas suas igrejas. 2. A grande obra atribuída a Ele: Ele “...tomou a trazer dos mortos o nosso Senhor Jesus Cristo”. Jesus ressuscitou pelo seu próprio poder; e, contudo, o Pai estava interessado nisso, atestando com isso que a justiça foi satisfeita, e a lei, cumprida.

Ele ressuscitou para nossa justificação; e esse poder divino pelo qual Ele foi ressuscitado é capaz de fazer tudo de que temos necessidade. 3. Os títulos dados a Cristo – nosso Senhor Jesus, nosso Soberano, nosso Salvador, e o grande pastor das ovelhas, prometido em Isaías 40.11, declarado por Ele mesmo que o era (Jo 10.14,15). Os ministros são co-pastores, Cristo é o grande pastor. Isso denota o seu grande interesse pelo seu povo. Eles são o rebanho do seu pastoreio, e o seu cuidado e preocupação são por eles. 4. A forma e o método em que Deus se reconcilia, e Cristo ressuscita dos mortos: “...pelo sangue do concerto eterno”. O sangue de Cristo satisfez a justiça divina, e assim gerou a libertação de Cristo da prisão da morte, como tendo pago a nossa dívida, de acordo com um concerto ou acordo eterno entre o Pai e o Filho; e esse sangue é a sanção ou o selo de um concerto eterno entre Deus e o seu povo.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 821.

No Antigo Testamento, o título de pastor era conferido tanto aos guardiães de ovelhas como aos dirigentes do povo de Israel. No Novo Testamento, porém, este título é transferido para nosso Senhor Jesus Cristo, de uma maneira nova e sem igual.

  • O bom Pastor: “Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11);
  • O grande Pastor: “Ora, o Deus de paz, que pelo sangue do concerto eterno tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande Pastor das ovelhas” (Hb 13.20);
  • Pastor e Bispo: “Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas, agora, tendes voltado ao Pastor e Bispo da vossa alma” (I Pe 2.25);
  • O Sumo Pastor: “E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória” (I Pe 5.4).

Estes títulos conferidos ao Senhor Jesus o distinguiam totalmente daqueles que apenas arrogavam-nos para si, mas que na verdade não o eram. Jesus pronunciou este discurso sobre ovelhas e pastor logo após ter visto uma “pobre ovelha” (o cego que tinha sido curado por Jesus próximo ao tanque de Siloé) sendo expulsa do redil judaico por aqueles que, aos olhos do povo, eram de fato os pastores (Jo 9.34). Cristo, então, mostra-nos aqui sua ternura e benevolência. A missão de nosso Senhor, quando esteve aqui entre nós, foi servir à vontade divina e à necessidade humana; por isso se apresentou como sendo o bom Pastor, dizendo ainda: “Eu... conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” (Jo 10.14).

Severino Pedro Da Silva. Epistola aos Hebreus coisas novas e grandes que Deus preparou para você. Editora CPAD. pag. 283-284.

  1. O pastor conhece as suas ovelhas.

Ele disse: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” (Jo 10.14). Jesus cuida de seus servos, como um bom pastor cuida de suas ovelhas. Ele não vê apenas o “rebanho”, ou a Igreja, que é predestinada, coletivamente, para a salvação (Jo 1.5,11). Ele vê cada um dos seus servos, sabe o nome de cada um, ainda que sejam milhões e milhões, em todo o mundo, ao longo da História. Ele sabe o que cada um pensa ou diz (SI 139.1-4).

As ovelhas de Jesus o conhecem. No relacionamento espiritual entre os crentes e o Senhor Jesus, através da comunhão constante, o servo de Deus não se engana com a voz do seu Pastor.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 109.

Jo 10.14,15 Da mesma forma que o pastor chama as suas ovelhas, e elas seguem somente a ele, assim Jesus conhece o seu povo. Os seus seguidores, por sua vez, o conhecem como seu Messias, e eles o amam e confiam nele. Tal conhecimento e confiança entre Jesus e seus seguidores é comparado ao relacionamento entre Jesus e o Pai: “Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai”. E Jesus repetiu este ponto - que Ele é o Bom Pastor, e que Ele dá a sua vida pelas ovelhas.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 550.

Primeiramente, só existe uma entrada verdadeira para o curral. Aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador (1). O motivo e o método de abordagem do rebanho marcam as diferenças entre o ladrão e o pastor. O pecado e os seus agentes querem enganar e destruir, ao passo que o Bom Pastor (14) dá a sua vida pelas ovelhas (15).

Em segundo lugar, existe o Bom Pastor (11), que entra no aprisco pela porta — Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas (2). A palavra pastor é anarthrous em grego, e consequentemente “fixa a atenção no caráter, como algo distinto da pessoa”. “O pastor não é um exemplo na parábola, ele é o exemplo; e é sobre a descrição do seu comportamento que se apoia a narrativa, para que a atenção dos leitores possa se concentrar ali. Não somente as ovelhas são as suas próprias ovelhas; não apenas ele tem toda a autoridade para aproximar-se delas; não apenas ele chama as suas ovelhas pelo nome; não apenas elas ouvem a sua voz, mas ele as traz para fora e, quando faz sair todas as suas ovelhas, vai diante delas, e elas o seguem”.

Em terceiro lugar, Ele é o Criador da nova sociedade de crentes, i.e., daqueles que creem nele. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas e as traz para fora. E, quando tira para fora as suas ovelhas, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz (3-4). A menção do porteiro ou guarda do portão é incidental na história. Mas uma coisa é importante. Existe um relacionamento entre o Pastor e as ovelhas que se baseia na natureza do Pastor — a sua voz, o seu conhecimento das ovelhas, a sua liderança, a sua orientação. Estas palavras devem ter significado muito para o homem que tinha sido curado da sua cegueira, e que fora excomungado da sua sinagoga (9.34) e expulso da sua família. Agora, ele era um membro da nova sociedade, um seguidor do Bom Pastor. A palavra usada para tirar para fora é a mesma traduzida como “expulsar” em 9.34. Assim, realmente, ser expulso, sob o ponto de vista de Deus, é ser chamado para fora. Assim é a ekklesia (lit., “os chamados para fora”), a Igreja, a nova sociedade.

Em quarto lugar, aqueles que pertencem a esta nova sociedade, a Igreja, são submissos a uma única voz, ...porque conhecem a sua voz. Mas, de modo nenhum, seguirão o estranho; antes, fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos (4-5). Existe uma gloriosa exclusividade em ser um membro do rebanho de Cristo — existe somente uma voz, um caminho, uma vontade que realmente importa. Em uma época de uma vida excessivamente complexa, o caminho garantido para a paz de espírito, para o enfoque nos propósitos corretos, e o comprometimento significativo é encontrado quando reconhecemos somente a sua voz. Esta “audição seletiva” é uma proteção não somente contra a heterodoxia, mas também contra a desintegração da personalidade (cf. 14-15). Thomas R. Kelly chama isto de “orientação habitual de todo o ser para aquele que é o Foco”.

Joseph H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 96.

“Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10.1-16). O “bom pastor” é uma designação singular, pois enfatiza que a disposição do pastor de morrer pelas suas ovelhas.

Um “mercenário” — e aqui Jesus se refere aos líderes religiosos de Israel — cuida das ovelhas apenas enquanto é lucrativo ou seguro. O bom pastor, que valoriza cada uma das suas ovelhas, dará a vida por elas. Na verdade, é nisto, no dar a vida, que a bondade do pastor é estabelecida.

Parece tolo pensar em um homem disposto a morrer por meros animais, por maior que seja sua afeição por eles. Há uma distância muito maior entre Deus e seres humanos do que entre seres humanos e ovelhas! A maravilhosa bondade de Deus é plenamente demonstrada nesta maravilha: Jesus nos amou o suficiente para dar sua vida por nós.

Se alguma vez você se sentir como uma ovelha perdida, só e amedrontado em um mundo sóbrio e hostil, lembre-se do Bom Pastor. Você pode saber que Ele o ama porque Ele deu sua vida por você. Aquele que o amou tanto nunca irá abandoná-lo. Em Jesus você nunca, nunca está só.

Lawrence O. Richards. Comentário Devocional da Bíblia. Editora CPAD. pag. 686.-687.

Aqui Jesus aplica a parábola em mais outra maneira, de outro ponto de enfoque. Ele chama a si mesmo, com ênfase, o bom pastor, como o único que com toda justiça pode usar este nome. Neste sentido o nome só é aplicado a Cristo; ele é aquele único mais excelente pastor das ovelhas espirituais. O primeiro aspecto que o distingue como o verdadeiro pastor de almas é este, que ele dá sua vida, sua própria alma, como remissão, como aquele único sacrifício completo, pela culpa de todos os pecadores, que mereceram a eterna condenação. Ele se tornou o seu substituto; ele tomou sobre si as transgressões deles e morreu em lugar deles. Foi assim que os culpados, os pecadores, foram redimidos de pecado e destruição. Jesus, neste sentido, incidentalmente é um exemplo para todos quantos carregam o nome pastor como seus assistentes na grande obra. Ele também, tendo em vista este objetivo, se coloca em proposital contraste aos mercenários, os mestres falsos, os fariseus. Tais mercenários, cuja preocupação é o dinheiro e o desejo de gozar seu sossego em Sião, mas não têm interesse nas almas das pessoas confiadas ao seu cuidado. São tão só mercenários e só trabalham enquanto está assegurado seu viver e bem-estar. Ao primeiro sinal do lobo, diante da primeira indicação de real perigo, de provável perseguição, sofrimento, e, até, de martírio, fogem em precipitada corrida. O resultado é a dispersão e o assassinato das ovelhas pelos inimigos. Mas o mercenário não se preocupa; ele não tem qualquer preocupação, qualquer angústia, nenhum interesse, nas ovelhas. “Aquele que quer ser pregador, que ele ame de todo o coração o trabalho, que ele busque unicamente a hora de Deus e o bem-estar de seu próximo. Caso ele não busca só a glória de Deus e a salvação de seu próximo, mas, neste ofício, pensa sobre sua vantagem e dano, neste caso não precisas pensar que ele irá durar. Ele, ou fugirá envergonhado e abandonará as ovelhas, ou se calará e deixará as ovelhas sem pasto, isto é, sem a Palavra.

Mercenários são aqueles que pregam em favor de seu próprio benefício, que são cobiçosos, e não se querem satisfazer com o que Deus diariamente lhes concede como esmola. Pois, nós pregadores não devemos desejar mais de nosso ofício do que o plenamente suficiente. Aqueles que querem mais são mercenários que não se preocupam com o rebanho; enquanto isto um pregador piedoso por esta causa desistirá de tudo, até mesmo de seu corpo e sua vida.”11) O segundo aspecto que distingue Jesus como o bom pastor, em contraste aos demais, é o fato do relacionamento e conhecimento íntimo entre ele e suas ovelhas. Assim como Jesus conhece aqueles que são seus, tanto de corpo, como de alma e espírito, assim os cristãos conhecem a Jesus; seu coração, sua mente e sua vontade estão centrados em Jesus, repousam em Jesus. A expressão representa corretamente a íntima e cordial relação e comunhão de amor que há entre Cristo e seus verdadeiros discípulos. Esta intimidade e comunhão é tão estreita e envolvente como o é a que existe entre o Pai e o Filho. Seus corações e mentes estão abertas um ao outro; há uma mútua troca de pensamentos e ideias, que sempre são orientadas por maravilhoso amor.

Assim sucede também entre Cristo e seus fiéis. É devido ao conhecimento que Cristo tem do Pai e de sua vontade, que Jesus declara que entregará sua vida pelas ovelhas. O resgate é pago pelos pecados do mundo inteiro, mas só os fiéis têm o proveito da graça do Salvador, só eles obtém a graça do Pai. Cristo ainda tem outras ovelhas, que não são deste aprisco; ele conseguirá também dentre os membros de outras nações fora da judaica quem nele crê. Pois o Pai lhe deu da cada nação no mundo um grande número; eles são seus por desígnio e dom do Pai. Aqui Cristo declara que sua voz, por meio da palavra do evangelho, sairia aos povos de outra descendência e língua do que os judeus. É a obrigação da vontade divina que repousa sobre ele que o impulsiona para ganhar também a estes para o evangelho. E eles iriam ouvir, iriam obedecer sua voz no evangelho, e o resultado final seria um rebanho, composto de todos aqueles que aceitaram a salvação pelo sangue de Cristo, o único Pastor, o Filho do próprio Deus. “Mas nada é dito sobre uma união de organização. Pode haver vários apriscos, mas um rebanho.”12) Os sonhos do unionismo não encontram suporte nesta passagem. A “santa Igreja Cristã, a comunhão dos santos,” tem sido congregada no mundo desde a primeira proclamação do evangelho, e todos os verdadeiros cristãos em Cristo formam a grande igreja invisível. Aqui, porém, não uma só palavra para unir organizações eclesiásticas visíveis em um só corpo imenso e poderoso.

KRETZMANN. Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento Editora Concordia Publishing House.

Jo 10.3-5 Quando o pastor chegava, ele chamava as suas próprias ovelhas pelo nome. Pelo fato das ovelhas reconhecerem a voz de seu pastor, elas vêm e o seguem, e saem para pastar.

O aprisco das ovelhas do judaísmo continha algumas pessoas do povo de Deus que tinham esperado pela vinda de seu Pastor-Messias (veja Isaías 40.1-11). Quando o Pastor veio, judeus crentes reconheceram a sua voz e o seguiram. Dizem que os pastores no oriente podiam dar nome a cada ovelha e que cada ovelha respondia ao pastor que chamava pelo seu nome. Os crentes verdadeiros, como ovelhas pertencentes ao verdadeiro Pastor, jamais seguiriam um estranho que fingisse ser o seu pastor (5.43).

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 549.

 “Aquele... que entra pela porta é o pastor das ovelhas” (Jo 10.1-6). O contraste aqui não é entre Jesus e os líderes religiosos, mas entre Jesus e os falsos messias. Cristo veio a Israel pela porta identificada pelos profetas do Antigo Testamento. “O Espírito do Senhor Jeová está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano aceitável do Senhor” (Is 61.1-2).

Outros vieram pregando um furioso banho de sangue como retribuição contra os opressores de Israel. Eram falsos pastores, subindo por outra parte. Os falsos messias da história conservaram essa característica. Eles trariam o reino de paz de Deus por meios sangrentos e “libertariam” os oprimidos matando os opressores. Cuidado com tais pessoas. Você não ouvirá a voz de Jesus nos seus estridentes chamados à revolução.

“As ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10.4). Este tema é frequentemente repetido por Jesus. O relacionamento de um pastor oriental com suas ovelhas era pessoal. O pastor conhecia cada ovelha pelo nome, como um indivíduo. Ele conduzia, não simplesmente arrebanhava as ovelhas. As ovelhas também reconheciam o seu protetor e respondiam à sua voz. Sua audição era tão aguçada que se alguém tentasse imitar a voz dele, elas se assustavam.

Há outra implicação aqui também. A noite, geralmente quatro ou cinco rebanhos de ovelhas eram reunidos em uma área ou curral protegido. De manhã, quando um pastor chamava, suas ovelhas respondiam à sua voz e se separavam do rebanho! Era a resposta à voz do pastor que identificava suas ovelhas das centenas de outras, que poderiam parecer iguais a elas para o observador descuidado.

Hoje também aqueles que ouvem o evangelho e reconhecem nele a voz de Deus chamando-os respondem. E a nossa resposta a Jesus que nos identifica como suas ovelhas.

Lawrence O. Richards. Comentário Devocional da Bíblia. Editora CPAD. pag. 686.

Esta parábola também foi proferida no templo, pouco depois que Jesus encontrou o homem que estivera cego e havia proferido as palavras ameaçadoras aos fariseus sobre a cegueira espiritual. Aqui ele se refere a um aprisco de ovelhas, a um desses cercados ou currais para ovelhas. Este era um pátio com altas paredes de pedra para não deixar entrar animais selvagens como mais outros intrusos. Havia um portão ou porta que era vigiada por um porteiro. Agora Jesus afirma que qualquer pessoa que não procurasse o portão para entrar no curral, mas procurasse alguma outra maneira para atingir seu interior, bem por este sinal se evidenciava como um ladrão, cuja intenção é furtar ou mesmo assaltar, e que não hesitaria em usar violência. O pastor não necessita de tais esquemas e estratagemas. Ele se aproxima publicamente do portão do curral, e o vigia lhe abrirá a porta, pois conhece o pastor e sabe suas intenções. E quando o pesado portão foi aberto, o pastor só precisa erguer sua voz no chamado que as ovelhas conhecem muito bem, que as ovelhas responderão imediatamente. Ele tem um nome para cada ovelha que foi confiada, e elas são capazes de distinguir a este nome que foi chamado. Caso houver no curral vários rebanhos para o pernoite, as ovelhas de cada pastor irão responder só à voz de seu próprio pastor. E quando todas as ovelhas que pertencem ao seu rebanho foram colocadas para fora do curral, elas seguirão seu pastor que as dirige pelo caminho, indo o pastor à frente, como ainda é costume no oriente. Elas seguem sua voz, não suas vestes nem seu cachorro, como foi comprovado por testes confiáveis. As ovelhas têm um conhecimento tão certo do cuidado carinhoso do pastor, de sua maneira mansa e gentil de conduzir e guiá-las, que têm plena confiança nele. Mas, dum estranho as ovelhas sentem temor e fogem dele, visto que sua vos não lhes é familiar; não aprenderam a confiar nele como acontece com seu próprio pastor. Esta parábola é uma das mais belas histórias de Cristo completeza e detalhada correção do quadro, e a aplicação da parábola foi suficientemente óbvia. Mas, como sempre, os judeus não fizeram a mínima ideia da lição que o Senhor quis transmitir. O aprisco é em todos os tempos a igreja de Deus. As ovelhas são os membros do reino de Deus, os cristãos tanto do Antigo como do Novo Testamento, que colocam sua confiança na palavra de sua redenção por meio da obra do Messias. Mas os homens que devem ser seus pastores, seus líderes, desde tempos antigos, têm sido divididos em duas classes. Há aqueles que publicamente se aproximam da porta, que têm o chamado e a tarefa de tomar conta das almas que lhes foram confiadas, e que realizam seu chamado difícil de modo apropriado, com toda a fidelidade. Pois eles são assistentes do grande Pastor, Jesus Cristo, sendo a voz dele que por eles chama. Desta forma, as ovelhas ouvem a voz de Jesus na voz dos pastores fiéis, o que também reconhecem e sabem perfeitamente, o que também observam com prazer. E, se realmente são suas ovelhas, não prestam atenção à voz dos que tentam imitar a voz do verdadeiro Pastor, mas deles têm medo e os evitam. “Pois como ele disse sobre seu ofício que ele realiza por meio de sua palavra, ele também diz de suas ovelhas, como se devem comportar em seu reino, a saber, quando a porta se abriu para Ele, eles imediatamente ouvem sua voz e aprendem a reconhecê-la corretamente, pois ela é de fato a voz confortadora e cordial, pela qual eles, livres do terror e do medo, chegam à liberdade que possam esperar toda misericórdia e conforto de Deus em Cristo. E, tendo aceitado este Pastor, aderem só a ele em toda confiança e de nenhum outro ouvem os ensinos.”7) O ouvir espiritual das verdadeiras ovelhas de Cristo, que são os cristãos, rapidamente se torna tão sutil que sabem distinguir imediatamente entre o ensino verdadeiro e falso, e temerão e evitar a vos de estranhos. Serão capazes de julgar corretamente a doutrina, sem qualquer comando arbitrário duma hierarquia auto instituída. “A outra doutrina é que todos os cristãos têm poder e direito para julgar toda doutrina e se separar de falsos mestres e bispos e em não lhes obedecer. Pois aqui ouves que Cristo diz de suas ovelhas:... A um estranho não seguirão.... Pois, podendo eles julgar essas coisas, tem eles disso a regra que é estabelecida na palavra de Cristo, a saber que todos que não pregam a Cristo são ladrões e assassinos. Com esta afirmação é estabelecido o julgamento, de que já não qualquer necessidade de outro conhecimento mas em ser reconhecido por Cristo, e que devem a ele seguir este julgamento e, por isso, fugir e evitar a todos os tais, sem interessar que, quão grandes, e quantos são”8). Estes falsos pastores são caracterizados como aqueles que de alguma outra maneira sobem ao curral, mas não pela porta. Falsos mestres, que não têm chamado de Cristo, cuja doutrina falsa não tem direito para existir, não virão com o puro evangelho e com um chamado do qual podem atestar sua origem divina, mas farão uso de tramas e estratagemas para enganar as ovelhas e seduzi-los para que os ouçam. “Pois, o evangelho é tão delicado e precioso que não pode suportar qualquer adição ou doutrina de fora. As doutrinas espirituais que nos dizem como podemos chegar ao céu com jejuns, rezas, e outras obras semelhantes, são em si mesmas trilhos secundários que o evangelho não pode suportar; mas os oponentes as querem, por isso são ladrões e assassinos, pois ultrajam as consciências e abatem e assassinam as ovelhas.... Por isso um tal trilho é meu assassinato e morte.”9). Todos os mestres falsos são, segundo as Escrituras, ladrões e salteadores, e a presença deles é uma constante ameaça à igreja de Deus. “Eles, contudo, são chamados ladrões por esta razão, visto que secretamente furtam, e aparecem com atraentes palestras, como São Paulo afirma, Rm. 16. 18, numa grande ostentação, e também e verdadeiras vestes de ovelha, afirmam ter especial fidelidade e amor às almas, mas, incidentalmente tem esta marca, pela qual Cristo ensina que devem ser distinguidos, que não entram pela porta, mas sobem por outra maneira, isto é, como ele mesmo o expõe, vêm antes dele e sem ele, não indicam e não se referem a Cristo como o único Pastor e Salvador.

KRETZMANN. Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento Editora Concordia Publishing House.

  1. O pastor dá a vida pelas ovelhas.

Na vida pastoril, nos campos, os pastores cuidam das ovelhas para obterem delas o sustento para suas vidas. Eles não morrem pelas ovelhas. Mas Jesus, o Sumo Pastor, deu a sua vida pelos que nEle creem (Jo 10.1, 15). Na sua morte, aparentemente, o seu rebanho estaria destinado a ficar sem pastor. Mas, contrariando a lógica humana, Ele ressuscitou ao terceiro dia, vitorioso sobre a morte, sobre o inferno, sobre o Diabo e sobre todos os poderes do universo. Ele proclamou aos discípulos a sua onipotência: “É-me dado todo o poder no céu e na terra” (Mt 28.18).

O PASTOR QUE CUIDA DAS OVELHAS

O salmista Davi escreveu certamente o mais belo texto sobre a figura de Deus como nosso Pastor, o “Jeová Raá”, que, ao mesmo tempo, é o “Jeová-Jirê o Senhor que provê todas as coisas necessárias a seu povo. Ele se referia ao Deus Pai. E falava da ovelha que confia no seu Pastor. Porém todas as características do pastor do Salmo 23 aplicam-se a Jesus Cristo, “o bom Pastor” (Jo 10.11,14).

1) Não nos deixa faltar nada. No seu cuidado, Jesus não nos deixa faltar nada que seja essencial ou indispensável à nossa vida. O crente fiel sabe contentar-se com o que Deus lhe concede por sua infinita bondade (Fp 4.11-13). O que lhe falta, o Senhor lhe dá graciosamente, por sua bondade e por seu amor.

2) Os “verdes pastos” (SI 23. 2), São a figura do alimento espiritual que Jesus propicia à sua Igreja, através da ministração sadia da sua palavra. Os pastores verdadeiros alimentam a Igreja com a sã doutrina. As “águas tranquilas” falam da paz interior, que o Senhor concede aos que nele confiam. E a paz que Ele deixou para seus servos (Sl 23.2b; Jo 14.27); é a paz “que excede todo o entendimento” (l;p 4.7).

3) O refrigério da alma. Lembra o conforto que a presença de Deus nos concede, através do Espírito Santo, nosso “Consolador” (Sl 23.3; Jo 14.16, 17). Nas horas mais difíceis, quando não liá solução humana, o Bom Pastor nos conforta com sua graça e seu poder.

4) As “veredas da justiça”. São o caminhar reto e hei do crente salvo em Jesus (Sl 23.3b; Rm 5.19; 1 Pe 3.12), Quando o crente anda, seguindo o pastor Fiel, não comete injustiças.

5) A segurança da ovelha. Mesmo passando pelo “vaie da sombra da morte” (Sl 23.4), a presença do pastor dá segurança: “porque tu estás comigo” (Sl 23.4b). Jesus assegurou que estaria com seus servos, ainda que sejam “dois ou três” (Mt 18.20).

6) A mesa perante os inimigos. A mesa preparada para a ovelha, perante os inimigos e a unção com óleo (Sl 23.5), nos remetem à unção do Espírito Santo na vida do crente fiel (1 Jo 2.20, 27; Ef 5.18), concedendo-nos vitória sobre os inimigos que se levantam contra a nossa fé.

7) Bondade e misericórdia todos os dias. O Pastor do Salmo 23 concede “bondade e misericórdia” para que o crente fiel habite na casa do Senhor “todos os dias” da sua vida (Sl 23.6). Cristo nos faz ser “templo do Espírito Santo” (1 Co 6.19,20). Por todos esses paralelos de Cristo em relação a nós e o descrito no Salmo 23, podemos concluir que Jesus é o nosso Pastor por excelência.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 108-109.

Jo 10.11 Jesus é o Pastor zeloso e dedicado - o bom pastor. Como descrito nos versículos que se seguem, há quatro características que separam este Bom Pastor dos pastores falsos ou maus:

  1. Ele se aproxima diretamente - Ele entra pela porta.
  2. Ele tem a autoridade de Deus - o porteiro permite que Ele entre.
  3. Ele atende as necessidades reais – as ovelhas reconhecem a sua voz e o seguem.
  4. Ele tem amor sacrificial - Ele está disposto a dar a sua vida pelas suas ovelhas.

Repetindo isto quatro vezes, Jesus assinalou que o traço mais importante do bom pastor é que Ele dá a sua vida pelas ovelhas (10.11; veja também 15,17,18).

De acordo com a ilustração neste capítulo, a vida de um pastor poderia às vezes ser perigosa. Animais selvagens eram comuns nos campos da Judéia. Um bom pastor podia certamente arriscar a sua vida para salvar as suas ovelhas.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 550.

O propósito e o plano de Deus não são apenas salvar o homem da morte, da destruição, da culpa, mas também torná-lo santo, “conforme a imagem do seu Filho” (Rm 8.29). Tal propósito só pode ser atingido de uma maneira; por meio da morte voluntária de Jesus. Simplesmente por ser o bom pastor, Ele dá a sua vida pelas ovelhas (11). Literalmente, o bom pastor pode ser traduzido como “O Pastor, aquele que é bom”. A sua bondade é tão grande que Ele não encontra comparação — não existe Pastor como Ele. Alguns levantaram a questão de como Cristo pode ser ao mesmo tempo a Porta e o Pastor. Mas isto significa estar limitado pelos detalhes da parábola, porque Ele certamente é a Porta do aprisco, a única Entrada para a vida, e Ele é o Pastor das ovelhas, o Único que se preocupa o suficiente para dar a sua vida pelas ovelhas (cf. 6.51).

Joseph H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag. 97-98.

Jo 10.10-13. As intenções de um ladrão diante das ovelhas são inteiramente más; os planos do bom pastor são totalmente bons. Ele deseja e providencia o bem-estar das ovelhas; ele não se contenta com que elas tenham uma existência de privações e miséria; ele quer que elas vivam plenamente a sua vida, tenham bastante pasto bom e gozem de boa saúde. (É diffcil traduzir kalos de kalos poimên por qualquer outro adjetivo a não ser bom ele forma um contraste bastante óbvio com o “pastor inútil, que abandona o rebanho”, de Zc 11.17). O pastor prova ser bom porque se preocupa em primeiro lugar com o bem-estar das ovelhas, não com o seu. Ele até arrisca a sua vida para salvar a delas; provavelmente é este o sentido do verbo tithêsin ("expor”) substituído pela variante didõsin (dá). Afinal, elas são suas ovelhas; ele as trata visando o bem delas.

O mercenário não tem más intenções, como o ladrão ou salteador, mas não tem interesse pessoal pelas ovelhas do pastor verdadeiro. Ele toma conta delas em troca do seu salário; ele faz sua obrigação muito bem em tempos normais, mas quando há perigo ele está mais preocupado com a sua segurança do que com a das ovelhas. Ele não se disporá a arriscar sua vida para defende-las do lobo que as espreita, como o pastor de verdade. Não podemos dizer com certeza se o mercenário ou o lobo correspondem a personagens da situação da qual Jesus está falando; talvez os ouvintes tenham tirado suas próprias conclusões em relação a isto. Mas não há dúvidas quanto a quem é o bom pastor.

  1. F. BRUCE. João. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 196-197.

Jo 10.11 Na sequência, a explicação da parábola volta-se da ―porta‖ para o próprio ―pastor‖. Novamente ressoa o poderoso autotestemunho de Jesus: ―Eu sou o pastor, o bom.‖ Com uma longa e dolorosa paciência Deus havia observado os pastores incompetentes, sim os maus pastores, negligenciar e destruir seu povo. Ele havia prometido que cuidaria pessoalmente de seu rebanho. Agora ele o cumpre. Chegou ele, o único, o verdadeiro ―bom‖ pastor. Jesus afirma: ―Eu sou‖ aquele para o qual apontam todas as profecias do bom pastor. ―Eu sou‖ aquele em quem se concretiza definitivamente a figura do pastor, a antiga metáfora do reinado em Israel. Em mim se cumpriu Ezequiel 34.11-16 e Isaías 40.11. Que terrível cegueira, quando os dirigentes de Israel não reconhecem isso, repudiando esse cumprimento das promessas de Deus!

O ―bom pastor‖ possui uma única marca incondicional. ―O bom pastor empenha a sua alma pelas ovelhas.‖ A vida dos ―ladrões e assaltantes‖ é regida pela regra do ser natural: ―Para nós mesmos.‖ Sobre a vida de Jesus brilha a poderosa palavra ―pelas ovelhas‖. Por que o Verbo eterno abandonou o lugar junto do Pai na glória? Por que o Verbo se tornou ―carne‖ e partilhou toda a nossa existência? Por que o Logos se torna o Servo de Deus, que sofre, verte sangue e morre? Há somente uma resposta: Pelas ovelhas, por nós! Ao ouvi-lo, acostumamo-nos com a formulação: ―O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.‖ Nessa forma a palavra é mantida também por traduções mais recentes. Igualmente está correto que o termo hebraico ―néphésh‖, em grego ―psyché‖, não se refere à ―alma‖ em sentido dogmático ou filosófico restrito, mas visa designar a ―vitalidade‖ de um ser, motivo pelo qual também pode ser traduzida por ―vida‖. Por outro lado, porém, não constam aqui, para a palavra ―vida‖, nem ―bios‖ nem ―zoé‖, como o leitor é levado a supor pela tradução usual. A verdade é que o texto grego traz ―psyché‖ = ―alma‖. Contudo, também para o conteúdo da afirmação a tradução não é indiferente. ―Dar a vida‖ evoca de forma unilateral, essencialmente passiva, apenas o morrer. Então parece que Jesus teria sido esse bom pastor apenas nas horas de sua morte. No entanto, quando João exorta em 1Jo 3.16 que nós também devemos ―dar a vida pelos irmãos‖, ele com certeza não pensou que todos os cristãos devem morrer reciprocamente uns pelos outros. Ele se refere ao ―empenho da vida‖ toda, o engajamento de toda a ―alma‖, que deve e pode acontecer sem cessar em nossa convivência no amor. Foi assim que também E. M. Arndt compreendeu a palavra, acolhendo-a numa tradução literal em seu hino: ―Quem toda a alma empenhou, receberá a coroa.‖ Para um empenho desses a morte pode ser a consumação extrema. É isso que acontece com o ―bom pastor‖ Jesus em sua morte na cruz. Contudo, o empenho de sua alma significa incessantemente toda a sua vida e atuação. O empenho de sua vida pelas ovelhas acontece precisamente também na acalorada luta que ele está travando agora diante de nossos olhos em favor das ovelhas mal-dirigidas contra seus sedutores, contra esses ―ladrões e assaltantes‖.

Werner de Boor.. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica Esperança.

Jo 10. 14/15 Mais uma vez Jesus testifica ―Eu sou o bom pastor‖. Agora, porém, ele ressalta na figura do pastor um aspecto que já era central na descrição dos v. 2-5: O ―conhecer‖ recíproco entre o pastor e suas ovelhas. ―E conheço as [ovelhas] a mim pertencentes, e as [ovelhas] a mim pertencentes me conhecem.‖ Enquanto inicialmente se salientava na ilustração o reconhecimento da ―voz‖ e o ―seguir‖ confiante, agora é mostrado que por trás desse ―ouvir‖ e ―seguir‖ está um ―conhecer‖ muito profundo. A parábola de Jesus refere-se a acontecimentos que de fato ocorrem entre o pastor e suas ovelhas. Nesse ponto, porém, a descrição do ―conhecer‖ mútuo entre o pastor e as ovelhas a ele pertencentes extrapola a parábola, mostrando-nos uma realidade que não pode mais ser captada com comparações terrenas. Porque esse ―conhecer‖ é tão profundo que Jesus o precisa comparar com seu próprio relacionamento com o Pai. Jesus e suas ovelhas se conhecem mutuamente ―como o Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai‖. O próprio Jesus confirma agora para nós o que arriscamos afirmar já no comentário a Jo 5.19, de que em nossa vida com nosso Senhor se repete para nós exemplarmente o que constatamos na comunhão entre Filho e Pai maravilhosamente como sendo a essência da comunhão interior propriamente dita. Realmente é assim que Jesus nos conhece ―assim como o Pai o conhece‖. Será isso possível? Será que o fato de Jesus ―conhecer‖ as pessoas não levará àquela reserva contra nós que se salientou claramente em Jo 2.24s? Sim, será que quando Jesus conhece minha natureza pervertida isso não precisa resultar em ojeriza, ira e rejeição? Contudo, Jesus já havia prometido em Jo 6.37 que ele não expulsaria ninguém que viesse até ele. Quem se torna um dos ―a ele pertencentes‖ por meio da fé, a esse ele ―conhece‖ de uma forma inconcebível para nós, porém abençoada, de consertar em amor, até que um dia alcance o alvo em nossa igualdade com ele (1Jo 3.2; Rm 8.29). Mais tarde, nas últimas conversas com seus discípulos, ele confirmará expressamente que esse seu ―conhecer‖ é ―amar‖: ―Como o Pai me amou, também eu vos amei‖ (Jo 15.9). Por isso, e unicamente por isso também nosso ―conhecimento‖ de Jesus pode ser análogo ao conhecimento que Jesus tem do Pai: ―As [ovelhas] a mim pertencentes me conhecem… assim como eu conheço o Pai.‖ Jamais o ―conheceríamos‖, se ele não nos tivesse conhecido primeiro e ―amado primeiro‖ (1Jo 4.19). Agora, porém, vemos e amamos em Jesus a fonte exclusiva de nossa verdadeira vida, assim como o Filho tem sua vida a partir do Pai e no Pai. Pelo menos inicialmente, e desse modo de forma fundamental, há em toda a nossa atitude interior uma dependência, cordialmente aceita, de Jesus, que corresponde à dependência, profundamente desejada e aceita, do Filho em relação ao Pai.

Um ―conhecer‖ desses, porém, referente aos a ele pertencentes, unicamente é possível pelo sacrifício espontâneo de Jesus por nós. Ao Filho o Pai pode conhecer e amar com toda a alegria e com completa satisfação. A nós, porém, Jesus pode conhecer e amar somente pelo fato de que subordinou seu relacionamento conosco à seguinte resolução: ―E empenho a minha alma pelas ovelhas.‖ Ele nos conhece e vê como aqueles que ele comprou com o empenho total de sua alma e sua vida e que, por conseqüência, lhe são caros. Mas ele já conhece e vê em nós aquilo que ele fará de nós mediante o empenho total de sua alma.

A obra e luta de Jesus valeu permanente e integralmente para Israel. Em tudo que lemos até aqui tínhamos de lembrar sempre que Jesus fala aos ―judeus‖. Precisamente João, que expõe com toda a profundidade o contraste entre Jesus e ―os judeus‖ ao mesmo tempo sabe, não obstante, com que fidelidade Jesus até em sua morte como ―rei dos judeus‖ se manteve fiel a Israel. Também as ovelhas de que fala o presente trecho são ―as ovelhas perdidas da casa de Israel‖ (Mt 10.6; 15.24),

unicamente às quais ele foi enviado agora. Apesar dessa fidelidade para com o povo de propriedade de Deus, porém, Jesus tem consciência das dimensões universais de seu envio. ―Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; e também a elas preciso conduzir. Elas ouvirão a minha voz. Então será um rebanho, um pastor.‖ As ―outras ovelhas‖ não estão no pátio cercado, ―neste aprisco‖, protegidas como Israel atrás da ―cerca da lei‖. Estão ―sem Cristo, excluídas da cidadania em Israel e estranhas aos testamentos da promessa‖, e por isso sem esperança e sem Deus no mundo (Ef 2.12). Contudo Jesus sabe o que ele fará de acordo com o maravilhoso plano e desejo do Pai. A promessa de Deus a Abraão em Gn 12.3 tinha de ser cumprida. Por essa razão Jesus ―precisa conduzir‖ também essas muitas outras ovelhas de todas as gerações e línguas e povos, que ele comprará com seu sangue para Deus (Ap 5.9). E acontecerá o milagre que nenhuma pessoa podia esperar: ―Elas ouvirão a minha voz.‖ Pessoas que por sua natureza, história e cultura não têm absolutamente nada a ver com esse homem da Palestina, são atingidas pela palavra de Jesus e encontram em Jesus sua vida, seu maior tesouro. Se isso não estivesse diante de nós na história do evangelho como uma realidade, ninguém o consideraria possível. Mas a palavra de Jesus é verdade: ―Ouvirão a minha voz.‖ Então não haverá vários rebanhos diferentes, mas ―haverá um rebanho, um pastor‖. Jesus antevê aquela igreja de ―judeus‖ e ―gentios‖ que foi concedida pela primeira vez na casa de Cornélio, que existia nas comunidades de Paulo e das quais tratou o decisivo concílio dos apóstolos (At 15). ―Um rebanho, um pastor‖, isso se confirmou naquelas palavras de Paulo que testemunham a unidade em Cristo acima de todas as diferenças (1Co 12.12s; Gl 3.28; Cl 3.11). A palavra de Jesus a respeito de ―um rebanho‖ não é mero ideal. Foi gloriosamente cumprida. Em todos os continentes, países, raças e vozes foi ouvida a ―voz‖ de Jesus e pessoas se agregaram à igreja de Jesus. Segundo sua essência, essa igreja somente pode ser sempre a única igreja, assim como existe apenas um pastor que a conquista com a sua vida.

Werner de Boor.. Comentário Esperança Evangelho de João. Editora Evangélica Esperança.

Jo 10.14-16. É característico do pastor verdadeiro que ele conheça suas ovelhas. O verbo conhecer ocorre quatro vezes nos versículos 14 e 15, e em todas as vezes usa-se o presente gnômico de ginüskü, com sentido geral, desvinculado do tempo. O conhecimento especial que Pai e Filho têm um do outro na ordem eterna (veja Mt 11.27 e Lc 10.22) é ampliado para incluir aqueles a quem o Filho chama seus (veja o amor mútuo e inclusivo de 14.21,23,15.9). Na parábola, o gênero de minhas (ta êma) é neutro, referindo-se a ovelhas (probata) na verdade a referência é àqueles que em outras passagens são chamados “seus” (hoi idioi; p. ex. 13.1). Pode haver aqui um reflexo das palavras de Números 16.5 LXX: “O Senhor sabe quem é dele” (citadas verbatim em 2 Tm 2.19). A disposição do bom pastor em expor-se a perigos de morte em prol de suas ovelhas agora é anunciada diretamente por Jesus (novamente existe a variante didõmi, dou para tithémi, “deponho” ).316 Os leitores do evangelho sabiam que Jesus não somente se expôs a perigos de morte em prol de seu povo, mas acabou mesmo “colocando-se entre ele e seu inimigo, voluntaria mente morrendo em seu lugar". Na verdade, é isto que as palavras de Jesus nos versículos 17 e 18 indicam.

Suas ovelhas, que pertenciam a este aprisco, eram de linhagem judaica, mas ele tinha outras ovelhas, que precisavam ser buscadas, que nunca tinham pertencido a este rebanho e, na verdade, nem podiam ser encaixadas nele. Mais tarde, no evangelho, elas são chamadas filhos de Deus que andam dispersos, que precisam ser reunidos por Jesus em um só corpo, juntos com os que pertenciam à “nação Israel” (11.51,52). A Versão Autorizada inglesa tem “um redil” em vez de um rebanho, no fim do versículo 16, um erro que se originou da Vulgata (unum ovile), e os revisores do rei Tiago não tinham desculpas porque William Tyndale traduzira corretamente em 1526 e 1534 (algumas versões latinas anteriores à Vulgata também foram mais corretas do que Jerônimo, de modo que também ele não tem desculpas).

Estas palavras de Jesus, então, apontam para a missão entre os gentios e a formação da comunidade constituída de judeus e gentios crentes, onde não há “judeu nem grego” (Gl 3.28, Cl 3.11). As ovelhas judias precisavam ser tiradas primeiro do aprisco (aulê), antes de serem reunidas às outras ovelhas para formarem um novo rebanho ipoimriê). O que haveria de manter unido este rebanho maior e dar-lhe a necessária proteção contra inimigos externos?

Não muros em redor, mas a pessoa e o poder do pastor. Unidade e segurança do povo de Cristo dependem da sua proximidade dele. Sempre que seu povo se esquece disto e tenta garantir unidade e segurança construindo muros ao redor de si, os resultados não são animadores. Ou os muros têm sido tão amplos a ponto de incluir diversos lobos entre as ovelhas (com consequências desastrosas para estas), ou tão restritos a ponto de haver mais ovelhas excluídas do que recolhidas.

  1. F. BRUCE. João. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag.197-198.

I Ped 5. 2-4. A responsabilidade pastoral desses presbíteros é descrita assim: apascentai o rebanho de Deus (2). A palavra “pastorear” explica melhor o significado do original do que apascentai. O dever do pastor é triplo: providenciar pasto, caminhos para o pasto e proteção nos caminhos para o pasto. Portanto, o dever do pastor vai além da pregação. O rebanho é a Igreja. Ela pertence a Deus como sua possessão comprada. Em certa época seus membros eram como ovelhas desgarradas, mas elas voltaram ao “Pastor e Bispo” da sua alma (cf. 2.25). O pastor deve instruir e guiar o rebanho em obediência e sujeição à completa vontade de Deus. O cuidado a ser exercido envolve três particularidades expressas de forma negativa e positiva. 1) Quanto ao espírito desse serviço, ele não é por força, mas voluntariamente. A liderança da igreja era tão perigosa naqueles dias que poderia custar a vida do líder. Mesmo assim, ele não deveria fazer essa obra relutantemente como se fosse um fardo ou considerá-lo como um dever profissional obrigatório. Em vez disso, esse era um ministério para o qual Deus o havia apontado e chamado e, por isso, deveria ser feito com obediência e alegria. 2) A motivação dessa supervisão não deveria ser por torpe ganância, mas de ânimo pronto — não como um mercenário que espera ganhar dinheiro. Os presbíteros tinham o direito de esperar sustento material daqueles a quem ministravam; mas sua motivação não deveria provir de um “amor ao ganho constitucional”, que “é uma desqualificação para o ministério cristão”.90 Considere seu efeito em Judas Iscariotes! 3) Quanto à forma de supervisão, ela não deve ser como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho (3). Os líderes nunca devem ser tirânicos ou se esquecer dos direitos das pessoas que lhes foram confiadas. Eles não devem dominar como o arrogante Diótrefes (3 Jo 9-11), mas liderar pelo poder de uma vida santa. O pastor nunca deve esquecer que ele não é o Sumo Pastor (4).

A compensação terrena do líder pode ser insignificante, mas quando aparecer

o Sumo Pastor (cf. 4.13), ele terá a sua recompensa incorruptível (cf. 1.4,5), a coroa de glória, “a felicidade do céu, o elemento principal de a vida de Deus ser derramada na alma por meio de Cristo”;91 “uma participação perpétua na sua glória e honra” (Bíblia Viva).

Roy S. Nicholson. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 242-243.

I Ped 5.2-4. I As pessoas a quem são dadas essas orientações – aos presbíteros, pastores e líderes espirituais da igreja, presbíteros e anciãos por ofício, e não por idade, ministros daquelas igrejas às quais escreve esta epístola.

II A pessoa que faz essa exortação - o apóstolo Pedro: “...admoesto eu”. E, para reforçar essa exortação, ele lhes diz que é presbítero com eles, e assim não impõe nada a eles que ele não esteja disposto a fazer também. Ele é também “...testemunha das aflições de Cristo”, tendo estado com Ele no jardim, acompanhado ao palácio do sumo sacerdote, e muito provavelmente tendo sido testemunha do seu sofrimento na cruz, à distância, entre a multidão (At 3.15). Ele acrescenta que é também “...participante da glória” que em certa medida foi revelada na transfiguração (Mt 17.1-3), e vai ser completamente desfrutada na segunda vinda de Jesus Cristo. Aprenda: 1. Aqueles cujo ofício é ensinar a outros devem cumprir atentamente seu próprio dever, assim como ensinam ao povo o dever deste. 2. Como eram diferentes o espírito e o comportamento de Pedro do espírito e do comportamento dos seus pretensos sucessores! Ele não ordena e manda, mas exorta. Ele não reivindica soberania sobre todos os pastores e igrejas, nem se intitula príncipe dos apóstolos, vigário de Cristo ou cabeça da igreja, mas se apresenta como presbítero. Todos os apóstolos eram presbíteros, ou anciãos, embora nem todo presbítero fosse apóstolo. 3. Foi uma honra peculiar de Pedro e de alguns mais serem testemunhas dos sofrimentos de Cristo; mas é privilégio de todos os verdadeiros cristãos serem participantes da glória que há de ser revelada.

III A descrição do dever do pastor, e a maneira em que esse dever precisa ser cumprido. O dever do pastor é tríplice: 1. “...apascentai o rebanho...”, por meio da pregação honesta da palavra de Deus ao rebanho, e ao conduzi-lo de acordo com as orientações e a disciplina que são prescritas pela palavra de Deus, que estão ambas incluídas nessa expressão: Apascentai o rebanho.

  1. Os pastores do rebanho precisam ter a supervisão dele, o seu cuidado. Os presbíteros são exortados a fazer o seu trabalho de bispos (que é o significado da palavra), por meio do cuidado pessoal e da vigilância sobre todos que no rebanho estão comprometidos ao seu cuidado.
  2. Eles precisam ser “...exemplo ao rebanho”, e praticar a santidade, a autonegação, a mortificação e todos os deveres cristãos, que eles pregam e recomendam ao seu povo. Esses deveres precisam ser realizados “...não por força”, não porque você tem de fazê-los, não por compulsão de um poder civil, ou pela coação do medo ou da vergonha, mas de uma mente voluntária que tem prazer na obra. Não “...por torpe ganância”, ou por algum lucro ou proveito relacionados ao lugar em que você reside, ou de uma prerrogativa relativa ao ofício, “...mas de ânimo pronto”, considerando o rebanho mais do que a lã, sincera e alegremente se empenhando para servir à igreja de Deus. “...nem como tendo domínio sobre a herança de Deus”, agindo como tirano sobre o rebanho por compulsão ou força coerciva, ou impondo invenções humanas ou não-bíblicas a ele em vez dos deveres necessários (Mt 20.25,26; 2 Co 1.24). Aprenda: (1) A dignidade eminente da igreja de Deus e de todos os seus verdadeiros membros. Esses cristãos pobres, dispersos e sofredores eram o rebanho de Deus. O restante do mundo é uma manada irracional. Esses constituem um rebanho pacífico e ordeiro, redimido para Deus pelo grande Pastor, vivendo em santo amor e comunhão uns com os outros, segundo a vontade de Deus. Eles são também dignificados com o título de herança de Deus, sua porção peculiar, escolhidos dentre a multidão comum para ser eu povo, para desfrutar do seu favor especial e para fazer para Ele um serviço especial. No Novo Testamento, a palavra nunca é restrita aos ministros da religião. (2) Os pastores da igreja devem considerar o seu povo o rebanho de Deus, a herança de Deus, e tratá-lo de acordo com isso. Não são seus, para serem dominados segundo o seu prazer; mas são povo de Deus, e devem ser tratados com amor, mansidão e ternura, por causa daquele a quem pertencem. (3) Aqueles ministros que são forçados ao trabalho por necessidade ou atraídos a ele por torpe ganância não podem realizar o seu dever como deveriam, porque não o fazem voluntariamente e com disposição.

(4) A melhor forma que um ministro pode usar para obter o respeito das pessoas é cumprir o seu próprio dever entre elas da melhor maneira que puder, e ser um constante exemplo a elas de tudo que é bom.

IV Em contraste com os lucros imundos que muitos se propõem como o seu principal motivo em assumir e cumprir o ofício pastoral, o apóstolo coloca diante deles a coroa da glória preparada pelo grande pastor, Jesus Cristo, para todos os seus ministros fiéis. Aprenda:

  1. Jesus Cristo é o “...Sumo Pastor” de todo o rebanho e herança de Deus. Ele os comprou, e os governa; e os defende e salva para sempre. Ele é também o pastor principal sobre todos os pastores subalternos; eles derivam a sua autoridade dele, agem em nome dele e prestam contas a Ele.
  2. Esse Sumo Pastor vai aparecer para julgar todos os ministros e coo-pastores, para chamá-los à prestação de contas, para ver se cumpriram fielmente seus deveres tanto publicamente quanto em particular, de acordo com as orientações acima.
  3. Aqueles que comprovarem ter cumprido o seu dever terão o que é infinitamente melhor do que o ganho temporal; receberão do Sumo Pastor um elevado grau de glória eterna, “...a in corruptível coroa de glória”.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento ATOS A APOCALIPSE Edição completa. Editora CPAD. pag. 882-883.

I Ped 5.2 A incumbência aos anciãos é: Apascentai o rebanho de Deus entre vós! A metáfora do pastor e do rebanho é usada com freqüência na Bíblia (sobretudo em Ez 34 e Jo 10). O verdadeiro pastor de seu povo é o próprio Deus (cf. 1Pe 2.25), enquanto as pessoas incumbidas da direção são pastoras por incumbência de Deus. Em consonância, a igreja é rebanho de Deus. Nunca seres humanos podem ter direitos sobre ela, nem mesmo quando nela trabalharam laboriosa e fielmente como pastores. O fato de ela ser rebanho de Deus é que torna o serviço nela tão cheio de responsabilidade. Importa também aqui o que Paulo diz em 1Co 3.17 com uma figura diferente: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá.” Assim como no AT, também no NT Deus confiou o serviço de pastor a pessoas, “supervisores” (At 20.28), pastores (Ef 4.11) e anciãos (ou “os mais velhos”). Pelo fato de Pedro não diferenciar claramente entre “anciãos” e “mais velhos”, nenhum dos mais velhos pode transferir a responsabilidade pelo rebanho aos “anciãos”. Cada um deles possui perante Deus uma responsabilidade pela igreja. A tarefa dos pastores consiste em apascentar. O foco está nas necessidades do rebanho. Apascentar é regido pela pergunta: de que a igreja precisa para um bom desenvolvimento e para ser protegida de perigos? Um verdadeiro pastor pode se esquecer de seus próprios interesses por causa das carências do rebanho e de cada uma das ovelhas que lhe foram confiadas, e o mesmo vale para um ancião no tocante à igreja que lhe foi confiada.

O serviço do pastor é ameaçado particularmente por três perigos: pela falta de disposição, por ganância e pela avidez de poder. Com as palavras não coagidos, mas voluntariamente, conforme Deus Pedro refere-se à falta de disposição para cooperar. Há uma forma de cumprimento do dever que não traz alegria para ninguém. Indisposição e contrariedade transferem-se para aqueles que cumprem o “dever”, marcando a obra. Obviamente a rigor ninguém pode ser coagido a prestar um serviço na igreja. Contudo, quando alguém pertence ao grupo dos presbíteros ou quando até mesmo chega a ser ancião, ele tem a tarefa, e espera-se que preste o serviço. É dessa “coação” que se fala. “Não coagido” significa, então, realizar o serviço não porque isto é esperado, mas de livre e espontânea vontade. Voluntariamente, ou “disposto”, “por livre iniciativa” refere-se à iniciativa pessoal, ser cativado e impelido pela seriedade e magnitude do serviço. Quando a vontade de Deus determina a vontade dos “mais velhos”, eles agem de forma espontânea, mais precisamente conforme Deus. Isso pode significar: “segundo a maneira de Deus” ou “segundo a vontade de Deus”. Schlatter traduz: “em vista de Deus”. De qualquer modo visa-se expressar que qualquer serviço de pastor depende de Deus. E mais uma advertência: não em sórdida ganância, mas de boa vontade. É verdade que Jesus dissera: “porque digno é o trabalhador do seu salário.” (Lc 10.7). Será que os anciãos recebiam pagamento já nos tempos do NT? Seja como for, é grande o perigo de buscar nesse serviço primeiramente a vantagem pessoal. Isso contamina o coração e o serviço. Os anciãos, como bons pastores, devem estar realmente empenhados pelo rebanho, tendo em vista o bem das ovelhas, e não mirando a lã delas. O significado básico do termo grego prothymos (= disposto), expressa: inclinado, com simpatia, com dedicação, com zelo, com gosto. O bem e as angústias dos outros ocupam, portanto, o foco, e o motivo é a determinação de servi-los.

I Ped 5.3 Segue uma última exortação aos anciãos. Tampouco como aqueles que se fazem senhores sobre o que lhes foi distribuído, mas como aqueles que se tornam (ou: são) exemplos do rebanho. O termo grego para o que lhes foi distribuído na realidade significa “sorteio”. Em seguida passa a

significar: o que foi sorteado, a herança, o quinhão sorteado. No presente contexto refere-se com certeza à igreja, respectivamente à área de tarefas confiada a cada um dos anciãos. Duas coisas repercutem nessa palavra: que se trata de algo grandioso e que eles não o buscaram por si, mas que lhes foi atribuído. Não como aqueles que se fazem senhores sobre o que lhes foi distribuído significa textualmente: “olhar de cima para baixo”, depois “oprimir”, “subjugar”. Os anciãos devem conduzir a igreja, e nessa função também exercer a disciplina eclesial. Nessa posição de liderança reside o perigo do abuso, devido à pulsão humana pelo poder. Existe um abuso da liderança, um senso equivocado quanto ao cargo. Ao senhorear sobre os demais, os servidores da igreja se portam como senhores, privam Deus da honra e posição de domínio que lhe cabem e impõem inferioridade aos membros da igreja. Nisso sua liberdade e cooperação responsável se perdem, bem como a alegria em servir e o senso comunitário. É assim que anciãos, por “olhar de cima para baixo”, praticamente conseguem “gerir os negócios para baixo”. A isso Pedro contrapõe a maneira correta de apascentar: como aqueles que se tornam exemplo para o rebanho. Também Paulo emprega o termo exemplo ou “molde” (em grego typos) e exorta no mesmo sentido os responsáveis pelas igrejas (1Tm 4.12; Tt 2.7; cf. também 1Ts 1.4; 2Ts 3.9). Em Fp 3.17 ele conclama: “Imitai-me todos juntos, irmãos, e fixai o vosso olhar naqueles que se conduzem segundo o exemplo que tendes em nós” [TEB]. A igreja não precisa de índoles dominadoras, mas de exemplos. Quem se transforma em senhor gosta de exigir da igreja serviços que ele mesmo não está disposto a executar. Quem, no entanto, é exemplo, antecipa-se no servir. Todos os “mais velhos” estão submetidos à tarefa de se tornar exemplos do rebanho. Para o serviço de ancião não são necessários em primeiro lugar o dom da pregação nem capacidades humanas de destaque, mas, pelo contrário, uma atitude de vida que é marcada por Jesus e pelos apóstolos, ou seja, pela Sagrada Escritura.

I Ped 5.4 E quando o Supremo Pastor tiver sido manifesto recebereis a imarcescível coroa da glória. Os anciãos precisam saber que acima das igrejas está um Supremo Pastor, e que receberam a propriedade dele somente para cuidar. Ele avaliará e recompensará o serviço deles (1Co 3.8,14; Ap 11.18). No serviço que prestam, portanto, os anciãos são responsáveis perante ele, e independentes do julgamento das pessoas. A sentença sobre seu ministério pastoral será proferida naquele dia em que tiver sido manifesto o Supremo Pastor, que agora ainda está oculto, mas já presente com todo o poder. Ele, pois, observa o serviço dos presbíteros. Considerando, porém, que todos os acontecimentos na igreja e no mundo originados em Deus têm por alvo a manifestação do Messias, é necessário que também os presbíteros direcionem seu serviço para esse evento. Isso reforça seu senso de responsabilidade e sua confiança, porque vale para eles a promessa: recebereis a imarcescível coroa da glória. Naquele tempo, após as competições cada vencedor recebia uma grinalda. Logo a grinalda é sinal do triunfo. É assim que um dia o Supremo Pastor recompensará todos que apascentaram bem seu rebanho com a grinalda da glória, que, ao contrário de todas as coroas terrenas, é incorruptível, não consistindo de material terreno, mas de glória (cf. também 2Tm 4.8; Ap 2.10; 3.11). A glória, porém, é a essência da proximidade de Deus e consequentemente de todo bem, toda luz e toda beleza. Paulo escreve em Cl 3.4: “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória.” Essa promessa vale de forma singular para aqueles que apascentaram fielmente o rebanho de Deus.

Uwe Holmer. Comentário Esperança Cartas aos I Pedro. Editora Evangélica Esperança.

II - AS CARACTERÍSTICAS DO VERDADEIRO PASTOR

  1. Um caráter íntegro.

Neste tópico, enfatizamos as características do verdadeiro pastor, no sentido humano, daquele que tem o chamado de Deus para ser um guia de parte do rebanho do Sumo Pastor. E o que tem o dom ministerial de pastor. Não é qualquer pessoa que tem condições de receber esse dom, ainda que seja o mais procurado pelos aspirantes ao ministério eclesiástico. Paulo ensina que é Deus quem dá pastores às igrejas (Ef 4.1): “Os pastores são aqueles que dirigem a congregação local e cuidam das suas necessidades espirituais. Também são chamados “presbíteros” (At 20.17; Tt 1.5) e “bispos” ou supervisores (lTm 3.1; Tt 1.7)”.2

O pastor de uma igreja deve espelhar-se nas características do “Sumo Pastor” (1 Pe 5.4). E deve possuir qualificações que o credenciem para tão importante missão. O pastor verdadeiro é dado por Deus à igreja. Ele não dá a igreja ao pastor (Ef 4.11); a igreja, mesmo no sentido local, não pertence ao pastor. O pastor deve ser um servo da igreja local, e não seu mandatário ou proprietário. A seguir, algumas dessas qualificações, conforme 1 Timóteo 3.1-7 eTito 1.7, relativas ao bispo, que é sinônimo de pastor:

1) Irrepreensibilidade moral. Refere-se a uma vida de integridade, de que não tenha de que se envergonhar ou causar escândalo.

2) Vida conjugal ajustada (“marido de uma mulher”). Note-se que é prioridade o cuidado com a vida conjugal; no Novo Testamento, não é prevista a tolerância com a bigamia ou a poligamia; a regra é a monogamia, como plano original de Deus para o matrimônio; e o pastor como esposo deve ser exemplo para os demais esposos, na igreja, amando sua esposa e cuidando dela (Ef 5.25).

3) Vigilante. O pastor é o guarda do rebanho. Deve estar atento ao que se passa ao seu redor; vigiando, primeiro, a sua vida pessoal e ministerial (1 Tm 4.16). Depois, vigiando o rebanho para alertar e livrar dos “lobos devoradores”; Ser vigilante significa ser “atento, cauteloso, cuidadoso, precavido” quanto aos perigos que o rodeiam. Para assumir a função de liderança, na igreja local, o obreiro deve ser muito cuidadoso quanto à sua vida espiritual, moral, social, familiar e em todos os aspectos. Isso porque o Diabo “anda rugindo como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe 5.7). O presbítero, bispo ou pastor deve obedecer o que Jesus disse: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). Ele precisa ser “exemplo dos fiéis” (1 Tm 4.12; 1 Pe 5.3).

4) Sóbrio (simples, moderado). O pastor ou bispo deve zelar pela simplicidade, no ministério; o luxo, a ostentação material, a exibição de riqueza não convém a um homem de Deus; Jesus disse: “sede símplices como as pombas” (Mt 10.16).

5) Honesto. Tem o significado de ser “honrado, digno, correto, íntegro; decoroso, decente, puro, virtuoso”. Todas essas qualificações podem resumir-se numa expressão: ser “santo em toda a maneira de ver” (1 Pe 1.15). O homem de Deus não é perfeito em si mesmo, por mais que se esforce para ser santo. Mas, cuidando de sua vida pessoal, ministerial e como cidadão, pode ser muito bem visto pelos crentes como uma pessoa honesta. O seu falar deve ser “sim, sim; não, não” (Mt 5.37). Honestidade é sinônimo de integridade. O pastor ou bispo deve ser uma pessoa assim, fiel, sincera, verdadeira. Deve ser alguém que vive o que prega ou ensina (Tg 2.12).

6) Hospitaleiro. Esta palavra vem de hospital, na sua origem. Não havia casas de saúde como hoje. Uma hospedaria era um hospital, um lugar onde os viandantes podiam pousar, e também os enfermos, uma hospedaria ou estalagem (Lc 10. 34,45). Mas o pastor não tem obrigação de transformar sua casa em hospedaria. No sentido do texto, hospitaleiro é sinônimo de acolhedor, que sabe tratar bem as pessoas, sem fazer acepção de ninguém; é pecado (Dt 16.19; Ml 2.9; 1 Tm 2.11;Tg2.9).

7) Apto a ensinar. Como o pastor é o que alimenta ou apascenta o rebanho, o pastor deve saber fazer uso da Palavra de Deus, ministrando mensagens, estudos e reflexões que edifiquem o rebanho sob seus cuidados. Se não tiver essa aptidão, deve estar no lugar errado (2 Tm 2.15).

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 110-112.

Características do Verdadeiro Pastor

  1. Pode entrar legalmente no aprisco das ovelhas (João 10:1). Isso se refere à missão messiânica autêntica de Jesus e à sua autoridade.
  2. O trabalho do verdadeiro pastor é coroado de sucesso e ele entra apropriadamente no aprisco, mediante a ajuda do porteiro (provavelmente símbolo do Espírito Santo, João 10:7).
  3. O bom pastor instrui as suas ovelhas com a sua palavra e o seu exemplo, e as guia (João 10:7).
  4. O bom pastor vive bem familiarizado com as suas ovelhas, e elas o conhecem bem, o que indica comunhão e comunicação (João 10: 3,4). 5. O pastor verdadeiro guia o rebanho, tanto nesta vida como em direção à vida eterna (João 10:4 10 17 e 28).
  5. O bom pastor é o exemplo moral das ovelhas e vai adiante delas (João 10:4).
  6. O verdadeiro pastor é inteiramente devotado ao seu rebanho e dá a própria vida pelas suas ovelhas (João 10: 11). Fica implícito aqui, no caso de Cristo, a expiação realizada na cruz do Calvário, porém, mais particularmente ainda, a vida que lhes é conferida através do sacrifício do pastor, isto é, a vida eterna, o lado positivo da expiação, sendo frisada a união mística com Cristo, e não tanto o lado negativo, que é o perdão dos pecados (João 10:28).
  7. O verdadeiro pastor garante a segurança do rebanho, tanto agora como para toda a eternidade mediante a autoridade que lhe foi conferida pelo Pai: com quem Cristo tem perfeita união, tanto no tocante à sua natureza quanto no que diz respeito aos seus desígnios (João 10:27-30: ver também 5:19, acerca da unidade essencial entre o Pai e o Filho).

Todas essas características fazem violento contraste com os falsos pastores. que são indivíduos totalmente egoístas e perversos, e que, na realidade, não podem oferecer qualquer dessas vantagens e bênçãos ao rebanho. de Deus. Por ,conseguinte, é dito aqui que o verdadeiro pastor, que e Cristo, entra pela porta, isto é, pelos canais espirituais competentes, porquanto não tem necessidade de iludir, posto que todos os seus propósitos são benévolos.

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 105.

  1. Exemplo para os fiéis e os infiéis.

8) Não dado ao vinho”. Nos tempos de Paulo, o vinho era já uma bebida alcoólica que podia causar dependência química ou psicológica. Seria uma tristeza um pastor ficar embriagado pelo uso constante do vinho. Se tosse escrito hoje, o texto talvez dissesse: “não dado à cerveja, à champanhe, ao licor ou a outra bebida alcoólica”. O pastor ou bispo deve dar exemplo de abstinência desse tipo de bebida para o seu bem, de sua família e do rebanho sob seus cuidados.

9) Ordeiro (“não espancador”). Por que Paulo fez referência a esse tipo de comportamento? Sem dúvida, porque observou que algum obreiro tinha o costume de “espancar” as pessoas a seu redor. Sempre houve pastores grosseiros, prepotentes, alguns que cometeram “assédio moral” contra pessoas a seu redor. Isso é reprovável sob todos os aspectos. O pastor deve ser ordeiro, humilde, de bom trato para com todos, não cobiçoso nem ganancioso. Ordeiro quer dizer que mantém a ordem, na casa de Deus.

10) Moderado, É sinônimo de suave, brando, comedido, prudente, contido. É qualidade sem a qual o pastor pode sofrer sérios revezes em sua vida, no relacionamento com outras pessoas, em seus hábitos, costumes, etc. Ele não pode ser um desequilibrado mental, sem controle de suas emoções. Para ser moderado, precisa ter o fruto da temperança e da longanimidade (cf. G1 5.22).

11) Não contencioso. O pastor ou bispo não deve viver em contenda, nem com a família, nem com os crentes, nem. com os de fora. Contenda é o mesmo que porfia, dissensão, peleja, que são “obras da carne” (G1 5.2,1). Diz um ditado: a melhor maneira de ganhar uma contenda é evitá-la. Cora oração e vigilância é possível viver em paz.

12) Não avarento. Quer dizer que o pastor ou bispo não deve ser sovino, mesquinho, e não deve ter amor ao dinheiro (avareza), que é “a raiz de toda espécie de males” (1 Tm 6,10). O pastor não deve viver em função de dinheiro ou de bens materiais. Sua missão é elevadíssima, e deve focar-se no amor às almas ganhas para Cristo, que ficarão aos seus cuidados ministeriais.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 112-113.

QUALIFICAÇÕES DO PASTOR

No primeiro ponto, acima, demos os dons que um pastor deveria possuir; e isso. como é óbvio, faz parte de suas qualificações. Passagens das chamadas epistolas pastorais (I e 11 Timóteo e Tito) dão listas de qualificações desses ministros, além de outros. Ver I Tim. 3:1 ss e Tito 2. Um pastor deve ser homem controlado, livre de vícios, não belicoso. sem excessos. Deve governar bem a sua casa; não pode ser um noviço; deve ter boa reputação, devidamente conquistada; deve ser avesso a maledicências e ao uso incorreto da língua; não deve ser ganancioso; não deve andar atrás do dinheiro; deve ser homem que se santifica; deve ter uma boa esposa, que não lhe traga perturbações; deve ser forte na fé e mestre da mesma; deve ter ousadia no seu ensino; deve ser cheio de amor e paciência; deve ser perseverante; deve caracterizar' se por boas obras; na doutrina, deve ser incorrupto; deve ser homem sério; sua linguagem deve ser sadia; deve saber exortar; deve ser honesto; deve saber repelir toda forma de impiedade; deve ser alguém ansioso para ensinar e capaz de fazê-lo; e, finalmente, deve ser homem de reconhecida piedade.

Unger, no artigo intitulado Pastor, divide as muitas qualificações de um pastor em três categorias:

  1. O serviço de mmistração ao culto divino, pondo em ordem a adoração da congregação, administrando as ordenanças, pregando a Palavra de Deus. Nesse sentido, o pastor é um ministro.
  2. Ele deve ser habilidoso nos cuidados pastorais, cuidando de alimentar espiritualmente o rebanho, mostrando-se vigilante, deixando-se envolver em boas obras e ações de misericórdia e compaixão.
  3. Ele deve brandir a autoridade espiritual da Igreja, sendo um dirigente que merece respeito e que impõe ordem e disciplina. Um pastor deve ter como um de seus alvos o aperfeiçoamento dos santos (Efé. 4:12). mostrando-se espiritualmente alerta (Heb, 13:17; 11 Tim. 4:5) sendo capaz de exortar, advertir, consolar e orientar com autoridade (I Tes. 2:22; I Cor. 4: 14,15). No quarto capítulo da epístola aos Efésios, o trabalho dos pastores suplementa o trabalho dos apóstolos, evangelistas e profetas.

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 105-106.

Qualificações do Bispo (3.2)

Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar. No total, há 15 qualificações estipuladas pelo apóstolo, sete das quais ocorrem no versículo 2. E importante que a primeiríssima destas seja a irrepreensibilidade. O significado da palavra é “acima de repreensão”, “de reputação irrepreensível” (cf. CH), “de caráter impecável”, “que ninguém possa culpar de nada” (NTLH). Por qualquer método que avaliemos, esta é a virtude mais inclusiva que aparece na lista. Significa que o líder na igreja de Cristo não pode ter defeito óbvio de caráter e deve ser pessoa de reputação imaculada. Dificilmente se esperaria que não tivesse defeito, mas que fosse sem culpa. E apropriado que o ministro seja julgado por um padrão mais rígido que os membros leigos da igreja. Os leigos podem ser perdoados por defeitos e falhas que seriam totalmente fatais a um ministro. Há certas coisas que um Deus misericordioso perdoa em um homem, mas que a igreja não perdoa no ministério deste. A irrepreensibilidade do candidato é requisito no qual devemos ser insistentes hoje em dia, como o foi Paulo no século I.

O líder da igreja deve ser exemplar especialmente em assuntos relativos a sexo. Este é o destaque da segunda estipulação do apóstolo: Marido de uma mulher (2). Trata-se de precaução contra a poligamia, que gerava um problema sério para a igreja cujos membros eram ganhos para Cristo vindos de um paganismo que tolerava abertamente casamentos plurais. Em todo quesito que a igreja com seus altos padrões éticos relativos a casamento confrontar o paganismo de nossos dias, em regiões incivilizadas ou não, a insistência cristã na pureza deve ser enunciada de forma clara e seguida com todo o rigor.

Mas temos de perguntar: A intenção de Paulo era desaprovar o segundo casamento? Alguns dos manuscritos antigos requerem a tradução “casado apenas uma vez” (conforme nota de rodapé na NEB). “Sobre este assunto, como em muitos outros”, comenta Kelly, “a atitude que vigorava na antiguidade difere notadamente da que prevalece em grande parte dos círculos de hoje. Existem evidências abundantes provenientes da literatura e inscrições funerárias, tanto gentias quanto judaicas, que permanecer solteiro depois da morte do cônjuge ou depois do divórcio era considerado meritório, ao passo que casar-se outra vez era visto como sinal de satisfação excessiva dos próprios desejos”.1 E óbvio que em alguns segmentos da igreja primitiva esta era a opinião prevalente, chegando ao extremo último da ordem de um ministério celibatário.

Mas esta não é a interpretação do ensino de Paulo que prevalece hoje. E bem conhecida sua própria preferência da vida solteira em comparação ao estado casado; e há passagens nos seus escritos em que ele recomenda este estado aos outros (e.g., 1 Co 7.39,40). Talvez o melhor resumo da intenção do apóstolo para os nossos dias seja a declaração de

  1. F. Scott: “O bispo tem de dar exemplo de moralidade rígida”.2

As próximas três especificações — vigilante, sóbrio, honesto (2) — têm relação próxima entre si e descrevem a vida cristã ordeira. Moffatt traduz estas qualidades pelas palavras: “temperado [NVI; cf. RA], mestre de si, calmo”. A temperança neste contexto transmite a ideia de autocontrole (cf. CH) ou autodisciplina.

O próximo quesito qualificador é apresentado pelo apóstolo na palavra descritiva hospitaleiro (2). Esta mesma característica é mais detalhada em Tito 1.8: “Dado à hospitalidade, amigo do bem”. Nesses primeiros dias da igreja, esta era uma virtude muito importante. Havia poucos albergues no mundo do século I, e os apóstolos e evangelistas cristãos que eram enviados de lugar em lugar ficavam dependentes da hospitalidade de cristãos que tivessem um “quarto de profeta”, mantido com a finalidade de atender essas necessidades. Em nossos dias de hotéis, expressamos nossa hospitalidade cristã de modo diferente. Mas quando a igreja era jovem, essa hospitalidade era extremamente primordial. O dever e privilégio de ministrá-la recaíam naturalmente sobre o bispo ou pastor. O espírito essencial do ato é tão importante hoje como era outrora.

Igualmente essencial e até mais importante é a sétima qualidade que Paulo menciona: Apto para ensinar (2). Pelo visto, nem todos os pastores eram empregados no ministério de ensino. E o que mostra 5.17: “Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina”. Mas a aptidão para ensinar era rendimento certo para o ministro cristão. Era importante então como é hoje. Sempre haverá indivíduos que possuem maior capacidade nesta ou naquela área que outros, mas certa habilidade para ensinar é de extrema necessidade ao ministério completo e frutífero.

Homens de Sobriedade (3.3)

Este versículo contém mais seis especificações que devem caracterizar o líder cristão: Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento (3). Todos os quesitos, exceto um, são negativos, mas todos são importantes. O primeiro nos soa um tanto quanto estranho, sobretudo quando seu significado preciso é entendido com clareza. Temos estas opções de tradução: “Não deve ser indivíduo dado a beber” (NEB); “não pode ser chegado ao vinho”, (NTLH); “não deve ser apegado ao vinho” (NVI; cf. BAB); “não deve ter o vício da bebida” (BV); ou pelas palavras diretas: “Não bêbedo” (RSV). O ponto que confunde o leitor da atualidade é que tal estipulação fosse necessária. No pensamento da maioria dos evangélicos hoje em dia, a abstinência total de bebidas alcoólicas é elementar na vida cristã. E não é difícil perceber que o julgamento moral que determina a abstinência total para o cristão — leigo ou ministro — é a compreensão básica da ética cristã. Mas esta ideia, como o julgamento moral das trevas, não fora discernida claramente no século I. Temos de manter isso em mente para entendermos as alusões do apóstolo ao uso do vinho neste e em outros textos. Kelly observa que “hoje em dia, as pessoas por vezes se surpreendem que Paulo achasse necessário fazer tal determinação, mas o perigo era real na sociedade desinibida em que se situavam as congregações efésia e cretense”.

Não espancador (3) é expressão que exige interpretação neste contexto. Significa, literalmente, “não doador de socos”. Kelly traduziu por “não dado à violência” (cf. BAB, BV, CH, NVI, RA). O homem de Deus deve ser caracterizado por amor e comedimento cristão.

Não há ambiguidade ligada à próxima estipulação de Paulo: Não cobiçoso de torpe ganância (3). Esta é advertência contra o amor do dinheiro que o apóstolo, mais adiante nesta mesma epístola (6.10), declara ser “a raiz de toda espécie de males”. Tal proibição tinha relevância imediata, pois fazia parte da responsabilidade do pastor cuidar dos bens e capitais da igreja. Esta seria fonte constante de tentação para o avarento. Somente aquele que desse toda prova de não ter espírito de cobiça pode ser separado com segurança para a obra do ministério.

Claro que é perfeitamente possível que ministros e leigos sejam enganados pelo que nosso Senhor chamou de “a sedução das riquezas” (Mt 13.22). A sutileza desta sedução é que a pessoa não precisa possuir riquezas para ser enganada por elas. Desejá-las ardentemente, permitir-se adotar atitudes calculistas na esperança de obter riquezas, ficar indevidamente interessado por salários e lucros deste mundo não podem deixar de empobrecer e, no final das contas, destruir o valor do próprio ministério. Tudo isso está implícito no aviso paulino do desejo controlador por dinheiro.

A única virtude positiva no versículo 3 é moderado, (“tranquilo”, CH; “cordato”, RA). Isto significa não tanto a capacidade de manter a calma sob controle quanto a capacidade de resistir sob pressão, com infalível espírito de bondade e paciência. Paulo exalta esta virtude em 1 Coríntios 13.4, quando nos assegura que o amor é sofredor e benigno — benigno mesmo no fim do sofrimento. As especificações adicionais — não contencioso, não avarento (5) — são repetições para enfatizar os quesitos já estipulados.

  1. Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 469-471.

I Tm 3.2 O presidente, pois, deve ser irrepreensível. Essas palavras não instituem o presidente nem seu ministério, mas o pressupõem, e isso sem qualquer ênfase, como em Fp 1.1. Em primeiro lugar se falou do “sacerdócio de todos os fiéis” (cap. 2) e agora de seus servos, em plena concordância com 1Co 3.5. Podemos chamar a lista subseqüente de “catálogo de virtudes”, em contraposição ao chamado “catálogo de vícios”. Chama atenção que não se fazem exigências especiais, exceto, talvez, de “apto para ensinar”. Pelo contrário, enumeram-se atitudes práticas e cotidianas que precisam ser consideradas “elementares” para todos os cristãos. Por que, no entanto, escrever acerca delas mesmo assim? Essa lista ou outras similares nas past só podem ser descartadas depreciativamente como “moral burguesa” ou “ética cristã mediana” se ignorarmos como tudo está fundamentado e como as coisas elementares são e continuam sendo necessárias para a fé.

Quando as coisas elementares não são constantemente renovadas e redirecionadas em direção ao que é fundamental (a base) e final (o alvo, a consumação, em grego, o eschaton), rapidamente surgem enredamentos e descaminhos igualmente elementares, arrastando consigo o indivíduo e a sociedade. É preciso ver as orientações das past diante do pano de fundo de uma indomável correnteza de “anomia” na sociedade e igreja.

Irrepreensível não significa simplesmente gozar de boa fama, mas ter um testemunho justificadamente bom. A crítica e as acusações não devem encontrar pontos vulneráveis para seu ataque. Aparentemente a palavra designa o comportamento abrangente, fundamental para tudo o que segue. Jesus frisa a importância do bom testemunho, como também ocorre em geral no NT. Nessa questão é decisivo que o bom testemunho seja reconhecido e fornecido pelos que não fazem parte da igreja. “Vossa conduta seja decorosa aos olhos dos estranhos.” Essa exortação da carta mais antiga de Paulo coincide integralmente com a exigência de ser irrepreensível, o que não pode ser questionado nem mesmo por observadores críticos e hostis. Um modo de vida desses só é viável a partir do “mistério da fé, preservado em uma consciência pura”. Essa é a origem e a renovação de toda a autêntica irrepreensibilidade. Representa o oposto tanto do comportamento antissocial como da exagerada adaptação pacata a todos e a tudo.

Marido de uma só mulher. O presidente deve ser exemplarmente casado. Não se espera o celibato dos servidores da igreja, mas que tenham plena capacidade matrimonial e sejam modelos no casamento. A melhor “escola matrimonial” acontece por “exemplos matrimoniais”. Presidentes e diáconos devem ser casados uma única vez; isso aponta em 3 direções:

1) Acerca da profetiza Ana lemos que era virgem até se casar. Quando o marido morreu após 7 anos de casamento, ela passou a viver sozinha até idade avançada (84 anos), servindo a Deus. De acordo com a palavra profética permaneceu fiel ao “noivo de sua mocidade”.

2) Conforme as palavras do Senhor a monogamia é o alvo original, estabelecido por Deus, do relacionamento entre homem e mulher. Se os próprios gentios chamam atenção para isso e os cristãos aspiram ao amor e à fidelidade no matrimônio, quanto mais isso deveria valer, então, para aqueles que se “apresentam em todas as coisas” (logo também no casamento) como “exemplo de boas obras”.

3) A interpretação aqui fornecida possui relevância justamente com vistas à prática do divórcio, que naquela época se alastrava com força, e do correlato recasamento de pessoas divorciadas, seja entre gregos, seja entre judeus.

A expressão única pode ser mantida em forma tão genérica pelo fato de que deve caracterizar de forma abrangente a atitude básica fundamental da castidade em todas as situações. O casto não reprimiu sua sexualidade, mas a tornou íntegra, porque castidade é alegrar-se com a sexualidade respeitando os limites do respeito.

Sóbrio (nephalios) vale tanto para mulheres como para homens idosos. O verbo correspondente já é utilizado por Paulo em sua carta mais antiga: “Não durmamos como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios.” Ser sóbrio faz parte da oração e da vigilância e diz respeito a uma contenção de orientação escatológica diante de todo tipo de fanatismo, embriaguez, dissoluções no pensar, sentir e agir.

Quem reconhece a verdade em Deus torna-se sóbrio diante do delírio do pecado, para viver uma vida reta.

Sensato (sophron): assim como o adjetivo “sóbrio”, também ocorre somente nas past, mas o termo é usado como verbo na carta aos Romanos: cada qual deve pensar com moderação, ser sensato, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Quem é temperante possui uma medida correta de auto-avaliação, um sentido para o que é real. É compreensivo. Depois de ser curado, o homem antes possesso está tranquilamente assentado, está vestido e em perfeito juízo. O temperante é espiritualmente saudável. “O fim de todas as coisas está próximo, sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações!” Ambas as palavras – sóbrio e temperante – possuem um viés escatológico, e o fato de aparecerem juntas serve para enfatizar isto. Quem está embriagado e alimenta sonhos devotos a respeito de si mesmo e do mundo não consegue orar de fato, porque orar é justamente o contrário de fugir da chamada “realidade” para um mundo onírico. Vale o contrário: quem ora acorda para a verdadeira situação, e quem está alerta ora de olhos abertos. É disso que resultam as boas obras.

Digno (kosmios): sensato e digno (como em 1Tm 2.9 para as mulheres!) pode ter aqui o sentido de cortês, solícito, o que no entanto não deve ser entendido como cortesia artificial, que visa as aparências, porque isso representaria uma contradição com sóbrio e sensato. Realmente cortês é aquele que ao avaliar a si mesmo e a todas as coisas de forma sensata e de acordo com a perspectiva de Deus, acordou para as necessidades daqueles aos quais serve.

Hospitaleiro: em outras ocasiões Paulo também exorta as igrejas para que cuidem das necessidades dos santos e pratiquem a hospitalidade. Nos escritos do NT lemos a respeito de cristãos que são viajantes e também comerciantes; outros são perseguidos e precisam fugir para outras cidades. Os apóstolos e seus colaboradores viajavam de localidade em localidade, dependendo para isso da acolhida solícita nas casas dos crentes. Para as reuniões da igreja e para os que estavam em trânsito as casas das famílias dos fiéis representavam o alojamento propício. Tudo isso torna necessária a exortação de que não se esqueçam da hospitalidade. Mais tarde é preciso proteger a hospitalidade contra os abusos de andarilhos itinerantes e “irmãos estranhos”.

Hoje quem viaja por países em que os cristãos são perseguidos ou representam uma minoria sabe o que significa e custa a hospitalidade. Mas também onde os cristãos são maioria na sociedade, mas as formas eclesiásticas não são (mais) marcantes e formadoras de comunhão, a cordial liberalidade das famílias que creem em Cristo em relação a visitantes, conhecidos e desconhecidos, constitui o nervo vital para uma igreja que irradia para dentro do mundo. A abertura hospitaleira não é uma palavra em favor, mas contra o aburguesamento, porque o burguês se isola e se fecha em seu castelo, ainda que seja apenas uma pequena moradia alugada no mesmo edifício com outros 10 ou 100 inquilinos. O burguês não gosta de se colocar a caminho, nem gosta de ser incomodado por inconstantes. A vida de gueto de muitas comunidades eclesiais tem por correlação a vida na reclusão caseira e na privacidade de seus membros. Os servidores da igreja, porém, devem ser exemplos no matrimônio e na família pelo fato de serem abertos e livres para o hóspede.

Apto para ensinar (didaktikos): em todo o NT o termo ocorre somente aqui e em 1Tm 3.2. O seu sentido é descrito exaustivamente em Tt 1.9: o presidente deve “apegar-se à palavra confiável e conforme a doutrina, para que seja capaz de, pelo reto ensino, exortar bem como convencer os que o contradizem”. Deve estar aberto para questões doutrinárias, capaz de formar sua própria opinião e instruir a outros. Precisa discernir entre o que é importante e o que leva a descaminhos, entre doutrina verdadeira e falsa, saudável e doentia e ser capaz de ensinar e transmitir corretamente o que é apropriado em cada caso.

Do presidente espera-se capacidade de ensinar, do diácono não. Não se pode concluir disso que ensinar seja atribuição exclusiva do presidente, nem é possível obter aqui uma base para o posterior “magistério” católico-romano. Porque conforme 2Tm 2.2 Timóteo deve transmitir o evangelho a “pessoas fiéis”, não especificamente apenas presidentes, que serão capazes de novamente ensinar a outras. O ensino ministrado por mestres específicos somente tem sentido sob a premissa de que todos são capazes de se instruir e exortar mutuamente. No entanto, só se pode esperar isso deles quando e porque eles próprios são “ensinados por Deus”. Ademais, 1Tm 5.17 deixa explícito que a presidência não era exercida por uma pessoa sozinha, e que nem todos que presidiam ou eram presbíteros também ensinavam.

Os presidentes tinham de ser exemplos no ensinar, não para aliviar outros desta tarefa, mas capacitando-os para isso. Na escola o professor de matemática deve instruir os alunos para que saibam solucionar pessoalmente tarefas de matemática. Não deve resolver a tarefa por eles, e nem todos os alunos devem tornar-se matemáticos ou professores de matemática.

I Tm 3.3. Não dado ao vinho, não espancador, porém amável, não briguento, não avarento.

Em Corinto as ágapes e as santas ceias da igreja haviam degenerado em comilanças. Em seu meio havia pessoas que se intitulavam irmãos, mas cujo Deus na verdade era seu próprio estômago. O estômago era o poder máximo que os determinava. Comer e beber, bem como digressões sexuais, significavam tudo para eles. Quem ainda era escravo de tais vícios mesmo como cristão dificilmente podia conduzir aqueles que haviam se convertido do mundo gentílico para novos hábitos de vida. O simples fato de que era preciso dar essas instruções a presidentes e diáconos permite reconhecer que à época da redação da carta a igreja não passava pela vida inerte, em um “aburguesamento” distante e impassível: “impuros, idólatras, adúlteros, garotos de programa, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes, assaltantes” era o contexto de onde vinha uma parcela da igreja, não apenas em Corinto, e com tais concidadãos seus membros conviviam no cotidiano. Como aprenderiam que uma vida assim era indefensável na igreja, por ser antissocial e inconciliável com o reino de Deus? Verdadeira transformação não podia ser trazida por ordens e condenações genéricas, mas somente por modelos de vida nova vivenciados. Por essa razão o presidente não deve ser beberrão nem galo de briga com discurso autoritário, mas instrutor amável de uma vida verdadeira. Para a nossa época

uma lista equivalente talvez seria: nem fumante inveterado, nem obeso, nem viciado em leitura de jornais ou televisão, nem polemista.

Porém amável: benigno, solícito, transigente; o contrário de rigorismo inflexível, que tão-somente provoca contendas. De acordo com o linguajar atual poderíamos traduzir o sentido com: objetivo, isento de agressão diante dos agressivos. Em Tt 3.2s “transigente” foi combinado com “manso”, como também em 2Co 10.1, onde Paulo escreve que ele exorta a igreja em conformidade com a amabilidade (transigência) e mansidão que o determinam. Também na época atual de embrutecimento das relações entre as pessoas, dos protestos e das provocações (desafios) de âmbito mundial, quando se visa desencadear e consequentemente desmascarar (super) reações autoconscientes em palavras e ações, é imprescindível para a igreja de Cristo e seus servos que todos estejam firmemente enraizados na forte mansidão de Jesus. Martin Luther King não permitia nenhum participante nas marchas de protesto que em provas anteriores havia se deixado arrastar para reações violentas.

Também nessa palavra não se deve ignorar a conotação escatológica. Como o Senhor está próximo, os cristãos devem expressar sua amabilidade a todas as pessoas, também diante dos que os difamam e perseguem.

Não briguento: trata-se aqui de briga por palavras, ter palavra de comando, ser irredutível no debate., diferente de “não espancador”, que briga chegado às vias de fato, muitas vezes embriagado.

Não avarento: Quando Jesus disse que não se pode servir a Deus e ao dinheiro, os fariseus zombaram dele porque eram gananciosos. Jesus espera do bom administrador que lide fielmente com o dinheiro injusto. De acordo com Tt 1.7 o presidente, que é um administrador (ecônomo) de Deus, não deve ambicionar a torpe ganância.

Lutero traduz: “não ávido de querelas, mas brando, não briguento, não ávido por dinheiro.”

Hans Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I Timóteo.. Editora Evangélica Esperança.

I Tm 3. 2. «...bispo...» Neste ponto oferecemos a nota expositiva geral sobre o «supervisor». Esse termo grego, «epískopos», é usado por cinco vezes no N.T., isto é, em Atos 20:28; Fil. 1:1; I Tim. 3:2; Tito 1:7 e I Ped. 2:25. O termo grego «episkope», usado no primeiro versículo deste capítulo, indica o ofício do supervisor, ocorrendo também, com essa significação, em Atos 1:20. A sua ideia fundamental é a função da «supervisão», que consiste em olahr do alto alguma tarefa que estiver sendo realizada. Esse título não se deriva do A.T., como é o caso de «presbuteros», «ancião», por exemplo.

Somente por duas vezes, na tradução da Septuaginta (tradução do original hebraico do A.T. para 0 grego, completada cerca de duzentos anos antes da era cristã), é que essa palavra tem qualquer conexão com a adoração religiosa (ver Núm. 4:16 e II Reis 11:18). É vocábulo aplicado a Deus, em Jó 20:29, e a Cristo, em I Ped. 2:25. Nos tempos antigos era usado para indicar os oficiais dos exércitos, bem como os «superintendentes» ou diretores dos trabalhadores, em qualquer projeto. Veio a ser palavra usada para indicar o trabalho da «administração eclesiástica». No que tange ao N.T., a questão envolve o modo exato como essa administração era levada a efeito e quão ampla era a autoridade de um «supervisor» cristão . Visto que nestas epístolas pastorais não estão em foco principalmente as «funções», e, sim, as «qualificações» dos líderes eclesiásticos, não podemos obter nessas epístolas uma visão muito clara do que tal ofício envolvia nos tempos neotestamentários. Não há que duvidar, por conseguinte, que até no começo do segundo século de nossa era, pelo menos, essas funções variavam de acordo com o distrito onde isso ocorria, onde os costumes locais serviam de influência sobre qualquer forma de governo. (Quanto a esse particular, ver as notas de introdução a este terceiro capítulo).

Pelo tempo de Inácio (o qual foi martirizado em cerca de 107 D.C., nos dias do imperador Trajano), sendo aquele o terceiro supervisor de Antioquia, já se desenvolvera forte episcopado, nas áreas com as quais ele estava familiarizado. Um único homem era o supervisor da igreja, havendo supervisores de «territórios» que tinham a autoridade de nomear a outros para esse ofício. Não sabemos dizer até que ponto se desenvolvera esse tipo de governo em período anterior; mas, com base nestas epístolas pastorais, alguns eruditos supõem que isso ocorreu bem cedo, e que todas as formas de governo, conhecidas por Inácio, se tinham desenvolvido antes da era apostólica terminar, pelo menos em algumas localidades. Notemos a forte posição de Tiago, em Jerusalém (ver Atos 15:23; 21:18 e Gál. 2:9,12), sendo possível que ele tivesse sido um «supervisor», quase da mesma categoria daqueles que surgiram algum tempo mais tarde.

Jerônimo, ao comentar sobre a passagem de Tito 1:5, confirma o fato que a supremacia de um único supervisor, em qualquer localidade, derivava-se do «costume, e não de nomeação real da parte do Senhor» (Conf. com Ep.146). Isso se deveu, principalmente, à necessidade de serem evitados os cismas na igreja.

A ordem original na igreja era o ministério plural, onde vários profetas, anciãos e diáconos compartilhavam da liderança de igreja. A maioria das epístolas de Paulo, bem como o livro de Atos, se referem a esses líderes sempre no plural, com alusão a qualquer comunidade isolada. (Ver Atos 20:17 e Fil. 1:1). Porém, em vários lugares, quando fortes personalidades podiam dominar personalidades mais fracas, emergiu o governo de «um único indivíduo». Além disso, o desaparecimento dos dons ministeriais, conferidos por manifestação do Espírito, encorajou a ascendência de «homens fortes», capazes de governar, sem importar se possuíam ou não a chamada ministerial. O ministério de «um homem só», é, essencialmente, substituto do exercício dos dons ministeriais, porquanto esse único líder se profissionalizou, passando a ser treinado em escolas e sendo consagrado pela maquinaria eclesiástica. Além disso, em diversas áreas, dentre os «homens fortes», se levantaria um líder ainda mais forte, que então assumia a autoridade sobre uma área inteira, ao invés de fazê-lo sobre uma única congregação. Pelo tempo de Inácio, isso já tinha acontecido, e, provavelmente, até mesmo antes disso. Por conseguinte, o «supervisor» se tornou o elemento mais poderoso da tríada governante, composta por «supervisor», «ancião» e «diácono». E esse título de «supervisor» se aplicava ao «pastor» de uma única comunidade cristã, ou então ao «pastor» de uma área inteira, que tinha a autoridade de nomear outros «pastores». Essa situação certamente transparece, pelo menos em sua forma preliminar, nas «epístolas pastorais».

Quanto à própria nomeação, o mais provável é que isso diferisse em diferentes áreas. Clemente de Roma (90 D.C.) e a Didache (um tratado cristão anônimo, pertencente ao começo do segundo século de nossa era), indicam que era conferida a «eleição popular» aos que aspiravam a esse ofício. Não há que duvidar que isso era seguido por orações e imposição de mãos, que era a própria consagração. Vê-se, pois, que os líderes das igrejas cristãs deveriam ser levantados espontaneamente dentre os crentes, devendo ser distinguidos por uma fé singular no uso dos dons espirituais, bem como no desenvolvimento da piedade pessoal. Esses homens, pois, seriam consagrados pela irmandade, em reconhecimento de sua chamada e de seu caráter provado, e não devido ao treinamento intelectual em escolas ou seminários. O treinamento nas escolas, entretanto, para esses homens «espirituais», seria uma educação extremamente vantajosa, porquanto há coisa que se pode aprender de outros, ou dos compêndios, que não se pode aprender sozinho. Contudo, a operação do Espírito sob hipótese alguma pode ser substituída com sucesso pelo ministério profissional, o qual não é grandemente diverso, em sua natureza, de outras «profissões».

A forma episcopal de governo eclesiástico é aquele em que os «supervisores» têm a principal autoridade, superior à autoridade de pastores e diáconos, e nunca investida mediante alguma ação democrática por parte das igrejas locais. O «supervisor» ou «bispo» de uma área é o oficial que consagra a outros. Esse oficia a todas as consagrações, embora os «presbíteros» ou «anciãos» também tenham uma função auxiliar quanto a esse particular, bem como quanto a muitas outras questões. Normalmente, nas páginas do N.T., um «ancião» não é distinguido, quanto às funções e ao ofício, de um «bispo» ou «supervisor». Nos escritos de Clemente de Roma esses dois vocábulos são intercambiáveis. Porém, nas epístolas de Inácio, vê-se que o «supervisor» já tomara a precedência. Além disso, não há no N.T. qualquer conceito que os «supervisores» foram os sucessores dos apóstolos. Tal ideia é produto da tradição e do desenvolvimento históricos.

As qualificações dos «pastores» (ficando também subentendidas as qualificações de outros líderes eclesiásticos) são as seguintes: «...irrepreensível...» No grego é «anepilemptos», que significa exatamente o que temos aqui. Trata-se de forma privativa de «epilambanomai», que significa «deitar mãos sobre», como se fora uma acusação e comprovação de culpa. Portanto, um «supervisor» deveria ser alguém além da possibilidade de ser apanhado em falta, em um escândalo ou em algum vício. Essa palavra é usada somente aqui e em I Tim. 5:7 e 6:14, pelo que é um dos cento e setenta e cinco vocábulos que se encontram nas «epístolas pastorais» mas não encontrados em qualquer outra porção do N.T. E interessante que o próprio vocabulário diferente destas epístolas tem sido motivo de dúvidas, entre os estudiosos, acerca da autoria paulina das mesmas. O problema inteiro é discutido na primeira secção, parte quarta, da introdução às «epístolas pastorais».

«...esposo de uma só mulher...» Essas palavras têm sido variegadamente compreendidas. Certamente indica os pontos seguintes: 1. O líder cristão de uma igreja não pode ser culpado de «poligamia». Isso contradiz as normas judaicas, tendo elevado o ideal cristão do casamento monógamo, provavelmente baseado nos ensinamentos de Cristo sobre o assunto, conforme se vê em Mat. 19:3 e ss. Visto que isso é contrário à poligamia, certamente é também contrário ao concubinato, que é apenas uma forma disfarçada de poligamia, e de pior espécie, embora houvesse realmente pouca diferença entre as duas condições no antigo judaísmo, além do que o «concubinato» não estava sujeito a qualquer estigma social.

  1. Provavelmente isso também é contra qualquer líder cristão que se tenha divorciado e se tenha casado novamente, porquanto deve ser seguido o conceito do matrimônio ideal, instituído pelo Senhor Jesus. A «exceção paulina» à lei que veda o divórcio, quando um dos cônjuges é «incrédulo» (ver I Cor. 7:13-15), provavelmente significa que tal pessoa deve ter direito à liderança eclesiástica, se para tanto estiver preparado em todos os outros particulares. Isso se deve ao fato que um irmão ou uma irmã não estão em «servidão» nesses casos, e isso subentenderia o direito de se casarem novamente. O passado seria esquecido no cristianismo, e as novas relações, estabelecidas dentro da nova fé cristã, suplantariam todas as relações e condições anteriores. A igreja evangélica não tem reconhecido esse ponto, mas parece ser um ensinamento paulino genuíno, embora não apareça nos evangelhos. Portanto, se um irmão qualquer se divorciou de uma «crente», não pode ser líder na igreja. Porém, se se divorciou de esposa incrédula, sobretudo antes dele mesmo ter-se convertido ao cristianismo, ou se tal divórcio foi provocado pela mulher incrédula, e não por ele, então deveria a congregação local reconhecê-lo como apto para ocupar posição de liderança espiritual, contanto que, noutros pontos, esteja qualificado para isso. Mas, se porventura o homem é quem se divorciou da mulher, contra a vontade dela, é extremamente duvidoso que, na igreja primitiva, fosse permitido a tal homem ocupar posição de liderança na igreja, mesmo que viesse a contrair novas núpcias.
  2. Fica igualmente proibida a digamia, isto é, segundo matrimônio, após o falecimento da p rim e ira esposa. Parece que isso está incluso nessa proibição, que envolve aqueles que devem ou não ocupar ofícios eclesiásticos. Alguns grupos se têm mostrado bastante radicais nesse particular, não permitindo que um homem, casado pela segunda vez, após o falecimento de sua p rim e ira esposa, ocupe cargo de «pastor» ou «supervisor». Embora a interpretação desses grupos seja exagerada, pelo que pode parecer improvável que isso seja o ensino deste texto, contudo, a passagem de I Tim. 5:9,11 quase torna necessário que interpretemos, nestas palavras, que o autor sagrado era contra qualquer forma de segundo matrimônio para um oficial eclesiástico. E é provável que assim pensasse o autor sagrado porque tal oficial deveria defender o ideal simbólico do casamento, um homem e uma mulher, conforme é exemplificado no tipo de Cristo e sua igreja. (Ver Efé. 5:32). Além disso, a julgar pelas expressões do quinto capítulo desta epístola, aludidas acima, parece que o autor sagrado julgava que a viuvez perpétua é mais nobre e mais favorável à inquirição espiritual, bem como ao trabalho eclesiástico, do que o estado de um homem casado pela segunda vez. (Ver as notas expositivas nos lugares mencionados, que confirmam este ponto de vista e esta interpretação necessária). Desnecessário é dizer que a igreja, em geral, não tem sentido que esse preceito é obrigatório.

A morte da esposa de um homem anula completamente o seu casamento; pelo que também, se vier a contrair novas núpcias, será marido de uma só mulher. E a analogia da única esposa de Cristo não pode ser aplicada neste particular, porque o matrimônio não foi determinado como uma das instituições celestes.· Contudo, essa interpretação sobre esta expressão, como declaração contrária a um segundo matrimônio, já era forte nos escritos dos pais da igreja que viveram nos séculos II, III e IV D.C. (Ver Tertuliano, ad Uxor, 1.7; Clemente de Alexandria, Strom. iii. 12; Orígenes, Hom. xvii sobre Lucas). Tal ideia foi incorporada em dogmas eclesiásticos posteriores. (Ver Apost. Ch. ordem 1; Apost. Canons, xvii e Constituições Apostólicas ii.2). Os montanistas transformaram em artigo de fé essa regra contra um segundo casamento, após a morte da p rim e ira esposa.

Atenágoras, apologista cristão que viveu em Atenas, no segundo século de nossa era, chamava de «adultério agravado» ao segundo casamento, o que nos mostra até que ponto o ascetismo pode perverter o bom senso moral.

  1. O ponto de vista celibatário é outra interpretação sobre este versículo, dando a entender que a «única esposa» de um pastor é a igreja, o que significaria que um «supervisor» não poderia ter outra esposa além dessa.

Mas essa é uma interpretação sem base, derivada de preconceitos, sendo tão extremada e ridícula que nem precisa de refutação.

A situação inteira tem sido complicada devido a situações especiais surgidas no decorrer da história da igreja, como também por circunstâncias especiais de casos particulares. Por exemplo, consideremos o casamento dos escravos, no império romano. A nenhum escravo era conferido o estado completo do matrimonium, sem importar se o outro cônjuge era escravo ou não. Levantava-se desse modo a dúvida se a igreja deveria reputar como válido um casamento que não era reconhecido pelo estado. Em outros lugares dava-se o caso oposto, isto é, alguns governos não reconheciam (como até o dia de hoje) o «casamento religioso», a menos que confirmado pela cerimônia «civil» (o que ocorre até mesmo no Brasil). Na igreja oriental, os casamentos efetuados antes do batismo (sem importar quem esteja envolvido) não são reputados como desqualificação para o sacerdócio, se porventura foram posteriormente anulados. O melhor que pode ser feito, portanto, no que tange a qualquer área geográfica, é que os envolvidos procurem fazer uma avaliação honesta sobre os méritos ou deméritos dos casos individuais, quando surgem problemas especiais que envolvem a questão, que não possam ser definidos por qualquer conjunto de regras. As igrejas locais que agem com prudência não se deixarão agrilhoar por qualquer regra isolada sobre quem pode e quem não pode ser um de seus líderes; pelo contrário, haverão de examinar cada caso particular com sabedoria e cautela, porquanto surgem ocasionalmente casos especiais, aos quais não podem ser aplicadas as regras. Não obstante, em qualquer decisão, a tradição eclesiástica não pode ser ignorada, pois a história eclesiástica poderá oferecer um roteiro seguro.

Notemos que a passagem de I Tim. 4:3 condena àqueles que se opunham ao matrimônio (conforme faziam os gnósticos ascetas e os essênios); pelo que podemos concluir que o autor sagrado recomenda que os principais líderes da igreja sejam homens casados, embora isso não seja declarado na forma de um m andamento ou de um dogma positivo. Mas não h á que duvidar que essa é a «situação desejável». Todavia, um homem solteiro, de grande piedade, não deveria ser barrado de ocupar qualquer ofício eclesiástico. Paulo não era casado, embora provavelmente tivesse sido uma vez. Cumpre-nos observar, por semelhante modo, que às viúvas é ordenado que não se casem novamente (ver I Tim. 5:14), sendo provável que aos «viúvos» também se aconselhasse tal medida. Não seria razoável, segundo parece, não permitir viúvos recasados ocuparem ofícios eclesiásticos. No entanto, segundo todas as aparências, é justamente isso que o autor sagrado procura determinar. (Ver o argumento em favor da «monogamia», em Efé. 5:32).

«...temperante...» No grego é «nephalios», que significa «temperado» especialmente no uso do vinho, «sóbrio». Noutros pontos do N.T., essa palavra é usada em I Tim. 3:11 e Tito 2:2; mas é usada sob forma diferente, a forma verbal, em I Tes. 5:6,8; II Tim. 4:5; I Ped. 1:13; 4:7 e 5:8. Esse termo pode significar «ajuizado», sem qualquer vinculação à ideia de bebidas alcoólicas, embora se possa pensar em um uso temperado de bebidas fortes. Todavia, não há aqui nenhuma proibição absoluta.

Contudo, a fim de ser evitada a má aparência do mal, bem como da tentação ao alcoolismo, talvez seja melhor a abstinência total. (Ver o  trecho de Efé. 5:18 quanto à nota expositiva geral contra o «alcoolismo»). Notar as palavras existentes no terceiro versículo deste capítulo, «...não dado ao vinho...», que reforça o que é dito neste versículo. Todo o pastor deveria evitar as leviandades da juventude.

«...sóbrio...» é tradução de «sophron», vocábulo grego que quer dizer «prudente», «previdente», «autocontrolado», ao passo que, quando aplicado a mulheres, esse adjetivo significava «casta», «decente», «modesta». Em todo o N.T. é usado somente aqui e em Tito 1:8 e 2:2,5, isto é, dentro das «epístolas pastorais». Trata-se de um dos cento e setenta e cinco termos usados exclusivamente nas «epístolas pastorais», e não no restante do N. T.

« ...modesto...» No grego é «kosmos», que significa «digno», «bem comportado», «sereno», palavra usada exclusivamente aqui e em I Tim. 2:9. Portanto, é uma daquelas cento e setenta e cinco palavras usadas somente nas «epístolas pastorais», em todo o N.T. Seu significado básico é «ordeiro».

O «kosmos» (palavra correlata), é a «beleza organizada» da criação de Deus. A forma verbal, «kosmeo», significa «ordenar», «arranjar» ou «adornar», mas também «dirigir». Um líder espiritual, sobretudo um pastor ou «supervisor», deveria ser autocontrolado, ordeiro, dono de boa conduta e de boa reputação.

« ...hospitaleiro ...» (Ver as notas expositivas completas sobre essa qualidade, em Rom. 12:13, havendo pensamentos adicionais a respeito, em Atos 16:15. Ver igualmente Tito 1:8 e I Ped. 4:9). Na epístola a Tito essa ideia é enfatizada ainda mais intensamente. Todo o pastor deveria ser «amante da hospitalidade». E isso deveria ser feito sem «murmurações», mas antes, livre e espontaneamente, como demonstração do amor e da amizade fraternais (conforme se lê em I Ped. 4:9). Havia a necessidade de hospitalidade, na igreja cristã primitiva, porquanto naquele tempo eram raríssimas as hospedarias, as quais, com grande frequência, eram apenas antros de ladrões e meretrizes. Os crentes, porém, que são membros da família divina, deveriam ter interesse por seus irmãos na fé, provendo-lhes conforto e o necessário para a vida diária. E os oficiais da igreja, por serem os representantes da igreja, com frequência tinham de abrigar visitantes, evangelistas em viagem, vindos de outros lugares, além de simples irmãos na fé, o que significa que deveriam mostrar-se dispostos a cumprir essa obrigação, com verdadeiro interesse e amor cristãos.

«...apto para ensinar...» Essas palavras traduzem um único termo grego, «didaktikos», que é usado aqui e em II Tim. 2:24, o que quer dizer que se trata de uma das cento e setenta e cinco palavras usadas exclusivamente nas «epístolas pastorais», em todo o N.T. Dos «supervisores» se esperava que fossem «mestres», conforme se vê em I Tim. 5:17 e Tito 1:9. Isso indica mais que mero «interesse» pelo ensino. Indica «qualificação» e «disposição» para ensinar. A própria palavra ordinariamente significa «habilidoso no ensino»; e, de acordo com o ensino neotestamentário, isso só pode indicar alguém que possui o dom ministerial de «mestre». (Ver a introdução ao décimo segundo capítulo da p rim e ira epístola aos Coríntios, sobre esse dom ministerial). Deve haver um ministério de ensino planejado e persistente, muito mais extenso que o permitido pela pregação nos cultos regulares. Um bom pastor saberá como ensinar a seu rebanho, a como tornar eficaz seu ministério de ensino.

A Didache (escrito em cere a de 100 D.C.) atribui a responsabilidade maior do ensino aos profeta s e mestres (xiii e xv), ficando essa responsabilidade ao encargo dos pastores somente na ausência daqueles. O importante é que haja indivíduos espiritualmente chamados para esse ministério, os quais não devem p o u p a r seu tempo e seus talentos no cumprimento de sua vocação.

Um mestre cristão deve ser guardião e depositário do conhecimento bíblico, aprimorando-se c ad a vez mais em sua compreensão sobre as realidades espirituais, aprofundando sempre mais o seu conhecimento nas Escrituras. A igreja evangélica de hoje em dia necessita de «mestres», havendo um número extremamente reduzido deles. O trecho de I Tim. 5:17 mostra-nos que nem todos os pastores governantes tinham a função de ensinar, e que aqueles que governavam e ensinavam deveriam ser alvo de especial consideração, dignos de duplo salário. O ministério carismático, composto de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (ver Efé. 4:11), não tinha por intuito cessar e ser substituído pelo ministério de ensino. Antes, o ministério de «mestre» é recebido por unção divina, não resultando apenas do cultivo intelectual. Todavia, o mestre usa «revelações» como base de seu ensino, podendo essas revelações ser aquelas contidas nos documentos bíblicos ou através de discernimento intuitivo ou transmissão mística de conhecimentos, embora sempre de acordo com a revelação bíblica, que é básica, fundamental. Já o profeta fala por inspiração espiritual direta, dada no momento da elocução da profecia. Mas é o Espírito Santo quem impulsiona a ambos. Não ensinar equivale a perecer; e é por isso que, em muitos lugares de hoje em dia, a igreja cristã sucumbe, por falta de alimento e spiritual. O ensino é parte integral da Grande Comissão (ver Mat. 28:19,20), devendo ser tratado com muito mais dedicação e urgência do que vem ocorrendo entre nós, equiparando-se em intensidade e importância ao evangelismo.

I Tm 3. 7. «...não dado ao vinho...» (Quanto a notas expositivas completas acerca do «alcoolismo», e tudo quanto está implícito no uso de bebidas alcoólicas, ver Efé. 5:1.8). O termo grego «paroinos» é aqui usado, sendo usado somente neste versículo e em Tito 1:7. A passagem de I Tim. 5:23 mostra-nos que o autor não se opunha ao uso moderado do vinho. Ele apela em favor da moderação. A total abstinência, entretanto, é a conduta ideal para um ministro do evangelho, pois isso evitará críticas, tentações e suspeitas. Ele não deveria ser, e nem deveria arriscar-se a ser, «viciado no vinho», conforme o termo grego aqui usado indica. 6 óbvio que o evangelho de Cristo tem convertido a muitos que antes eram alcoólatras, quando estavam na incredulidade. Para esses, seria fácil reverterem à sua conduta anterior, que é exatamente o que aconteceu em Corinto (ver I Cor. 11:21), quando se abusava até mesmo da Ceia do Senhor.

Luz da ciência:

A ciência moderna ajuda-nos a definir este problema. Tem sido mostrado que o álcool no sangue mata células cerebrais. Combinando este fato com o ensino de I Cor. 3:16,17, devemos dizer que a total abstinência é o único modo espiritual de agir.

«...não violento...» No grego é «plektes», que indica indivíduo «pugnaz», «briguento», usado unicamente aqui e em Tito 1:7, em todo ο N.T., sendo um dos cento e setenta e cinco vocábulos usados exclusivamente nas «epístolas pastorais». Sua raiz é «plesso», que significa «bater», «ferir», com um golpe direto com o punho, ou com uma arma na mão, em contraste com «bailo», que é ferir com um míssil. O sentido é literal neste caso; o autor sagrado não falava sobre alguém ser pugnaz e violento nas palavras, embora isso, naturalmente, também seja ofensa que não pode ser tolerada da parte de líderes eclesiásticos. Tais ofensas verbais devem ser incluídas no significado desta palavra, embora isso não seja diretamente aludido. As Constituições Apostólicas (oito volumes de instruções, dos fins do século IV D.C.), um manual de disciplina eclesiástica, que supostamente seriam instruções dos apóstolos a Clemente de Roma, contêm um interessante paralelo: «A um supervisor, ancião ou diácono que bata nos crentes, quando pecam, ou nos incrédulos, quando fazem algum erro, desejando aterrorizá-los desse modo, ordenamos que seja deposto; pois em parte alguma o Senhor nos ensinou a fazer tais coisas. Pelo contrário, quando foi ferido, não revidou; quando foi vilipendiado, não vilipendiou; quando sofreu, não ameaçou» (νώ'.47,28).

«...cordato...» No grego é «epieikes», que significa «gentil», «bondoso», «pronto a ceder», «dotado de espírito tolerante», pois assim o pastor estará imitando a seu Senhor. (Ver Fil. 4:5). (Ver a respeito da «tolerância», que se deriva da mesma raiz, em II Cor. 10:1, e onde tal palavra é associada à «mansidão»). O presente vocábulo condena o rigor estúpido e a atitude inflexível. No grego clássico era usado para indicar «bondade», «gentileza», em que o indivíduo não insistia sobre a justiça estrita, em contraste com «dikaios», «justo», «reto».

«...inimigo de contendas...» No original temos aqui apenas uma palavra, «amachon», que significa «pacífico». Trata-se da forma privativa de «mache», que quer dizer «batalha», «querela», «luta». Porém, quantos líderes eclesiásticos mostram a atitude oposta a esta, sendo «briguentos», estando ansiosos por participar de contendas, ao que chamam de «defender a fé» ou «lutar por uma causa justa»; e assim dividem igrejas, perturbam denominações e, de modo geral, fazem da igreja um campo de batalha, ao invés de contribuírem para que ela seja um lugar tranquilo, onde se possa aprender a piedade. A passagem de Tito 3:2 apresenta juntas essas mesmas duas palavras (esta e a anterior), embora em ordem inversa. «Amachos» é termo usado somente aqui e em Tito 3:2, em todo ο N.T., embora «cordato» seja largamente empregado.

«...não avarento...» No grego é «aphilarguros», usado somente aqui e em Heb. 13:5. Significa «amante de dinheiro». «Philarguros», sem o privativo, mas com sentido praticamente idêntico, se encontra em Luc. 16:14 e II Tim. 3:2. O termo normal para «avarento» é «pleonektes», em outras passagens do N.T. (Ver Rom. 1:29 quanto a notas expositivas sobre a forma nominal dessa palavra). Um bom «supervisor» não se encontra em seu ofício por causa do dinheiro. Pode esperar receber uma recompensa financeira razoável, por trabalhar no evangelho, mas não deve esperar enriquecer nesse mister, não devendo mesmo trabalhar visando esse alvo. A sua dedicação a Cristo deveria ser tão grande que ficasse excluída qualquer possibilidade dessas. Entretanto, em nossos dias, muitos evangelistas e «grandes pregadores» se têm, literalmente, enriquecido. Muitos deles têm aconselhado a viúvas que lhes deixem suas ricas possessões em herança, além de usarem de outros meios duvidosos para se enriquecerem. Um ancião ou pastor deveria ser generoso com as suas possessões, dando sempre de si mesmo e de seus bens, procurando fazer avançar o seu trabalho. Seu dinheiro deveria ser investido em seu trabalho. Não deveria pensar em amealhar, pensando em uma aposentadoria para dentro de poucos anos.

«Livre da cobiça egoísta, que tão frequentemente gera ira e contenda (comparar com I Tim. 6:10 e Heb. 13:5). Sabemos quão frequentemente nosso Senhor advertiu a seus discípulos a que se precavessem da cobiça (ver Luc. 16:14, etc.)». (Oosterzee, in loc.).

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 307-310.

Homem de Maturidade (3.6,7)

O versículo 6 oferece perspicácia muito interessante sobre a situação em Éfeso: Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo

(6). Esta é advertência contra a promoção muito rápida à liderança de “recém-conver- tidos” ou pessoas “recentemente batizadas”. Embora a igreja efésia já tivesse muitos anos de existência e, provavelmente, não devesse ter carência de líderes maduros, havia indícios dfe que candidatos imaturos ao ministério estavam sendo postos em serviço. Paulo acreditava em maturidade e preparação de candidatos para este cargo santo, e por uma boa e suficiente razão. Existia o perigo de que, para alguém inadequada mente preparado, a tentação ao orgulho espiritual se tornasse grande demais para ser resistida. Isso é tragédia na certa, tragédia descrita pelo apóstolo nos seguintes termos: Cair na condenação do diabo. C. K. Barrett destaca que “o julgamento não é tramado pelo diabo, mas feito por Deus em rígido acordo com a verdade”. A tradução de Phillips expressa o que o apóstolo quis dizer: “Para que não se torne orgulhoso e participe da queda do diabo” (CH).

Esta determinação lembra uma situação nos procedimentos de nosso Senhor com seus seguidores, relatada em Lucas 10.17-20. Os setenta haviam acabado de voltar de sua missão designada e estavam exultantes com o fato de que “até os demônios se nos sujeitam”. Jesus não reprovou imediatamente o orgulho espiritual principiante, mas observou um tanto enigmaticamente: “Eu via Satanás, como raio, cair do céu”. E completou: “Eis que vos dou poder [...] [sobre] toda a força do Inimigo. [...] Mas não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos”. Foi o orgulho que custou a Lúcifer o seu lugar nas hostes celestes, e esta foi a condenação do diabo. O ministro cristão tem de estar atento para que o orgulho não o compila a participar desta condenação.

Resta ainda uma especificação final para aquele que deseja servir na posição de bispo ou líder: Convém, também, que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta e no laço (“armadilha”, NTLH) do diabo (7). O ministro cristão tem de inspirar o respeito e a confiança da comunidade fora da igreja, caso deseje ganhar as pessoas dessa comunidade para a igreja. E fácil dizer: “Não me importo com o que as pessoas pensem de mim”; e contanto que essa atitude seja devidamente planejada e corretamente compreendida, justifica-se. Mas ninguém deve ser indiferente à sua reputação na comunidade em que vive. Ele deve desejar veementemente que as pessoas o considerem inteiramente acima de repreensão. Ver a questão de outro modo, diz Paulo, é expor-se à mesma armadilha que aguarda o indivíduo cujo espírito está arruinado pelo orgulho espiritual.

  1. Glenn Gould. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 9. pag. 471-472.

I Tm 3.7 Mas ele também precisa ter um bom testemunho dos de fora, a fim de não cair na difamação e no laço do diabo.

Já em sua carta mais antiga o apóstolo exorta a congregação para que tenha uma “conduta decente (honrada)” aos olhos dos de fora. Não ser tropeço nem causar escândalo! Essa exortação vale para a conduta diante de todos: judeus, gregos, cristãos. Isso não tem nada a ver com uma falsa adaptação aos padrões e costumes do mundo, porque a igreja deve ser irrepreensível e pura em meio a esta geração pervertida e corrupta. Suas boas obras devem poder ser vistas à luz do dia e se diferenciar das inúteis obras das trevas. Porque “enquanto os cristãos se preocupam sacerdotalmente pelo mundo, o mundo lança o afiado olhar da hostilidade sobre a igreja, a fim de encontrar pontos vulneráveis. Por isso não será recomendável colocar na liderança da igreja homens que eram notórios na cidade por seus pecados ou fraquezas passadas, ainda que se tenham emendado sinceramente”.

Os de fora na realidade estão fora da igreja, mas nem por isso fora do alcance do juízo e da graça de Deus. Os que estão fora da igreja possuem uma percepção implacável e um juízo insubornável para os pecados daqueles que se dizem cristãos. Com essa atitude na verdade condenam a si mesmos, porque confessam que sabem muito bem o que é certo e como deveriam viver. Contudo, isso não desculpa a igreja. Ela mesma deve manter um juízo vigilante acerca das próprias transgressões e por isso ir com humildade e mansidão ao encontro dos “de fora”.

Quando se pondera como os meios de comunicação de massa vasculham a vida passada e atual de líderes políticos, econômicos e religiosos com a criatividade de um detetive, desnudando-a em público (em geral por motivos ignóbeis de luta pelo poder), torna-se ainda mais atual a exigência do bom testemunho de fora. Pois quando a difamação circula em lugar do bom testemunho, ela pode influir de modo tão terrível sobre o envolvido que lhe rouba a fé no perdão de Deus, lançando-o no desespero. Como uma mosca na teia da aranha, ele ficará então emaranhado nos laços do diabo, do acusador originário.

A lista das 16 “virtudes” começa de forma aparentemente inofensiva com a irrepreensibilidade como premissa fundamental para o serviço de presidente. O catálogo termina com a condição quase idêntica do bom testemunho dado pelos de fora da igreja, anunciando surpreendentemente a verdadeira razão e a grave conotação de toda a listagem: laço e juízo do diabo, esses são a ameaça e o risco reais daquele que visa servir a outros sendo seu presidente. Enquanto assim se abre a visão para o pano de fundo da sedução demoníaca, o catálogo de virtudes perde sua limitação helenista e o sabor pequeno-burguês resultante da apreciação meramente superficial.

Hans Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I Timóteo.. Editora Evangélica Esperança.

«...pelo contrário...» Literalmente, o grego diz aqui, «...outrossim, ele deve...» ou então «...deve ele também...» O versículo anterior mostra-nos que um «supervisor» não pode ser homem recentemente convertido; antes, é mister que seja crente há algum tempo, já bem firmado na fé, fortalecido em sua experiência cristã. A essa ideia «implícita» são aqui acrescidas outras exigências. Ou então, estas «adições» são acrescidas a todas as demais qualificações, dadas a partir do segundo versículo deste capítulo, que é seu sentido provável. É como se Paulo houvesse escrito: «...em adição a todas essas qualificações que tenho mencionado, também quero acrescentar mais isto». Essas «qualificações» incluem quaisquer virtudes e condições dadas a entender no versículo anterior, mas também incluem tudo quanto é dito nesta secção, acerca dessa questão.

«...bom testemunho...» No grego é «marturia», que significa «testemunho ». Também pode indicar aquilo que serve como prova sobre algo; uma espécie de reputação geral, ou então o testemunho verbal sobre a veracidade de alguma coisa. Este último sentido é que, mais provavelmente, está em foco aqui. Estão em pauta os «de fora», mas que são testemunhas sobre a vida reta do candidato ao episcopado. Esses devem dar um testemunho «positivo» sobre a avaliação que fazem dele, para que não se torne suspeito de algum defeito ou vício, que o desqualifique.

«...dos de fora...» Essas palavras aludem aos «incrédulos», aqueles que não fazem parte do «rebanho» da igreja. (Ver o trecho de I Cor. 5:12, que explica essa expressão, embora ali a palavra grega seja «ekso», e não «eksothen», como aqui, embora esses dois vocábulos sejam sinônimos em seu uso). O vocábulo deste texto é usado em II Cor. 7:5, embora com diferente conexão. O trecho de I Tes. 4:6 determina uma vida santa e honesta perante «os de fora». Nenhum «escândalo» deve ser feito contra os judeus ou os gentios. (Ver I Cor. 10:32; Col. 4:5; I Ped. 2:12 e 3:1). Toda a nova religião é sempre alvo de suspeitas, e não há que duvidar que essas suspeitas recaiam sobre os cristãos primitivos. As pessoas, em qualquer geração, tendem por observar aqueles que professam fé e poder religioso e espiritual, para ver em que isso os modifica. Sempre se mostram prontas a criticar todo e qualquer «fracasso da fé». É exigido de todo o pastor, portanto, que ele seja aprovado nesse difícil teste. O que seus vizinhos pensam a seu respeito? A sua piedade é patente e na sua vizinhança pensam bem a seu respeito, ou isso se limita apenas ao círculo da igreja? Nesse sentido, a «vox populi» é a «vox Dei». Com grande frequência a piedade de um homem é colocada dentro de «categorias». Todo o «supervisor», pois, deve ter o cuidado de manter a aparência piedosa na igreja; e pode até mesmo sentir-se diferente entre a irmandade, para que nunca se descuide de agir com piedade ali. Porém, seus familiares e seus vizinhos sabem qual é a real qualidade de sua experiência espiritual. Paulo recomenda, portanto, que os de fora deem o seu parecer sobre o caráter de todo o candidato ao pastorado, antes de ser ele consagrado. Mas, com extrema raridade isso é uma regra aplicada à consagração de pasto res, apesar de ser norma importantíssima.

« ...a fim de não cair...» Caso um homem venha a ser devidamente testado, pode-se evitar a «queda de um pastor», e isso é altamente desejável para o bem da comunidade inteira.

«...opróbrio...» No grego temos o termo «oneidismos», que significa «vilipêndio», «desgraça», «insulto», «opróbrio». Não devemos pensar aqui somente em «críticas hostis», como dos «caluniadores humanos», embora certamente isso venha a acompanhar a vida do pastor que naufragou na fé.

Devemos antes pensar na ideia que transparece no sexto versículo deste capítulo: o próprio diabo haverá de insultá-lo, de caluniá-lo , de repreendê-lo, em concordância com o trecho de Apo. 12:10. E essas acusações podem ser feitas diante de Deus, diante dos homens—de muitas maneiras diversas, que faça seu nome ser zombado e sua pessoa ser desprezada, incluindo os caluniadores e zombadores levantados pelo próprio Satanás—tanto do «lado de fora» como no seio da própria igreja. Os seres humanos tornam-se instrumentos do diabo, nesse ridículo lançado contra o pastor.

Alguns eruditos supõem que o sentido destas palavras é que se o candidato ao pastorado tinha defeitos e vícios, em sua vida anterior, quando a igreja fez dele um pastor tão repentinamente, sem provas suficientes de sua conversão e experiência cristã, então que tal homem tornar-se-á objeto imediato de críticas, por parte dos «de fora», que o conhecem e que agora começam a denegri-lo. Essa interpretação é possível, mas parece melhor pensarmos aqui em um «fracasso futuro», como possibilidade seriamente antecipada, se porventura alguém for levantado como líder na igreja precipitadamente, quando ainda é noviço na fé, pois o orgulho daí decorrente gradualmente irá destruindo a ele mesmo e ao seu ministério.

(Isso pode ser comparado com I Tim. 5:14, que é passagem que nos ensina que as viúvas jovens devem casar-se novamente, a fim de que o «adversário» não tenha qualquer oportunidade de falar com «reprimendas»).

«...laço...» No grego é «pagis», que significa «armadilha», palavra usada para indicar algo que apanha animais. Em sentido figurado, essa palavra indicava qualquer coisa que representa perigo ou ameaça: ou fisicamente, como as enfermidades, a morte física ou as dificuldades; e espiritualmente, como os testes difíceis, as tentações, os tropeços. (C om p ara r com as passagens de I Tim. 6:19; II Tim. 2:26 e Rom. 11:9, quanto ao uso dessa palavra). Um líder cristão pode ser embaraçado por muitas dessas coisas, postas em seu caminho, por Satanás. Seu próprio orgulho e excessiva confiança podem ser algumas dessas coisas. (Ver o sexto versículo deste capítulo). O dinheiro também pode ser uma dessas armadilhas. (Ver I Tim. 6:9); -e assim também podem ser as mulheres ou a ambição. Em todas essas coisas, pois, concentra-se o «perigo de queda», conforme diz Alford (in loc.). E isso leva um pastor ao seu modo antigo de vida, aos seus vícios e degradações.

«Os desviados, de maneira geral, caem perante aqueles pecados que estavam acostumados a praticar, antes de sua conversão. Hábitos inveterados são reavivados naquele que não continua a negar-se a si próprio e a vigiar em oração». (Adam Clarke, in loc.). Quanto ao ensinamento geral que devemos evitar que novos convertidos venham a ocupar posições de autoridade, comparar a seguinte declaração encontrada no Talmude, Maimonides Kilchot Tephilla, cap. 8 e secção 11: «Eles não nomeiam como mensageiro ou ministro de uma congregação, senão aquele que é o maior na congregação, em sua sabedoria e em suas obras; e, se for homem idoso, melhor ainda; e cuidam para que o mensageiro ou -ministro da congregação seja homem cuja voz é agradável, que esteja acostumado a ler. Mas aquele cuja barba ainda não se desenvolveu de todo, embora seja homem de dotes consideráveis, não pode ser ministro da congregação, por causa da honra da própria congregação».

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 311.

  1. Exemplo para a família.

13) Que governe bem a sua casa. Esta é uma qualificação de grande importância, pois a.s pessoas ouvem as mensagens dos pastores, mas olham para ele e como se relaciona com a família, notadamente com os filhos. Ele é o cabeça (líder) da esposa e do lar (Ef 5.22). Ao lado da esposa, que também governa a casa (1 Tm 5.14), deve criar seus filhos “com sujeição” (1 Tm 3.4). Porque, diz Paulo: “se alguém não sabe governar a sua. própria casa, terá cuidado da igreja de Deus? (1 Tm 3.5).

14) Experiente (“não neófito”). Nem todo presbítero {ancião) é pastor. Mas todo pastor deve ser presbítero. Pedro, um dos pastores líderes da Igreja Primitiva, exortou aos colegas de ministério, sobre como liderar a igreja local, dizendo: “Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com e/es, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar...” (1 Pe 5.1). Aqui, temos base para dizer que presbítero é termo equivalente a pastor ou bispo. Assim, o pastor não deve ser um obreiro muito novo (neófito), pois, a missão de pastor exige capacidade para aconselhar em situações que só a experiência mostra as lições a serem indicadas.

15) De bom testemunho perante os descrentes (“bom testemunho

dos que estão de fora”). O pastor deve ser um proclamador do evangelho transformador de Cristo. Seu testemunho deve ser uma pregação viva de que jesus converte e transforma o pecador. Esse testemunho deve ser demonstrado, primeiramente, em sua vida pessoal; depois, em sua casa, na igreja e, por fim, perante todas as pessoas que o conhecerem.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 113.

«...governe bem...» No grego é «proistemi», que significa «ser o cabeça», «conduzir», «gerir», sendo palavra usada para indicar qualquer forma de governo, ainda que, secundariamente, tenha o significado de «ter interesse por», «cuidar de», «ajudar a». Um «supervisor» ou pastor é o governante da igreja local; mas, antes de tudo, deve ser o chefe de sua casa. Seu lar é a sua primeira responsabilidade, e somente se ele se mostra apto ali é que deve ser considerado capaz de governar a casa de Deus.

«...criando os filhos sob disciplina...» Literalmente, «...mantendo em sujeição...», uma frase única em todo o N.T. A tradução inglesa RSV diz aqui (agora vertido para o português): «...mantendo submissos os seus filhos...» Mas um pastor deve obter esse resultado com razão, com paciência e com gentileza, embora também com demonstração de autoridade e força, que seus filhos aprendam a respeitar. Ora, isso nem sempre é fácil de conseguir, porquanto as crianças também são indivíduos, podendo ser dotados de fortíssima vontade própria. Todavia, um pai obterá bons resultados se suas ordens forem justas e úteis; e assim seus filhos aprenderão que o pai de família age assim para benefício deles, e não meramente a fim de demonstrar a sua autoridade. «A obediência e o respeito pela autoridade são coisas importantes.

Algumas vezes, entretanto, a criança submissa é a criança reprimida, cuja quietude evidencia não um forte caráter, e, sim, um estado mental doentio, que pressagia males futuros. As energias dinâmicas das crianças, ao invés de serem abafadas, precisam ser dirigidas para fins dignos. A difícil arte da educação cristã consiste de rodearmos os jovens com influências que os capacitem a combinar os seguintes pontos: a. A obediência a Deus com a gloriosa liberdade dos filhos de Deus; b. a conformidade à mente de Cristo com a liberdade de exprimir os dons distintivos que Deus conferiu a cada um de seus filhos; c. o conhecimento dos fatos cristãos e da história da igreja com a receptividade a maior luz, que Deus faça irromper de sua santa Palavra, para cada nova geração; d. a reverência à revelação divina no passo com a coragem que Deus fala a cada pessoa que tem ouvidos para ouvir e lhe queira ser obediente; e. a gratidão pelo que Deus tem feito no passado com a fé que Deus tem em reserva maiores coisas ainda para o seu povo, que serão realizadas no futuro; f. o respeito pelas experiências dadas às gerações anteriores com o propósito de buscar, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça. A educação cristã deve transmitir o conhecimento obtido pela experiência, ao mesmo tempo que deve liberar os poderes criativos daqueles que são chamados a avançar para um novo conhecimento e para maiores realizações». (Noyes, in loc.). Este versículo não ensina que um homem «sem filhos» não pode ser um «supervisor» cristão , conforme alguns e ru d ito s têm sugerido. Essa interpretação perverte o que aqui é dito, sendo algo inteiramente fora de consideração.

«...com todo respeito ...» No grego é «s em n o te to s», que quer dizer «reverência», «respeito», «dignidade», «seriedade». Alguns estudiosos pensam que essas palavras aludem aos filhos, os quais, estando debaixo da autoridade de seus progenitores, deveriam mostrar «reverência e respeito»; o mais provável, entretanto, é que o pai da família continue aqui em foco. O pastor que também é pai deve governar seus filhos com «dignidade» e «seriedade». Precisa reconhecer a seriedade de sua missão. Aos seus filhos, todo o pai deve três coisas: exemplo, exemplo, exemplo. Se um pai der a seus filhos o exemplo certo, será fácil para aqueles se tornarem homens de Deus. O pai é quem deve mostrar aos filhos o caminho. Notemos que o termo grego «...todo...» é empregado aqui. As ações de um pai pastor, para com os seus filhos, devem ser caracterizadas por uma seriedade «completa» e «perfeita». Não deve ser uma atitude lassa e desinteressada. Pois, se mostrar tal atitude, poderá afastar de si os seus próprios filhos, tornando-os presa fácil de más influências. Em «tudo» um pastor deve manter dignidade espiritual diante de seus filhos.

CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 310.

Assim como o relacionamento conjugal reflete a relação entre Cristo e a igreja, assim a associação familiar em uma grande casa é réplica e a célula originária da família de Deus, do qual toda a paternidade no céu e na terra recebe o nome. Pela fé em Cristo os gentios tornaram-se “membros da família de Deus”.

Como um pai governa os filhos e a todos na própria casa, assim o presidente deve conduzir a igreja de Deus, executando seu ministério com entusiasmo, i. é, bem. Ao contrário do mundo grego, os cristãos não mandavam educar os filhos por meio de escravos pedagogos, mas assumiam pessoalmente essa tarefa. Na obediência autêntica (que é o contrário de coação, porque obediência autêntica é voluntária) e na decorrente autonomia disciplinada dos filhos adolescentes seria possível reconhecer a dignidade do pai amável. Isso também pode ser dito de outro modo: somente quem possui autoridade real pode favorecer dignamente a obediência. Quem está amarrado e inseguro, lançará mão de meios violentos, conduzindo assim os filhos à rebeldia, não à subordinação espontânea. “Com toda a dignidade” salienta a autoridade interior, que se situa acima da contraposição de educação autoritária – antiautoritária.

Cuidar da igreja de Deus. O presidente da igreja domiciliar não deve governar sobre ela de forma arbitrária ou ditatorial, mas pensar em seu bem-estar físico, comunitário e espiritual. A igreja não pertence a ele, mas a Deus. “Nisso sê diligente”, enfatiza Paulo mais tarde.

Família e igreja poderão crescer de forma saudável quando se encontram na mais estreita interação. Igrejas perdem seu caráter familiar quando famílias cristãs já não formam as verdadeiras células da igreja. Quando as famílias, mesmo as famílias nucleares de nosso tempo, não forem mais centros espirituais e locais de treinamento do amor experimentado de Deus, as igrejas se tornarão desertas, apesar de todo o ativismo. Por isso cuidar das igrejas significa providenciar em primeiro e principal lugar famílias saudáveis na fé. O cuidado pastoral matrimonial certamente ainda é a área mais negligenciada do aconselhamento. Quando o foco cair sobre a igreja como família de Deus, seu caráter de exemplo no matrimônio e na família se reveste de fundamental importância. Novamente não se deve entender isso como uma fachada de devoção hipócrita. Exemplo não é encenar o que não existe. Nem mesmo a pergunta temerosa sobre o que os outros dirão deve determinar ou tolher a vida familiar dos servidores da igreja.

Hans Bürki. Comentário Esperança Cartas aos I Timóteo.. Editora Evangélica Esperança.

I Tm 3.4. Um teste adicional, e crucial, é acrescentado: o superintendente deve ser um homem que governe bem a sua casa, criando os filhos sob disciplina, com todo respeito. É tomado por certo que normalmente será um homem casado, e como tal deve vigiar para que a vida do seu lar seja ideal. A ideia é ecoada na liturgia de ordenação no Livro Comum de Orações (anglicano), onde se pergunta aos candidatos para o ministério: “Sereis diligentes para formular e formar a vós mesmos, e às vossas famílias, de acordo com a doutrina de Cristo, e fazer de vós mesmos e delas, até ao máximo das vossas possibilidades, exemplos e padrões sadios para o rebanho de Cristo?” Alguns têm entendido as últimas três palavras do versículo como aplicando-se aos filhos (cf. Moffatt: .. conserve seus filhos submissos e perfeitamente respeitosos”), mas o substantivo respeito, ou “dignidade” (Gr. semnotès) parece mais apropriado à atitude do pai. A lição é que deve manter disciplina rigorosa, mas sem lutas nem apelos à violência.

John N. D. Kelly. I Timóteo. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 79-80.

III - O MINISTÉRIO PASTORAL

  1. A missão do pastor.

O SIGNIFICADO DE PASTOR

A palavra pastor vem do latim, pastor, com o significado de “aquele que guarda as ovelhas”, “o que cuida das ovelhas”. Na língua original do Novo Testamento, pastor (gr. poimen), de acordo com Vine, é “... aquele que cuida de rebanhos (não meramente aquele que os alimenta), é usado metaforicamente acerca dos ‘pastores’ cristãos (Ef 4.11)”.3 Em termos ministeriais, o pastor é aquele que tem esse dom ministerial, e é encarregado de cuidar da vida espiritual dos que aceitam a Cristo e ficam sob seus cuidados, numa igreja ou congregação local. Pastor é um termo de cuidado, de zelo, de ternura, para com as ovelhas de Jesus.

A MISSÁO DO PASTOR

A principal missão do pastor é cuidar das ovelhas de Cristo, que lhe são confiadas. A ele cabe apascentar (gr. poimanô) as ovelhas, dando-lhes o alimento espiritual, através do ensino fundamentado (doutrina) da Palavra de Deus. No Salmo 23, Davi mostra o cuidado do pastor. Ele leva as ovelhas a deitar-se “em verdes pastos”. O pastor fiel leva as ovelhas de Jesus a alimentar-se do “pasto verde”, que nutre a alma e o espírito, fortalecendo-as, para que cresçam na graça e conhecimento do Senhor Jesus Cristo (2 Pe 3.18).

Sua missão é múltipla ou polivalente. Um pastor de verdade tem que agir como ensinador, conselheiro, pregador, evangelizador, missionário, profeta, juiz de causas complexas, fazer as vezes de psicólogo, conciliador, administrador eclesiástico dos bens espirituais e de recursos humanos sob seus cuidados, na igreja local; é administrador de bens materiais ou patrimoniais; gestor de finanças e recursos monetários, da igreja local, além de outras tarefas como pai, esposo, e dono de casa, como pastor de sua família.

A atividade pastoral genuína é tão importante, que o profeta Isaías, falando ao povo de Israel, acerca do livramento que lhe seria dado, usa a figura do pastor, aplicando-a ao próprio Deus (Is 40.11). O verdadeiro pastor cuida bem das ovelhas: recolhe os cordeirinhos (os mais fracos, mais novos) entre os braços; leva-os no regaço; aos novos convertidos, os “amamenta”, como a “bebês espirituais” e os guia mansamente.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 113-114.

PASTOR Várias versões traduzem a palavra hebraica ro'eh ("protetor") como "pastor", por exemplo em Jeremias 2.8; 3.15; 10.21; 12.10; 17.16; 22.22; 23.1,2. Essa palavra hebraica também foi traduzida em outras passagens de Jeremias como pastor (23.4; 25.34,35,36; 31.10; 33.12; 43.12; 49.19; 50.6, 44; 51.23), e em outras passagens do AT de Génesis até Zacarias. Na versão KJV em inglês, as palavras traduzidas como "pastores" foram geralmente traduzidas como "regentes" nas versões modernas. As versões ASV e RSV em inglês não utilizam o termo "pastor" em todo o AT. O termo na versão KJV designa os líderes do governo e os governadores do povo de Deus.

A palavra grega poimen foi uniformemente traduzida como "pastor" em Efésios 4.11 para designar o ministro na Igreja. Em outras passagens do NT, essa palavra também foi traduzida como "pastor de ovelhas" (q.v.; Mt 9.36; 25.32; 26.31; Mc 6.34; 24.27; Lc 2.8,15, 18,20; Jo 10.2,11,12,14,16; Hb 13.20; 1 Pe 2.25).

PASTOR, CRISTÃO O termo original significa literalmente "pastor". Esta palavra foi, várias vezes, usada pelo Senhor Jesus Cristo no NT (Hb 13.20; 1 Pe 2.25) e, apenas uma vez, como pastor dos cristãos (Ef 4.11). Nessa passagem, ela aparece como um dom espiritual a ser praticado, e não como uma função a ser ocupada. Na verdade, qualquer cristão que orienta, protege e geralmente trabalha como protetor em relação aos outros crentes está desempenhando o dom espiritual de um pastor. Entretanto, essa palavra veio a designar alguém que formalmente alimenta o rebanho, administra as ordenanças, lidera a adoração e guarda a verdade (Hb 13.17; 1 Pe 5.2). As Epístolas Pastorais fornecem as diretrizes dos deveres daqueles que ocupam, oficialmente, as posições de liderança como pastores entre o rebanho de Deus (2 Tm 4.1,-5). Ao dirigir-se aos anciãos da Igreja em Éfeso (At 20.17), Paulo os chamou de supervisores ou bispos (v. 28) e ordenou que apascentassem (ou "alimentassem") o rebanho (v. 28).

PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1469.

A mensagem principal de João 10:2 é ensinar que o verdadeiro pastor, que é Cristo Jesus, tem a autoridade própria e a comissão divina para ministrar às ovelhas, que são os verdadeiros filhos de Deus de cujo direito não participam os falsos pastores. Essa autoridade é aqui ilustrada pelo ato de entrar no aprisco, com a permissão e a boa acolhida que é dada ao verdadeiro pastor pelo porteiro (ver João 10:3).

  1. O Dom Pastoral

O oficio do pastor é um dom de Deus à Igreja. Sem dúvida terá o dom

de governos, sendo esse um dom especifico dos pastores. Mas também deve ter o dom da fé, e talvez outros dons, como o de profecia, etc. Além disso, deve ser capaz de ensinar (ver I Tim. 3:2b). Temos descrito a questão dos dons espirituais no artigo intitulado Dons Espirituais, especialmente sua seção IV Charismata. Nem todos os pastores s10 mestres (ver Í Tim. 5:17); e nem todos eles são dotados de facilidade de expressão. Mas um pastor deve ser possuidor de apreciável dose de compaixão e simpatia, sendo capaz de misturar-se bem com as pessoas, gostando da companhia dos seus semelhantes. Um monge, em seu mosteiro, que gosta da solidão, meditando, rezando e lendo seus livros sagrados, sem importar quantas outras virtudes possa ter, jamais seria um bom pastor.

Um mestre, mergulhado até o pescoço nos seus livros que manuseia ideias e gosta de estudar e aprender: pode ser um professor espetacular de Escola Dominical, mas provavelmente não está bem adaptado às tarefas próprias de um pastor.

  1. Definição

Um pastor, sendo ocupante de um oficio eclesiástico respeitável. ainda assim. de acordo com certos grupos cristãos, ocupa posição inferior à de um bispo. e comum hoje. - em muitas denominações evangélicas. uma igreja ter mais de um pastor. dependendo das muitas necessidades da mesma. Assim um deles ocupar-se-á do trabalho pastoral interno, um outro cuidará dos jovens, e ainda um outro ficará encarregado do evangelismo, por exemplo. Isso ocorre devido à complexidade do oficio pastoral, sem falarmos no fato de que. às vezes. O rebanho toma-se por demais numeroso para que um único homem faça a contento o seu trabalho.

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 105.

Is 40. 11. O quadro final de Deus é de um Pastor Divino. Como pastor, apascentará o seu rebanho (11) é conhecido por todos os cristãos através do famoso Messias de Handel. Isaías viu Deus nos dois aspectos da sua infinita soberania: exercendo seu poder para subjugar seus inimigos e mostrando sua bondade compassiva para todos os membros do seu rebanho. O versículo 10 mostra-o forte; o versículo 11 mostra-o meigo e gentil. Brandura é simplesmente a força que se tornou meiga. Os cordeirinhos recém-nascidos e as ovelhas que estão amamentando precisam de um cuidado especial. Uma ovelha-mãe com um úbere pesado, cheio de leite, não deveria ser sobrecarregada, e alguns cordeirinhos recém-nascidos ainda estão fracos demais para longas caminhadas. Neste caso, eles devem ser carregados pelo pastor. Essa profecia nos lembra de uma outra que descreve a compaixão de Cristo: “A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega” (42.3; cf. Mt 12.20). Assim, esse prólogo conclui a segunda parte das profecias como começou, com uma nota de conforto. Isaías vê que Deus não abandonou esse mundo ao caos; Ele governa e continua pastoreando a todos.

Ross E. Price. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 4. pag. 126.

Is 40.11. Com a piedade e a ternura de um pastor (v. 11). Deus é o “Pastor de Israel” (SI 80.1); Cristo é o “bom Pastor” (Jo 10.11). O mesmo que governa com a mão forte de um príncipe guiará e apascentará com a gentil mão de um pastor. (1) Ele cuida de todo o seu rebanho, o pequeno rebanho: “Como pastor, apascentará o seu rebanho”. A sua palavra é alimento para o seu rebanho. Suas ordenanças são pastos onde eles devem se alimentar; os seus ministros são seus pastores auxiliares, nomeados para cuidar do rebanho. (2) Ele tem um cuidado particular com aqueles que mais necessitam dos seus cuidados, as ovelhas que são fracas, e não podem cuidar de si mesmas, e estão desacostumadas às dificuldades, e aquelas que estão prenhas, e por isso estão pesadas, e, se algum mal for feito a elas, correm risco de dar cria prematuramente. Ele cuida particularmente para que a descendência não se perca. O bom Pastor tem um cuidado terno com as crianças que são entusiasmadas e esperançosas, com os jovens convertidos, que estão iniciando o caminho para o céu, com os crentes fracos, e com aqueles que têm um espírito pesaroso. Essas são as ovelhas do seu rebanho que terão certeza de que não lhes faltará nada que a sua situação exija. [1] “... entre os braços” do seu poder, “... recolherá os cordeirinhos”; o seu poder se aperfeiçoa na fraqueza deles (2 Co 12.9). Ele os recolherá, quando vagarem, os recolherá quando caírem, os recolherá quando estiverem dispersos, e os recolherá junto a si, por fim. E tudo isso com seus braços, dos quais ninguém será capaz de arrebatá-los (Jo 10.28). [2] Ele “... os levará no seu regaço”, no regaço do seu amor, e ali os guardará. Quando estiverem cansados, ou fracos, quando estiverem doentes e enfraquecidos, quando se encontrarem em caminhos errados, Ele os levará, Ele os carregará, e Ele tomará as devidas precauções para que não sejam deixados para trás. [3] Ele “... as guiará mansamente”. Com a sua palavra, Ele não exige mais serviços, e pela sua providência Ele não inflige mais problemas do que aqueles para os quais Ele os capacitará; pois Ele considera a estrutura deles.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Isaías a Malaquias. Editora CPAD. pag. 177.

  1. Uma missão polivalente.

O PASTOR — UM CONTRADITADO

Muitos obreiros, principalmente os mais jovens, aspiram ao pastorado. Não é errado ter essa aspiração. Paulo escreveu ao jovem obreiro Timóteo: “Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja” (1 Tm 3.1). Mas os candidatos ao episcopado (pastorado) devem ter consciência de que um pastor é alvo de grandes contradições e oposições, a despeito de sua honrosa missão. A lista de contradições sobre o que as pessoas pensam do pastor, é ampla e variada. Alguém já escreveu diversas listas sobre isso. A seguir, resumimos uma delas:

Se o pastor é ativo, é ambicioso; se é calmo, é preguiçoso; se o pastor é exigente, é intolerante; se não exige, é displicente; se fica com os jovens, é imaturo; se fica com os adultos, é antiquado; se procura atualizar-se, é mundano; se não se atualiza, é de mente fechada, retrógrado, ultrapassado; se prega muito, é prolixo, cansativo; se prega pouco, é que não tem mensagem; se veste-se bem, é vaidoso; se veste-se mal, é relaxado; se o pastor sorri, é irreverente; se não sorri, é cara dura. O que o pastor fizer, alguém pensa que faria melhor. Pode parecer algo hilário ou grotesco, mas reflete um pouco a visão que muitas pessoas têm do pastor de uma igreja local . Aliás, alguém já escreveu, dizendo que “pastor é uma espécie em extinção”.

Mas tais contradições não devem ser motivo para desânimo ou desinteresse pelo ministério pastoral. O Sumo Pastor, Jesus Cristo, foi alvo de piores referências a seu respeito, mesmo demonstrando que era um ser especial, humano e divino, que só fazia o bem. Seus opositores o acusaram de ser “comilão e bebedor” (Mt 11.19); de ter demônio (Jo 8. 52); de ser endemoninhado e expulsar demônio pelo príncipe dos demônios (Mc 3-22); e de tramar contra o governo da época, justificando sua condenação (Lc 23.2; Jo 19.12). Mas Jesus não desistiu. Foi até ao fim, entregando sua vida em lugar dos pecadores. E cumpriu a sua missão (Jo 19.30).

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 114-115.

Disse o Senhor aos discípulos: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos” (Mt 10.16). Na realidade somos pastores de ovelhas; todavia, Ele nos previne que seremos cercados, nós e eles, por animais perigosos. As ovelhas são atacadas por lobos. Essa é uma advertência acerca das dificuldades que devemos esperar em um mundo tão hostil. O próprio Senhor Jesus foi enviado “para evangelizar aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vida aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.18,19). E ainda: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21).

Quão maravilhosa é esta tarefa. Que alta e santa chamada é a nossa. Ele nos estabeleceu como luzes no mundo, e nos chamou para sermos o sal da terra. O Senhor ensinou ainda: “aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (Jo 14.12).

Esta promessa está muito além da experiência da maioria dos obreiros do Evangelho, Cristo disse justamente o que tinha a intenção de assegurar. Que Deus nos conceda fé, para assumirmos a posição de autoridade e poder que Ele nos deixou como herança nesta áurea promessa.

A grande comissão inicia com uma pequena palavra - “Ide” (Mc 16.15; Mt 28.19). É o oposto de assentai-vos e fixá-los, mas significa a renúncia das coisas que para trás ficam numa ação definida para entrar em contato com os que se acham nas estradas, nas cidades, no interior, na nação e fora dela.

A ordem de Jesus atinge até aos confins da terra, partindo de Jerusalém. Trata-se de um Evangelho de ação, e todo crente espiritual deve esforçar-se. E neste espírito compete-nos testificar das verdades que temos visto e ouvido.

A melhor tradução de “ensinai”, em Mateus 28.19 é “fazei discípulos”. Não basta meramente anunciarmos o Evangelho, desincumbindo nos desta responsabilidade, e ficando limpos do sangue de todos os homens. Não nos compete ir apenas passando e proclamando-o às pessoas.

Mas, somos instruídos a ter como objetivo específico à conquista de almas preciosas para Cristo. Não teremos cumprido o dever enquanto não orarmos e lutarmos pacientemente, até que os homens vejam o caminho e andem nele.

Quando Barnabé e Paulo chegaram e, entraram na sinagoga dos judeus e “falaram de tal modo” que um grande número de pessoas veio a crer no Evangelho (At 14.1). Isso é falar com poder. Não apenas testificaram do Evangelho, mas o fizeram de tal modo a ganhar novos discípulos. E assim sucedeu por onde passaram, embora enfrentando dificuldade.

IBADEP - Instituto Bíblico da Assembleia de Deus. Ética Cristã / Teologia do Obreiro. pag.119-120.

  1. O cuidado contra os falsos pastores.

Lamentavelmente, existem falsos pastores. Deus mandou o profeta Ezequiel repreender os pastores infiéis de Israel. Em suas qualificações negativas, podemos entender o que faz um falso pastor, nos dias atuais. 1) Eles não cuidam do rebanho. Mas aproveitam-se do pastorado para “apascentarem a si mesmos” (Ez 34.2 c). São oportunistas. Aproveitam-se das ovelhas para angariarem glórias para si.

2) Eles enriquecem às custas das ovelhas. Diz o texto: “Comeis a gordura, e vos vestis da lã, e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas” (Êx 34.3). Há casos de pastores que se tornam milionários, com fazendas, aviões, e muito dinheiro, aproveitando-se das necessidades e carências dos crentes.

3) Eles não têm amor às ovelhas. Pouco lhes importa a situação espiritual dos crentes. Só pensam em se aproveitar do pastorado (Ex 34.4). Nas igrejas dos falsos pastores, não há ensino, doutrina e cuidado com os novos convertidos; nem com os desviados e os crentes fracos.

4) Eles dispersam as ovelhas. Por não terem cuidado das fracas, das doentes, das quebradas e das desgarradas, elas se dispersam e são vítimas das “feras do campo”, que são inimigos do rebanho. “Assim, se espalharam, por não haver pastor, e ficaram para pasto de todas as feras do campo, porquanto se espalharam. As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes e por todo o alto outeiro; sim, as minhas ovelhas andam espalhadas por toda a face da terra, sem haver quem as procure, nem quem as busque” (Ez 34.5,6).

5) Deus é contra tais pastores. Em Ezequiel 34.8-10, diante de tão grande calamidade espiritual, perpetrada por falsos pastores, O Senhor mandou dizer pelo profeta que Ele próprio cuidaria de suas ovelhas (Ez 43.11, 12). Que Deus nos guarde desses pastores, reprovados pelo Sumo Pastor.

Elinaldo Renovato. Dons espirituais & Ministeriais Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Editora CPAD. pag. 115-116.

“Profetiza contra os pastores de Israel” (Ez 34.1-10). No Antigo Testamento, o termo “pastor” é frequentemente usado para designar os reis de Israel e os seus líderes espirituais. Agora Ezequiel olhou para trás e identificou as falhas de liderança que contribuíram para o recente desastre de Judá. O verdadeiro propósito que Ezequiel tinha em mente, porém, era mostrar um contexto no qual um esperado Pastor, que ele estava prestes a descrever, iria se destacar.

Que falhas nos líderes de Israel e de Judá levaram a nação ao desastre? Os príncipes dos reinos hebreus tinham pensado apenas em si mesmos em vez de pensar no rebanho (v. 2). Eles gananciosamente exploravam o rebanho para ganho pessoal (v. 3). Eles se recusaram a intervir em favor dos fracos e doentes (v. 4). E eles permitiram que o rebanho de Deus fosse espalhado por todas as nações (w. 5,6). Devido a estes pecados, Deus disse: “Demandarei as minhas ovelhas da sua mão; e eles deixarão de apascentar as ovelhas e não se apascentarão mais a si mesmos” (v. 10).

O Novo Testamento adverte contra colocar-se no papel de liderança presunçosamente; Tiago 3.1 diz: “Muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo”. Qualquer um que veja a liderança como uma posição “superior” à dos outros, em vez de vê-la como uma posição que tem como finalidade servi-los, ainda não está pronto para ser um líder espiritual.

Lawrence O. Richards. Comentário Devocional da Bíblia. Editora CPAD. pag.446.

Restauração sob um bom pastor (34.1-31). Enquanto o profeta é chamado de atalaia, os governantes de Israel são aqui chamados de pastores (2). Estão incluídos os reis, os príncipes e os magistrados. Clarke inclui também os sacerdotes e levitas.5 Esses têm sido pastores infiéis para com o povo de Deus. Eles não têm sustentado o rebanho do Senhor (2), Israel. Em vez disso, eles estão mais preocupados em alimentar-se a si mesmos e a estar bem vestidos (3). Eles não tiveram misericórdia para com a ovelha doente nem com a que estava ferida. Eles não buscaram a perdida (4), como Cristo, o Bom Pastor, fez anos mais tarde (Jo 10.11,14).

  1. Kenneth Grider. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 4. pag. 476;

Os Pastores São Reprovados. Ez 34.1-6

A profecia deste capítulo não é datada, como acontece com todas aquelas que a seguem, até o cap. 40. E muito provável que ela tenha sido entregue depois do término da destruição de Jerusalém, quando seria muito oportuno averiguar as suas causas.

I O profeta recebe a ordem para profetizar contra os pastores de Israel - os príncipes e os magistrados, os sacerdotes e os levitas, o grande Sinédrio ou conselho de estado, ou a qualquer homem que tivesse a direção dos assuntos públicos em uma esfera mais alta ou mais baixa, especialmente os reis, pois havia dois deles agora cativos na Babilônia, que assim como o povo, deveriam enxergar as suas próprias transgressões para que pudessem se arrepender, como Manassés em seu cativeiro. Deus tem algo a dizer aos pastores, pois eles são sub-pastores, que devem obediência àquele que é o grande Pastor de Israel, Salmos 80.1. Observe o que o Senhor diz: Ai dos pastores de Israel! Embora eles sejam pastores, e pastores de Israel, ele não deve poupá-los nem lisonjeá-los. Note que se a posição e o poder dos homens não os afastarem do pecado, como deveriam, eles não servirão para isentá-los da reprovação, nem para desculpar a sua falta de arrependimento, nem para guardá-los dos juízos de Deus se não se arrependerem. Tivemos um “ai” proferido contra os pastores, Jeremias 23.1. Deus acertará as contas com eles de um modo especial, se não forem fiéis à confiança que neles foi depositada.

II Ele é aqui instruído sobre a acusação que deverá fazer contra os pastores, em nome de Deus, como o fundamento da disputa de Deus com eles. Pois esta não é uma discussão sem motivos. Eles são acusados de duas coisas: 1. De que todo o cuidado deles visava o favoreci- mento pessoal, para enriquecerem a si mesmos e se tornarem grandes. A função deles era cuidar daqueles que foram entregues aos seus cuidados: Não apascentarão os pastores as ovelhas? Sem dúvida deveriam apascentá-las. Eles estarão traindo a confiança do Senhor se não fizerem assim. Não que eles devam colocar a comida na boca das ovelhas, mas devem prover a comida para elas, e levá-las até ela. Mas estes pastores não prestaram, a esta atividade, o mínimo de sua atenção. Eles alimentavam a si mesmos, planejavam tudo para gratificar e saciar os seus próprios apetites, e para se tornarem ricos e grandes, gordos e tranquilos. Eles garantiam os lucros das suas funções. Eles comiam a gordura, o creme (assim alguns entendem), porque aquele que apascenta um rebanho se alimenta do seu leite (1 Co 9.7), e garantiam para si o melhor do leite. Eles garantiam a lã, e se vestiam com ela, colocando as suas mãos na maior quantidade possível de bens daqueles que estavam sujeitos a eles. Eles matavam aquelas ovelhas que estavam bem alimentadas, para que pudessem se alimentar com aquilo que tivessem, assim como no caso de Nabote, que foi morto por causa da sua vinha. Observe que há um “ai” para aqueles que estão em posições púbicas de confiança, mas que só levam em consideração os seus interesses particulares. Sim, para aqueles que estão mais curiosos a respeito do benefício do que a respeito do oficio. Estes estão mais preocupados com o dinheiro que deve ser conseguido, do que com o bem que deve ser feito. Esta é uma queixa antiga: Todos buscam o que é seu, e muitos buscam mais do que aquilo que é seu. 2. De que não cuidavam do benefício e do bem-estar daqueles que foram entregues aos seus cuidados: Não apascentais o rebanho. Eles nem sabiam como fazê-lo, de tão ignorantes que eram, nem se esforçavam para fazê-lo, de tão preguiçosos que eram. Não, eles nunca desejaram nem planejaram fazer isso, por serem tão traiçoeiros e infiéis. (1) Eles não cumpriram a sua obrigação para com as ovelhas do rebanho que estavam doentes. Não as fortaleceu, nem as curou, nem as ligou, v. 4. Quando qualquer uma do rebanho estivesse doente ou com dores, aflita ou ferida, eles não se importavam se ela fosse viver ou morrer. Eles nunca cuidavam delas. Os príncipes e juízes não se importavam em fazer justiça àqueles que foram injustiçados, ou com a defesa da inocência ofendida. Eles não se importavam com os pobres para vê-los abastecidos com o necessário. Por eles, os pobres poderiam morrer de fome. Os sacerdotes não se importavam em instruir os ignorantes, em corrigir os erros dos que erravam, em advertir os desobedientes, ou confortar os indecisos e fracos. Os ministros de estado não se importavam em impedir os males crescentes do reino, que ameaçavam os seus pontos vitais. As coisas estavam erradas e fora de rumo em todos os lugares, e nada era feito para corrigi-las. (2) Eles não faziam a sua obrigação para com as ovelhas do rebanho que estavam dispersas, que foram levadas pelos inimigos que invadiram o país, e que foram obrigadas a buscar abrigo onde pudessem achar um lugar, ou que andavam desgarradas pelos montes e outeiros (v. 6), onde estavam expostas às feras do campo e se tornaram como pasto para elas, v. 5. Todos estão prontos a agarrar um animal sem dono. Alguns foram para outra terra e mendigaram, outros foram para outra terra e negociaram, e desse modo o país se tornou escasso de moradores, e foi enfraquecido e empobrecido, e carecia de mãos tanto nos campos de grãos como nos campos de batalha. Tanto na colheita como na guerra: As minhas ovelhas andam espalhadas por toda a face da terra, v. 6. E ninguém jamais perguntou por elas, e jamais foram encorajadas a voltar para o seu próprio país: não há quem as procure, nem quem as busque. Com força e crueldade eles as regiam, o que fez com que mais fossem embora, e desanimavam aquelas que pensavam em retornar. A situação é muito ruim quando alguém tem motivos para esperar ser mais bem tratado entre os estranhos do que em seu próprio país. Isto pode significar aqueles do rebanho que se desviaram de Deus e da sua obrigação. E os sacerdotes, que deveriam ter ensinado o bom conhecimento do Senhor, não utilizaram meios para convencê-los e reclamá-los, de forma que eles se tornaram uma presa fácil para os corruptores. Assim, se espalharam por não haver pastor, v. 5. Havia aqueles que se denominavam pastores, mas que na verdade não o eram. Note que aqueles que não fazem o trabalho de pastores são indignos deste nome. E se aqueles que se propõem a ser pastores forem pastores insensatos (Zc 11.15), se eles forem soberbos e se sentirem envaidecidos por sua função, se forem ociosos e não amarem o seu trabalho, ou se forem infiéis e indiferentes a ele, a situação do rebanho será tão ruim quanto se não houvesse pastor. E melhor não ter nenhum pastor do que ter pastores assim. Cristo se queixa de que o seu rebanho era como ovelhas que não tinham pastor, quando, no entanto, os escribas e fariseus se sentavam na cadeira de Moisés, Mateus 9.36. E muito ruim para o paciente quando o seu médico é a sua pior doença; é muito ruim para as ovelhas do rebanho quando os pastores as mandam embora e as dispersam, governando-as com violência.

Os Pastores Reprovados Ez 34. 7-16

Ao lermos os artigos de impedimento anteriormente redigidos, em nome de Deus, contra os pastores de Israel, só podemos olhar para os pastores com uma justa indignação, e para o rebanho com uma terna compaixão. Deus, através do profeta, expressa aqui estes dois sentimentos de uma forma enfática. E os pastores são chamados (w. 7,9) para ouvir a palavra do Senhor, para ouvir esta palavra. Ouçam eles como o Senhor os considera pouco, eles que se consideravam muito, e como o Senhor considera muito o rebanho, o qual eles desprezavam tanto. As duas palavras serão humilhantes para eles. Aqueles que não querem ouvir a palavra do Senhor lhes dando instruções tão importantes, serão obrigados a ouvir a palavra do Senhor proferindo a sua condenação. Agora veja aqui:

I Quão desgostoso Deus está com os pastores. Os seus crimes são repetidos, v. 8. O rebanho de Deus se tornou uma presa para os enganadores que primeiro, o atraíram para a idolatria, e então para os destruidores que os levaram para o cativeiro. E estes pastores não tinham o cuidado de evitar um ou o outro, mas agiam como se não houvesse pastores. Portanto, Deus diz isto (v. 10), e confirma isto com um juramento (v. 8): Eu estou contra os pastores. Eles receberam de Deus a responsabilidade de apascentar o rebanho e utilizaram este precioso nome no que faziam, esperando que tivessem o apoio dele. “Não,” diz Deus, “longe disso. Eu sou contra eles.” Note que o fato de termos o nome e a autoridade de pastores não garante a presença de Deus conosco, se não fizermos o trabalho que nos foi ordenado, e não formos fiéis à confiança que foi depositada em nós. Deus é contra eles, e eles saberão disso. Porquê: 1. Eles terão que prestar contas pela maneira como se desincumbiram da confiança que neles foi depositada: “Demandarei as minhas ovelhas da sua mão, e imputarei sobre eles o fato de tantas estarem faltando.” Note que terão muito pelo que responder no dia do juízo aqueles que têm sobre si o cuidado das almas, e que, no entanto, não cuidam delas. Os ministros devem ficar alerta e trabalhar como aqueles que devem prestar contas, Hebreus 13.17. 2. Eles perderão o oficio et beneficio - tanto o trabalho como os salários. Eles cessarão de apascentar o rebanho, isto é, de fingir que o apascentam. Observe que é justo que Deus tire das mãos dos homens o poder de que eles abusaram, e a confiança que traíram. Mas se este fosse todo o castigo deles, poderiam suportá-lo muito bem. Portanto, é acrescentado: “Eles deixarão de apascentar as ovelhas e não se apascentarão mais a si mesmos. Livrarei as minhas ovelhas da sua boca, pois não as têm protegido, e não lhes servirão mais de pasto.” Note que aqueles que estão enriquecendo a si mesmos com os despojos do público, não podem esperar que sempre tenham a permissão para fazer isso. Deus também não permitirá que o seu povo seja sempre menosprezado por aqueles que deveriam apoiá-lo, mas preparará um dia em que os livrará dos pastores, que são os seus falsos amigos, bem como dos leões, que são os seus inimigos confessos.

II Quão preocupado Deus está com o rebanho. Ele fala mostrando que Ele mesmo é Aquele que está mais preocupado com eles, pelo fato de tê-los visto assim negligenciados. Porque é em Deus que o órfão encontra misericórdia. Promessas preciosas são feitas aqui nesta ocasião, e deveriam ter o seu cumprimento no retorno dos judeus do seu cativeiro e o seu restabelecimento na sua própria terra. Ouçam os pastores esta palavra do Senhor, e saibam que eles não têm nenhuma parte nem porção neste assunto. Mas ouçam as pobres ovelhas e sejam consoladas com isso. Note que embora os magistrados e ministros falhem em fazer a sua parte, pelo bem da igreja, Deus não falhará em fazer a sua parte. Ele tomará o rebanho na sua própria mão, antes que a igreja perca a bondade que Ele planejou para ela. Os sub-pastores podem mostrar que são negligentes. Mas o Sumo Pastor não cochila nem dorme. Eles podem ser falsos. Mas Deus permanece fiel.

  1. Deus juntará as ovelhas que estavam espalhadas, e as trará de volta para o aprisco junto com aquela que andava errante: “Eis que eu, eu mesmo, o único que pode fazer isto, o farei, e terei toda a glória disso. Procurarei as minhas ovelhas e as buscarei (v. 11) como faz um pastor (v. 12), e as farei voltar como ele faz com a desgarrada, sobre os seus ombros, de todos os lugares por onde andam espalhadas no dia de nuvens e de escuridão.” Há dias de nuvens e de escuridão, com ventos e tempestades que espalham as ovelhas de Deus, que as mandam para lá e para cá, para lugares diversos e distantes, em busca de tranquilidade e segurança. Mas: (1) Onde quer que elas estejam, os olhos de Deus as acharão, porque os seus olhos percorrem a terra, em favor delas. Eu buscarei as minhas ovelhas, e nenhuma que pertença ao aprisco será perdida, embora tenha se desgarrado. O Senhor conhece aqueles que são Seus. Ele conhece o seu trabalho, onde moram (Ap 2.13), e onde estão escondidas. (2) Quando chegar a hora que Ele mesmo determinou, os seus braços irão trazê-las para casa (v. 13): E as tirarei dos povos. Deus tocará em seus corações para que venham pela sua graça, e pela sua providência abrirá uma porta para elas e removerá toda dificuldade que se achar no caminho. Elas não voltarão uma a uma, fugindo clandestinamente, mas voltarão em um só grupo: “E as farei vir dos diversos países em que foram dispersas, não só as famílias mais consideráveis deles, mas cada pessoa em particular. A perdida buscarei, e a desgarrada tomarei a trazer,” v. 16. Isto foi feito quando milhares de judeus voltaram triunfantemente deixando a Babilônia, sob a direção de Zorobabel, Esdras, e outros. Quando aqueles que haviam se desgarrado de Deus indo para caminhos de pecado forem trazidos de volta pelo arrependimento, quando aqueles que erraram chegarem ao conhecimento da verdade, quando os banidos de Deus forem reunidos e restaurados, e as congregações religiosas, que estavam dispersas se reunirem novamente, quando cessarem as perseguições, e quando as igrejas tiverem descanso e liberdade, então esta promessa se cumprirá uma vez mais.
  2. Deus apascentará o seu povo como as ovelhas do seu pasto, que haviam estado famintas. Deus trará os cativos de volta com segurança para a sua própria terra (v. 13), e os apascentará nos montes de Israel, que são um bom pasto, e um pasto farto (v. 14). Ali será o seu pasto, e o seu aprisco. E este é um bom aprisco. Ali Deus não só as apascentará, mas as fará repousar (v. 15), o que indica um descanso confortável depois de terem se cansado com as suas peregrinações, e uma morada constante e contínua. Eles não serão mais tirados destes pastos verdejantes, como foram, nem serão perturbados, mas se deitarão em um repouso suave e não haverá mais ninguém que os atemorize, Salmos 23.2, Deitar-me faz em verdes pastos. Compare esta com uma promessa semelhante (Jr 23.3,4), quando Deus os restaurou não só ao leite e mel da sua própria terra, ao gozo dos seus frutos, mas aos privilégios do seu santuário no Monte Sião, o principal dos montes de Israel. Quando eles tivessem um altar e um templo outra vez, e o benefício de um sacerdócio estabelecido, então seriam alimentados em um bom pasto.
  3. Ele socorrerá as ovelhas que estão aflitas, ligará as que estão quebradas e fortalecerá as que estão enfermas, consolará as que choram em Sião e com Sião. Se os ministros, que deveriam falar de paz para aqueles que têm um espírito triste negligenciarem ao seu dever, o Espírito Santo, o Consolador, será fiel ao seu ofício. Mas como se segue, a gorda e a forte serão destruídas. Aquele que tem o repouso para os santos atribulados tem o terror para os pecadores presunçosos. Todo vale se encherá, e se abaixará todo monte e outeiro, Lucas 3.5.

HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Isaías a Malaquias. Editora CPAD. pag. 772-774.

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